O Pentecostalismo e a Teologia da Prosperidade

Conforme abordagem anterior, a Teologia da Prosperidade tem sua origem nas seitas metafísicas do Movimento do Novo Pensamento que surgiram nos Estados Unidos, em meados do século XIX, e se espalharam por toda a nação. Concordamos com Matos que diz, ―Ao contrário do que muitos imaginam, as ideias básicas da confissão positiva não surgiram no pentecostalismo, e sim em algumas seitas sincréticas da Nova Inglaterra, no início do século 20‖ (MATOS, 2008). Um dos principais defensores desse pensamento é D. R. McConnell que em sua obra A Different Gospel comprova que as raízes do movimento da Teologia da Prosperidade estão fincadas em várias seitas metafísicas originadas do Movimento do Novo Pensamento. Hollinger (1997, p.19) critica McConnell afirmando que ―em sua obra A Different Gospel faz tentativas de minar a influência pentecostal, dando primazia à ‗Conexão Kenyon‖. De acordo com Hollinger, McConnell minimiza o papel do Pentecostalismo como formador da Teologia da Prosperidade. Garrard-Burnett (2011, p. 181) relaciona o surgimento do movimento moderno da Teologia da Prosperidade ao surgimento do movimento pentecostal. Embora se defenda em alguns círculos que a Teologia da Prosperidade é fruto do Pentecostalismo, sua origem é anterior ao movimento. A discussão

4 _{Evangelho da Saúde e Riqueza.}

que se levanta em torno do assunto é sobre qual seria a relação existente entre o Pentecostalismo e o surgimento da Teologia da Prosperidade. Sobre essa questão Pieratt afirma:

o pentecostalismo forneceu a base ou o grupo onde a teologia encontrou a maior parte de seus adeptos, enquanto os pressupostos filosóficos propriamente ditos foram fornecidos pelas seitas metafísicas. (...) Desde seu início, a teologia da prosperidade encontrou nas igrejas pentecostais e carismáticas uma acolhida maior do que a de qualquer outro contexto, mas foram as seitas metafísicas que forneceram os ensinos distintivos e a cosmovisão geral que deram forma ao evangelho da prosperidade (PIERATT, 1993, p.16).

É fácil entender o fato da Teologia da Prosperidade encontrar maior receptividade nas igrejas pentecostais, isso se dá devido ao trânsito livre que os pregadores e propagadoras dessa teologia encontraram para pregar nesses locais. Kenyon sempre pregava no Templo dos Anjos, sede da Igreja do Evangelho Quadrangular (ROMEIRO, 2007, p.24). Kenneth Hagin chegou a pastorear durante 12 anos as Assembleias de Deus antes de desempenhar seu ministério independente (PIERATT, 1993, p. 22), também Morris Cerullo, chegou a pastorear por alguns anos as Assembleias de Deus (BURGUES; McGEE, 1988, p. 126). Essa ligação entre o Pentecostalismo e a Teologia da Prosperidade é tão tênue que muitos de seus maiores representantes são vistos até os dias de hoje como grandes líderes e formadores de opinião no meio pentecostal. É o que percebemos quando lemos a introdução da obra de Rick Nañez,5 Pentecostal de Coração e Mente: Um chamado ao dom divino do intelecto, considerado um dos principais teólogos pentecostais da atualidade. Ao narrar parte de sua trajetória dentro do pentecostalismo Nañez afirma que,

(...) Num período de 10 meses acompanhei os ensinamentos de vários personagens pentecostais-carismáticos notáveis, num raio de algumas centenas de quilômetros de minha cidade natal, Wichita Falls, Texas. Eram oradores famosos como Kenneth Copeland, Oral Roberts, Jimmy Swaggart, Kenneth Hagin, Bob Tilton, Norvel Hayes e Billy Jo Daugherty. Cada um deles colocou um tijolo em meus tenros, porém crescentes alicerces. Embora meus companheiros de viagem e eu pertencêssemos a uma igreja pentecostal local, íamos uma vez mais em nossa jornada de fim de semana para receber outros tesouros espirituais do ensino ungido de outro pregador cheio do Espírito Santo.

Naquela viagem devorei um livro escrito por um homem a quem estávamos indo ver. Até aquele momento, minha base literária consistia naqueles livros recebidos de amigos de fé carismáticos, obras como They Speak With Other Tongues [Eles falam em outras línguas], The Late Great Planet Earth [A agonia do grande planeta Terra], Angels on Assignment [Anjos em serviço], Armageddon 198? [Armagedon 198?]. The Miracle of Seed Faith [O milagre da fé semeada], I Believe in Visions [Eu

5 _{Rick M. Nañez é mestre em Teologia Prática pelo Luther Rice Seminary, na Geórgia, e doutor} pelo Trinity Evangelical Seminary, em Indiana (EUA).

acredito em visões], Pigs in the Parlor [Porcos na sala], God‘s Formula for Success and Prosperity [A formula divina para o sucesso e a prosperidade] e Understanding the Anointing [Entendendo a unção]. Uma a uma essas obras me desafiaram e me motivaram na vida de fé(NAÑEZ, 2007, p. 17-18).

Nessa breve narrativa de Nañez podemos perceber que na alusão que faz aos líderes que exerceram influencia sobre ele, um grande número está entre os principais defensores da Teologia da Prosperidade, da mesma forma quando cita algumas obras que foram marcantes para ele, faz menção a várias obras da Teologia da Prosperidade.

Esses são apenas alguns casos dentre muitos onde percebemos a ligação de alguns líderes mais proeminentes da Teologia da Prosperidade com o Pentecostalismo. Já que o Pentecostalismo não foi o criador da Teologia da Prosperidade, então qual seria seu papel? Pieratt responde essa questão afirmando:

A resposta parece estar na tendência que elas têm de aceitar dons de profecia e profetas dos dias atuais que afirmam exercer esses dons. Por causa da abertura para visões, revelações e orientações espirituais contínuas fora da Bíblia, cria-se um espaço para a entrada das afirmações do evangelho da prosperidade (PIERATT, 1993,p. 17).

Assim, percebemos que a abertura do Pentecostalismo para as profecias, visões, revelações se constituíram elementos comuns com os pensamentos propagados pelos principais expoentes da Teologia da Prosperidade, contudo as raízes da Teologia da Prosperidade surgem nas seitas metafísicas relacionadas ao Movimento do Novo Pensamento.