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2 LEGALIDADE ADMINISTRATIVA E A SUPREMACIA DO

2.3 O PRINCÍPIO CONSTITUCIONAL DA LEGALIDADE

2.3.3 A supremacia do interesse público como princípio constitucional

2.3.3.2 O princípio constitucional implícito da supremacia do interesse público sobre o

A supremacia do interesse público sobre o privado é princípio fundamental do direito administrativo ao lado do princípio da legalidade e se encontra implicitamente previsto na Constituição Federal.

Segundo Celso Antônio Bandeira de Mello (2012, p. 99) trata-se de “princípio geral de Direito inerente a qualquer sociedade. É a própria condição de existência (...) é

pressuposto lógico de convívio social”.

A Administração Pública está, por Lei, vinculada ao cumprimento de certas finalidades, sendo-lhe obrigatório objetivá-las para colimar o interesse da coletividade, da sociedade.

Assim, em nome do interesse público, a Administração Pública atua sem autonomia da vontade, adstrita a Lei, havendo submissão da vontade ao traçado na Constituição Federal ou na Lei.

Sob os auspícios deste princípio não esta o particular subordinado ao arbítrio unilateral da Administração Pública, que não detém poderes, mais sim, deveres-poderes.

Nas palavras de Celso Antônio Bandeira de Mello (2012), os deveres-poderes só serão válidos se exercidos na extensão e intensidade proporcionais ao que seja irrecusavelmente requerido para o atendimento do escopo legal a que estão vinculados, ou seja, se for voltado ao atendimento do interesse público relacionado a aquela competência específica.

A atuação do Estado proporcional e sem excesso, ou seja, sem abuso de poder, são condicionantes para seu comportamento válido. Isto porque, a aplicação irrestrita do princípio da supremacia da ordem pública poderá quebrar o equilíbrio do Estado de direito.

Para tanto deverá ser sempre observado o princípio da razoabilidade, da proporcionalidade e da proibição do excesso. Defende Humberto Ávila (2004) que a proibição do excesso deverá estar sempre presente quando um direito fundamental esteja sendo restringido.

Para Leonardo Martins e Dimitri Dimoulis (2009) como critério dogmático para solução de conflitos constitucionais. O exame da proporcionalidade deve ser observado entre

quatro passos: Licitude do propósito perseguido; Licitude do meio utilizado; Adequação do meio utilizado; Necessidade do meio utilizado.

O princípio da supremacia do interesse público serve de fundamento para diversas formas interventivas do Estado sobre a propriedade, que como será tratado, trata-se de direito fundamental que ao lado da função social também são diretrizes da política econômica nacional.

Assim, nas hipóteses de intervenção do Estado na propriedade privada, sob o fundamento do interesse público, um mínimo de eficácia de referido direito fundamental deverá ser mantido, ou seja, deverá ser mantido um núcleo essencial do direito fundamental.

Para ser legítima a aplicação do princípio da supremacia interesse público faz-se necessário interpreta-lo associado ao princípio da ponderação latu sensu, ou seja, se o ato administrativo praticado que busca o atingimento de um interesse público é adequado, necessário e proporcional em sentido estrito.

A Constituição Federal de 1988, por diversas vezes faz referência direta ao princípio da supremacia do interesse público sobre o privado, fundada no princípio da legalidade e da separação dos poderes. Ao mesmo tempo, referida Constituição elenca um rol de direitos fundamentais que deverão ser garantidos pelo Estado, como a proteção ao direito de propriedade e sua função social.

Jamais se poderá falar em negativa de proteção aos direitos fundamentais, sob o manto de dar maior efetividade a Constituição Federal e proteção dos valores democráticos, utilizando como fundamento o princípio da supremacia do interesse público sobre o privado.

Os direitos fundamentais justificam a criação e o desenvolvimento de mecanismos de legitimação, limitação, controle e racionalização do atuar da Administração Pública, e mantem-se como núcleo da Constituição.

O conceito de direitos fundamentais é muito bem definido por Leonardo Martins e Dimitri Dimoulis (2009). Segundos estes autores os direitos fundamentais são direitos público-subjetivos de pessoas física ou jurídicas, contidos em dispositivos constitucionais e, portanto, que encerram caráter normativo supremo dentro do Estado, tendo como finalidade limitar o exercício do poder estatal em face da liberdade individual.

Assim, de um lado temos os direitos fundamentais como limitativo do atuar estatal sobre a liberdade e a propriedade individual e do outro o princípio da supremacia do

interesse público, “protegendo” e fundamentando o atuar do agente público de forma

interventiva sobre referidos direitos fundamentais.

O livre exercício da atividade econômica, mesmo que independente da autorização pelos órgãos públicos há de se amoldar ao todo constitucional, sob pena de contrariar a Lei maior, e, consequentemente, ser extirpada do seio social. Concomitantemente a intervenção do Estado sob os auspícios da proteção, não pode limitar o exercício dos direitos e garantias fundamentais.

Isto porque, a proteção aos direitos fundamentais deve ser sempre o limite e a diretriz do atuar Estatal e a atividade administrativa, mesmo que guiada pelos postulados da eficiência, continua subordinada a preservação dos direitos e das garantias fundamentais.

Assim, percebe-se a existência de uma situação de tensão, e é ai, segundo apregoa Leonardo Martins e Dimitri Dimoulis (2009) do ponto de vista jurídico dogmático, os direitos fundamentais tornam-se relevantes, quando estar-se tratando de uma intervenção no seu exercício.

É sabido que esta situação de contradição entre, o interesse público e o privado é uma exceção. Quanto existirem interesses conflitantes e ausente a previsão legal ou constitucional deverá buscar-se a técnica da ponderação, observado o já exposto princípio da reserva da Lei e o também já exposto princípio da proibição do excesso.

Conclui-se assim, que o princípio da supremacia do interesse público sobre o privado não deve funcionar como cláusula geral de restrição dos direitos e garantias fundamentais.

Deve o Estado buscar as intervenções administrativas ao seu fim balanceando os direitos e interesses em conflito. Por exemplo, as medidas restritivas de direitos fundamentais devem ser proporcionais ao fim visado e jamais atingirem a substância do direito.

A conciliação do interesse individual do interesse coletivo pede, exige das Constituições modernas limitações aos direitos fundamentais a serem efetivas de forma proporcional em busca do atingimento deste equilíbrio.