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51 A depender da prática forense local, as RPVs podem não depender de alvará para sua liberação, bastando

simples comunicação à parte, oriunda o Judiciário, para que vá ao banco e retire o que lhe é devido.

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NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de Direito Processual Civil. 2.ed. São Paulo: Método, 2010. p.1013.

No texto originário da Constituição de 1988, assim como e todas as Constituições precedentes, só havia a possibilidade de seqüestro de verbas para quitação de precatórios no caso de pagamento destes com prejuízo da ordem cronológica de apresentação. Essa hipótese ainda encontra amparo constitucional, entretanto não é mais a única.

Com efeito, após a promulgação da EC n. 62/2009, a medida de seqüestro passou a ser legitima também para o caso de não alocação orçamentária de valores suficientes à satisfação dos precatórios. A propósito, transcreve-se o §6º do art. 100, que contém a norma em tela:

§ 6º. As dotações orçamentárias e os créditos abertos serão consignados diretamente ao Poder Judiciário, cabendo ao Presidente do Tribunal que proferir a decisão exeqüenda determinar o pagamento integral e autorizar, a requerimento do credor e exclusivamente para os casos de preterimento de seu direito de precedência ou de não alocação orçamentária do valor necessário à satisfação do seu débito, o seqüestro da quantia respectiva.

Além disso, também é possível haver seqüestro de valores na forma dos arts. 97,§10 e 78,§4º, ambos do ADCT. No primeiro, o seqüestro será motivado pela não liberação de verbas suficientes para o cumprimento do regime especial de pagamento previsto no próprio art. 97. De mesmo quilate é a regra do art. 78,§4º, estipulando o cabimento da medida constritiva no caso de inadimplência do regime de pagamento parcelado de precatórios ali previsto (vide item 3.5.2.2).

É elogiável a ampliação da quantidade de ocasiões em que pode ocorrer o seqüestro, pois é verdadeira medida destinada a assegurar a efetivação das decisões judiciais condenatórias em desfavor da Fazenda. Em lição sobre a natureza jurídica do seqüestro, Leonardo José Carneiro da Cunha53

ensina que:

O referido seqüestro nada mias é do que um arresto, sendo imprópria a designação de seqüestro. Tal arresto, contudo, não ostenta natureza de medida cautelar, consistindo numa medida satisfativa, de natureza executiva, destinada a entregar a quantia apreendida ao credor preterido em sua preferência.

Por fim, cumpre esclarecer qual o patrimônio será alvo da medida, se é daquele credor que recebeu fora da ordem cronológica de apresentação, ou se é do ente público que liberou a verba.

A doutrina controverte-se sobre o tema. Há defensores para as duas posições. Acreditamos que o seqüestro deva ocorrer sobre o patrimônio do ente público, porque era este o devedor original, e o fato de o pagamento ter se dado de forma equivocada não faz desaparecer sua condição de devedor para com o credor preterido. É esse o entendimento que sobressai no STF:

RECLAMAÇÃO - ALEGAÇÃO DE DESRESPEITO A ACÓRDÃO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL RESULTANTE DE JULGAMENTO PROFERIDO EM SEDE DE CONTROLE NORMATIVO ABSTRATO - INOCORRÊNCIA - SEQÜESTRO DE RENDAS PÚBLICAS

LEGITIMAMENTE EFETIVADO - MEDIDA CONSTRITIVA

EXTRAORDINÁRIA JUSTIFICADA, NO CASO, PELA INVERSÃO DA ORDEM DE PRECEDÊNCIA DE APRESENTAÇÃO E DE PAGAMENTO DE DETERMINADO PRECATÓRIO - IRRELEVÂNCIA DE A PRETERIÇÃO DA ORDEM CRONOLÓGICA, QUE INDEVIDAMENTE BENEFICIOU CREDOR MAIS RECENTE, DECORRER DA CELEBRAÇÃO, POR ESTE, DE ACORDO MAIS FAVORÁVEL AO PODER PÚBLICO - NECESSIDADE DE A ORDEM DE PRECEDÊNCIA SER RIGIDAMENTE RESPEITADA PELO PODER PÚBLICO - SEQÜESTRABILIDADE, NA HIPÓTESE DE INOBSERVÂNCIA DESSA ORDEM CRONOLÓGICA, DOS VALORES INDEVIDAMENTE PAGOS OU, ATÉ MESMO, DAS PRÓPRIAS RENDAS PÚBLICAS - RECURSO IMPROVIDO.[...]. A Constituição da República não quer apenas que a entidade estatal pague os seus débitos judiciais. Mais do que isso, a Lei Fundamental exige que o Poder Público, ao solver a sua obrigação, respeite a ordem de precedência cronológica em que se situam os credores do Estado. - A preterição da ordem de precedência cronológica - considerada a extrema gravidade desse gesto de insubmissão estatal às prescrições da Constituição - configura comportamento institucional que produz, no que concerne aos Prefeitos Municipais, (a) conseqüências de caráter processual (seqüestro da quantia necessária à satisfação do débito, ainda que esse ato extraordinário de constrição judicial incida sobre rendas públicas), (b) efeitos de natureza penal (crime de responsabilidade, punível com pena privativa de liberdade - DL 201/67, art. 1º, XII) e (c) reflexos de índole político-administrativa (possibilidade de intervenção do Estado-membro no Município, sempre que essa medida extraordinária revelar-se essencial à execução de ordem ou decisão emanada do Poder Judiciário - CF, art. 35, IV, in fine)[...].54

Finalmente, conforme a regra do art. 100,§11, no caso de precatórios relativos a diversos credores que estejam em litisconsórcio, admite-se o desmembramento do valor, a ser

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BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Agravo .Regimental na Reclamação 2143/SP. Relator: Ministro Celso

de Mello. Agravante: Município de Sumaré Agravado: Nélia Regina Aranha Giordano. Advogado: Eduardo Foffano Neto. Julgado em 12/03/2003. Publicado no Diário da Justiça em 05 de maio de 2003. Disponível em:

http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/listarJurisprudencia.asp?s1=precatorio+sequestro+ordem+renda+p %FAblica&base=baseAcordaos. Acesso em 25 de maio de 2011.

realizado pelo Tribunal de origem do precatório. Cada credor receberá seu respectivo quinhão, e mesmo que seja inferior ao teto das RPVs, só poderá receber por precatório.

Ao nosso ver, essa norma afronta o principio da isonomia. Há inegável tratamento desigual conferido àqueles credores da Fazenda que procuraram a tutela jurisdicional de forma solitária, se comparados aos que o fizeram em litisconsórcio. Não há razão de ser para o art. 97, §11, do ADCT. De fato, a condição subjetiva de litisconsorte em processo de execução contra a Fazenda não faz desse tipo de credor merecedor de menos garantias que outros que não estejam nessa situação.

Acreditamos que esse dispositivo seja apenas mais um artifício em favor dos entes públicos com finalidade de procrastinar o pagamento de precatórios.