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3.3 Delimitação do Objeto de Estudo

3.3.1. O problema de estudo

Há uma distinção entre gerenciamento dos resíduos sólidos e gestão de resíduos sólidos. O gerenciamento é a manutenção da estrutura administrativa operando e executando suas funções e competências institucionais, bem como os programas e projetos sob suas responsabilidades por meio da aplicação dos recursos humanos, financeiros, materiais alocados para desenvolver tarefas pré-determinadas que no caso dos resíduos sólidos podem ser: acondicionamento; coleta e transporte; tratamento e disposição final de resíduos; limpeza de logradouros e execução de atividades congêneres; consultoria técnica; atendimento aos usuários do sistema de limpeza pública e outros; levantamento de dados para compor indicadores; as práticas corretivas; os estudos técnicos administrativos; a cobrança e fiscalização ao atendimento de responsabilidades contratuais, estudos de impacto ambiental, elaboração de planos diretores; acordos e condicionantes; autorização para transporte, acondicionamento, tratamento e disposição final de resíduos, entre outras tantas práticas desenvolvidas.

A gestão é a definição e os processos de definição: da estrutura física e administrativa para realizar o gerenciamento dos resíduos sólidos; de instrumentos políticos, regulatórios e econômicos; de metas, princípios norteadores, critérios e indicadores; de intervenções; de técnicas e tecnologias, ações, programas, metas, prazos, alocação de recursos, etc.

Todas as três esferas de governo são responsáveis pela gestão dos resíduos sólidos, atuando de forma complementar, uma vez que, cada uma delas têm limitações legais, técnico, jurídico, financeiras e sobre tudo, limitações relativas à abrangência de atuação e de proximidade com

atores envolvidos, afetados e interessados nas questões relacionadas ao manejo de resíduos sólidos. Estas questões estão efetivamente relacionadas aos fluxos de materiais que passam por processos de agregação de valor econômico e depreciação de valor. Estes processos são influenciados sobre tudo por valores culturais e sócio-econômicos e pela quantidade de recursos naturais disponíveis. Neste entendimento, defende-se que cada esfera de governo tem um papel complementar na atuação nas questões relativas aos resíduos sólidos, porém, cada uma destas questões são mais fortemente influenciadas ou tem maior condição de ser intervida em uma das três esferas governamentais visto os aspectos já mencionados.

Tem-se também como premissa que a gestão dos resíduos sólidos se dá de forma transversal, uma vez que, são extensos os campos administrativos que inferem ou atuam direta ou indiretamente nessa componente sanitária-ambiental. São relevantes a GRS as contribuições de áreas administrativas que atuam em componentes sanitárias, ambiental, educacional, da criação de emprego e renda (cooperativas de lixo), na valorização de áreas comerciais ou potencialidades turísticas, nas condições de trabalho e relações trabalhistas (catadores de lixo), e nas questões de saúde pública e segurança. Considera-se, no entanto, que a importância destas áreas são distintas em seu grau de acessibilidade em apresentar respostas nas esferas de governos local e regional.

Entende-se que os Governos Estaduais devem nortear suas ações no sentido de atender as demandas da sociedade, as demandas regionais e observar os paradigmas da gestão dos resíduos sólidos.

Considera-se as demandas sociais porque no estado de direito democrático as demandas da sociedade devem ser o principal objeto das políticas públicas e intervenções das três esferas de governo.

Neste trabalho, entende-se demandas regionais como o fruto de demandas implícitas e explicitas destacadas em um conjunto de municipalidades, ou seja, dificuldades enfrentadas por um conjunto de municípios que reúnam características similares. No caso dos resíduos, estas características estão muito relacionadas às condições de infraestrutura disponíveis, às atividades econômicas diversas e predominante, modo de vida, tamanho populacional e

Entende-se como paradigmas os desafios postos à sociedade e os caminhos definidos pela academia e pelos fóruns técnico-científicos para alcançá-los.

A concepção do modelo de gestão pré-concebido para o universo a ser analisado é o representado na figura 7. Nela está representado o objeto de análise e os subproblemas de análise, ou seja, “as entradas”, “processador” e “as saídas”. Foi concebido um modelo similar a um sistema de apoio à decisão.

Para colaborar na compreensão do modelo têm-se algumas considerações muito particulares ao campo de análise de instituições e política públicas. Dentre elas, destacam-se que o Estado responde a diversas naturezas de pressões e estímulos que podem provir de diversas origens e atores, podem ser tanto externas ao governo como internas e podem provir de atores invisíveis e visíveis. Essas pressões e estímulos denominados aqui de “entradas” são provenientes de informações sobre o problema a se intervir, a visão dos novos desafios de como se deve lidar com o problema e, os constrangimentos que geralmente são postos como limitantes a ação do Estado, porém concebe-se aqui que os constrangimentos também sejam desencadeadores de avanços nos processos de tomadas de decisão. As “entradas” podem e devem ser gerados pelo próprio aparelho do Estado como forma de dar legitimidade e transparência as suas escolhas e ações.

estímulos diversos Desenho do Estado Conjunto de reações aos estímulos Inform ação paradigmas constra ngimen tos Política Planos Programas Projetos Intervenções Outras ações Reformas institucionais Avaliação das ações e intervenções Diagnóstico Levantamento de novas informações

Entradas Processador Saídas

estímulos diversos Desenho do Estado Conjunto de reações aos estímulos Inform ação paradigmas constra ngimen tos Política Planos Programas Projetos Intervenções Outras ações Reformas institucionais Avaliação das ações e intervenções Diagnóstico Levantamento de novas informações

Entradas Processador Saídas

Figura 7 - Delimitação do Objeto de Estudo e dos elementos de análise.

As pressões e estímulos implícitos não são objeto de investigação muito próprio do campo das Engenharias, este é tradicionalmente um esforço dos acadêmicos e estudiosos mais voltados para o campo das Políticas Públicas. Já os estímulos explícitos, oriundos de estudos técnicos patrocinados pelos governos, das demandas de fóruns sociais, científicos, convenções internacionais, levantamentos técnicos, esses podem ser pesquisados satisfatoriamente pelo campo de estudos da engenharia por meio da incorporação do conceito da tecnologia apropriada que considera aspectos qualitativos de análise de técnicas observando-se as condições sociais e culturais a serem atendidas. Porém, deve-se evidenciar que se os estímulos explícitos, de notório conhecimento do Estado e do público, se não estão norteando as ações do Estado podem significar que fatores implícitos estão sendo preponderantes nas decisões políticas.

Diante da discussão tem-se que a investigação do papel do Estado e das suas instituições no campo RS colabora na avaliação do quanto às políticas públicas têm sido desenvolvidas no sentido de atender as demandas explicitas, e sinaliza para a necessidade de um maior

detectado, na avaliação das ações do estado, que a politicagem está prevalecendo sobre as decisões técnicas em detrimento das tecnologias mais apropriadas a serem aplicadas na gestão e no gerenciamento dos resíduos sólidos.

Para limitação do universo de entradas é imprescindível realizar uma discussão sobre o papel do Estado no campo de gestão dos resíduos sólidos. Este problema que não está explicitado na figura 7 é o objeto do presente trabalho e recai diretamente sobre a função do processador. O segundo subproblema, o “processador” é relativo à organização do Estado, ou seja, das suas instituições, atribuições e corpo técnico especializado. Trata-se de fazer uma análise de como o Estado está organizado para reagir às “entradas”, essas reações por sua vez são as “saídas”. Também, é uma forma de identificar quais as reações aos estímulos foram ou estão sendo produzidas pelos Governos. Essas reações tratam-se da concepção e realização de políticas publicas que tenham desdobramentos no âmbito da gestão e do gerenciamento dos RS.

O terceiro subproblema da análise são as reações produzidas pelo Estado. Nesta última, são possíveis realizar várias percursos de estudo, porém, é aqui dar-se-á foco para a natureza das ações quanto sua efetividade.

Embora, nas “saídas” possam ser feitos estudos de caso ou ainda um teste piloto de uma intervenção especifica, evidencia-se aqui a avaliação da natureza das ações (se preventivas, de fim de tubo, de retroalimentação das ações do Estado entre outras) e como um Governo de Estado se organiza para fazer uma Gestão dos Resíduos Sólidos de maneira efetiva, ou seja, como ele define suas ações, como interagem suas instituições, como se retroalimentam de informações. Entende-se que o caminho da análise qualitativa seja uma forma de mensurar o quanto os aspectos técnicos de soluções, demandas sociais e conhecimentos dos problemas que afetam os municípios de fato definem as decisões tomadas pelos Governos e por suas instituições.

Usando expressões de Souza (2002), pode-se afirmar então que a avaliação desenhada é a de processos, visando à eficácia de uma política pública. Para tanto, deve-se orientar por diretrizes e metas estipuladas pela política, plano, programa ou projeto. Também devem ser avaliadas as instituições, verificando-se os objetivos e finalidades e o cumprimento de sua

missão institucional e integração das mesmas no desenvolvimento das intervenções. A integração de ações é importante, visto a interdisciplinaridade do problema e a hipótese de que os governos estaduais atuam no campo de gestão RS de maneira fragmentada, sem uma interação maior entre as suas instituições e com os municípios que são os principais protagonistas dos serviços de saneamento básico.

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