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CAPÍTULO 7 – PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS LIMITADORES DA

7.6 O princípio da capacidade contributiva

A Constituição estabelece que os impostos serão graduados de acordo com a capacidade econômica do contribuinte (artigo 145, §1º)283, assim definida por Regina Helena Costa284, como “a aptidão, da pessoa colocada na posição de destinatário legal tributário, para suportar a carga tributária, numa posição cujo objeto é o pagamento de imposto, sem o perecimento da riqueza lastreadora da tributação.”

O princípio da capacidade contributiva admite duas construções doutrinárias: a) capacidade contributiva subjetiva; ou b) capacidade contributiva objetiva. Quanto à primeira, ensina Luís Eduardo Schoueri285 que

[…] se emprega a capacidade contributiva como critério para a graduação da tributação, a questão se resume a saber se existe um ponto, abaixo ou acima do qual descabe a incidência de um tributo, ou, ainda, até onde pode atingir a tributação; no primeiro caso, estar-se-á cogitando do mínimo da subsistência; ultrapassando o limite, versar-se-á sobre o confisco.

Por outro lado, será objetiva ou absoluta a concretização do princípio da capacidade contributiva quando retratar “a eleição, pela autoridade legislativa competente, de fatos que

 

283 Paulo de Barros Carvalho diz que: “Um dos temas que mais atormenta a dogmática é a discussão sobre a

natureza jurídica da famosa capacidade contributiva, em função do que, na Constituição de 1946 e na atual Constituição de 1988 em seu artigo 145, §1º, as cargas tributárias deveriam ser dosadas pelo legislador. A capacidade contributiva do sujeito passivo sempre foi o padrão de referência básico para aferir-se o impacto da carga tributária e o critério comum dos juízos de valor sobre o cabimento e a proposição do expediente impositivo. Mensurar-se a capacidade econômica de contribuir para o erário com o pagamento de tributos é o grande desafio de todos os que lidam com esse delicado instrumento de satisfação dos interesses públicos, sendo o modo como é avaliado o grau de refinamento dos vários sistemas do direito tributário.” (Direito

tributário, linguagem e método. São Paulo: Noeses, 2008, p. 301-302).

284 Curso de direito tributário: Constituição e Código Tributário Nacional. São Paulo: Saraiva, 2009, p. 74. 285 Normas tributárias indutoras e intervenção econômica. Rio de Janeiro: Forense, 2005, p. 282.



ostentam signos de riqueza.”286 Paulo de Barros Carvalho287 ensina que o sistema jurídico brasileiro adotou a teoria da capacidade contributiva objetiva:

[…] no Brasil, o sistema do direito positivo exibe, em todas as figuras tributárias conhecidas, o princípio da capacidade contributiva absoluta, uma vez que os fatos escolhidos são aqueles que denotam signos de riqueza. Em outras palavras, por capacidade contributiva deve entender-se apenas a absoluta e, mesmo assim, como dado pré-jurídico. Realizar o princípio da capacidade contributiva quer significar, portanto, a opção a que se entrega o legislador, quando elege para antecedente das normas tributárias fatos de conteúdo econômico que, por terem essa natureza, fazem pressupor que as pessoas que deles participam apresentem condições de colaborar com o Estado mediante parcela de seu patrimônio.

A capacidade contributiva, portanto, diz respeito à relação conteúdo econômico do fato jurídico tributário e a intensidade da tributação que sobre ele recai. Caso a tributação seja de tal monta que resulte em absorção inaceitável do patrimônio do contribuinte pelo Estado, ela será confiscatória.

Todavia, no âmbito da tributação extrafiscal, há doutrinadores que defendem que a capacidade contributiva deve ser interpretada de modo que a ela seja integrada preservação ambiental, conforme José Henrique de Oliveira Souza288:

Ou seja, as materialidades sobre as quais recai a tributação, além de importarem em inequívoca manifestação de riqueza e, desta feita, em consonância com o princípio da capacidade contributiva, representarem, no caso, elemento de agressão do meio ambiente a justificar o tratamento tributário mais severo. Assim, o princípio da capacidade contributiva servirá de limite ao tributo ambiental, cujo fato imponível (além de manifestar a possibilidade de contribuir com as despesas do Estado) deverá guardar relação com o meio ambiente que se visa preservar, uma vez que a poluição, nas suas mais variadas formas, atinge o meio ambiente como resultado de um processo produtivo, a confirmar aquela manifestação de riqueza.

Nessa linha de seguir, o contribuinte deverá arcar com o ônus tributário na medida da agressão que a sua atividade provoque ao meio ambiente, distanciando-se, assim, do conceito clássico de capacidade contributiva, cuja relação dava-se entre direito de propriedade e carga tributária. Regina Helena Costa289 justifica essa posição, dizendo que o princípio da

  286 CARVALHO, op. cit., p. 305. 287 Ibid., p. 307 (grifo do autor).

288 Tributação e Meio Ambiente. Belo Horizonte: Del Rey, 2009, p. 128-129. 289 Princípio da capacidade contributiva. 3. ed. São Paulo: Malheiros, 2003, p. 72.



capacidade contributiva deve “ceder ante a presença de interesse público de natureza social ou econômica que possa ser alcançado mais facilmente se prescindir da graduação dos impostos consoante a capacidade econômica do sujeito”. Trilhando a mesma vereda, Sacha Calmon Navarro Coêlho290 argumenta que “as técnicas inibitórias de extrafiscalidade só são possíveis pela exacerbação dos encargos fiscais, tornando proibitivos certos consumos e hiperonerosas certas situações.”

A jurisprudência tem caminhado no sentido de admitir o esgarçamento do princípio da capacidade contributiva nos tributos, em que se admite, constitucionalmente, o emprego da tributação extrafiscal para a realização dos valores constitucionais:

3. Dada a natureza extrafiscal do ITR, a Constituição Federal autoriza a exacerbação da tributação no caso de propriedades improdutivas, todavia não consubstancia escopo de confisco ao tributo. 4. As alegações da recorrente, trazidas após a interposição do recurso de apelação, dissociadas do pedido posto na inicial, não devem ser conhecidas. 5. Apelação da impetrante a que se nega provimento.291

Entendemos que, a par da defesa do meio ambiente, não se pode dar causa a um desvalor pela não observância dos princípios constitucionais. O direito da pessoa à preservação do seu patrimônio é um dos cânones do direito tributário e direito fundamental da pessoa humana, possuindo o mesmo valor que o direito à vida e à garantia de um meio ambiente ecologicamente equilibrado, pois, por meio do direito de propriedade, também se garante a existência digna da pessoa humana.