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ANO ORIENTAÇÕES PARA A ESCOLHA DAS ATIVIDADES

5 A FUNÇÃO DA ESCOLA E O PAPEL DO PROFESSOR NO PROGRAMA MAIS EDUCAÇÃO

5.3 QUEM É O EDUCADOR PARA O PME?

5.3.1 O Professor Comunitário

Há no Programa Mais Educação a caracterização de dois tipos de profissionais envolvidos com as situações de aprendizagem. O primeiro é chamado Professor Comunitário, ligado às Secretarias (Municipais, Estaduais ou Distrital), preferencialmente efetivo com carga mínima de 20h semanais, devendo chegar preferencialmente às 40h semanais de

trabalho efetivo na coordenação do Programa. Esta categorização diz

respeito ao profissional que deve coordenar o Programa, o Professor

Comunitário, também chamado de articulador, “responsável por mediar as relações escola/comunidade” (BRASIL, 2009c, p. 79, grifo nosso).

Seu papel é o de “coordenar o processo de articulação com a comunidade, seus agentes e seus saberes, ao mesmo tempo em que ajuda na articulação entre os novos saberes, os novos espaços, as políticas públicas e o currículo escolar” (NÓBREGA; SILVA, 2011, p. 15). Seu objetivo é o de “formular, em conjunto com as diversas forças atuantes nos territórios, um projeto de educação integral que nasça da relação entre desafios e vocações locais” (BRASIL, 2009c, p. 79, grifo nosso).

Como o nome sugere, este professor deve ter um forte vínculo com a comunidade, pois é o responsável pela articulação da escola com seu entorno. Esta categorização do professor no PME apresenta ligação com as ideias da formulação de educador social, que deve agir como mediador entre o educando, a sociedade e a cultura.

O trabalho do Professor Comunitário é considerado “fundamental para o planejamento, articulação e mobilização dos diversos espaços e agentes educativos envolvidos na realização da educação integral” (BRASIL, 2009b). Foi possível destacar dez funções para ele: deve “procurar criar um ambiente(1) agradável de confiança e respeito mútuo entre professores da escola e membros da comunidade” (BRASIL, 2009c). Seu trabalho terá como foco: “a organização do

tempo ampliado(2) como tempo continuum no currículo escolar, o

acompanhamento dos monitores(3), o diálogo com a comunidade(4), a

proposição de itineráriosformativos(5) que transcendam os muros das escolas e a construção de ‘pontes’ entre a escola e a comunidade” (BRASIL, 2011, grifo nosso).Ademais, deve assumir o “papel de

articulador(6)” da relação entre a escola e a comunidade propondo “projetos político-pedagógicos” por meio da busca de “superação dos reducionismos técnicos ou políticos”, da proposição de um “novo modo de vivenciar as dimensões administrativa e pedagógica no planejamento da educação” e do “incentivo ao protagonismo(7)” da população usuária (estudantes, pais e comunidades). (BRASIL, 2009b, p. 39). Ainda é responsável por “acompanhar a gestão pedagógica e

administrativa(8)do programa, [...] favorecendo a troca de saberes

formais e informais através do diálogo pleno com a comunidade e de mapear as oportunidades de parcerias(9) e fortalecer o ‘território

educativo(10)’ no qual a escola se situa”. (BRASIL, 2010, p. 10, grifo nosso).

As dez funções referidas não incluíram as que compõem o dia-a- dia escolar de um coordenador qualquer87, além de outras, tais como

87Entende-se como trabalho habitual de um coordenador o atendimento às demandas diárias de

coordenar e participar do Comitê Local; elaborar o Plano de Ações da Escola e cadastrá-lo no sistema SIMEC; selecionar os alunos e organizar as turmas, bem como encontrar os monitores para cada

atividade. Este amplo leque de funções e atribuições, impostas a este profissional, sobrecarregam o seu fazer, não mais tão “pedagógico” em razão de seu feitio operacional e administrativo. Propõe-se um profissional com “multi-ocupações” em seu contexto de trabalho, como indicado por Nóbrega; Silva (2010). Ocupações que pudessem, como seguem os autores em sua linha de pensamento, ser consideradas papel dos sistemas de educação, como é o caso de “estimular a participação de colaboradores” (NÓBREGA; SILVA, 2011, p. 17).

É evidente o esvaziamento do caráter pedagógico e formativo, do trabalho do professor, em comparação a evidência do caráter gerencial e administrativo da função deste profissional. Em contrapartida, funções ligadas à organização do trabalho, à supervisão dos monitores, ao gerenciamento do programa, à busca por parceiros, ao diálogo com a comunidade, ganham evidência. Este seria o ‘perfil ideal’, evidenciando-se as características importantes a serem por ele portadas, apesar de não haver “uma definição fechada sobre quem pode atuar” (BRASIL, 2009, p. 15):

• Preferencialmente ser alguém que tenha relações com a

comunidade; que seja parte dela (se possível); que conheça

seus líderes, vocações locais (equipamento público: clubes, igrejas, bibliotecas, museus, outras escolas, centros culturais, centros comerciais, fábricas, praças etc.);

• É importante que conheça ou pesquise a história local;

• Deve ser solícito e com um forte vínculo com a comunidade escolar;

• Deve escutar os companheiros e estudantes que buscam o

consenso e acreditam no trabalho coletivo;

• Deve ser sensível e aberto às múltiplas linguagens e aos saberes comunitários;

• Deve apoiar novas ideias, transformar dificuldades em oportunidades e dedicar-se a cumprir o que foi proposto coletivamente;

• Deve saber escutar as crianças, adolescentes e jovens e ter

gosto pela convivência com a comunidade na qual atua;

atividades diárias; controle de faltas tanto de monitores quanto de alunos – sendo que no caso de falta do primeiro é necessário buscar alternativas para realização da atividade específica, incluindo assumir as monitorias; acompanhamento do cardápio da merenda escolar; gerenciamento de possíveis conflitos entre educando/professores/servidores.

• Deve ser aquele que se emociona e compartilha as histórias das famílias e da comunidade.

Ora, é perceptível que para a procura deste profissional não há exigência alguma quanto à qualificação específica na área pedagógica ou experiência em projetos. O perfil proposto sugere um profissional sensível, solícito, que saiba escutar, tenha gosto pela vivência coletiva e busque vínculo com a comunidade, sua história e suas possibilidades, que transforme as dificuldades em oportunidades. Ou seja, um profissional aberto às tendências que o Programa sugere à escola.

O termo Professor Comunitário aparece primeiramente em dois dos programas que serviram de base para a construção dos princípios pedagógicos da proposta do Programa Mais Educação, o Programa

Escola Aberta e a experiência de uma prefeitura de Belo Horizonte,

MG, conhecida como Programa Escola Integrada. Nesses programas, essa “nova modalidade” de professor desempenha funções como “articular a escola e a família; realizar visitas na comunidade; envolver as famílias, o bairro e a cidade na escola. Trata-se de valorizar a função do docente como empreendedor comunitário” (COELHO, 2009).

Essa ideia de empreendedor comunitário, mesmo que não esteja claramente apontada nos documentos do PME, está presente nas entrelinhas do discurso e pode ser percebida quando definem como algumas das funções do Professor Comunitário “descobrir as oportunidades de parcerias com o entorno escolar”, de “articular a relação entre a escola e sua comunidade” e “incentivar o protagonismo da sua população”.