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A Lei Federal nº 10.257 de 10 de julho de 2001, denominada Estatuto da Cidade, reforça e ratifica o que fora estabelecido pela Constituição Federal de 1988, no capítulo da política urbana: o Plano Diretor é instrumento básico da política de desenvolvimento e expansão urbana. Além das diretrizes gerais, o Estatuto da Cidade no seu Capítulo III trata especificamente do Plano Diretor dedicando os arts. 39, 40, 41 e 42 para estabelecer as questões fundamentais e básicas a serem incluídas nos planos dos municípios.

Inicialmente, o art. 39 versa sobre a definição de função social da propriedade como uma atribuição do Plano Diretor, sendo que deve estar de acordo com as diretrizes do art. 2º do Estatuto. Em sequencia, o art. 40 traz a afirmação do Plano Diretor como instrumento integrante do processo de planejamento municipal, sendo ele uma espécie de orientador para a elaboração do Plano Plurianual (PPA), da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e Lei do Orçamento Anual (LOA), tendo em vista que suas diretrizes e prioridades devem ser incorporadas por estes. Este mesmo artigo define, ainda, que o Plano Diretor deve abranger todo o território do município e prever sua revisão no mínimo a cada dez anos.

Por sua vez, o art. 41 define expressamente quais municípios ficam obrigados a elaborar seus Planos Diretores, incluindo aqueles com mais de 20 mil habitantes, as cidades integrantes de regiões metropolitanas e aglomerações urbanas, áreas de especial interesse turístico, áreas de influência de significativo impacto ambiental e àquelas nas quais o Poder Público pretenda utilizar os instrumentos definidos no § 4º do Art. 182 da Constituição Federal6. No mesmo artigo, também é estabelecido que nos municípios com mais de quinhentos mil habitantes deve ser elaborado plano de transporte urbano integrado ou incluí- lo no próprio Plano Diretor do município.

6 Dá aos municípios o poder de exigir dos proprietários de terrenos não edificados, a correta utilização do imóvel, podendo aplicar as penalidades previstas, mediante lei especifica.

Por fim, o art. 42 apresenta o conteúdo mínimo do Plano Diretor, que inclui a delimitação de área urbana sujeita ao parcelamento do solo, ainda que compulsoriamente e a obrigatoriedade de um sistema de acompanhamento e controle. Além disso, estabelece como conteúdo mínimo para o Plano Diretor versar sobre: o direito de preempção7; da outorga onerosa do direito de construir8; das operações urbanas consorciadas9; da transferência do direito de construir10; e do estudo do impacto de vizinhança11. Este artigo de modo mais específico, estabelece quais instrumentos da política urbana do Estatuto da Cidade devem ser incluídos obrigatoriamente no Plano Diretor.

O Capitulo III da Lei Federal 10.257, Estatuto da Cidade vigora com a seguinte redação:

ESTATUTO DA CIDADE

Art. 39. A propriedade urbana cumpre sua função social quando atende

às exigências fundamentais de ordenação da cidade expressas no plano diretor, assegurando o atendimento das necessidades dos cidadãos quanto à qualidade de vida, à justiça social e ao desenvolvimento das atividades econômicas, respeitadas as diretrizes previstas no art. 2º desta Lei.

Art. 40. O plano diretor, aprovado por lei municipal, é o instrumento básico da

política de desenvolvimento e expansão urbana.

§ 1º O plano diretor é parte integrante do processo de planejamento municipal, devendo o plano plurianual, as diretrizes orçamentárias e o orçamento anual incorporar as diretrizes e as prioridades nele contidas.

§ 2º O plano diretor deverá englobar o território do Município como um todo.

§ 3º A lei que instituir o plano diretor deverá ser revista, pelo menos, a cada dez anos.

§ 4º No processo de elaboração do plano diretor e na fiscalização de sua implementação, os Poderes Legislativo e Executivo municipais garantirão:

I – a promoção de audiências públicas e debates com a participação da população e de associações representativas dos vários segmentos da comunidade;

II – a publicidade quanto aos documentos e informações produzidos;

III – o acesso de qualquer interessado aos documentos e informações produzidos. § 5º (VETADO).

Art. 41. O plano diretor é obrigatório para cidades:

I – com mais de vinte mil habitantes;

II – integrantes de regiões metropolitanas e aglomerações urbanas;

7

O direito de preempção confere ao Poder Público municipal preferência para aquisição de imóvel urbano objeto de alienação onerosa entre particulares.

8 A outorga onerosa do direito de construir é a possibilidade de o proprietário construir acima do coeficiente de aproveitamento básico adotado, mediante contrapartida a ser prestada pelo beneficiário.

9 A operação urbana consorciada é o conjunto ações coordenadas pelo município, com a participação dos outros atores como proprietários, moradores, usuários e investidores privados com o objetivo viabilizar transformações urbanísticas.

10 A transferência do direito de construir é a possibilidade do proprietário de imóvel urbano, privado ou público, exercer em outro local, ou alienar, mediante escritura pública, o direito de construir previsto no plano diretor. 11 O estudo de impacto de vizinhança é um instrumento que mostra os efeitos positivos e negativos do um empreendimento ou atividade ao local no qual será instalado.

III – onde o Poder Público municipal pretenda utilizar os instrumentos previstos no 4o do art. 182 da Constituição Federal;

IV – integrantes de áreas de especial interesse turístico;

V – inseridas na área de influência de empreendimentos ou atividades com significativo impacto ambiental de âmbito regional ou nacional.

VI - incluídas no cadastro nacional de Municípios com áreas suscetíveis à ocorrência de deslizamentos de grande impacto, inundações bruscas ou processos geológicos ou hidrológicos correlatos. (Incluído pela Lei Federal 12.608/2012) § 1º No caso da realização de empreendimentos ou atividades enquadrados no inciso V do caput, os recursos técnicos e financeiros para a elaboração do plano diretor estarão inseridos entre as medidas de compensação adotadas.

§ 2º No caso de cidades com mais de quinhentos mil habitantes, deverá ser elaborado um plano de transporte urbano integrado, compatível com o plano diretor ou nele inserido.

§ 3º As cidades de que trata o caput deste artigo devem elaborar plano de rotas acessíveis, compatível com o plano diretor no qual está inserido, que disponha sobre os passeios públicos a serem implantados ou reformados pelo poder público, com vistas a garantir acessibilidade da pessoa com deficiência ou com mobilidade reduzida a todas as rotas e vias existentes, inclusive as que concentrem os focos geradores de maior circulação de pedestres, como os órgãos públicos e os locais de prestação de serviços públicos e privados de saúde, educação, assistência social, esporte, cultura, correios e telégrafos, bancos, entre outros, sempre que possível de maneira integrada com os sistemas de transporte coletivo de passageiros. (Incluído

pela Lei Federal 13.146/2015)

Art. 42. O plano diretor deverá conter no mínimo:

I – a delimitação das áreas urbanas onde poderá ser aplicado o parcelamento, edificação ou utilização compulsórios, considerando a existência de infraestrutura e de demanda para utilização, na forma do art. 5º desta Lei;

II – disposições requeridas pelos arts. 25, 28, 29, 32 e 35 desta Lei; III – sistema de acompanhamento e controle.

Elaborado à luz do Estatuto da Cidade, o Plano Diretor deve incorporar as diretrizes, princípios e instrumentos voltados especialmente para a promoção do direito à cidade e para a gestão democrática, objetivando a inclusão territorial e a diminuição das desigualdades. Estas diretrizes gerais são estabelecidas no art. 2º da Lei 10.257, conforme já referido no 2.2.1, e totalizam 16 itens que abrangem o direito à cidade sustentável, à gestão democrática da cidade, a justa distribuição dos bônus e ônus da urbanização, regras para o parcelamento do solo, entre outros aspectos. De maneira, que o Plano Diretor é peça chave para planejamento municipal, o enfrentamento dos problemas e a minimização do quadro de desigualdade urbana.

Cabe ressaltar que o Plano Diretor é um instrumento jurídico de natureza vinculante, ou seja, deve ser seguido tanto pelo Poder Público quanto pela iniciativa privada. Isso ocorre por deliberação constitucional por se tratar do planejamento territorial, está baseado no direito à cidade e na função social da propriedade. Entretanto, há que se considerar as consequências no plano econômico já que estabelece o ordenamento territorial e é no espaço físico- geográfico que as atividades econômicas se desenvolvem. Esta constatação abre espaço para

considerar o Plano Diretor um instrumento jurídico e de planejamento que pode ir para além do mero ordenamento do território, mas incorporar estratégias de desenvolvimento local sustentável.

De certo modo, o próprio Estatuto da Cidade versa sobre esta questão no seu inciso I, art. 2º, ao estabelecer como um das suas diretrizes a “garantia do direito a cidades sustentáveis, entendido como o direito à terra urbana, à moradia, ao saneamento ambiental, à infraestrutura urbana, ao transporte e aos serviços públicos, ao trabalho e ao lazer, para as presentes e futuras gerações”. Já o inciso IV, do art. 2º, estabelece como diretriz o “planejamento do desenvolvimento das cidades, da distribuição espacial da população e das atividades econômicas do Município e do território sob sua área de influência, de modo a evitar e corrigir as distorções do crescimento urbano e seus efeitos negativos sobre o meio ambiente”.

Em suma, o Estatuto da Cidade, coloca Plano Diretor em condições de se constituir na principal ferramenta de planejamento municipal servindo de ancora para a elaboração dos demais planos setoriais e as peças orçamentárias.

3 METODOLOGIA

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