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5 NARRATIVA DA DINÂMICA DO SUBSISTEMA DE EDUCAÇÃO

5.1 EVENTOS ANTERIORES

5.1.3 O Plano Nacional de Educação (2001)

Em janeiro de 2001 foi aprovado, na gestão do presidente Fernando Henrique Cardoso, o PNE. O plano foi a consolidação de uma série de reformas, rotuladas por algumas entidades estudantis e sindicais como neoliberais. Para Hermida (2006), as reformas, que sempre foram taxadas de ―modernizantes‖ e que, portanto, atenderiam às inovações tecnológicas, foram fruto dos mais diversos instrumentos utilizados pelo governo: aprovação de projetos de lei, propostas de emendas constitucionais, medidas provisórias, decretos e portarias.

Os antecedentes do Plano remetem a 1997, quando o Ministério da Educação divulgou o documento ―Plano Nacional de Educação – proposta inicial dos procedimentos a serem seguidos‖. O documento preconizava a necessidade de se discutir a reforma da educação junto aos atores da comunidade educacional, de forma análoga ao que ocorreu quando da elaboração do Plano Decenal de Educação em 1993 e 1994. (INEP, 2006).

Nesse primeiro documento já era possível observar diretrizes estabelecidas e apontadas por organismos multilaterais como o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), o Banco Mundial e o FMI. Na visão de Hermida (2006), a problemática das fontes externas e de intelectuais estrangeiros orientando processos de elaboração de documentos para

a educação não era nova, pois ela se manifestava também em outros países da América Latina.

Conforme Saviani (1997), os documentos eram basicamente eram inspirados em expressões encontradas, nas últimas décadas, na ―Aliança para o Progresso‖, nas incursões da United States Development Agency (USAID), nos projetos da Unesco/Cepal/Pnud e nas diretrizes do Banco Mundial, cujas palavras de ordem eram qualidade, produtividade e equidade.

Na análise acerca da visão do Banco Mundial sobre governança e política educacional, Borges (2003, p. 127) afirma que um bom governo e uma boa governança estão associados à valores capitalistas e ocidentais, como a defesa do direito de propriedade e de um ambiente que favoreça o investimento privado, muito mais que a uma forma de governo em particular. Assim, em relação à questão da educação, ―as políticas defendidas pelo Banco trazem um maior envolvimento do setor privado na provisão de serviços educacionais e a ‗minimização‘ da burocracia no setor‖.

Ainda para Borges (2003, p.133), o estímulo ao setor privado, oculto sob a retórica da ―libertação da sociedade civil‖, visa reproduzir nos países do Terceiro Mundo as mesmas bases culturais do capitalismo ocidental desenvolvido, criando, ―assim, uma ‗nova‘ sociedade civil, caracterizada pelo individualismo possessivo de velhas e novas teorias liberais, objetivando acabar com o paternalismo e o populismo estatais‖.

Segundo Marginson e Mollis (2001) e Mollis (2007), nos últimos 17 anos ocorreram significativas mudanças nas políticas de educação superior de vários países da América Latina, como Argentina, Brasil, Chile, México eBolívia, e de ex-repúblicas soviéticas, casos de Mongólia e Bulgária, marcadas, sobretudo, pela criação de uma ―agenda internacional de la modernización de los sistemas educativos superiores‖, estimulada por instituições multilaterais como o Banco Mundial e o Banco Interamericano de Desenvolvimento.

Nesse sentido, o documento ―Plano Nacional de Educação – proposta da sociedade brasileira‖ foi apresentado pelo Deputado Federal Ivan Valente, do PT de São Paulo, partido de oposição ao governo do presidente Fernando Henrique Cardoso. Concomitantemente à sua tramitação na Câmara, um projeto elaborado pelo Executivo tramitava junto à primeira proposta, na Comissão de Educação da Câmara dos Deputados. A Comissão teve como relator o Deputado Nelson Marchezán, do PSDB do Rio Grande do Sul.

O Fórum Nacional em Defesa da Escola Pública começou a articular estratégias de atuação junto ao bloco de oposição política ao governo Fernando Henrique, visando garantir a participação da sociedade através da realização de audiências públicas. Dezesseis dessas

audiências, realizadas entre dezembro de 1998 e agosto de 1999, debateram a questão do Plano. A última delas foi realizada com o então Ministro da Educação Paulo Renato de Souza e foi marcada pela falta de quórum na Câmara. O projeto da sociedade civil foi descartado e os deputados progressistas tentaram alterar o teor do texto através de emendas. Foram apresentadas 160 emendas, que acabaram por não modificar drasticamente a estrutura-base proposta pelo executivo, apesar de vários deputados terem tentado alterá-la.

O PNE foi finalmente aprovado e em nove de janeiro recebeu sanção presidencial, contendo nove vetos à proposta inicial.

Segundo Hermida (2006, p. 251),

(...) na lógica do governo, os artigos vetados ―feriam‖ a Lei de Responsabilidade Fiscal, além de não serem compatíveis com o Plano Plurianual vigente. Na tentativa de combate aos vetos, a sociedade civil se articula através da Campanha Nacional do Direito à Educação, que teve como articulador o senador José Dutra (PT/SP).

Em 20 de junho de 2001 ocorreu uma audiência pública na Comissão de Educação da Câmara dos Deputados para debater os vetos ao projeto, os quais estavam apoiados pela Comissão. Alguns grupos, como o Congresso de Leitura do Brasil, o Movimento Interfóruns de Educação do Brasil e o Fórum em Defesa da Educação Infantil de Pernambuco, tentaram derrubar os vetos, enviando moções ao Ministro e uma carta contendo 50 assinaturas de entidades ligadas à educação.

Todo o processo de discussão, tramitação e de aprovação do PNE no Congresso Nacional confirma a mudança nas estratégias de ação do Estado para a aprovação das políticas educacionais a partir de 1995. Com isso, o Poder Executivo interferiu no processo legislativo, obstruindo a tramitação dos projetos contrários aos seus interesses político- institucionais. (HERMIDA, 2006).

O autor advoga que esta estratégia passou a ser presente no parlamento brasileiro a partir do governo Collor e se tornou sistemática nos dois governos de Fernando Henrique. Ainda, ele ilustra sua afirmação recorrendo ao caso da LDB inédito na história da educação no Brasil: a LDB começou a ser regulamentada mesmo antes de ser aprovada pelo Congresso Nacional, em dezembro de 1996.

Entre as principais deliberações do documento, estava a ampliação do acesso à educação superior, por isso traçaram-se como meta triplicar as matrículas da população dos jovens de 18 a 24 anos em IES. Em 2001, pouco menos de 10% dessa faixa etária estava na

educação superior e a meta do PNE era elevar até 2010 este índice para 30% da população pertencente a mesma faixa etária.

Com a aprovação e implementação do Plano, houve a redefinição dos sistemas educacionais pautadas nas determinações do Banco Mundial que, para Leher (1999), é o MEC dos países periféricos. Convém destacar que o partido do então presidente, o PT, defendia a discussão a respeito do PNE e apoiava as entidades supracitadas.