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O Procedimento da Execução Contra a Fazenda e a Formação do

Sob o pálio da impenhorabilidade e da inalienabilidade, a execução contra a Fazenda Pública segue rito próprio descrito nos arts. 730 e 731 do CPC. Diferentemente da execução comum, cujo cumprimento de sentença é apenas mais uma fase processual, quando o réu for a Fazenda ainda há um processo autônomo de execução, nos moldes anteriores à vigência da Lei n. 11.232/2005. Em outras palavras, não se aplica o regime do cumprimento de sentença aos entes públicos. Não há obrigação de pagar em quinze dias sob pena de sujeitar-se a multa de 10% sobre o valor da condenação, conforme art. 475-J do CPC.

Sendo o titulo executivo judicial ou extrajudicial, uma vez ajuizada execução em face da Fazenda Pública, esta é citada para opor embargos no prazo de trinta dias41

, os quais 40 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Recurso Extraordinário n. 220.906. Relator: Ministro Marco Aurélio.

Recorrente: Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos – ECT. Advogado: Luiz Gomes Palha. Recorrido: Ismar José da Costa. Advogado: Moacir Akira Yamakawa. Julgado em 16/11/2000. Publicado no

Diário de Justiça em 14 de novembro de 2002. Disponível em

http://www.stf.jus.br/portal/diarioJustica/verDiarioProcesso.asp?

numDj=220&dataPublicacaoDj=14/11/2002&incidente=1689719&codCapitulo=5&numMateria=37&codMat eria=1. Acessado em 23 de maio de 2011.

41 O prazo de trinta dias é previsto na Lei n. 9.494/1997, art. 1º-B, acrescentado pela MP n. 2.180-35/2001.

Durante algum tempo houve controvérsia sobre a constitucionalidade da majoração do referido prazo para embargar. A questão foi submetida ao STF na ADC n. 11. No julgamento, o Supremo deferiu medida cautelar afirmando a constitucionalidade do dispositivo, impedindo qualquer juiz ou tribunal que deixe de aplicá-lo sob o argumento de sua inconstitucionalidade. A questão ficou assim decidida: “Ementa: FAZENDA PÚBLICA. Prazo processual. Embargos à execução. Prazos previstos no art. 730 do CPC e no art. 884 da CLT. Ampliação pela Medida Provisória nº 2.180-35/2001, que acrescentou o art. 1º-B à Lei federal nº 9.494/97. Limites constitucionais de urgência e relevância não ultrapassados. Dissídio jurisprudencial sobre a norma. Ação direta de constitucionalidade. Liminar deferida. Aplicação do art. 21, caput, da Lei nº 9.868/99. Ficam suspensos todos os processos em que se discuta a constitucionalidade do art. 1º-B da Medida Provisória nº 2.180-35.”. BRASIL.

somente poderão trazer em seu bojo alguma das matérias elencadas no art. 741 do CPC. Aqui há outra diferença quanto ao rito comum da execução: a defesa oposta pelo devedor é a impugnação prevista no art. 475-L do CPC, ao passo que a Fazenda deverá opor Embargos à Execução. Comentando essa diferença, Juvêncio Vasconcelos Viana42

afirma que:

Extinto que foi o processo de execução do título judicial, de igual, deveria banir-se a maneira tradicional de reação a esse, qual seja, os embargos do devedor. Foram extintos os embargos à execução de titulo judicial e, em seu lugar, introduziu-se a denominada impugnação incidental. Não mais haverá embargos do executado na fase executiva de sentença [com a ressalva do art. 741 do CPC], mas sim a possibilidade de uma oposição desprovida de efeito suspensivo, na qual se veicularão determinadas matérias (art. 475-L).

Se a sentença proferida no processo de conhecimento anterior à execução for ilíquida, haverá incidência das normas de liquidação de sentença contidas nos arts. 475-A a 475-H do CPC, não existindo nenhum óbice para aplicação das mesmas por ser o sujeito passivo determinado ente público.

Atualmente, os embargos opostos pela Fazenda não possuem mais efeito suspensivo automático, como ocorria sob a égide do antigo art. 739, §1º do CPC. É que a lei 11.232/2006 incluiu o art. 739-A, §1º no CPC, o qual determina que seja garantida a execução por penhora, caução ou depósito para que os embargos possam suspender o feito executivo. Como os entes públicos não podem oferecer bens em penhora ou aliená-los em face do regime jurídico dos bens públicos (vide item 4.1), certamente que tal dispositivo não pode ser invocado almejando obstar o andamento da execução.

Por outro lado, essa impossibilidade de garantir a execução causa exatamente o efeito contrário, ou seja, a suspensão do processo. É que como não pode haver nenhuma forma de constrição patrimonial sobre os bens do ente público executado, e também a Fazenda não pode oferecer caução, o processo de execução está impedido de prosseguir porque a expedição de RPV ou precatório depende de decisão com transito em julgado dos embargos.

Supremo Tribunal Federal. Ação Direta de Inconstitucionalidade n. 11. Relator: Ministro Cezar Peluso. Autor: Governador do Distrito Federal. Julgada em 25/085/2009. Publicado no Diário de Justiça em 11 de dezembro de 2009.

42

VIANA, Juvêncio Vasconcelos. O cumprimento da Sentença. Revista Dialética de Direito Processual. São Paulo. n. 65. pag. 54. 2008.

Dessa forma, enquanto não se tornar incontroverso e definitivo o valor da execução após o julgamento de eventuais embargos, não há sequer possibilidade de expedição de requisição ou do precatório em si, o que impede a continuidade da execução, mesmo que os embargos não sejam dotados de efeito suspensivo43

.

Haverá formação do precatório somente após o transito em julgado da sentença que rejeita os embargos ou quando houver transcurso in albis do prazo para embargar. Sendo os embargos julgados pelo juízo de primeira instância competente para conhecimento da execução, a este cumpre determinar a expedição de precatório com destino ao Presidente do Tribunal, para que reste consignado à sua ordem o valor do crédito, com requisição às autoridades competentes para que façam reserva orçamentária suficiente no valor de todos os precatórios apresentados, os quais deverão ser pagos até o final do exercício financeiro seguinte.

Havendo a determinação da expedição do precatório pelo juiz, após requerimento da parte interessada, deve o serventuário do juízo providenciar a sua formação com cópias das principais peças do processo, que variam de acordo com a prática local, juntamente com a certidão de trânsito em julgado e a informação da natureza do crédito, podendo ser alimentício ou de outra origem.

Essas informações, somadas à requisição do juiz da execução, são protocolizadas e posteriormente autuadas no Tribunal competente, finalizando a formação do precatório. Este passa a ter verdadeira feição de processo, com autos próprios no qual se controlam as etapas do procedimento. Os créditos devem ser pagos aos beneficiários seguindo a ordem de apresentação dos precatórios junto ao ente executado, que manterá, da mesma forma que o Tribunal, lista da ordem de antiguidade.

Nesse momento, o Presidente verifica a legalidade do procedimento e determina à Fazenda Pública que faça a reserva de orçamento para pagamento do precatório no exercício financeiro seguinte, desde que o precatório tenha sido apresentado até 1º de julho, conforme redação do art. 100, §5º da Constituição Federal, com a redação dada pela EC n. 62/2009. 43

Há parte da doutrina que defende a possibilidade de execução provisória contra a Fazenda Pública durante o processo de conhecimento, mas admitindo que esse incidente não poderá levar à expedição de precatório ou RPV por ausência de sentença transitada em julgado. A execução provisória serviria “apenas para adiantar o processamento da execução contra a Fazenda Pública, eliminando uma etapa futura”. DIDIER JR., Fredie; CUNHA, Leonardo José Carneiro da; BRAGA, Paulo Sarno; OLIVEIRA, Rafael. op. cit., p. 729.

Dessa forma, tem-se por concluída a formação do precatório no momento em que é autuado no Tribunal competente, sendo que os atos administrativos daí decorrente são pertinentes à sua tramitação, que será detalhada adiante.

5 CUMPRIMENTO DOS PRECATÓRIOS.

Vistos até então a origem do precatório no ordenamento jurídico brasileiro, a evolução constitucional do instituto desde sua positivação na Constituição de 1934, as regras de execução contra a Fazenda Pública e a formação do instrumento precatório, neste capítulo adentraremos no estudo do procedimento realizado para que o valor devido chegue às mãos do credor, à luz do que dispõe a EC n. 62/2009, fazendo a ressalva de que os principais temas pertinentes a esta Emenda serão abordados em capitulo próprio adiante (vide item 6).