4 MATERIAL E MÉTODOS
4.2 O produto educacional: sequência didática investigativa
O produto educacional elaborado é uma sequência didática sobre o Cerrado
(APÊNDICE A), que tem como objetivo proporcionar aulas investigativas com a participação
ativa dos alunos na construção do conhecimento científico. Optamos por essa estratégia de
ensino por concordarmos com Piaget que a aprendizagem ocorre através da construção
gradativa do conhecimento, durante o processo de pesquisa, ou seja, é através do desejo
investigador da criança que ocorre a aprendizagem (AEBLI, 1978).
Existem várias definições para sequência didática, de acordo com Zabala (1998, p.18),
sequência didática ou unidade didática é: “um conjunto de atividades ordenadas, estruturadas
e articuladas para a realização de certos objetivos educacionais que têm um princípio e um
fim conhecidos tanto pelo professor quanto pelos alunos”. Segundo Oliveira (2013), a
sequência didática nasceu no início da década de 1980, na França, com a finalidade de
aprimorar o ensino da língua francesa, que acontecia de maneira muito fragmentada. Desta
forma, a sequência didática representou uma novidade para possibilitar um ensino mais coeso
e com mais conexões entre os conteúdos. No Brasil, a sequência didática passou a ser usada
após os Parâmetros Curriculares Nacionais de 1992. Primeiro era utilizada no ensino da
Língua Portuguesa, mas hoje em dia, está presente em todas as áreas do conhecimento.
No ensino de ciências, a utilização de sequências didáticas, segundo Guimarães e
Giordan (2011), pode representar uma opção relevante para diminuir a falta de
contextualização e a fragmentação, porque, podem exercer a função de integrar várias
disciplinas escolares, além de permitirem uma maior conexão entre o saber científico com os
conhecimentos que os estudantes já possuem. Isso poderá contribuir para aumentar o interesse
deles e também possibilitar uma participação mais dinâmica na construção do próprio
conhecimento.
A sequência didática, normalmente, é planejada adotando as seguintes etapas:
definição de um tema, delineamento dos conteúdos e dos objetivos, determinação das
atividades e das formas de avaliação (OLIVEIRA, 2013). Mas, uma pesquisa realizada por
Giordan et al. (2011) evidenciou a ausência de referenciais teóricos na maior parte dos
trabalhos com sequência didática, que geralmente são elaboradas segundo as experiências dos
autores. Guimarães e Giordan (2011) também destacam que embora as sequências didáticas
sejam um assunto relevante e atual, até agora não existe uma concordância
teórico-metodológica a respeito das proposições que respaldem sua construção e aplicação.
Na sequência didática proposta, as aulas foram organizadas de maneira articulada,
partindo de esquemas de ação elementares para a formação de esquemas cada vez mais
complexos. Carvalho (2013) recomenda a utilização pelos professores de ciências de
sequências de atividades baseadas nas ideias de Piaget para trabalhar um tema do currículo
escolar. Nesse caso, cada atividade deve ser projetada com o objetivo de propiciar aos
estudantes a possibilidade de gerar novos conhecimentos a partir dos seus conhecimentos
prévios, de desenvolverem suas próprias convicções e debatê-las, para assim, deslocar-se do
conhecimento espontâneo para o científico. A elaboração da sequência didática também
ocorreu de acordo com os três momentos pedagógicos (TMP) de Delizoicov et al. (2011):
problematização inicial, organização do conhecimento e aplicação do conhecimento (Figura
3).
Figura 3 - Esquema da sequência didática aplicada à turma do 6º ano de uma escola pública
em Anápolis-GO
Fonte: Da própria autora
1º
Problematização
inicial
•Atividade 1: Questionamentos, discussões,
elaboração do problema e das hipóteses;
2º
Organização do
conhecimento
•Atividade 2: Discussões, análise de textos de
divulgaçãoo científica, de imagens e de vídeos
sobre o Cerrado;
•Atividade 3: Discussões, análise de textos de
divulgação científica e de imagens, jogos
interativos e construção de modelos de cupins;
•Atividade 4: Aula de campo em uma trilha
interpretativa, coleta e análise de cupins;
3º
Aplicação do
conhecimento
•Atividade 5: Divulgação dos
resultados encontrados;
A problematização inicial caracteriza-se pela exposição aos estudantes de
circunstâncias reais e que eles já conheçam, mas, para interpretá-las é fundamental ocorrer
apresentação de novas informações presentes nas teorias científicas. Os alunos devem ser
provocados a participarem expressando suas ideias, isso permitirá ao educador conhecer quais
são os conhecimentos prévios dos estudantes. Sendo assim, o professor deve atuar como um
questionador, com o objetivo de estabelecer dúvidas que estimulem a curiosidade dos alunos,
por isso, nesse momento evita-se explicações por parte do professor. O principal objetivo é
transformar a discussão em um problema e levar o estudante a perceber a necessidade de
adquirir novos conhecimentos para resolvê-lo. Os autores ainda sugerem que na
problematização primeiro deve-se realizar uma discussão em pequenos grupos e só depois
com toda a classe. Na sequência didática proposta a problematização ocorre na primeira
atividade.
No segundo momento pedagógico, denominado de organização do conhecimento, os
alunos precisam estudar todos os conteúdos indispensáveis para compreenderem o tema em
estudo e solucionarem as dúvidas provenientes da problematização inicial. O professor
precisa utilizar diferentes atividades para trabalhar os conceitos vistos como imprescindíveis
para que ocorra a compreensão científica do problema analisado. Na sequência didática aqui
sugerida, as atividades dois, três e quatro apresentam essas características necessárias para a
organização do conhecimento dos alunos.
O terceiro momento pedagógico, denominado aplicação do conhecimento, consiste na
etapa em que o professor deve utilizar diferentes atividades para que os estudantes aprendam
a articular os conhecimentos construídos na investigação com as situações reais. Para
Delizoicov et al. (2011), esse é um dos principais objetivos do ensino de ciências, ou seja, é
necessário “explorar o potencial explicativo e conscientizador das teorias científicas”. As
atividades cinco e seis da sequência didática proposta tem o objetivo de possibilitar a
aplicação dos conhecimentos.
Dessa forma, a sequência didática que sugerimos constitui-se de seis atividades que
totalizam aproximadamente 15 aulas, organizadas de maneira que os estudantes edifiquem o
próprio conhecimento a respeito do Cerrado. Para isso, várias estratégias de ensino são
propostas: aulas dialogadas, leitura e discussão de textos de divulgação científica, análise de
vídeos, jogos interativos, construção de modelos de cupins com massa de modelar, discussões
em pequenos grupos, aula de campo em trilha interpretativa, aula prática para coleta e análise
de cupins, apresentações de trabalhos e um grupo focal. Recomendamos que a aplicação da
sequência didática ocorra em forma de projetos, pois assim, ela pode ajudar a diminuir a falta
de contextualização e fragmentação, auxiliando na integração de várias disciplinas escolares.
Assim, acreditamos que a investigação científica proposta por essa sequência didática,
incentivará o interesse dos estudantes na elaboração de hipóteses, reflexão e discussão de suas
ideias e como consequência possibilitará a construção do conhecimento sobre o Cerrado.
Espera-se, também, que essa sequência de ensino investigativa colabore com a prática
pedagógica dos professores de ciências e geografia, para isso, ela será disponibilizada no
Portal do Professor (http://portaldoprofessor.mec.gov.br/index.html). No entanto, é
fundamental destacar que essa é apenas uma sugestão, o professor precisa adaptá-la às
características da sua escola e de seus alunos.
No documento
CONTRIBUIÇÕES DE AULAS INVESTIGATIVAS PARA O ENSINO DA BIODIVERSIDADE DE CUPINS DO CERRADO: UMA SEQUÊNCIA DIDÁTICA
(páginas 41-44)