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2.3. A SPECTOS S IMBÓLICOS NOS E STUDOS SOBRE F AMÍLIAS D UAL C AREER

2.3.2. O Perfil da População Evangélica no Brasil

É pertinente observar, no caso do Brasil, a ascensão das religiões de denominação evangélica (IBGE, 2012). Quando se olha para os dados sobre religião no Brasil, que são disponibilizados pelo Censo Demográfico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a mobilidade religiosa se mostra bastante acentuada. Mais ainda, o caráter religioso do povo brasileiro é sustentado, uma vez que apenas 8% da população se declara sem religião. O Brasil se mostra como um país essencialmente religioso, com mais de 90% da população com filiação a alguma religião.

Ainda há um predomínio de católicos no Brasil, com 65% da população, reflexo da herança histórica da colonização e reconhecimento do catolicismo como religião oficial do país até meados do século XIX. No entanto, o que mais chama a atenção no censo é a perda de fiéis da igreja católica para igrejas evangélicas. Os dados do IBGE (2012) revelam que este

movimento de fiéis tem início nos anos 1980 e se intensifica a partir dos anos 2000. Em 2010, as igrejas de denominação evangélica são as que mais atraem novos fiéis, compondo 22,2% da população brasileira, ante 15,4% em 2000. A Figura 02 ilustra o percentual da população conforme os grupos de religião:

Figura 2. Percentual da população residente, segundo os grupos de religião no Brasil – 2000/2010 Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2000/2010

Este é um dos principais motivos que ensejaram a investigação do fenômeno dual career com casais evangélicos. A literatura traz apontamentos sobre a importância da religião para os indivíduos, e observa-se no Brasil um movimento histórico de ascensão das igrejas de denominação evangélica. Unindo estes dois pontos, mostra-se válido olhar para o gerenciamento das esferas trabalho e família na perspectiva dos casais evangélicos.

O IBGE também traz dados que contribuem para o entendimento do perfil deste indivíduo que professa fé evangélica. Quanto ao sexo, mantendo aqui o termo “sexo” e não gênero em conformidade com a publicação oficial, os evangélicos são predominantemente mulheres (24,1%), tanto em área urbana (25,4%) quanto em área rural (16,5%). É importante ressaltar que entre os católicos, os homens compõem o grupo predominante. A Tabela 02 retrata o percentual da população conforme sexo e situação domiciliar:

Tabela 2. Percentual da população residente, por situação do domicílio e sexo, segundo os grupos de religião – Brasil 2010

Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2010.

Quanto à faixa etária, os evangélicos são predominantemente jovens. Os maiores níveis percentuais estão concentrados entre os indivíduos com 0 a 17 anos, variando de 22,9% a 25,8%. É importante observar novamente um contraste com a religião católica, uma vez que a concentração de fiéis neste grupo religioso se encontra nos grupos de idade mais avançada. A Tabela 03 mostra a distribuição percentual da população religiosa de acordo com os grupos de idade:

Tabela 3. Distribuição percentual da população residente, por grupo de religião, segundo os grupos de idade – Brasil 2000/2010

Quando se considera a intersecção da religião com a cor ou raça, os dados mostram que os evangélicos constituem um grupo de indivíduos com maior proporção de pardos (45,7%), seguido de brancos (44,6%). Novamente, o contraste com a religião católica se perfaz na inversão da raça ou cor, com predomínio de brancos (48,8%) seguido dos indivíduos que se reconhecem pardos (43%). A Tabela 04 mostra a distribuição percentual da população, por cor ou raça, segundo os grupos de religião:

Tabela 4. Distribuição percentual da população residente, por cor ou raça, segundo os grupos de religião – Brasil 2010

Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2010.

Sobre o nível de escolaridade, o censo revela que os evangélicos de origem pentecostal compõem o grupo com menor nível de escolaridade, com 42,3% de pessoas com ensino fundamental incompleto e apenas 4,1% com ensino superior completo. Quanto ao nível de escolaridade, o IBGE desagrega os dados por denominação evangélica de missão, de origem pentecostal e não determinada. Cabe ressaltar, no entanto, que há uma concentração de fiéis nas igrejas evangélicas de origem pentecostal. A Tabela 05 mostra que este grupo de evangélicos possui o maior percentual de pessoas com ensino fundamental incompleto e o menor percentual de pessoas com ensino superior completo:

Tabela 5. Percentual de pessoas de 15 anos ou mais de idade, por nível de instrução, segundo os grupos de religião – Brasil 2010

Fonte: IBGE, Censo Demográfico, 2010.

Por fim, o IBGE apresenta o percentual de pessoas por grupo de religião segundo a renda per capita mensal. Entre os evangélicos, nas três denominações prevalece a maior concentração de indivíduos que recebem entre ½ e 1 salário mínimo. Este cenário não é compatível apenas com indivíduos que se enquadram nos grupos espírita e umbanda e candomblé. Isso realça que o baixo rendimento mensal per capita não é uma realidade somente para os evangélicos, mas sim para grande parte da população brasileira. A Tabela 06 apresenta a distribuição percentual da população, por grupos de religião, segundo as classes de rendimento:

Tabela 6. Distribuição percentual de pessoas de 10 anos ou mais de idade residentes em domicílios particulares permanentes, por grupos de religião, segundo as classes de rendimento nominal mensal domiciliar per capita – Brasil 2010

Tendo em vista este panorama, os casais dual career evangélicos fogem ao perfil tradicional dos estudos na área. Estes casais não possuem alta escolaridade ou alta renda, justificando o argumento anterior sobre a desconstrução dos estereótipos de casais dual career a partir de demarcadores sociais de privilégios.

Assim, ao considerar a religião como elemento do domínio sociocultural que alcança os casais dual career e, neste estudo, priorizando a investigação dos casais evangélicos em virtude dos apontamentos estatísticos e teóricos, é esperado que possa se construir um novo olhar sobre o fenômeno dual career.

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