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O TRABALHO NA ESCOLA E A MEDIAÇÃO DO PEDAGOGO

No documento GESTÃO DEMOCRÁTICA (páginas 134-137)

3 A PRODUÇÃO CIENTÍFICA EM TESES E DISSERTAÇÕES: O

4.3 O TRABALHO NA ESCOLA E A MEDIAÇÃO DO PEDAGOGO

Sobre o trabalho do pedagogo escolar na RME de Curitiba percebe-se, cruzando as respostas das pedagogas, apresentadas nas tabelas que sintetizaram a incidência segundo o cumprimento das atribuições – conforme prescrições do Decreto 35/2016, – a relevância conferida ao compromisso com a transmissão aos estudantes do conhecimento historicamente elaborado.

Porém, revelam os depoimentos das entrevistadas que o trabalho do pedagogo na escola é precarizado. Explicam que estão precisando assumir grande variedade de funções e responsabilidades, como confirmam os dados mostrados nas tabelas e conforme depoimentos apresentados a seguir:

(...) sempre tem relatórios para fazer, a avaliação escolar, a avaliação institucional, os relatórios de atendimento das crianças, os pais. Porém, o

35As respostas das pedagogas entrevistadas resultaram em sessenta e uma páginas de transcrições

36 Como mencionado, utilizam-se números de 01 a 24 para identificar as pedagogas e garantir o sigilo de suas identidades, em respeito às determinações éticas da pesquisa.

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objetivo maior é a aprendizagem escolar e a demanda grande dos fatores externos, das diferentes modalidades e programas que a nossa escola tem, acaba tirando muito tempo do pedagógico do trabalho do pedagogo, então eu gostaria que isso fosse diferente, não tem jeito que vá mudar em curto prazo (PEDAGOGA 03, 2016).

(...) tenho que atender as crianças que se machucam, brigam muitas vezes, a gente faz coisas que não são da nossa jurisdição também, tem que ficar na secretaria um pouco, ver se as professoras que estão em cursos, estão fora da escola, estão doentes, mas eu acho que a gente é um pouco enfermeira, um pouco detetive (PEDAGOGA 04, 2016).

Ao longo do percurso histórico da trajetória do pedagogo se constata, conforme já discutido, que esse profissional ocupou diferentes posições profissionais no processo pedagógico, entre elas, a de coordenador, supervisor, orientador educacional, professor; além de desempenhar funções próprias, impõem-se lhes funções correlatas, como resolver casos imprevistos e emergências surgidas na escola; ou ainda como conciliador das questões disciplinares entre alunos, bem como encarregado da organização de horários das aulas e dos profissionais na escola. Caracteriza-se o trabalho pedagógico como fenômeno educacional historicamente permeado por tensões que se definem pelas inúmeras exigências feitas à educação, como reflexo do contexto econômico, político e sociocultural.

A escola necessita refletir sobre os limites e as condições concretas da educação, pois, segundo as pedagogas entrevistadas, a escola está assumindo muitas funções, como se pode observar nas suas argumentações, apresentadas a seguir:

Muito trabalho para uma pedagoga, o atendimento aos professores, cada uma com uma especificidade diferente, pois temos 5 anos e mais a Educação Infantil e outras áreas do conhecimento como Arte, Ensino Religioso, Ciências e Educação Física exige um cabedal de conhecimentos muito grande dos pedagogos ao qual não dispõe de um dia na semana para tal, pois horas de estudo não está fixada em sua grade semanal como os professores possuem, mais o atendimento aos pais, estudantes com problemas de saúde, comportamento e aprendizagem que exigem diversos encaminhamentos

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(PEDAGOGA 22, 2016).

Não consigo entrar nas salas de aula para acompanhar de perto o trabalho das professoras, para colaborar e resolver as dificuldades que os alunos apresentam no dia a dia, não tenho tempo para apoiar as professoras na sala de aula. Pouco tempo para troca de ideias e construção do planejamento (PEDAGOGA 24, 2016).

A escola pública é um direito garantido formalmente à população, entretanto, as próprias determinações da legislação e os investimentos em recursos financeiros continuam sendo insuficientes, impedindo que se materialize a qualidade e a infraestrutura educacional na educação pública.

Destaca-se o trabalho do pedagogo com o desafio de articular a coletividade, compreendendo que a escola organiza-se segundo a gestão democrática, com a participação e decisão de todos os segmentos envolvidos, para assim alcançar resultados e progressos na mediação e garantia do exercício educacional democrático.

O pedagogo é essencial na gestão democrática e pedagógica da escola pública, no planejamento, na organização e mediação do processo de trabalho pedagógico escolar. No trabalho coletivo, é o profissional responsável pela mediação, articulação e transformação do trabalho pedagógico. É uma função que exige um profissional que planeja, decide, coordena, acompanha, avalia e executa o trabalho pedagógico, de forma a atender todos os segmentos da escola. A qualidade exigida do pedagogo, nem sempre se viabiliza, como confirmado nos depoimentos a seguir.

(...) a nossa rotina ela é imprevisível, nós não temos nada fechado, você pode se programar, fazer um planejamento do teu trabalho que vai acontecer no dia, mas você tem outras coisas que você não tem se programado que acontece na rotina, são situações de pais, de professores, de falta de professor, que acontece na rotina diária, que a gente sempre está trabalhando com essas situações. Então assim nosso trabalho fica muito fora de um planejamento. A gente não planeja as atividades dessas situações imprevistas, mas, elas acontecem e acumula-se com o que tem planejado do trabalho”

(PEDAGOGA 05, 2016).

Eu tento realizar um planejamento sim, porém a dinâmica diária requer

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outras ações as quais podem acabar desviando do que foi planejado. Apesar disso, considero que o ato de planejar é uma garantia da boa qualidade do trabalho porque é um fio condutor e dá mais consistência às ações pedagógicas (PEDAGOGA 21, 2016).

Faz-se basilar a atuação do pedagogo em relação aos professores no que diz respeito ao aprimoramento do seu trabalho em sala de aula, na análise e compreensão das situações de ensino com base nos conhecimentos. Sendo este profissional responsável pela mediação no processo de formação que ocorre na escola, é imprescindível a sua participação na organização das práticas pedagógicas e na efetivação do projeto político- pedagógico.

Percebe-se que a ampliação do campo de atuação do pedagogo, trouxe as indicações dos seus limites e, ao mesmo tempo, demanda propor o trabalho articulado e coletivo pela concretização do projeto político pedagógico, com ênfase na gestão democrática, como base para organização do trabalho pedagógico, com a participação todos, é a saída para um processo de desenvolvimento humano e profissional de forma contínua e autônoma.

A escola sinaliza a necessidade de atender formação humana, por meio da gestão democrática na educação, nesse processo de garantir a democratização do acesso, da permanência, da qualidade do ensino. É importante lutar e pressionar com articulação do coletivo que compõem a comunidade escolar, contra a negligência do Estado, considerando a escola como espaço de participação e exercício democrático das relações de poder.

4.4 FORMAÇÃO CONTINUADA DO PEDAGOGO: DESAFIOS PARA A

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