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O preconceito ao portador de deficiência no ambiente de trabalho

As pessoas que são portadoras de algum tipo de deficiência, geralmente são vítimas de discriminação e preconceito. Há muito tempo são consideradas e vistas pela sociedade como

seres incapazes, que não têm capacidade de ter uma profissão, obter seu próprio sustento ou até mesmo de exercer qualquer atividade profissional. No século passado, segundo Figueira (2008, p. 36), quando nascia uma criança com deformidades físicas, estas eram imediatamente rejeitadas, acreditando-se que “traziam maldição para a tribo ou coisa da natureza.”

A deficiência, não só no ambiente de trabalho, mas também na sociedade em geral, é vista com outros olhos, ou seja, as pessoas agem como se a deficiência fosse algo contagioso, ou seja, que conviver com algum deficiente o tornaria deficiente também. No geral, as pessoas têm dificuldades de assimilar e ver que os deficientes não são incapazes, que possuem algumas limitações mas que em nada as impede de conviver em sociedade e arrumar um emprego. João Baptista Cintra Ribas (1997, p. 39) disserta sobre a temática, afirmando que:

Algumas pessoas têm medo, inclusive, de conviver com as pessoas com deficiência, como se a deficiência fosse 'contagiosa' e desaprovam a convivência daqueles que escolhem um(a) parceiro(a) com deficiência através de chantagens e outros tipos de manipulação, auxiliando a perpetuação do preconceito e mantendo a exclusão.

No ambiente de trabalho, o preconceito é visível e está presente de várias formas. Começa na contratação do empregado, pois no mundo capitalista em que se vive, cada vez se exige mais dos funcionários, que devem produzir e render mais para as empresas. Sendo assim, não há espaço para o bem estar do funcionário no mercado de trabalho, apenas para a alta produção. No momento da contratação já inicia o preconceito com relação ao funcionário que possui alguma deficiência. Algumas empresas somente visam preencher a vaga e atender os requisitos que a lei exige e, com isso, acaba deixando de lado a qualificação e colocando os deficientes em funções que exigem menos conhecimentos, negando-lhes a oportunidade de serem inseridos em cargos mais importantes. Destarte, o empregado que possui alguma deficiência acaba por ter uma remuneração menor que os demais e não tem oportunidade de crescer dentro da empresa. Alguns empregadores, inclusive, quando exigidos a cumprirem as cotas estabelecidas em lei buscam orientações jurídicas para não precisarem cumprir a determinação legal.

Logo que o poder público de fiscalização iniciou a pressão, algumas empresas contrataram advogados pedindo que buscassem argumentos jurídicos que as livrassem da obrigatoriedade de contratar as pessoas com deficiência, porém não tiveram nenhum êxito com esta atitude, uma vez que o poder público entende até hoje é que a lei que determina a contratação de pessoas com deficiência pelas empresas – conhecida por Lei de Cotas – faz

parte de uma política de discriminação positiva que, por meio da obrigatoriedade imposta por lei, vem compensar anos e anos de exclusão do mundo do trabalho. Baseado nesse princípio, todo e qualquer arrazoado que venha de departamento jurídico de empresas e que queira justificar a impossibilidade de sequer imaginar alternativas de inclusão profissional tem contado com a mais absoluta intolerância do Ministério do Trabalho e do Ministério Público do Trabalho. (RIBAS, 2007, p. 99).

Outra forma de preconceito é a que vem dos colegas de trabalho, que não aceitam em meio da sua equipe uma pessoa com deficiência. Além disso, muitas vezes, acabam isolando os deficientes, pois os julgam como se eles não tivessem capacidade de trabalhar e que só estariam na empresa por um simples cumprimento da lei.

Outras vezes não aceitam que os deficientes possam ganhar um bom salário, e acreditam que são superiores a eles e que estão trabalhando para pagar o salario do colega que possui uma deficiência. Há casos, ainda, em que o portador de deficiência exerce um cargo de chefia dentro da empresa, e os seus comandados acabam por ignorar as tarefas que lhe são encaminhadas, pois não aceitam serem comandados por um deficiente.

Esses tipos de condutas são muito difíceis de serem percebidos, pois os deficientes, muitas vezes, não denunciam as condutas preconceituosas dos colegas por receio de que lhes possa acontecer algo. Além disso, os deficientes, geralmente, são minoria nas empresas.

Para evitar esse tipo de constrangimento e as práticas de discriminação e preconceito dentro das empresas, devem ser adotadas ideias que sensibilizem o quadro de funcionários a eliminar o preconceito, partindo sempre do pressuposto que todos são iguais e que possuem capacidade, e que se estão no quadro de funcionário é porque estão aptos a isso.

Além disso, a empresa deve adotar outras medidas para controlar o preconceito dentro do ambiente de trabalho. Uma delas é manter em seu ordenamento interno normas sobre o tratamento a ser imposto aos funcionários que possuem alguma deficiência, como descreve o art. 24, inc. III, do Decreto-Lei nº 5.296/2004:

Art. 24. Os estabelecimentos de ensino de qualquer nível, etapa ou modalidade, públicos ou privados, proporcionarão condições de acesso e utilização de todos os seus ambientes ou compartimentos para pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida, inclusive salas de aula, bibliotecas, auditórios, ginásios e instalações desportivas, laboratórios, áreas de lazer e sanitários.

[...]

III - seu ordenamento interno contém normas sobre o tratamento a ser dispensado a professores, alunos, servidores e empregados portadores de deficiência, com o objetivo de coibir e reprimir qualquer tipo de discriminação, bem como as respectivas sanções pelo descumprimento dessas normas.

O ambiente de trabalho deve ser o melhor possível, a fim de que possa o empregado se sentir acolhido e não discriminalizado por ter uma deficiência. Assim, o empregado terá um rendimento maior, gerando mais lucros para a empresa e, consequentemente, a empresa terá cumprido seu papel social de inclusão do deficiente no mercado de trabalho.

2.4 O Estatuto da Pessoa com Deficiência como ferramenta de efetivação da inclusão no