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DIAGRAMA 1 – Organograma da Pesquisa

4 O PBA E O PRINCÍPIO DA CONTINUIDADE: uma análise a partir das resoluções

4.1 O PBA e a perspectiva de “erradicação do analfabetismo”

No capítulo introdutório, pontuaram-se aspectos da versão atual do PBA. Como anunciado, neste capítulo a intenção é apresentar as mudanças que foram acontecendo nesses nove anos no tocante ao princípio da continuidade.

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Dentre os aspectos evidenciados nas resoluções, a escolha pela análise do princípio da continuidade foi direcionada pelo objetivo geral da pesquisa, que é analisar o impacto do PBA para as políticas públicas de EJA nos municípios da 9ª GRA.

Em seu primeiro ano de funcionamento o PBA foi definido, segundo a Resolução nº 18 de 10 de julho de 2003, como ação de financiamento a pleitos de assistência a projetos de alfabetização de jovens e adultos e/ou capacitação de alfabetizadores destinados a estados, Distrito Federal e municípios; entidades federais, estaduais, municipais e privadas (sem fins lucrativos de Ensino Superior); Organizações Não Governamentais (ONG’s), Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP) que desenvolvem e executam projetos de alfabetização de jovens.

Como apoio à análise proposta, apresentam-se, ao longo deste capítulo, quadros que sintetizam três fases do PBA, segundo a perspectiva de análise. São usados quadros como estratégia de sistematização, condensando aspectos importantes à medida que os documentos vão se apresentando mais complexos. Os itens elencados na primeira coluna obedecem a terminologias constantes nas Resoluções.

A ideia inicial, segundo o pronunciamento do então ministro da Educação86, era que os resultados da ação alfabetizadora fossem computados pelos números que ainda faltavam atingir e não pelo número de alfabetizandos atendidos; o repasse aos parceiros (Estados, Prefeituras, ONGs, Igrejas, Entidades em geral) seria efetivado segundo resultados obtidos – pessoas alfabetizadas –, não por alfabetizador em atividade; ao “concluir” sua alfabetização, o aluno do PBA receberia uma bolsa como um incentivo monetário para escrever a sua primeira carta em sala de aula; seriam implantados programas de leituração que manteriam e ampliariam o horizonte de leitura dos recém-alfabetizados. Essas eram as premissas gerais para o PBA.

No entanto, algumas dessas premissas divulgadas não foram contempladas pelas Resoluções que normatizaram o primeiro ciclo do Programa, como é possível perceber no Quadro 2, o qual apresenta o desenho do PBA em seu primeiro ciclo (2003). Pelos aspectos expostos e pela análise dessa primeira Resolução, é possível inferir que o ministro Cristovam Buarque pensava o Programa como uma grande campanha nacional, inclusive no tocante a sua finalidade: “erradicação do analfabetismo no Brasil.”

Esse pensamento é reforçado pela identificação de que tal Resolução não menciona a continuidade para os egressos do PBA. Mesmo o artigo 13, onde são estabelecidas as competências dos órgãos e entidades parceiras, não faz menção a esse princípio. Constatou-se assim que nesse primeiro ano de mandato, o Governo ainda delineava sua estratégia de ação para essa EJA e, mesmo a alfabetização sendo prioridade na Pasta da Educação, a articulação

86Ideias expressas em pronunciamentos e relatórios dos encontros de mobilização com os secretários estaduais e

com o Programa Fazendo Escola87, que substituiu o Programa Recomeço do Governo anterior, não estava expressa na Resolução como uma estratégia de induzir os parceiros a pensarem a ação alfabetizadora aliada à continuidade no primeiro segmento daquela modalidade.

QUADRO 2 – Programa Brasil Alfabetizado (2003)88 Presidente – Luiz Inácio Lula da Silva

Ministro – Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque Finalidade Erradicar o analfabetismo no País. Órgãos e entidades

convenentes ou parceiros

- Estados, Distrito Federal e Municípios;

- Entidades federais, estaduais, municipais e privadas (sem fins lucrativos de Ensino Superior);

- ONG’s e OSCIP que desenvolvem e executam projetos de alfabetização de jovens e adultos.

Ações financiáveis - Alfabetização de Jovens e Adultos; - Capacitação de Alfabetizadores.

Parceria -Assistência financeira por meio de projetos educacionais (Plano de Trabalho); -Celebração do Convênio condicionada à adimplência e à habilitação dos entes federados em 2003;

-Contra partida do órgão ou entidade proponente: 1% (um por cento) do valor do projeto.

Ajuda de custo dos alfabetizadores

Repasse ao órgão ou entidade convenente/parceira o valor R$ 15,00 mensal por alfabetizando para fins de pagamento da ajuda de custo aos alfabetizadores de acordo com o número de alunos efetivamente em sala de aula, devendo ser descontado daquele pagamento o número de evadidos no mês anterior (caso a evasão fosse maior que 10%).

Carga horária – 06 meses (240 horas). Formação inicial e

continuada

Repasse ao órgão ou entidade convenente/parceira: Inicial– R$ 20,00

Mínimo de 30 horas Continuada– R$ 60,00 02 horas por semana Avaliação da

efetividade da ação

-Arquivo mensal de uma produção escrita do alfabetizando e da frequência; -Número de concluintes não podia ser inferior a 90% do público atendido. Ações de apoio à

alfabetização

- Criação da Secretaria Extraordinária de Erradicação do Analfabetismo (SEEA) - Comissão Nacional de Alfabetização (órgão colegiado, consultivo com a função de assessorar o MEC)

- Medalha Paulo Freire (personalidades e instituições que se destacam nos esforços de erradicação do analfabetismo no Brasil)

Fonte: Resolução CD/FNDE nº 18 de 10 de julho de 2003.

Assim, o PBA já nasceu sob críticas, principalmente em relação ao tempo destinado ao curso de alfabetização e à forma de pagamento da ajuda de custo ao alfabetizador, considerando-se o número de alunos matriculados (pagamento por cabeça). Esse formato foi

87Até 2004, esse Programa (denominado Recomeço) era restrito aos chamados bolsões de pobreza do país. No

Governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, foi reformulado, passou a ser chamado de Programa Fazendo Escola e passou a conceder apoio financeiro com base em todos os alunos matriculados nos sistemas municipais e estaduais de EJA, declarados no Censo Escolar do ano anterior.

88No conjunto de documentos (Resolução CD/FNDE nº 18 de 10 de julho de 2003, Decreto nº 4.834 de 08 de

setembro de 2003, Resolução CD/FNDE nº 046 de 05 de Novembro de 2003) o quadro está referenciado na Resolução CD/FNDE nº 18 de 10 de julho de 2003, pois esta é a mais completa quanto à estruturação do Programa no primeiro ciclo.

amplamente criticado nacionalmente. A determinação de que cada estudante alfabetizado enviasse uma carta escrita de próprio punho a Brasília como instrumento de avaliação da efetividade da ação também foi amplamente questionada. As críticas apontavam a vulnerabilidade do sistema a fraudes.

Esse foi o delineamento do PBA na sua primeira etapa e os antecedentes políticos que nortearam a sua criação durante a gestão do Ministro Cristovam Buarque89. No primeiro ano de mandato do presidente Lula, o PBA foi sua ação mais expressiva no tocante à educação. Posteriormente, o lançamento de vários programas90direcionados, principalmente, ao público jovem, também confirmam essa centralidade e diversidade de ações, se comparados a Governos anteriores.

Nesse contexto, o PBA foi criado oficialmente pelo Decreto nº 4.834, de 08 de setembro de 2003, simbolicamente na data em que se comemora o Dia Internacional da Alfabetização. A meta inicial era alfabetizar 20 milhões de pessoas a partir de 15 anos até 2006. Seriam três milhões em 2003, seis milhões em 2004 e, em 2005, cinco milhões no último ano do mandato. Como é possível observar, o Decreto de criação só foi publicado no mês de setembro, após as duas primeiras Resoluções deste primeiro ciclo.

Esse Decreto também institui a Comissão Nacional de Alfabetização (CNA) que tinha como função assessorar o MEC nas ações de alfabetização, com a perspectiva de ser um canal de comunicação e interlocução com a sociedade civil, garantindo transparência e agilidade ao Programa. A constituição da comissão ficou distribuída entre representantes de diversas entidades e organizações educacionais, cabendo aos Fóruns Estaduais de EJA uma cadeira nessa Comissão. O referido Decreto também institui o Prêmio Medalha Paulo Freire que, inicialmente, seria concedido a instituições e entidades que se destacassem na luta contra o analfabetismo.

Quanto à dimensão das parcerias, o documento abriu possibilidade para que entidades da sociedade civil desenvolvessem ações de alfabetização financiadas com recursos públicos. Relembrando a história, é possível observar que até 2003 apenas algumas entidades91 recebiam recursos públicos do Governo Federal para desenvolver ações de alfabetização. Uma avaliação desse modelo de parceria desenhado pela Resolução em análise é expressa no

89O ministro Cristovam Buarque deixa o MEC em janeiro de 2004. 90

Programa Escola de Fábrica, PROJOVEM (Programa Nacional de Inclusão de Jovens: Educação, Qualificação e Ação Comunitária), PROEJA (Programa Nacional de Integração da Educação Profissional com a Educação Básica na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos) dentre outros.

91Alfabetização Solidária (maior volume de recursos), Instituto Agostin Castejon, Movimento de Educação de

Base (MEB), Pastoral da Criança, Grupo de Estudos Educacionais Metodologia Pesquisa e Ação (GEEMPA), Instituto Brasileiro de Estudos de Apoio Comunitário Queiroz Filho (IBEAC) e Conselho Comunitário Educação Cultura Ação. Disponível em: <www.abrasil.gov.br>. Acesso em: 11 jul. 2011

Relatório Síntese do VI Encontro Nacional de Educação de Jovens e Adultos, realizado em 2004, na cidade de Porto Alegre/RS:

O programa de alfabetização se amplifica, trazendo o sentido renovado da parceria e do respeito às iniciativas já existentes nas administrações públicas e na sociedade, e organiza-se a Comissão Nacional de Alfabetização, reconhecendo e legitimando assento ao movimento dos Fóruns, como interlocutores potentes para discussão das políticas públicas.

Para esse coletivo a possibilidade de desenvolver ações de alfabetização com financiamento público e a legitimação do movimento dos fóruns na composição da recém- instituída Comissão Nacional de Alfabetização92 manifestam reconhecimento à experiência acumulada dos diversos atores sociais que ofertam alfabetização de jovens e adultos no Brasil, com exitoso acúmulo de boas práticas que vêm suprindo a falta de políticas públicas efetivas para esta área.

O Documento Nacional Preparatório a VI CONFINTEA (2009), em seu diagnóstico sobre as políticas públicas de EJA, também menciona a mudança na perspectiva de parceria, inicialmente proposta pelo PBA:

A gestão e o conceito de parceria mudaram substantivamente em relação ao modelo anterior do programa de alfabetização — traduzido pela ação do Programa Alfabetização Solidária — quando é criado o Programa Brasil Alfabetizado pelo governo federal em 2003, com financiamento exclusivo do poder público. (Brasil, 2009, p. 41).

4.2 O PBA E A DIVERSIDADE COMO PRINCÍPIO DA EDUCAÇÃO PARA TODOS