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3. MARCO TEÓRICO

3.11 O processo de regionalização da saúde no Rio Grande do Sul

O processo de redesenho das regiões de saúde no Estado do Rio Grande do Sul enfrentou uma organização de regiões administrativas da SES-RS, que foi elaborada na década de 1970, e que tinha sofrido poucas mudanças nos últimos 30 anos. A pesquisa documental realizada por Guimarães (2012), mostra que se encontrou no Rio Grande do Sul relatos de que em 1935 foi criada a Secretaria de Estado dos Negócios da Educação e Saúde Pública, através do Decreto 5.969 do mesmo ano. Em 1958, foi instituída a Secretaria de Estado dos Negócios da Saúde, separada da educação (Lei 3.602/1958), e, em 1964, foi criado o Departamento dos Serviços Regionais (Decreto 16.773/1964) na Secretaria, com gabinete e Delegacias Regionais. As regiões administrativas foram estruturadas com o objetivo de gerenciar o sistema de saúde em nível regional.

O desafio de efetivar o SUS no Rio Grande do Sul, cumprindo a legislação conquistada pela população organizada principalmente a partir da 8ª Conferência Nacional de Saúde, em 1986, orienta a gestão da SES/RS, que elegeu cinco eixos prioritários: descentralização da gestão, regionalização da atenção, integralidade da atenção, fortalecimento das instâncias de participação e controle social e formação em saúde pública para o SUS.

A descentralização da gestão e a regionalização da atenção à saúde têm como objetivo garantir a atenção necessária à saúde, com a qualidade suficiente em cada pedaço do Rio Grande do Sul. Vêm significando a opção pela criação e pelo fortalecimento das instâncias de pactuação entre os gestores, não somente no

95 âmbito do Estado, como, também, das microrregiões, regiões e macrorregiões. Vêm significando, ainda, a inversão da cultura vertical de planejamento, de acompanhamento e de organização da atenção à saúde no Estado, mobilizando esforços para a mudança da estrutura técnica e operacional existente, sua qualificação e a emergência de um novo modo de funcionamento, que é o próprio SUS.

A integralidade da atenção à saúde, conforme determinação constitucional, visa a superar o modelo médico-centrado e procedimento-centrado, com a integração entre as diversas áreas técnicas e a proposição de ações intersetoriais que visem a redução do risco de doenças e outros agravos, a promoção da qualidade de vida e o atendimento às reais necessidades e problemas de saúde das pessoas, reduzindo a morbi-mortalidade, prolongando a expectativa de vida e construindo novos patamares de saúde coletiva.

A formação em saúde pública para o SUS visa a geração de uma cultura de educação contínua, orientada pelas realidades municipais, locais, regionais, estadual e nacional de construção do sistema de saúde previsto constitucionalmente. Essa cultura, e as ações decorrentes desse eixo, devem ser acessíveis aos municípios, viabilizando a integração ensino-serviço e um diálogo entre a Secretaria de Estado da Saúde do Rio Grande do Sul (SES-RS) com o conjunto dos órgãos formadores, visando a formação de profissionais de saúde no Estado e ampliando o acesso ao conhecimento e às informações em saúde aos vários segmentos populacionais.

Segundo o Plano de Regionalização da Saúde (PDR, 2002), implementação, efetivação e fortalecimento das instâncias de controle social e de participação da população constituem-se em um eixo prioritário da SES/RS, em respeito às prerrogativas legais dessas instâncias , com a qualificação dos fluxos, o aperfeiçoamento da definição de especificidades e interfaces, o incremento de atividades de capacitação de conselheiros, e o estímulo à regionalização dos fóruns de controle.

Principalmente, no entendimento do Governo do Estado do Rio Grande do Sul, a ampla e democrática participação dos cidadãos na gestão do Estado, mais que o cumprimento do que está na legislação, significa, concretamente, a condição para a inversão de prioridades e o aumento da eficácia das políticas de interesse da

96 maioria da população. A transparência no funcionamento do poder público é um largo passo em direção à democracia plena.

O objetivo do Governo do Estado nos anos 2000 era de desprivatizar o Estado, para que servisse aos interesses da maioria da população. Dessa forma, a opção de governo por eleger projetos estruturantes que priorizassem esse aspecto, como o Orçamento Participativo, a Constituinte Escolar e a Municipalização Solidária da Saúde, para citar apenas três exemplos, representou um novo modo de governar. No caso da saúde, o Governo buscou garantir e fortalecer a participação e o controle social, com poder deliberativo, como forma de possibilitar a implementação do SUS. Plano (Diretor de Regionalização da Saúde 2002)

Dentro deste contexto, podemos dizer que com a universalização e descentralização da saúde, a partir das mudanças introduzidas pela Constituição Federal de 1988, rompe-se a tradição histórica de políticas sociais centralizadas, cabendo ao nível central de governo a definição das prioridades e da execução dos serviços de saúde pelos estados e municípios. Essa nova forma de atuação, com a criação de um novo sistema de saúde, mudou a história do sistema de gestão da saúde pública no Brasil. O SUS foi construído com base no princípio fundamental da universalização, expresso na saúde como direito de todos os brasileiros, a ser provida como dever de Estado, uma luta da reforma sanitária brasileira, incorporada na Constituição Federal de 1988 (BRASIL, 2016a).

O princípio da universalização caracteriza-se pela oferta a todos os cidadãos, ações e serviços na área da saúde, ou seja, todos os brasileiros têm direito aos serviços do SUS e o acesso universal não pode ser restringido. A descentralização em saúde no Brasil, política e administrativamente, abrangeu não apenas a transferência da gestão de serviços públicos, mas também de poder decisório, da responsabilidade sobre o conjunto de prestadores do SUS e de recursos financeiros (PREUSS, 2011).

A regionalização da saúde teve início em 2001, onde começou um longo processo de discussões e problematizações com vistas a atualizar o Plano Diretor de Regionalização (PDR) no Estado. Esse processo, por sua complexidade, se estendeu por 12 anos e foi desenvolvido nos GTs de Planejamento, Monitoramento e Avaliação regionais que estão espalhados por todo o território gaúcho (GUIMARAES, 2012).

97 Ainda segundo o autor, a realização deste trabalho, por sua densidade, exigiu vários encontros, todos registrados em atas ou relatórios para futuras pesquisas e consultas e sempre garantiu a participação de todos os GTs regionais. Dessa forma, buscou-se romper com as formas tradicionais que pautaram a organização da política de Saúde brasileira e, principalmente, de planejar em saúde.

Dentro deste pensamento, a Secretaria Estadual de Saúde do Rio Grande do Sul (SES-RS) estruturou seu PDR à luz da NOAS 2002. Através da RESOLUÇÃO N° 555/12 – CIB/RS (Comissão Intergestores Bipartite/RS), alterou a configuração e a quantidade de Regiões de Saúde no Rio Grande do Sul, e instituiu as Comissões Intergestores Regionais – CIR, que, conforme a legislação, pactuam a organização e o funcionamento das ações e serviços de saúde integrados em redes de atenção à saúde na sua região. Define-se “Região de Saúde” como território vivo composto por um espaço geográfico contínuo constituído por agrupamentos de municípios limítrofes, delimitada a partir de identidades culturais, econômicas e sociais e de redes de comunicação e infraestrutura de transportes compartilhados, com a finalidade de integrar a organização, o planejamento e a execução de ações e serviços de saúde. Em seu Art. 2º, foram aprovadas a criação de 30 (trinta) Regiões de Saúde no Rio Grande do Sul, cada qual com uma Comissão Intergestores Regional – CIR. Cada Região de Saúde é identificada com a denominação que foi definida pela Comissão Intergestores Regional, que se reúnem mensalmente ou conforme a necessidade da Regional. Após as discussões, as demandas são encaminhadas às Comissões Intergestores Bipartite (CIB), no âmbito dos estados, que são vinculadas às Secretarias Estaduais de Saúde para efeitos administrativos e operacionais.

Esse processo todo exigiu que gestores municipais e estaduais se debruçassem sobre a regionalização, buscando aprimorar as ferramentas de gestão, especialmente aquelas relacionadas à gestão colegiada/compartilhada, a fim de alcançar novas formas de administrar e arcar com as demandas que surgiram frente às mudanças impostas pelo novo paradigma.

Criavam-se então alternativas de organização do sistema de saúde para a população e novas estratégias para atender às suas necessidades, sendo fundamental a composição de práticas de gestão cooperativas e os então chamados consórcios de saúde entre os municípios.

98 A construção do SUS, desde o movimento da Reforma Sanitária, vem superando e enfrentando ainda muitos obstáculos de cunho técnico, principalmente a superação de alguns conceitos, já arraigados, de um sistema de saúde centrado na doença e não no indivíduo. Observa-se na organização do Ministério da Saúde e nas secretarias estaduais de Saúde, que as políticas de saúde ainda são trabalhadas de modo fragmentado, mantendo uma separação entre a gestão, atenção, vigilância, e, ainda, subdividindo em tantas outras áreas técnicas.

Não bastasse esta política de saúde com ações fragmentadas, o Brasil também vem enfrentando no presente período (2019), obstáculos de cunho político, através do avanço de política de desmontes e redução das garantias de direitos previstos na Constituição de 1988. Frente a essa questão, observa-se que o movimento social deveria retomar seus espaços, uma vez que a presença do controle social é de relevância, e, dessa forma, poder garantir as políticas e ações de saúde, processos mais democráticos e participativos.

Dentro deste contexto, fazendo uma abordagem da região Alto Uruguai e correlacionando ao tema da regionalização da saúde, podemos perceber que este processo está bem organizado e equacionado no que diz respeito à rede de assistência médico hospitalar, onde há um grande hospital público, denominado de Fundação Hospitalar Santa Terezinha de Erechim, localizado na cidade polo, referência para os 33 munícipios na média e alta complexidade, tendo como retaguarda uma rede de hospitais microrregionais, entre eles a ACHA – Associação Comunitária Hospitalar de Aratiba – RS.

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