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2 MARCO TEÓRICO-CONCEITUAL DE REFERÊNCIA

2.4 O poder no processo de decisão de compras

Dentro da estrutura da organização, a decisão é tomada pelo possuidor do poder, pelo que exerce o poder. A estrutura piramidal lhe dá um “chefe”, todavia, é o aparelho que produz poder e distribui os indivíduos nesse campo permanente e contínuo. E dentro do processo de compras de material de consumo ou de livros para a biblioteca, o poder distribuído nas diferentes etapas do fluxo, permite que as decisões sejam tomadas, inicialmente, pelos responsáveis por cada etapa do processo. E, dentro dessa dinâmica de decisões, a tomada de decisão exige várias etapas e ações a serem realizadas para que o processo decisório seja finalizado com sucesso.

Na concepção de Mintzberg (1999) o que importa não é, evidentemente, o controle sobre as decisões, mas, sim o controle sobre as ações: sobre o que a organização realmente

faz. As ações podem ser controladas de muitas outras formas para além do simples exercício da escolha. Propondo uma aproximação com Mintzberg, Foucault (1995) define que as relações de poder consistem em um modo de ação que age sobre outra ação, onde o poder age de modo sutil por meio de uma estrutura de ações. O poder sobre cada uma das fases do processo de decisão – do desencadeamento do estímulo original até ao último pormenor de execução final – constitui um certo poder sobre o conjunto do processo, que Foucault (1999a) afirma como “um conjunto de ações sobre outras ações.”

Paterson (1969, p. 150 apud MINTZBERG, 1999, p. 216) oferece-nos um quadro de referência útil para que possamos compreender essa questão, como pode ser visto na Figura 5. Ele representa o processo de decisão por meio de passos: (1) recebe a informação para passar ao decisor, sem qualquer comentário sobre o que pode ou não pode fazer; (2) a informação é processada para poder aconselhar o decisor, sobre o que deve ser feito; (3) o exercício da escolha, isto é, determina-se o que se pretende fazer; (4) a autorização para se fazer o que se escolheu; (5) e, por fim, a execução do que foi decidido e autorizado.

Figura 5 - Um contínuo do controle sobre o processo de decisão

Fonte: Paterson (1969) apud Mintzberg (1999, p.216).

As relações de poder nos processos citados dão-se dentro de um amplo e regrado processo da decisão, o qual se materializa nos fluxos. Embora os passos estejam bem definidos, não podemos deixar de destacar que as relações de poder estão presentes, e onde à poder, à resistência, e que os choques entre poder e resistência geram novas e infindáveis configurações de poder. E apesar dos pontos de resistências estarem presentes em todas as redes de poder, eles não são um reverso passivo das relações de poder e nas decisões. E essas relações de força permitem que, em momentos distintos, alguns exerçam poder sobre outros.

Por conseguinte, Mintzberg (1999) relata que o poder de um indivíduo é determinado pelo seu controle sobre todos passos. Quando o poder é maximizado o processo de decisão torna-se mais centralizado e controlando todos os passos, assim, “o decisor recolhe sua

própria informação, analisa-a, faz a escolha, não se faz necessário pedir autorização a seus superiores e, por fim, executa a sua própria decisão” (MINTZBERG, 1999). Todavia, se há interferência no processo de decisão, o poder diminui e o processo passa a ser descentralizado.

Na visão de Mintzberg (1999) o controle sobre a informação inicial permite que outra pessoa selecione os fatores que serão ou não no processo final de decisão. Quando a informação é totalmente filtrada, tal controle pode ser equivalente ao controle sobre a própria escolha. Mas, o poder mais importante é o poder de aconselhar, porque empurra a pessoa que vai tomar a decisão numa só direção (MINTZBERG, 1999).

Apesar das distinções clássicas entre os operacionais e os funcionais, há ocasiões em que a linha que os separa (entre a função de aconselhar e a função de decidir) se torna na realidade ténue. A História nos dá exemplos de reis que não passavam, virtualmente, de figuras de proa, ao passo que os seus conselheiros controlavam, e fato, os negócios de Estado. (MINTZBERG, 1999, p. 216).

O controle sobre o que acontece depois da escolha ter sido efetuada também pode constituir uma fonte de poder. E o direito de autorizar uma escolha dá, bem entendido, o direito de bloquear ou mesmo modificar essa escolha. E o direito de executar uma decisão confere muitas vezes o poder de influenciar ou mesmo modificar essa decisão.

Como se lê na Figura 5, quem obtiver o controle sobre a informação inicial permitirá que essa pessoa selecione quais as informações farão parte ou não do processo final de decisão. A partir do momento que a informação é totalmente filtrada, tal controle se iguala ao controle sobre a própria escolha. O poder de escolha é o mais importante, pois empurra a pessoa que irá tomar a decisão em uma única direção.

De acordo com Mintzberg (1999), o processo decisório da Figura 5 mostra que o controle sobre o que acontece depois da escolha ter sido efetuada também pode constituir uma fonte de poder. E o direito de autorizar uma escolha dá, bem entendido, o direito de bloquear ou mesmo modificar essa escolha. E o direito de executar uma decisão confere muitas vezes o poder de influenciar ou mesmo modificar essa decisão.

Diante dessa visão de controle sobre o processo, onde quem detêm o poder de aconselhar, poderá exercer um poder maior no processo de decisão, observa-se que a estrutura organizacional não é um fator determinante no que tange ao exercício do poder. Verifica-se que as relações de poder têm um peso significativo, e quem consegue melhor utilizar esse poder, consegue estabelecer um controle sobre os demais. O indivíduo dentro de sua rede de

relacionamentos sempre está em posição de exercer o poder e de sofrer sua ação, são sempre centros de transmissão, que não lhe permitem ficar inertes ao poder. O poder sempre estará passando pelo indivíduo. “Ou seja, o indivíduo não é o outro do poder: é um de seus primeiros efeitos” (FOUCAULT, 2017). O indivíduo é um efeito do poder simultaneamente, ou pelo próprio fato de ser um efeito, seu centro de transmissão. “O poder passa através do indivíduo que ele constitui”. (FOUCAULT, 2017).

O poder é uma variável relevante que permite compreender os movimentos de relações nas quais existem ações cooperativas e ações decorrentes de interesses individuais. Assim, o poder é um fenômeno dinâmico, capaz de mudar à medida que as crenças ou expectativas sobre uma situação são alteradas. Essas características tornam o poder um fator importante na compreensão do processo decisório em geral, e, especificamente, na sua distribuição dentro da estrutura organizacional.