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O PEDAGOGO DA EDUCAÇÃO BÁSICA

No documento GESTÃO DEMOCRÁTICA (páginas 71-74)

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O próprio estatuto jurídico do direito à educação resulta de processos de disputa de poder na sociedade e no interior do próprio Estado e o mesmo ocorre quando se põem a exigência, decorrente desse estatuto, de formulação e implantação de políticas educacionais. A possibilidade de maior ou menor equalização por meio dessas políticas, é resultado da correlação das forças sociais e da permeabilidade do Estado às pressões dela derivadas (SOUZA & TAVARES, 2013, p.57)

Educação como um direito social e público precisa ser discutida pela sociedade. No entanto, a sociedade se organiza em diferenças e desigualdades; não existe a garantia de participação econômica, social, política e cultural para todos, carreando a discussão dos direitos para o plano de correlação de forças entre a sociedade civil e o Estado. A Escola Pública é um direito garantido pela legislação às classes populares, embora, pela falta de investimentos em recursos que propiciem a qualidade de seus serviços, acentua e legitima a desigualdade social.

Com a promulgação da Constituição Federal do Brasil de 1988, a Educação Básica é compreendida nos níveis da Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio. O atendimento à educação é realizado pelo poder público em todas as suas instâncias federativas: a União, os Estados e os Municípios. A Constituição Brasileira estabelece que a educação em nosso país seja regida em colaboração, sendo de responsabilidade do governo federal o ensino superior; aos estados cabe a responsabilidade pelo ensino médio e, ainda, colaborar com os municípios para a oferta do ensino fundamental e educação infantil. A Constituição de 1988, ao reconhecer o município como ente federativo, em igualdade com os estados, na responsabilidade da oferta de educação básica, não contribui para a elevação da qualidade do ensino, pois desconsidera as condições de pobreza ou riqueza dos diferentes municípios e, assim, reforça as desigualdades entre os seus municípios.

Essas análises apontam o quanto se faz necessário definirem-se coletivamente os indicadores de qualidade do ensino, no sentido democrático, social e educacional, aproximando-se de um projeto de escola efetivamente popular e participativa, a fim de que a instituição educacional possa ser reconhecida como instrumento de apropriação do saber e capaz de contribuir

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para diminuição da seletividade, da exclusão social, promovendo a erradicação das disparidades de níveis escolares, evasão escolar e marginalização.

Saviani (2012, p.50) avalia que a integração entre os envolvidos na educação, esferas política, social e administração da escola pode intensificar os esforços educativos para melhoria de vida no âmbito individual e coletivo.

Faz um alerta para a responsabilidade do poder público, enquanto representante da política educacional na criação e avaliação de projetos no âmbito das escolas, do estado e do município. O referido autor (2012, p.73) afirma que a escola é tendencialmente conservadora, mas a superação de seu conservadorismo é possível pela retomada vigorosa da luta contra a seletividade, a discriminação e o rebaixamento do ensino destinado às camadas populares, garantindo aos trabalhadores o acesso ao conhecimento historicamente acumulado pelos homens.

A escola faz parte do Sistema Nacional de Ensino e depende dele intrinsecamente, embora preserve autonomia relativa. Implica, portanto, em construí-la e exercê-la definindo suas diretrizes, ações e prioridades com os profissionais de educação que trabalham na escola por meio de projeto político pedagógico e do regimento escolar.

Dourado (2002, p. 159) defende que a construção de um processo de gestão escolar democrática é sempre processual e, em se tratando de luta política, é eminentemente pedagógica, que parte da realidade discutida em busca dos objetivos propostos, da realização das ações, dos encaminhamentos, da correção de desvios, de retomadas, da avaliação constante. Entende-se, nessa dimensão, o compromisso do profissional pedagogo, sendo fundamental sua atuação numa perspectiva unitária do trabalho, isto é, responsabilizar-se pela qualidade das mediações necessárias ao processo ensino-aprendizagem na escola. Saviani recomenda aos pedagogos:

Empenhem-se no domínio das formas que possam garantir às camadas populares o ingresso na cultura letrada, vale dizer, a apropriação dos conhecimentos sistematizados. E, no interior das escolas, lembrem-se sempre de que o papel próprio de vocês será provê-las de uma organização tal que cada criança, cada educando, em especial aquele das camadas trabalhadoras, não veja frustrada a sua aspiração de assimilar os conhecimentos metódicos, incorporando-os como instrumento irreversível a partir

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do qual será possível conferir uma nova qualidade às lutas no seio da sociedade. (SAVIANI, 1985, p.27)

Nesta perspectiva, valoriza-se a concepção do trabalho do pedagogo com foco no processo do ensino-aprendizagem, assumido no âmbito de um projeto histórico, com todos os envolvidos, fundado no entendimento dos fundamentos ontológicos e éticos-políticos de que homem e sociedade se quer formar, para que o processo se efetive numa perspectiva emancipadora.

Para tanto, as relações de poder não podem ser obstáculo para as decisões de cunho pedagógico, pois requerem, do pedagogo, o diálogo, a mediação das diferentes posições dos profissionais e das contradições do sistema, na perspectiva da gestão democrática. Nessa direção, o foco do trabalho educativo na escola, conforme afirma Saviani (2012, p. 51) é “ordenar e sistematizar as relações homem-meio para criar as condições de desenvolvimento das novas gerações [...]. Portanto, o sentido da educação, a sua finalidade, é o próprio homem, quer dizer, a sua promoção”. Ainda de acordo com Saviani (2012, p. 52), promover o homem significa “torná-lo cada vez mais capaz de conhecer os elementos de sua situação a fim de poder intervir nela transformando-a no sentido da ampliação da liberdade, comunicação e colaboração entre os homens”. Isso implica, afirma o autor, em definir para a educação sistematizada objetivos claros e precisos, quais sejam:

educar para a sobrevivência, para a liberdade, para a comunicação e para a transformação. Estas são as premissas que fundamentam o trabalho do pedagogo na direção da formação humana e da emancipação popular. Tal empreitada demanda, do pedagogo, assumir, como princípio e ação, a gestão democrática na perspectiva do trabalho escolar defendido na literatura e na legislação educacional, tendo em vista os interesses da maioria da população.

No documento GESTÃO DEMOCRÁTICA (páginas 71-74)