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Mapa 4 Distribuição espacial dos órgãos partidários do PSDB-CE (2008-2015)

2. O PMDB-CE: PARTIDO PERSONALISTA CENTRALIZADO INFORMALMENTE

2.1- Modelo originário e desenvolvimento organizativo

O processo de formação de um partido é complexo, pois envolve o amálgama de uma pluralidade de grupos políticos que integram a organização. Se essa assertiva é válida para todo tipo de partido, como defende Panebianco [1982], ela se aplica com precisão para o caso do PMDB. Esse partido, como foi dito anteriormente, foi fundado a partir da estrutura organizacional do MDB que abrigava em seu interior membros pertencentes às mais variadas matrizes ideológicas. Esse caráter de “frente oposicionista bastante ampla e genérica” do MDB (FERREIRA, 2002) ocorreu por ser esta a única agremiação partidária de oposição no sistema bipartidário imposto pela ditadura militar. O PMDB herdou essa heterogeneidade em sua composição ideológica, abrigando tanto membros da antiga ditadura militar46, quanto ex-guerrilheiros do antigo MR-8 e militantes comunistas vinculados ao extinto PCB e PCdoB47.

Devido a esse espólio político do MDB, o partido não apresentou dificuldades para cumprir as exigências da Reforma Partidária de 197948. Nessa nova legislação, especificamente em seu Artigo 12, era estabelecido período de doze meses para que a Comissão Diretora Nacional Provisória realizasse convenções em pelo menos nove estados e em 1/5 dos respectivos municípios e elegesse o Diretório Nacional. O PMDB conseguiu, nesse prazo, organizar Diretórios Estaduais em todos os 22 estados existentes, demonstrando uma ramificação só alcançada pelo PDS.

A partir do modelo originário de Panebianco [1982], compreende-se que o PMDB foi caracterizado por meio de uma modalidade mista de penetração e difusão territorial49. Inicialmente, seu desenvolvimento ocorreu por difusão, pois as agremiações locais e regionais que integravam o MDB aderiram ao novo partido, seguindo tendência de “germinação espontânea". Posteriormente, o Diretório Nacional penetrou nos territórios em que não conseguiu alcançar inicialmente.

O segundo fator que particularizou seu modelo originário foi a ausência de instituição externa que promovesse seu nascimento, não sendo vinculado a nenhum

46 Isso se tornou mais evidente quando o PMDB acomodou os filiados do extinto Partido Popular (PP) que

foi fundado por antigos dissidentes da Arena e do MDB.

47 Como os partidos comunistas — PCB e PCdoB — mesmo depois da reforma partidária de 1979

permaneceram na ilegalidade, alguns dos seus militantes aderiram a fundação do PMDB.

48 Processo oposto ocorreu com o PT, como veremos adiante.

49 Mendoza e Oliveira (2003) apresentam tese contrária. Para os autores, a origem territorial do PMDB

ocorreu por penetração, tendo as regiões sudeste e centro-oeste como centro de direção e formação das organizações locais.

sindicato ou grupo religioso, por exemplo. O terceiro fator de seu modelo genético foi a presença de um líder carismático que se arrogava intérprete e símbolo das metas ideológicas originárias. O líder que plasmou a identidade partidária da organização foi Ulysses Guimarães, ministro da Indústria e Comércio no governo de João Goulart (1961- 1962) e deputado federal pelo MDB desde 1966. Este era o presidente do Diretório Nacional do MDB (1972-1979) durante a transição para o sistema pluripartidário e foi posteriormente eleito presidente do Diretório Nacional do PMDB (1979-1991), permanecendo nesse cargo 19 anos.

A identidade do partido estava relacionada a luta de resistência ao autoritarismo e com o processo de restauração da democracia. A legenda se arrogava como representante legítima da oposição, sendo, em termos organizacionais, a maior agremiação oposicionista. O PMDB, como sistema natural, tinha como meta ideológica central a defesa da redemocratização, como percebemos no manifesto do partido:

O PMDB prosseguirá e intensificará a luta travada pelo MDB em prol das grandes teses democráticas: manutenção do calendário eleitoral, eleições diretas em todos os níveis, defesa da autonomia dos municípios e fortalecimento da federação, democratização do ensino, anistia ampla geral e irrestrita, liberdade de informação, restauração dos poderes do Congresso e convocação de uma Assembleia Nacional Constituinte (PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRÁTICO BRASILEIRO, 1981).

Essa identidade relacionada a defesa da redemocratização do país vai marcar o partido durante todo seu desenvolvimento organizativo, representando o seu principal, e talvez o único, incentivo coletivo de identidade. Pela construção dessa identidade coletiva, o PMDB consolidou-se na década de 1980 como o principal partido de oposição. Ocupou o Executivo federal em 1985 quando o então vice-presidente, José Sarney, assumiu o governo após a morte do presidente eleito Tancredo Neves (PMDB). Com o êxito econômico do Plano Cruzado implementado no governo, a legenda alcançou alto desempenho eleitoral nas eleições de 1986. Nesse pleito, elegeu 95,7% dos governadores, 77,6% dos senadores, 53,4% dos deputados federais e 47% dos deputados estaduais (NICOLAU, 1998).

O PMDB ocupou novamente o Executivo federal após o impeachment de Fernando Collor, do Partido da Reconstrução Nacional (PRN), em 1992. Momento em que o vice-presidente, Itamar Franco, assumiu o governo. A legenda também, de 1985 até 1993, assumia a presidência da Câmara Federal e do Senado, sendo ator relevante na arena parlamentar. Desde então, o partido vem compondo a coalizão de governo no

Executivo federal, como Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), Lula da Silva (2003- 2010) e Dilma Rousseff (2011-2016). Com o impeachment de Dilma Rousseff em 2016, o partido assumiu novamente a presidência, tendo o vice-presidente, Michel Temmer, ocupado o governo.

Tendo como espelho o modelo originário do PMDB nacional, percebemos que a construção do PMDB no Ceará apresentou movimento tanto de aproximação quanto de afastamento a esse padrão. No Ceará, a legenda também foi marcada pela heterogeneidade em sua composição ideológica herdada do MDB, como percebemos na seguinte fala:

Eu vim do PCdoB, ainda na época da ditadura. Eu vinha do movimento estudantil do Rio [de Janeiro], vim morar no Ceará em [19]81. E eu cheguei na faculdade já com essa ligação. Fui militar no PMDB em 1982, ainda não filiada de fato, pois o partido [PCdoB] tirou alguns deputados do PMDB para apoiar. Até porque estávamos todos dentro do PMDB, o PCdoB e outros partidos eram proscritos na época, então a militância se dava dentro do PMDB. Alguns desses candidatos eram do próprio PCdoB e outros eram do próprio PMDB com uma postura considerada mais avançada. Que era o caso do Paes [de Andrade]. Os, digamos assim, mais, mais trotskistas apoiaram a campanha da Maria Luiza [Fontenele] e outros mais ortodoxos apoiaram Paes [de Andrade]. [...] Depois, muitos colegas saíram do PMDB, que era um grande guarda-chuva, para participar de outros partidos, como o PT e o PDT. Mas eu preferi ficar no PMDB (ROSÂNGELA AGUIAR, delegada do partido e presidenta do PMDB-Mulher. Entrevista concedida ao autor em 17/11/2015).

Por esse depoimento, percebemos que o PMDB acolhia integrantes de variados matizes ideológicos, como progressistas e trotskistas que instrumentalizavam o partido para ocupar cargos na política institucional.

Na criação do PMDB no Ceará, o partido também foi marcado por uma origem territorial do tipo mista. Ocorreu penetração territorial centralizada na capital do estado — já que em Fortaleza o partido era mais estruturado — e difusão territorial por meio da transição das agremiações do MDB no interior do estado que aderiram a criação do PMDB. Nos dois Diretórios Municipais do interior do Ceará pesquisados — Mombaça e Nova Olinda —, o PMDB local foi estruturado a partir das mesmas lideranças do MDB. Esse modelo misto de desenvolvimento territorial do partido é percebido na seguinte fala: Trabalho mesmo foi criar o MDB no Ceará. Quase que não conseguimos fazer um partido de oposição, porque o que todo mundo queria era ser governo. Quando criaram aqui o MDB, o primeiro Diretório foi o de Fortaleza e em seguida foram para Campos Sales fundar o segundo Diretório. Lá tinha uma influência muito grande de Pernambuco por conta das Ligas Camponesas que estavam naquele estágio de crescimento. Esse município se mostrou como de oposição

ao regime de exceção. Mas já a fundação do PMDB foi tranquila, pois tínhamos todo esse trabalho do MDB. Em Fortaleza, o partido era mais forte e depois que conseguimos fazer o trabalho para transformar o MDB no interior em PMDB, nós tentamos criar o PMDB nas cidades que ainda não tinha o partido (JOÃO ALVES MELO, secretário-geral do PMDB-CE. Entrevista concedida ao autor em 17/11/2015).

O processo de “germinação espontânea" do PMDB no interior do estado é percebido na fala dos dirigentes nos Diretórios Municipais. Abaixo, percebemos uma fala que ilustra esse desenvolvimento territorial por difusão:

O PMDB aqui foi criado por meio de toda a história do MDB. Aqui nós temos uma tradição, uma relação muito forte com Paes de Andrade, que é filho de Mombaça! Digo que a tradição do PMDB, o amor pelo partido, passa de pai pra filho, de geração pra geração. Em todas as cidades aqui perto que acompanhei, as lideranças partidárias que eram do MDB passaram para o PMDB. Foi uma coisa muito natural (DIANA BARRETO, secretária-geral do PMDB de Mombaça e ex-vice-prefeita. Entrevista concedida ao autor em 15 e 16 /10/2015).

Esse entendimento de que a criação do PMDB foi baseada em herança familiar, no qual o cargo de liderança do partido era passado de uma geração a outra, não está presente apenas no Diretório Estadual do Ceará. Ferreira (2002), ao investigar o PMDB nacional, constatou a mesma ideia, demostrando que essa é uma característica geral do partido. Nessa pesquisa, a autora ilustra essa percepção por meio da fala da ex- presidenta do Diretório Estadual de Goiás, Íris Araújo. Essa liderança política defende que “[...] existe no PMDB até uma condição diferente dos outros partidos porque ele tem uma história, tem um alicerce e tem uma tradição que é aquela de passar de pai para filho” (FERREIRA, 2002, p.148, grifo nosso).

Outro aspecto que aproxima o PMDB do Ceará do padrão nacional é a ausência de relação com instituições externas ao partido no momento da sua fundação. Porém, diferente do plano nacional que contou com a presença do líder carismático, no caso Ulysses Guimarães; o Diretório Estadual não apresentou esse tipo de liderança. Entretanto, cabe ressaltar que dois políticos se mantiveram no centro de gravidade da coalizão dominante do partido: Antônio Paes de Andrade e Carlos Mauro Cabral Benevides. Ambos eram filiados ao PSD e com a imposição ao bipartidarismo integraram a ala do partido que fundou o MDB no Ceará.

No momento de criação do MDB, Paes de Andrade ocupava o cargo de deputado federal, eleito em 1962, e já acumulava três mandatos consecutivos como deputado estadual (1951-1962). Herdando o background familiar de seu sogro, Paes de Andrade logo consolidou-se como liderança nacional do partido.

O sogro de Paes de Andrade, José Martins Rodrigues, era a principal liderança estadual do PSD e posteriormente comandou a fundação do MDB no estado. Apresentava uma carreira política consolidada, como percebemos pelos cargos que ocupou: deputado federal por três mandatos consecutivos (1955-1969), ministro da Justiça (1961) nomeado por Ranieri Mazzilli (PSD), secretário estadual do Interior e Justiça e da Fazenda no Ceará (1935-1943) e deputado estadual (1925-1930).

Já Mauro Benevides acumulava dois mandatos consecutivos como deputado estadual (1959-1966) — tendo ocupado o cargo de presidente da ALECE (1963-1965) — e um mandato como vereador de Fortaleza (1955-1959).

As duas estrelas do partido não entraram em colisão porque entre os dois existia um acordo tácito. Enquanto Paes de Andrade se ocupava da política nacional, Mauro Benevides exercia a mediação das negociações regionais e locais. Essa divisão do trabalho político-partidário já ocorria no período de fundação do MDB. Mesmo quando Mauro Benevides assumiu cargo de projeção nacional, como senador entre 1974 e 1986, esse pacto não foi rompido. Como é salientado por um membro do partido: “Entre os dois existia uma parceria muito forte. Um não se metia na questão do outro” (ROSÂNGELA AGUIAR, delegada do partido e presidenta do PMDB-Mulher. Entrevista concedida ao autor em 17/11/2015).

A divisão de trabalho entre as lideranças permitiu que a coalizão dominante estabilizasse o MDB e posteriormente o PMDB. No período de transição, por exemplo, a liderança regional do partido continuou a ser exercida por Mauro Benevides, que ocupava esse cargo desde 1969. Essa manutenção da ordem organizativa atravessou a eleição fundante de 1982. Na disputa para a ALECE e para a Câmara Federal, a balança pendeu a favor da coalizão dominante que conseguiu se reproduzir ao reeleger seus integrantes50 e controlar elites insurgentes dentro da agremiação.

Embora em 1982 o partido tivesse mantido essa estabilidade da sua coalizão dominante, a agremiação, em contraste com o crescimento eleitoral do PMDB nacional, não obteve expansão quanto ao número de cargos eletivos conquistados. Pois, como

50 Destacamos a reeleição em 1982 de membros que integravam a coalizão dominante. Destaca-se para o

cargo de deputado federal Antônio Paes de Andrade e Antônio Alves de Moraes e para deputado estadual Carlos Eduardo Benevides, Francisco Castelo de Castro e Antônio Eufrasino Neto. Embora a deputada estadual Maria Luiza Fontenele tenha sido reeleita, esta não consta na lista porque pertencia a uma facção dentro do partido que se opunha a coalizão dominante. No capítulo adiante sobre o PT abordaremos a trajetória de Maria Luiza.

vimos no capítulo anterior, o partido apresentou o mesmo desempenho histórico do MDB no estado.

O PMDB continuou com uma estratégia de adaptação ao ambiente, tática adotada durante o período do MDB. O partido buscava a conservação de quotas de poder, mantendo-se no mercado político por meio do vácuo deixado pelo partido dominante, o PDS. A organização já estava consolidada no sistema de interesses, possuindo território de caça e base eleitoral circunscrita aos grandes centros urbanos. Por esse motivo, a agremiação não se inseriu no sistema partidário por meio de uma política agressiva de dominação e transformação do ambiente, pois adotar tal política aventureira poderia encolher seu mercado eleitoral e torná-lo alvo da revanche do partido concorrente e hegemônico, o PDS. Preferiu se aclimatar na disputa eleitoral, beneficiando-se das fissuras internas do partido governista.

Porém, o período de estagnação e calmaria na agremiação era momentâneo. O cenário regional de instabilidade no sistema de dominação política exercido pela ARENA/PDS favorecia o crescimento organizativo e eleitoral da oposição, liderada pelo PMDB. Ressaltam-se dois fatores que, embora tenham alterado o sistema de força em favor do PMDB, trouxeram instabilidade à coalizão dominante do partido.

O primeiro fator foi a filiação do então governador Gonzaga Mota. Este, que era vinculado ao PDS, passou a se aproximar da agenda política nacional ao longo do seu mandato (1983-1986). A política nacional durante o contexto de transição democrática foi marcada pelo movimento de Diretas Já, em 1984, e a eleição indireta de Tancredo Neves (PMDB) para a Presidência da República em 1985. Como o PMDB nacional e os governadores desse partido estavam envolvidos nessas pautas, Gonzaga Mota como governador acabou se aproximando dessa agremiação.

A integração de Gonzaga Mota ao PMDB estadual foi conflituosa. Na imprensa local, foram publicadas diversas matérias denunciando o embate interno do partido, como fica evidenciado no título da matéria: “Partilha de cargos divide peemedebistas” (O POVO, 03 mai. 1985). Esses conflitos eram, em sua maioria, motivados pela divisão de cargos no governo. Existia a denúncia de que os chefes do PMDB queriam metade dos cargos na gestão de Gonzaga Mota.

Dentro do PMDB, havia atritos entre dois grupos: a) neopeemedebistas ou “gonzaguistas”, formados em sua maioria por deputados e prefeitos ligados diretamente ao governador ou por filiados que ocupavam postos no governo estadual; b) históricos, liderados por Mauro Benevides, que exerciam cargos centrais na estrutura partidária.

Gonzaga Mota tentou ocupar posição de comando dentro do partido e, para isso, buscou articular aliança para a eleição municipal de Fortaleza em 1985. Nesse pleito, o partido adotou ação política de dominação do ambiente ao apresentar candidatura própria ao Executivo. Entretanto, a aliança que Gonzaga Mota costurou com o PFL fracassou e o candidato do PMDB não foi eleito. A chapa “puro sangue” do partido, que tinha o então deputado federal Paes de Andrade como candidato a prefeito e o radialista Narcélio Sobreira Limaverde como vice-prefeito, obteve 148.427 votos (31,9% dos votos válidos).

Após a derrota nas eleições, a crise interna no PMDB se agravou e Gonzaga Mota foi marginalizado dentro da agremiação. Foram noticiadas especulações sobre sua desfiliação e sobre uma possível adesão ao PDT, partido então presidido pelo deputado federal Lúcio Alcântara. Como podemos perceber nos títulos das matérias: “Gonzaga diz que não há motivo para o rompimento” (SERPA, O POVO, 14 ago. 1985) e “Plano para 86 exclui Gonzaga da política. Nas eleições majoritárias nenhuma vaga seria dele” (O POVO, 02 dez. 1985).

Este conflito foi provisoriamente solucionado após a intermediação de integrantes da agremiação partidária no plano nacional, como o então presidente José Sarney (PMDB), como foi publicada na matéria: “Mota afirma que fica no PMDB e recusa PDT. Em Brasília, o Governador pede apoio a Sarney” (O POVO, 03 dez. 1985). Para apaziguar os conflitos internos do Diretório Estadual, foi estabelecido acordo em que Gonzaga Mota indicaria metade dos integrantes da Executiva Estadual e a ala do “PMDB histórico” ocuparia também a metade das secretarias do governo. Esse acordo foi noticiado na matéria: “PMDB quer a metade dos cargos do Governo. Isso resulta da integração do Mota ao partido” (O POVO, 04 dez. 1985).

Embora, como vimos, a incorporação de Gonzaga Mota ao PMDB não tenha sido tranquila, ela possibilitou visibilidade ao partido e permitiu que a agremiação ocupasse postos no governo estadual, aumentado seu capital político para futuras disputas eleitorais.

Outro fator que permitiu o fortalecimento do PMDB no estado foi a adesão dogrupo de jovens empresários ligados ao CIC. Essa associação de empresário locais se notabilizou como espaço de discussão e debate durante o processo de redemocratização, construindo capital simbólico de oposição ao regime militar e aos políticos tradicionais que lideravam a política estadual.

O CIC conseguiu firmar a candidatura do seu ex-presidente (1981-1983), o empresário Tasso Jereissati, ao Executivo estadual em 1986. Essa candidatura, segundo Mota (1992), foi articulada pelo então presidente José Sarney (PMDB) que passou a interferir na sucessão estadual no Ceará para consolidar o partido no estado. O presidente estava fortalecido pelo sucesso do plano econômico que combateu a inflação e estabilizou temporariamente a economia.

As lideranças históricas do Diretório Estadual do Ceará acataram a candidatura de Tasso Jereissati como govenador, visto que, no acordo, o então presidente regional Mauro Benevides, seria o candidato ao Senado e o então deputado estadual Francisco Castelo de Castro seria o vice-governador.

Similar ao que aconteceu com Gonzaga Mota, a incorporação de Tasso Jereissati ao PMDB foi conturbada. Os conflitos internos no partido tornaram-se públicos na sua gestão (1987-1990), quando houve embate entre o Legislativo e o Executivo estaduais. O governador, embora tivesse mais da metade dos deputados estaduais filiados a seu partido, enfrentou dificuldades para aprovar projetos, sobretudo os que envolviam medidas de austeridade fiscal e de racionalização da máquina pública (PESSOA JÚNIOR, 2011).

É interessante observar que no momento de impasse no Diretório Estadual, quando a coalizão dominante não conseguia estabelecer consenso mínimo para garantir a estabilidade da organização, o Diretório Nacional intermediou a resolução dos conflitos. Isso aconteceu nos dois episódios que envolveram os então governadores do partido — Gonzaga Mota e Tasso Jereissati. Quando essas duas lideranças foram filiadas, elas já possuíam capital político consolidado, sendo suas lealdades externas à agremiação. Gonzaga Mota era governador no momento em que esse cargo assumia forte protagonismo nacional na transição política e Tasso Jereissati era empresário vinculado ao CIC. Essas lideranças não se submeteram as ordens da coalizão dominante do partido, sendo necessária a ação direta do plano nacional, tanto do Diretório Nacional do PMDB quanto do presidente da República, José Sarney (PMDB). Cabe observar que os governadores tiveram protagonismo no período da redemocratização, inclusive porque foram os primeiros chefes do Executivo a serem eleitos, já que a eleição direta para a presidência da República só ocorreu em 198951.

51 Para mais informações sobre o papel desempenhado pelos governadores no processo democrático, ver

No momento inicial que envolveu as duas primeiras eleições no estado, o PMDB passou por uma fase de forte instabilidade. Diante das novas posições assumidas no período de transição, como a conquista do Executivo estadual em 1986 e a maioria da bancada na ALECE, o partido apresentou uma crise de identidade. Internamente, a agremiação apresentava-se dividida, pois não existia consenso quanto a sua linha política, se continuaria assumindo papel de oposição ou se adotaria nova estratégia de ação como partido governista. Após a agenda de transição, essa crise no PMDB também atingiu o plano nacional no período em que José Sarney foi presidente, como constatado na

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