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3 AS MARCAS HISTÓRICAS DE UM DESENVOLVIMENTO DESIGUAL EM PERNAMBUCO

3.1 O problema do desenvolvimento desigual e concentrado no nordeste e no Brasil

O processo de desenvolvimento econômico do Brasil possui características de desigualdade, de modo especial no que concerne à concentração das movimentações econômicas e, por conseguinte, da repartição de renda em poucos estados.

As intervenções por parte do Estado contribuíram para aumentar a disparidade econômica entre as regiões, uma vez que os diversos setores que giravam a economia detinham poderes diferenciados dentro do mercado. E considerando, ainda, que a distribuição regional não era homogênea.

Historicamente, o principal eixo da estrutura produtiva ficou centralizado no Sudeste brasileiro. Com o avanço da industrialização do país, essa região foi alvo de intensa e rápida migração das regiões cuja economia estava reprimida, uma vez que o processo produtivo necessitava de grande quantidade de mão de obra. Esse movimento desencadeou um amplo processo de urbanização (LEMOS, 1988).

A região Sudeste consolidou, então, um polo industrial dinâmico, amplo e completo. Reuniu as principais empresas multinacionais, contando com a principal praça financeira no Estado de São Paulo. Tornou-se, portanto, a região que conglomera, ao longo da história, os maiores índices de desenvolvimento econômico do país, levando o título de ―lugar-central‖ do Brasil (FURTADO, 1961).

Segundo Haddad (1993), apesar dos desequilíbrios regionais de desenvolvimento no Brasil, até o início do século XXI, após cinco décadas de marcante concentração espacial desde que se intensificou a industrialização brasileira (a partir da Crise de 1929), não estamos no limiar da "reversão da polarização", ou seja, não existe uma

propensão em reverter a polarização da industrialização da região Sudeste para outras regiões do Brasil. A ―reversão da polarização‖ foi defendida por Richardson (1981) como o ponto de mudança a partir do qual as tendências da polarização espacial na economia nacional dariam lugar a um processo de dispersão espacial para fora da região central, em direção a outras regiões do sistema.

Historicamente, o Nordeste do Brasil foi a região com pouco destaque na produção e geração de renda no país, se caracterizando por um baixo dinamismo econômico e por graves problemas sociais, exceto no período Colonial com o ciclo da cana de açúcar. Este quadro se justifica pela trajetória e formação socioeconômica da região, cujas atividades produtivas eram relativamente atrasadas em relação às áreas economicamente mais dinâmicas do país, na fase da economia centrada na atividade industrial (MARANHÃO, 1984).

No contexto da era colonial, as atividades de acumulação capitalista não estimularam o desenvolvimento da região Nordeste para proporcionar a melhoria na qualidade de vida da população. Nesse período, o cultivo da cana e o fabrico do açúcar foram responsáveis pela dinamização da economia, sendo posteriormente desenvolvidas as atividades de pecuária e algodão, que também contribuíram significativamente para o crescimento da economia nordestina (FURTADO, 1973).

Em meados do século XX, a economia nordestina foi estimulada a inserir-se no processo de desenvolvimento do país, por meio da criação da Superintendência para o Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE). Essa instituição teve como objetivo reduzir as disparidades entre o Nordeste e o Centro-Sul devido ao processo de industrialização concentrada promovida pelo Estado (GTDN, 1968).

O Grupo de Trabalho para o Desenvolvimento do Nordeste – GTDN3

(1978) concluiu que o problema do Nordeste era estrutural e que reunia uma mistura de dificuldades naturais, decorrentes do clima semiárido na maior parte do território, com questões políticas e econômicas que se cristalizaram ao longo da formação econômica e social da região. E criou um pacote de propostas de incentivo para promover o desenvolvimento.

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A SUDENE administrou os fundos de investimentos que serviram como atrativos ao capital privado em direção ao Nordeste. Então, mesmo com o deslocamento geográfico da indústria, era atrativo para o investidor nacional se deslocar para o Nordeste, pois com as políticas de incentivos fiscais e financeiros,4 a instituição possibilitou uma taxa média de lucro equiparada às obtidas no polo de sistema capitalista nacional (CAVALCANTE, 1974).

Desta forma, os investimentos da SUDENE financiavam os projetos de criação de novas indústrias ou empreendimentos agroindustriais ou mesmo a ampliação e a reformulação de plantas produtivas de indústrias já existentes (MOREIRA, 1979).

Em 1964, com a ditadura militar, a SUDENE sofreu restrições na concentração dos investimentos fiscais e financeiros. Neste período, os militares queriam que o Brasil atingisse estágio de potência econômica e decidiram abrir a mesma linha de incentivos fiscais, isto é, de dedução no imposto de renda, para pessoas dispostas a investir em outras regiões do país, por meio de um conjunto de incentivos setoriais (GOODMAN, 1974).

Assim, foram criadas novas instituições e programas de desenvolvimento específicos e direcionados para diversos setores da economia nacional. Nos anos de 1970 e 1971, tanto o Programa de Integração Nacional - PIN, quanto o Programa de Redistribuição de Terras e de Incentivo à Agroindústria do Norte e Nordeste - PROTERRA, contribuíram para diminuir os recursos inicialmente destinados ao Nordeste. A existência de outras opções de inversões produtivas subsidiadas fora da região nordestina provocou a dispersão dos montantes de investimentos para outros territórios e para outros setores de economia nacional.

Pode-se afirmar, então, que todas estas modificações institucionais afetaram de forma diferente o sistema de incentivos fiscais prioritariamente elaborado com o intuito de contribuir com a diminuição dos desequilíbrios regionais. Tais modificações

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As fontes eram deduções de imposto de renda e de adicionais de pessoas físicas e jurídicas de todo o país que estivessem dispostas a investir na região. O BNB também participou como agente financiador, financiando até 50% do valor dos investimentos nos projetos aprovados pela SUDENE (GOODMAN; CAVALCANTE, 1974).

coibiram de fato o potencial do fluxo de recursos disponíveis para a região Nordeste. (PAIVA FILHO; GARCIA, 1983).

Os resultados da adoção de uma política regional só foram sentidos a partir de 1960, quando o Nordeste obteve um crescimento perceptível até a década de 1970. Com a crise econômica originada pela alta dos preços do Petróleo, em 1974, a região manteve-se com um crescimento inferior aos anos anteriores, permanecendo em estagnação nas décadas de 1980 e 1990. Em meados de 2003, o que se percebeu foi uma retomada do papel do Estado na condução da economia, com sua intervenção sendo refletida positivamente sobre o crescimento regional (CARVALHO, 2008).

Nesse sentido, cabe ressaltar que embora existissem dificuldades em relação à redistribuição do desenvolvimento econômico no Brasil, o movimento da industrialização do país passou a ser direcionado para outras regiões no país, o que incluiu a região Nordeste e o estado de Pernambuco, foco dessa pesquisa.

O crescimento de Pernambuco, e também do Nordeste, teve a singularidade da distribuição de renda, pela primeira vez na história, sustentado também por obras da iniciativa privada (ARAÚJO, 2008). Este fenômeno chamou atenção devido às suas taxas médias positivas e a questões como: elevação da renda dos segmentos mais pobres, aceleração do consumo e redução das desigualdades regionais e sociais.

Essa combinação de crescimento econômico com distribuição de renda e de diminuição das desigualdades entre as regiões do Brasil, configura-se numa fase particular, ainda em construção, na história regional desde a criação da Sudene (CARVALHO, 2008).

Esse contexto de estagnação econômica deixou o estado de Pernambuco, durante longos anos em letargia econômica. Nessa premissa, o governo federal a partir dos anos 2000 passou a estimular e promover uma distribuição mais equilibrada do crescimento econômico regional brasileiro, a fim de proporcionar melhor equilíbrio na renda nacional.

3.2 A necessidade de intervenção do estado na economia para alavancar o