A obesidade é uma grave doença que atinge significativa parcela da população brasileira. Devido ao excesso de peso e aos diversos problemas aliados à patologia, muitas pessoas procuram meios de cura. Dentre os tratamentos destacam-se os procedimentos de gastroplastia que, na visão de Mariana de Oliveira Silva (2018), constituem
[...] um meio de alcançar o objetivo de redução do peso, e depende do empenho e determinação do paciente e da equipe de saúde, pois a rotina diária desse cliente passará a contar com uma nova disciplina de autocontrole, cumprimento das orientações passadas pelos profissionais, adequação a um novo estilo de vida e principalmente, o desejo de se manter saudável. Cabe aos enfermeiros orientar e acompanhar esse paciente para que o sucesso terapêutico seja real.
A esse respeito se posicionam Liete Francisco Marcelino e Zuleica Maria Patrício (2018), que assim expressam:
A cirurgia bariátrica possibilita erradicar as comorbidades inerentes à obesidade, assim como promove a redução IMC, porém, tende a provocar déficits nutricionais importantes, se não houver suplementação nutricional adequada. Essa situação exige acompanhamento profissional sistemático com apoio em exames laboratoriais. A alopécia é exemplo disso, pois pode estar relacionada à deficiência de zinco, de proteínas e de ácidos graxos essenciais.
A intervenção cirúrgica é indicada para pessoas que possuem índice elevado de gordura, e que devido ao excesso de peso podem desencadear significativas patologias, exemplificadas na Figura 4. Segundo Arthur Frazão (2018):
A cirurgia bariátrica pode ser feita em casos de obesidade mórbida ou quando o IMC é maior que 35 kg/m2 e esteja presente alguma das seguintes doenças, segundo o
Conselho Federal de Medicina: [...]. No entanto, apenas pacientes que não obtiveram resultados com tratamento clínico e nutricional por pelo menos dois anos podem fazer a cirurgia.
Diferente do que na maioria das vezes se acredita, o procedimento de gastroplastia é recomendado quando há casos de extremo descaso com a saúde, que pode desencadear outras patologias, como exemplifica a figura a seguir:
Fonte: Frazão (2018).
A cirurgia bariátrica, portanto, vai além da questão estética. Para Chris Bertelli (2018), especialistas não cansam de reforçar que o procedimento é um tratamento cirúrgico para uma doença grave – a obesidade. A cirurgia bariátrica, contudo, não deve ser encarada pelo paciente como uma forma rápida de se livrar dos quilos a mais sem muito esforço, pois as questões complexas atinentes à cirurgia bariátrica não se concentram apenas na dificuldade de deferimento pelo SUS, mas também em todo o procedimento concreto, que demanda dedicação dos pacientes, bem como o preenchimento de diversos requisitos. Assim sendo,
Para fazer uma cirurgia bariátrica é preciso haver identificação de obesidade Grau III com Índice de Massa Corpórea (IMC) maior que 40 kg/m2, que seja resistente ao tratamento convencional há pelo menos dois anos contínuos de dietoterapia, psicoterapia, medicamentoso e exercícios físicos, ou IMC de 35 kg/m2 associado a
doenças crônicas, como diabetes mellitus tipo 2, dislipidemias, hipertensão arterial, ausência de patologias endócrinas, transtornos mentais, entre outros, também associados à redução na expectativa de vida. Ao cadastrar o paciente deve-se ter um médico-cirurgião responsável com especialização em cirurgia bariátrica, reconhecido pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e com experiência profissional na área. (JORGE FILHO apud GÓES et al., 2012).
Segundo o Hospital Sírio Libanês (2018), o procedimento de gastroplastia pode ser dividido em três grupos: “cirurgias puramente disabsortivas (não são utilizadas mais), cirurgias restritivas e cirurgias com técnica mista”. Atualmente, a técnica mista tem sido mais utilizada, mais especificamente a técnica de Fobi-Capella, ou bypass gástrico com anel, que consiste na redução do estômago por meio de grampeamento.
A Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM, 2018a) explica o procedimento utilizado pela técnica mista:
São consideradas as cirurgias de ouro, são cirurgias que apresentam elevados índices de satisfação, excelente controle das doenças associadas, excelente manutenção do peso perdido a longo prazo. São as cirurgias mais realizadas no Brasil e no mundo. Essa técnica causa uma restrição na capacidade de receber o alimento pelo estômago que se encontra pequeno e possui um desvio curto do intestino com discreta má absorção de alimentos. E conhecida como cirurgia de yy-pass gástrico ou cirurgia de fobi-capella.
A técnica do Bypass Gástrico (gastroplastia com desvio intestinal em Y de Roux), como já citado, é a técnica mais praticada no Brasil, devido à sua segurança e eficácia. Segundo consta no site eletrônico da Clinobeso (2018),
Espera-se que o paciente perca de 80 a 100% do excesso de peso. É considerado um procedimento misto, pois há modificação no estômago (redução/restrição) e no intestino (desabsorção). Nesse procedimento é realizado o grampeamento da porção superior do estômago com a construção de uma bolsa gástrica (pouch) com aproximadamente 50 ml e um desvio do intestino, promovendo restrição à entrada do alimento e um aumento dos hormônios que diminuem a fome [...].
Após o procedimento cirúrgico, o paciente necessita diversos cuidados e precisa fazer mudanças não só alimentares, mas comportamentais e de exercícios, tudo isso mediante a supervisão de profissionais da saúde, a fim de obter resultado eficaz da cirurgia e melhora na qualidade de vida. Importante mencionar que os cuidados com o paciente devem iniciar antes da operação e se estender após a sua realização. A SBCBM (2018b) menciona que:
O preparo pré-operatório otimiza a segurança e os resultados da cirurgia bariátrica e metabólica. Solicita-se ao paciente que se esforce para perder um pouco de peso antes da cirurgia, pois alguns quilos a menos podem oferecer melhores condições à anestesia geral e à operação.
Além disso, a SBCBM (2018b) recomenda que: “No pré-operatório, o paciente deve realizar uma série de exames, como endoscopia digestiva, ultrassom abdominal e exames laboratoriais, e passar em consulta com os profissionais obrigatórios: cirurgião, cardiologista, psiquiatra, psicólogo e nutricionista.”
Após o procedimento os cuidados devem ser redobrados, pois a gastroplastia provoca alterações hormonais que auxiliam na saciedade, o que pode desencadear deficiências de vitaminas e minerais. Por essa razão é indispensável o acompanhamento com profissionais habilitados da saúde.
A Clínica Alcides Branco (2018) alerta nesse sentido que:
Embora muito raramente, a cirurgia pode gerar complicações, como infecções, tromboembolismo (entupimento de vasos sanguíneos), deiscências (separações) de suturas, fístulas (desprendimento de grampos), obstrução intestinal, hérnia no local do corte, abscessos (infecções internas) e pneumonia. Além disso, sintomas gastrointestinais podem aparecer após a refeição. Os pacientes predispostos a esses efeitos colaterais devem observar certos cuidados, como reduzir o consumo de carboidratos, comer mais vezes ao dia – pequenas quantidades –, e evitar a ingestão de líquidos durante as refeições.
Para obter resultados duradouros é fundamental evitar os principais motivos para a obesidade, que na sociedade atual são decorrentes da rotina com refeições rápidas, nada saudáveis, somados à falta de exercícios físicos. A obesidade é originária de uma sociedade falida na obtenção do bem-estar, e de um Estado que fracassou na consecução de uma vida digna para as pessoas. Tudo isso acaba por tornar a obesidade um grave problema de saúde.