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O POSICIONAMENTO DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

O Superior Tribunal de Justiça vinha entendendo

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, há alguns anos, se

enquadrar a Reclamação como incidente processual. Em razão de tal entendimento,

inclusive, afastava hipótese de condenação do sucumbente ao pagamento de

honorários advocatícios:

CONSTITUCIONAL E PROCESSUAL CIVIL. RECLAMAÇÃO. GARANTIA DA AUTORIDADE DE JULGADO DESTA CORTE IMPUGNADO VIA RECURSO PARA O STF: ADMISSIBILIDADE. DESRESPEITO AO ACÓRDÃO DESTE TRIBUNAL POR PARTE DE AUTORIDADE ADMINISTRATIVA. CONDENAÇÃO EM HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS: IMPOSSIBILIDADE. PROCEDÊNCIA PARCIAL.

I - A reclamação pode ser ajuizada para garantir a autoridade de acórdão desta Corte, impugnado via recurso para o STF, pois tanto o recurso extraordinário como o agravo de instrumento não produzem efeito suspensivo. Sob outro prisma, ao contrário da ação rescisória, a reclamação não pressupõe o trânsito em julgado da decisão supostamente desrespeitada. Inteligência do art. 105, I, f, da CF/88, dos arts. 13 a 18 da Lei n. 8.038/90, dos arts. 187 a 192, do RISTJ e do art. 485 do CPC.

II - Para o fim de reclamação, é irrelevante se a autoridade que está desrespeitando julgado desta Corte é judiciária ou administrativa. Voto vencido.

III - A reclamação serve para anular o auto de infração (e a respectiva decisão administrativa) lavrado após a prolação do acórdão do STJ concessivo de segurança.

IV - É vedada a condenação em verba de patrocínio na reclamação. A reclamação é apenas um incidente processual. Não dá ensejo à formação de uma nova relação jurídica-processual, tendo em vista a inexistência de citação do reclamado para se defender. Trata-se de mero incidente, através

91MENDES, ob. cit., p. 22.

92 Rcl .502/GO, Rel. Ministro ADHEMAR MACIEL, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 14/10/1998, DJ

do qual se busca preservar a autoridade da decisão proferida no processo, bem como a competência da corte superior a quem cabe julgar determinado recurso interposto no processo.

V - Reclamação julgada parcialmente procedente, sem imposição de condenação em honorários advocatícios.

Vale apontar passagem do voto do ministro relator, acompanhado pela

maioria - vencido apenas o ministro Ari Pargendler, que a entendia se tratar do

exercício de ação

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- :

(...). Trata-se de mero incidente, através do qual se busca preservar a autoridade da decisão proferida no processo, bem como a competência da Corte superior a quem cabe julgar determinado recurso interposto no processo.

Com efeito, como bem defendeu o Professor MONIZ DE ARAGÃO em tese de concurso, "reclamação, longe de ser uma ação, ou um recurso, é um incidente processual, provocado pela parte ou pelo procurador-geral, visando a que o STF imponha a sua competência quando usurpada, explícita ou implicitamente, por qualquer outro juiz" (A correição parcial. Curitiba, 1969, pág. 110).

PONTES DE MIRANDA, é certo, defende a tese de que "a reclamação não é recurso; é ação contra ato do juiz suscetível de exame fora da via recursal" (Comentários ao Código de Processo Civil, Tomo V, 1ª ed., 1974, pág. 384) (grifei). Prefiro, no entanto, pelas razões acima apresentadas, a orientação defendida por MONIZ DE ARAGÃO.94

Dez anos após, em idêntico sentido, a Reclamação 2.017/RS

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, assim

ementada:

RECLAMAÇÃO. DESCUMPRIMENTO DE DECISÃO PROFERIDA PELO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. AUTOS DE RECURSO ORDINÁRIO. MANDADO DE SEGURANÇA. PAGAMENTO DAS PARCELAS VENCIDAS APÓS A IMPETRAÇÃO.

HONORÁRIOS DE ADVOGADO EM SEDE DE RECLAMAÇÃO. DESCABIMENTO. PEDIDO JULGADO PROCEDENTE.

93 "A reclamação não é recurso; é ação contra ato do juiz suscetível de exame fora da via recursal"

(op. cit. p.384). "A ação de reclamação que rechaça o ato do juiz e repele a interpretação que fora dada à decisão sua, no tocante à força e à eficácia, tabém é constitutiva negativa. A ação de reclamação que rechaça o ato do juiz por ter retardado, materialmente, a cognição pelo tribunal superior, é mandamental" (ibid. p. 384). Na praxe forense - acrescento - tem-se dito que a reclamação é um recurso invertido: de cima para baixo.

O art. 13 da Lei 8.038, de 1990, manteve esse perfil da reclamação, ao dispor: "Para preservar a competência do Tribunal ou garantir a autoridade das suas decisões, caberá reclamação da parte interessada ou do Ministério Público. Parágrafo único - A reclamação, dirigida ao Presidente do Tribunal, instruída com prova documental, será autuada e distribuída ao relator da causa principal, sempre que possível".

(Rcl .502/GO, Rel. Ministro ADHEMAR MACIEL, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 14/10/1998, DJ 22/03/1999.)

94 STJ Rcl .502/GO, Rel. Ministro ADHEMAR MACIEL, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 14/10/1998,

DJ 22/03/1999, p. 35.

95 Rcl 2.017/RS, Rel. Ministra JANE SILVA (DESEMBARGADORA CONVOCADA DO TJ/MG),

1. Consoante jurisprudência do STJ, o pagamento de verbas atrasadas em sede de mandado de segurança restringe-se às parcelas existentes entre a data da impetração e a concessão da ordem.

2. É vedada a condenação em verba de patrocínio na reclamação. Precedente.

3. Pedido que se julga procedente, para determinar o pagamento das verbas vencidas durante o período entre a data da impetração e a concessão da ordem, sob o regime de precatório.

A eminente relatora Jane Silva, Desembargadora convocada do Tribunal de

Justiça de Minas Gerais, já atentava para a matéria aparentemente pacificada na

jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça:

No tocante à condenação em verba de patrocínio na reclamação, a jurisprudência do STJ indica não ser possível. Isto porque, trata-se de mero incidente processual, através do qual se busca preservar a autoridade da decisão proferida no processo, no qual não há formação de uma nova relação jurídico-processual.

Todavia, nos últimos anos, fulcrando-se em precedente do STF datado de

2003 - ou seja, precedente exarado cinco anos antes do acórdão acima referido

(2008), que dele divergia -, o Superior Tribunal de Justiça (Corte Especial,

unanimidade)

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passou a entender que a Reclamação seria, na verdade,

manifestação do direito de petição presente no artigo 5º, XXXIV, da Constituição

Federal:

AGRAVO NOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NA RECLAMAÇÃO. PETIÇÃO INICIAL INDEFERIDA. AUSÊNCIA DE OFENSA DIRETA À AUTORIDADE DE DECISÃO DO STJ. NATUREZA JURÍDICA DA RECLAMAÇÃO. DIREITO CONSTITUCIONAL DE PETIÇÃO.

1. Se o Tribunal de origem, em 2013, revogou a prisão domiciliar deferida pelo Juízo das Execuções, mas o fez com esteio na incompetência do juízo para converter a prisão cautelar em domiciliar, e em fatos supervenientes que alteraram a situação vigente em 2004, quando a Corte Especial concedeu o benefício ao reclamante, não há falar em ofensa direta à ordem emanada do STJ.

2. No julgamento da ADI 2.212 (Tribunal Pleno, Rel. Min. Ellen Gracie, DJ de 14.11.2003), o Plenário do STF definiu que a reclamação não tem natureza jurídica de recurso, de ação, nem de incidente processual, mas de direito constitucional de petição, de sorte que a discussão acerca da justiça da decisão proferida pelo Tribunal de origem não pode se realizar nesta via estreita.

3. Agravo regimental desprovido.

96 AgRg nos EDcl na Rcl 12.009/SP, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, CORTE ESPECIAL, julgado

No mesmo sentido, outro julgado da Corte Especial do Tribunal Superior

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,

também por unanimidade e também no sentido de se tratar de exercício do direito de

petição:

AGRAVO REGIMENTAL NA PETIÇÃO. RECLAMAÇÃO

CONSTITUCIONAL. SOBRESTAMENTO DO PROCESSO.

INCOMPETÊNCIA DESTA CORTE. AGRAVO INTERNO DESPROVIDO. I - A Reclamação Constitucional, na visão do Supremo Tribunal Federal, é instituto que não tem natureza jurídica nem de recurso, nem de incidente processual, mas sim de direito constitucional de petição, previsto no artigo 5º, XXXIV da Constituição Federal". (ADI 2212/CE, Rel. Min. Ellen Gracie, julgado em 2/10/2003).

II - Incompetência desta Corte para a análise do pleito, tampouco notícia nos autos de que o Relator da reclamação apresentada no STF tenha determinado a pretendida suspensão.

III - Agravo regimental desprovido.

Conclui-se, portanto, que, ainda que no Supremo Tribunal Federal a questão

relativa à natureza jurídica da Reclamação esteja envolta e divergência e

obscuridade, não havendo sido encontrado, até o momento, um precedente

realmente pacífico e legítimo através do qual possamos nos nortear em termos

práticos, no Superior Tribunal de Justiça as coisas aparentam ser mais simples,

sendo relativamente remansoso haver saído vencedora a corrente que entendia se

tratar de direito de petição, ou seja, medida administrativa. Mas há uma enorme

exceção.

3.7. DA RECLAMAÇÃO AO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA COMO

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