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5. A PROTEÇÃO JURÍDICA DO AR EM FACE DA POLUIÇÃO VEICULAR

5.3. O princípio da prevenção e a poluição veicular

A prevenção constitui um princípio basilar do Direito Ambiental.95 Visa a evitar ou minimizar danos ambientais numa situação de risco mediante uma situação de incerteza científica. Para tal, deve-se considerar que a certeza científica não é absoluta e, sim relativa, por isso, mesmo quando restar dúvida, o princípio da prevenção deverá ser aplicado.

O tipo do risco e o custo das medidas preventivas também deverão ser pesados. É necessário avaliar se o risco em espécie é reversível, ou seja, se é possível o retorno a situação anterior ao dano. Deve-se adotar a melhor tecnologia disponível a um custo aceitável. O custo não deve ser medido apenas por fatores meramente econômicos, mas sim, em conjunto com os fatores sociais e ambientais. Neste sentido Derani (1997, p. 167) ressalta que “O princípio da prevenção está ligado aos conceitos de afastamento de perigo e segurança das gerações futuras, como também de sustentabilidade ambiental das atividades humanas”. De acordo com a mesma autora:

O princípio da precaução se resume na busca do afastamento, no tempo e espaço, do perigo, na busca também da proteção contra o próprio risco e na análise do potencial danoso oriundo do conjunto de atividades. Sua atuação se faz sentir, mais apropriadamente, na formação de políticas públicas ambientais, onde a exigência de utilização da melhor tecnologia disponível é necessariamente um corolário (1997, p. 166).

O princípio 15 da Declaração do Rio sobre meio ambiente e desenvolvimento, de 1992 (ONU, 1993a, p. 261), ressalta a importância do princípio da prevenção para a proteção do meio ambiente. O seu texto declara:

De modo a proteger o meio ambiente, o princípio da precaução deve ser amplamente observado pelos Estados, de acordo com suas capacidades. Quando houver ameaça de danos sérios ou irreversíveis, a ausência de absoluta certeza científica não deve ser

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Este princípio também é chamado de “princípio da precaução” por alguns autores, tais como, Derani (1997, p. 165) e Machado (2000, p. 46). Já Antunes (2000b, p. 28), chama-o de princípio da prudência ou cautela. Outros, os distinguem sob o argumento de que a prevenção revela efeitos imprevisíveis e a precaução, previsíveis. Nesta dissertação, os dois termos serão utilizados de modo igual, por não ser visualizado uma diferença muito nítida entre ambos.

utilizada como razão para postergar medidas eficazes e economicamente viáveis para prevenir a degradação ambiental.

A prevenção constitui, uma estratégia importante para evitar danos ao meio ambiente, uma vez que alguns deles são irreversíveis. Como afirma Dias (1997, p. 52):

O que acima de tudo está (ou deve estar) em causa no direito e na política do ambiente é pois evitar a degradação deste; mais do que desenvolver instrumentos de “reação” aos atentados ambientais (que, em princípio, nunca permitirão a sua recuperação em termos de ele ser colocado no estado em que se encontrava antes do atentado), ...”

Por isso, as ações de eliminação ou redução de poluentes na fonte geradora devem ser priorizadas no gerenciamento ambiental.96

Em matéria ambiental, sobretudo no caso de poluição atmosférica, é imprescindível a adoção de uma política preventiva.97 As políticas públicas para a redução de poluição atmosférica, geralmente, baseiam-se no princípio da prevenção para imporem as suas medidas. O marco dessas políticas no Brasil é o Programa de Restrição à Circulação de Veículos Automotores na Região Metropolitana de São Paulo. Esse programa ficou conhecido como “operação rodízio” e consiste numa restrição ao uso de veículos em certos meses, dias e horários, através de uma escala conforme o final das placas dos mesmos, visando à prevenção de episódios críticos de poluição e ao atendimento aos padrões legais de qualidade do ar. A sanção administrativa imposta aos sujeitos infratores dessas normas consistiu numa multa por dia de utilização irregular do veículo.98

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A prevenção à poluição ou a redução na fonte podem ser entendidas como “qualquer prática, processo, técnica ou tecnologia que vise a redução ou eliminação em volume, concentração e/ou toxidade dos resíduos na fonte geradora. Inclui modificações nos equipamentos, nos processos ou procedimentos, reformulação ou replanejamento de produtos, substituição de matéria-prima e melhorias nos gerenciamentos administrativos e técnicos da entidade/empresa, resultando em aumento de eficiência no uso dos insumos (matérias-primas, energia, água etc)” (Prevenção à poluição, 2001).

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Nesse sentido Hughes (1996, p. 449) afirma: “A most worrying aspect of the problem is the climatic uncertainty consequent on global warming, and this has led many to call for the application of precautionary principles nationally and internationally in the formulation of laws and policies designed, inter alia, to: promote greater energy economy; drive down the use of fossil fuels; promote the use of natural gas and renewable energy sources such as solar energy, wind, biomass and wave power; develop better public transportation and reduce consumption of fossil fuels by private vehicles”.

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Os resultados desse programa foram, no geral, positivos, apesar das dificuldades no setor de transporte coletivo e da resistência de alguns motoristas. O que se verificou através da utilização de um veículo mais antigo

Esse programa foi criado em 1995 em caráter facultativo, no período de 28 de agosto a 1º de setembro, para a Região Metropolitana de São Paulo. Os proprietários de veículos foram estimulados a deixar de circular com seus carros uma vez por semana, das 7h30 às 17h30, de acordo com o final da placa. A adesão voluntária, calculada pela CETESB, foi em média de 38,1%, chegando a alcançar o pico de 45, 1% (Secretaria do meio ambiente/ CETESB, 1997: 38). Em 1996, passou a ter caráter obrigatório, de acordo com a Lei estadual nº 9.358/96 e o seu Decreto, de nº 41.049/96. Assim como, nos anos de 1997 e 1998, com base na Lei estadual nº 9.690/97, regulamentada pelo Decreto 41.858/97.99