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Capítulo 4: Parlamento Europeu e Controle Democrático da Comissão Européia: os casos

4.3 O Parlamento Europeu reformulando a Comissão Barroso (2004-2010)

4.3.4 O Parlamento Europeu na Aprovação Final da Comissão Barroso

Após o atraso na finalização das sabatinas, tendo em vista que o processo foi refeito para três indicados no início do mês de novembro, em 18 de novembro de 2004 o Parlamento Europeu finalmente aprova a Comissão Barroso como um todo por 449 votos versus 149 contra e 82 abstenções. Assim como a configuração na Comissão Parlamentar de Liberdades Civis, Justiça e Assuntos Internos, o Parlamento que aprovou a Comissão Barroso é composto em sua maioria por membros da oposição em seus respectivos países de origem, e no entanto, Barroso teve 66% dos eurodeputados presentes a seu favor, o que significa 109 votos a mais do que precisaria para atingir a

189 Relatório da segunda sabatina do húngaro:

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maioria mínima e aprovar seu time. Além disso, Barroso conseguiu uma votação ainda maior que seu antecessor Prodi191, mesmo em um Parlamento Europeu que já contava

com eurodeputados oriundos dos novos integrantes do bloco. Ao analisar a ata dos presentes na votação, identifica-se que dos 680 presentes, 453 eram eurodeputados da oposição em seus países de origem, inclusive encontra-se oposicionistas em larga escala no EPP, grupo com maior número de assentos no Parlamento Europeu, que possuía 185 membros de um total de 261 na oposição em seus países de origem. Entre estes, 19 optaram por se abster, em sua maioria membros do Partido Conservador no Reino Unido.

Tabela 37. Alinhamento Político dos Eurodeputados na Eleição da Comissão Barroso (2004)

Alinhamento/Voto

Eurogrupo

Total

ALDE EPP GUE IND NI PES UEN GREENS

Oposição Abstenção 10 19 0 3 0 30 7 0 69 A favor 37 165 0 0 12 35 4 0 253 Contra 0 1 32 25 16 29 1 27 131 Total 47 185 32 28 28 94 12 27 453 Situação Abstenção 11 0 0 0 1 1 0 0 13 A favor 20 76 0 0 0 88 12 0 196 Contra 0 0 2 3 0 0 0 13 18 Total 31 76 2 3 1 89 12 13 227 Total Abstenção 21 19 0 3 1 31 7 0 82 A favor 57 241 0 0 12 123 16 0 449 Contra 0 1 34 28 16 29 1 40 149 Total 78 261 34 31 29 183 24 40 680

Fonte: Elaboração própria com base na ata de votação.

Na tabela acima também chama atenção que os membros do Greens, independente do vínculo nacional, votaram todos contra a investidura da Comissão Barroso, enquanto no caso do PES, chama atenção o grande número de membros da oposição que escolheram a abstenção ao invés de votar contra, enquanto no grupo daqueles que pertenciam ao governo, registrou-se apenas uma abstenção e nenhum voto

191 Prodi obteve 404 votos a favor, 153 contra e 37 abstenções, em um Parlamento Europeu com 626 assentos. O novo Parlamento em 2004 possuía 732 assentos, apesar da quórum no dia da votação da Comissão Barroso ter sido de 680 eurodeputados.

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contra192. Entre os independentes, sete eram membros do partido de extrema direita

francês Front National, em que votaram todos contra a Comissão Barroso. Por outro lado, todos os 27 eurodeputados franceses do Parti Socialiste, membros do PES votaram contra a Comissão Barroso. Sendo assim, todos os membros franceses oriundos da oposição votaram contra.

Outro dado interessante, no que tange à votação por país, a Alemanha teve 61 membros oriundos da oposição, no entanto apenas 5 votaram contra e o restante a favor da Comissão Barroso. Movimento semelhante viu-se na Espanha, em que a ampla maioria de seus eurodeputados votaram a favor, mesmo aqueles na oposição. Já a Itália teve um número significativo de abstenções em seus eurodeputados da oposição, em que dos 43, 24 se abstiveram, apenas 11 foram contra e 8 a favor.

Toda esta avaliação de como votaram os eurodeputados é válida pois evidencia a dificuldade em elencar apenas um nível de análise para entender a dinâmica político- partidária no Parlamento Europeu, em que para alguns casos a coesão partidária transnacional aparentemente é mais forte, enquanto em outros momentos observa-se comportamentos alinhados com ideologias mais extremistas, seja à direita ou à esquerda, como é o caso do Front National e o Parti Socialiste. Também identifica-se posicionamentos relativos ao dilema eurocéticos versus pró-europa, a exemplo do IND e do Greens, respectivamente, ambos votando em peso contra a Comissão Barroso, porém por motivos diametralmente opostos, conforme o estudo de McElroy & Benoit (2007)193. Dessa forma, compreende-se melhor agora porque as variáveis Alinhamento

com o Parlamento Europeu e Alinhamento com o Governo de Origem não apresentaram

correlação durante a análise de correspondência feita no capítulo anterior194. Tanto para a Comissão Santer quanto para a Comissão Barroso, esta indeterminação nas dinâmicas político-partidárias fora latente.

Ao final, a Comissão Barroso que assumiu suas funções no dia 20 de novembro possuía entre quase a totalidade dos seus 25 membros indivíduos com formação superior, metade com mestrado e sete membros com doutorado completo. No geral, há

192 É bom lembrar que na época, o Conselho Europeu decidia por unanimidade o presidente da Comissão bem como participava com este da escolha de seus representantes na instituição, o que reforçaria a hipótese de Hix & Lord (2000) que o governo nacional poderia pressionar seus representantes no Parlamento Europeu para que não obstruam a formação da Comissão.

193 Ver figura 6, pág. 148.

194 Como apontado pelos testes do X², não houve associação entre essas variáveis e as gestões da Comissão computadas desde 1979, quando o Parlamento Europeu passou a ser eleito por sufrágio universal, apesar de ter uma distribuição balanceada entre os dois principais grupos do PE.

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uma concentração de comissários especialistas nas áreas de Direito e Economia, porém foram encontrados casos de membros com formação na área de ciências exatas, o que é interessante para os portfólios que ocuparam, a saber: Ciência e Pesquisa; e Energia. Ao passo que apenas em quatro casos não há registro de passagem por cargos eletivos e todos já tiveram experiência em ocupações no governo, onde a grande maioria esteve a frente de ministérios em seu governo de origem, com exceção apenas de sete comissários. Além disso, salvo dois comissários, todos possuem afiliação partidária e há uma predominância de alinhamento com os três principais grupos no PE, a saber: o EPP, com nove membros; ALDE, com sete; PES, com seis; e o UEN com um. Em suma, a Comissão Barroso reflete o que parece ser uma tendência nas últimas gestões: membros com alta qualificação na área específica do portfólio e igualmente com experiência e articulação política. No próximo e último tópico deste capítulo, serão discutidos os atuais mecanismos de controle da Comissão disponíveis ao Parlamento Europeu.

4.4 Controle Democrático e a Burocracia Européia: reflexões acerca do