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Capítulo I Assistente de alunos: um personagem da escola com identidade em formação

1.4 O presente e o futuro do assistente de alunos

Segundo Marpeau (2002) o processo educativo consiste em um conjunto de gestos, atitudes, relações, tarefas e métodos coordenados em uma estratégia, a fim de alcançar objetivos de elaboração de capacidades pela própria pessoa. Atualmente já não é mais motivo de discussão o papel educativo dos trabalhadores da educação não docentes, porém em relação aos assistentes de alunos é cabível refletir sobre o quanto os seus procedimentos impactam nos processos educativos existentes na escola.

As instituições federais de educação estão tornando cada vez mais complexos os processos de admissão para o cargo assistente de alunos. Na década 2000, quando o Brasil iniciou uma grande expansão de suas Instituições Federais de Educação e consequentemente da quantidade de técnicos- administrativos admitidos, as provas dos concursos de admissão para o cargo assistente de alunos eram compostas normalmente por questões que versavam sobre conhecimentos básicos de língua portuguesa, matemática e informática, sem solicitar nenhum conhecimento específico para o cargo, e isso acabava

6 Ofício circular nº 15/2005/CGGP/MEC. (2005). Ministério da Educação. Recuperado em 06 maio, 2018, de

atraindo qualquer pessoa que estivesse em busca de um emprego, sem captar necessariamente funcionários que tivessem aptidão para atuar em funções educativas.

Atualmente as provas de admissão para assistente de alunos costumam apresentar conteúdos mais específicos para as atividades desempenhadas por quem ocupa essa função. Como comprova a observação dos editais mais recentes (quadro 2) de concursos realizados nos quatro maiores 7Institutos

Federais do país.

Quadro 2 - Análise comparativa de editais dos concursos públicos para assistente de alunos nos IFCE, IFMA, IFPR e IFSP

Instituição Habilitação

necessária Conteúdo específico da prova de Assistente de Alunos realização do Ano de concurso Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE) Ensino médio completo + experiência de 6 meses na função

Adolescência: caracterização da adolescência; aspectos físicos e psicossociais; Sexualidade: conceitos básicos; educação sexual na escola; prevenção de problemas; Drogadição: conceitos legais; drogas lícitas e ilícitas; percepção sobre o usuário; Disciplina escolar: agressividade, limites e violência; Autonomia e obediência; Trabalho em equipe: níveis de interação; Estatuto da Criança e do Adolescente – Lei nº 8.069/1990; Noções sobre educação de jovens e adultos; Noções de Administração: conceitos básicos, organogramas e fluxogramas; Noções de relações humanas e relações-públicas; comportamento grupal e liderança e equipe multiprofissional. Noções de Primeiros Socorros. (Edital n. 05/GR-IFCE/2014)

2014 Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão (IFMA) Ensino médio completo

Adolescência. Caracterização da Adolescência. Aspectos físicos e psicossociais. Sexualidade: Conceitos básicos. Educação sexual na escola. Prevenção de problemas. Drogadição: Conceitos legais. Drogas lícitas e ilícitas. Percepção sobre o usuário. Disciplina Escolar. Agressividade, limites e violência. Autonomia e obediência. Trabalho em equipe: Níveis de interação. Estatuto da Criança de do Adolescente – Lei nº. 8.069/1990. 8. Noções sobre educação de jovens e adultos. Noções de Administração: conceitos básicos, organogramas e fluxogramas. Noções de relações humanas e relações públicas; comportamento grupal e liderança e equipe multiprofissional. Gestão de conflitos. Regras de atendimento ao público. (Edital de concurso público n. 02/IFMA/2016) 2016 Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Paraná (IFPR) Ensino médio completo + experiência de 6 meses na função

Constituição da República Federativa do Brasil/1988 (art. 5º). Noções sobre o Plano Nacional de Enfrentamento da Violência Sexual Infanto- juvenil. Noções sobre o Plano Nacional de Convivência Familiar e Comunitária. Noções sobre o SINASE – Sistema Nacional de Atendimento Sócio Educativo. Lei de Diretrizes e Bases da Educação. Declaração Universal dos Direitos Humanos. A concepção de Protagonismo Juvenil. Noções de Teorias da Aprendizagem/ Desenvolvimento Humano. Ética no serviço público. Estatuto da Criança e Adolescente (ECA). Prevenção ao uso de drogas ilícitas. (Edital n. 15/IFPR/2016)

2016

7 IFCE, IFMA, IFPR e IFSP são os maiores Institutos Federais do Brasil em relação a quantidade de campus. Os dois primeiros

ficam localizados na região Nordeste, o terceiro Instituto citado está localizado na região Sul, e o último se encontra no Sudeste brasileiro.

Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo (IFSP) Ensino médio completo

Políticas Públicas Educacionais vigentes. Princípios, Fins e Forma de organização da Educação Básica Nacional. Aspectos pedagógicos, políticos, éticos e sociais da educação básica. Finalidades, Objetivos e Organização dos Institutos Federais de Educação. Educação Profissional - formas de oferta. Proteção integral à criança e ao adolescente. Construção coletiva do Projeto Político- Pedagógico. Avaliação de desempenho dos alunos e do ensino médio. (Edital n. 864/IFSP/2015)

2016

Fonte: Organizado pela autora

Em 2005 foi aprovada a proposta de profissionalização técnica de nível médio para atuação na área da educação através da Resolução n. 5, de 2005, do Conselho Nacional de Educação (CNE)/Câmara de Educação Básica (CEB). Com essa resolução foi incorporada às Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Profissional Técnica de Nível Médio a 21ª Área Profissional, nomeada como área de Serviços de Apoio Escolar. Tal fato foi muito importante para a valorização dos profissionais não docentes que atuam como agentes técnicos educativos. A caracterização da área e as competências profissionais gerais do técnico da área são as constantes do Parecer CNE/CEB n. 16/2005. Esse parecer apresenta o seguinte texto sobre a caracterização da área profissional de serviços de apoio escolar:

Compreende atividades em nível técnico, de planejamento, execução, controle e avaliação de funções de apoio pedagógico e administrativo nas escolas públicas e privadas de Educação Básica e Superior, nas respectivas modalidades. Tradicionalmente, são funções educativas que se desenvolvem complementarmente à ação docente. (Conselho Nacional de Educação, 2005, p.3)

De acordo ainda com o parecer citado, as competências profissionais gerais do técnico da área são as seguintes:

Identificar o papel da escola na construção da sociedade contemporânea; assumir uma concepção de escola inclusiva, a partir do estudo inicial e permanente da história, da vida social pública e privada, da legislação e do financiamento da educação escolar; identificar as diversas funções educativas presentes na escola; reconhecer e constituir identidade profissional educativa em sua ação nas escolas e em órgãos dos sistemas de ensino; cooperar na elaboração, execução e avaliação da proposta pedagógica da instituição de ensino; formular e executar estratégias e ações no âmbito das diversas funções educativas não docentes, em articulação com as práticas docentes, conferindo-lhes maior qualidade educativa; dialogar e interagir com os outros segmentos da escola no âmbito dos conselhos escolares e de outros órgãos de gestão democrática da educação; coletar, organizar e analisar dados referentes à secretaria escolar, à alimentação escolar, à operação de multimeios didáticos e à manutenção da infra-estrutura material e ambiental; redigir projetos, relatórios e outros documentos pertinentes à vida escolar, inclusive em formatos legais, para as diversas funções de apoio pedagógico e administrativo. (Conselho Nacional de Educação, 2005, p.3)

A incorporação do profissional de serviço de apoio escolar, em uma das áreas da Educação Profissional Técnica de Nível Médio já vinha sendo discutida desde 1999. Os princípios gerais da política

de formação profissional do Técnico em Educação (quadro 3) estão contidos em dois dispositivos legais: a Constituição da República Federativa do Brasil (1988) e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (Lei n. 9394/1996). Além disso, o Plano Nacional de Educação (PNE) (Lei n. 13005/2014) apresenta em suas metas muitas falas que se relacionam com a política de formação profissional do pessoal não docente.

Quadro 3 - Princípios gerais da política de formação profissional do Técnico em Educação Dispositivo

Legal Princípios

Constituição

Federal (1988) "Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o

exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho" (Constituição, 1988). "Art. 206. O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios: I - Igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;

II - Liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber;

III - Pluralismo de idéias e de concepções pedagógicas, e coexistência de instituições públicas e privadas de ensino;

IV - Gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais;

V - Valorização dos profissionais do ensino, garantido, na forma da lei, plano de carreira para o magistério público, com piso salarial profissional e ingresso exclusivamente por concurso público de provas e títulos, assegurado regime jurídico único para todas as instituições mantidas pela União; VI - Gestão democrática do ensino público, na forma da lei;

VII - Garantia de padrão de qualidade" (Constituição, 1988). Lei de Diretrizes

e Bases da Educação

(1996)

"Art. 1º A educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais.

§ 1º Esta Lei disciplina a educação escolar, que se desenvolve, predominantemente, por meio do ensino, em instituições próprias.

§ 2º A educação escolar deverá vincular-se ao mundo do trabalho e à prática social." (Lei n. 9.394, 1996)

"Art. 3º O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios: I - Igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;

II - Liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a cultura, o pensamento, a arte e o saber; III - Pluralismo de idéias e de concepções pedagógicas;

IV - Respeito à liberdade e apreço à tolerância;

V - Coexistência de instituições públicas e privadas de ensino; VI - Gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais; VII - Valorização do profissional da educação escolar;

VIII - Gestão democrática do ensino público, na forma desta Lei e da legislação dos sistemas de ensino; IX - Garantia de padrão de qualidade;

X - Valorização da experiência extra-escolar;

XI - Vinculação entre a educação escolar, o trabalho e as práticas sociais; XII - Consideração com a diversidade étnico-racial;

XIII - Garantia do direito à educação e à aprendizagem ao longo da vida." (Lei n. 9.394, 1996) "Art. 61. Parágrafo único. A formação dos profissionais da educação, de modo a atender às especificidades do exercício de suas atividades, bem como aos objetivos das diferentes etapas e modalidades da educação básica, terá como fundamentos:

I - a presença de sólida formação básica, que propicie o conhecimento dos fundamentos científicos e sociais de suas competências de trabalho;

II - a associação entre teorias e práticas, mediante estágios supervisionados e capacitação em serviço; III - o aproveitamento da formação e experiências anteriores, em instituições de ensino e em outras atividades." (Lei n. 9.394, 1996)

"Art. 64. A formação de profissionais de educação para administração, planejamento, inspeção, supervisão e orientação educacional para a educação básica, será feita em cursos de graduação em pedagogia ou em nível de pós-graduação, a critério da instituição de ensino, garantida, nesta formação, a base comum nacional." (Lei n. 9.394, 1996)

Fonte: Organizado pela autora, baseado na Constituição (1988) e Lei n. 9.394 (1996)

Atualmente a área de serviços de apoio escolar possui as seguintes habilitações: Gestão Escolar, Alimentação Escolar, Multimeios Didáticos e Meio Ambiente e Manutenção da Infra-estrutura Escolar. Ainda não há nenhum curso técnico criado especificamente para ofertar uma formação aos assistentes de alunos, porém a criação de uma área profissional voltada aos funcionários não docentes através da Resolução n. 5 CNE/CBE/2005 já é um grande avanço, pois além de contribuir com a aquisição das competências necessárias para o bom desenvolvimento das atividades educacionais da grande maioria do pessoal não docente das escolas, também é um instrumento importante para a construção da identidade social desses funcionários e ressalta a valorização profissional do pessoal não docente que vem ocorrendo nas últimas décadas.

Em outro ponto da busca pelo aperfeiçoamento do assistente de alunos está a tentativa dos sindicatos que defendem os Técnicos-Administrativos em Educação de aglutinar o assistente de alunos com o auxiliar em assuntos educacionais, passando a compor um único cargo denominado assistente em assuntos educacionais. Caso a proposta seja aprovada pelos poderes Legislativo e Executivo o novo cargo ficaria com a descrição e atribuições do auxiliar em assuntos educacionais, que segundo o Ofício Circular n. 015 de 2005, da Coordenação Geral de Gestão de Pessoas no Ministério de Educação do Brasil a descrição sumária do cargo é

executar, sob supervisão e orientação, trabalhos relacionados com assistência e orientação educacional, aplicar recursos audiovisuais na educação; auxiliar na supervisão, administração e inspeção das atividades de ensino; além de auxiliar nas demais atividades que envolvam a pesquisa, o ensino e a extensão (Ministério da Educação, 2005).

As atribuições dos cargos seriam unidas de forma que seriam incorporadas como atribuições desse profissional atividades como:

Organizar, coletar dados e colaborar na aplicação de testes psicológicos e vocacionais (...) Classificar e catalogar recursos audiovisuais; dar assistência na preparação de aulas práticas; assistir os professores no manuseio dos recursos audiovisuais; pesquisar fontes de informação e materiais didáticos; acompanhar discentes em estágios; auxiliar na coleta de informações sobre legislação do ensino, processos de aprendizagem e métodos de administração escolar; colaborar no planejamento, controle e avaliação das atividades de ensino (Ministério da Educação, 2005).

Segundo o Relatório do Grupo de Trabalho de Racionalização dos Cargos do PCCTAE, constante na página virtual do Sindicato Nacional dos Servidores Federais da Educação Básica, Profissional e Tecnológica (SINASEFE) a proposta também visa modificar o requisito de ingresso para admissão ao cargo de assistente de alunos, pois o objetivo é que além do ensino médio completo seja exigido algum conhecimento específico para atuar nessa função, o relatório justifica que há a “necessidade de conhecimentos, habilidades e atitudes no trato com o educando, de forma a atender o que prevê o Plano Nacional de Educação” (SINASEFE, 2010, p.21).

Todas essas perspectivas futuras para o assistente de alunos envolvem investimento de recursos por parte do Governo Federal, seja em formação ou em elevação de salários, por isso ainda é incerto qualquer previsão que possa ser feita para o trabalho do assistente de alunos. Porém algo que não é dúvida para esse profissional escolar é que o seu público de estudantes se torna cada vez mais complexo e dinâmico, assim como a escola em que ele está inserido, assunto que será debatido no próximo capítulo.

Capítulo II - Uma análise sociológica sobre a escola, as juventudes e suas