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CAPÍTULO 1. CONSTRUÇÃO DE UM OLHAR PARA A PESQUISA:

1.7. A Educação Infantil e Hábitos alimentares

1.7.2. O professor de Educação Infantil

[...] os representantes da equipe pedagógica, e, sobretudo, o professor, devem ser incorporados como membros centrais da equipe de saúde escolar, pois além de possuírem uma similaridade comunicativa com seus alunos, têm maior contato com eles e estão envolvidos na realidade social e cultural de cada discente, aspectos estes que facilitam o trabalho (DAVANÇO, TADDEI e GAGLIANONE23, 2004, apud GONÇALVES, 2008, p. 190).

No Brasil prevalece o trabalho feminino no espaço de Educação Infantil. Autores como Ávila (2002), Ongari e Molina (2003) e Sarmento (2003) apontam como provável motivo de tal supremacia feminina, a relação direta estabelecida na sociedade do papel da mãe como cuidadora no âmbito familiar. No entanto, afastando-nos cada vez mais do propósito meramente de cuidado físico, cada vez mais se faz necessária

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DAVANÇO, G.M.; TADDEI, J.A.A.C.; GAGLIANONE, C.P. Conhecimentos, atitudes e práticas de professores de ciclo básico, expostos e não expostos a curso de educação nutricional. Rev. Nutr., v.17, n.2, p.177-84, 2004.

maior qualificação deste profissional, envolvido tanto com o cuidado, como com a educação (KRAMER, 1993; FREIRE, 1994; WAJSKOP, 1995).

A Educação Infantil tende a se distanciar da Educação no sentido formativo e situado. Sainsaulieu e Kirschner (2006) apontam que, na era contemporânea, as novas tecnologias modificaram as profissões, as funções hierárquicas e técnicas, o funcionamento social e a cultura das organizações. Na Educação Infantil as atividades educacionais deveriam fazer sentido para a criança e os professores deveriam promover uma contínua construção e reconstrução de experiências.

Assim o planejamento de atividades pedagógicas calcado em teorias sólidas ganhou dimensões primordiais na rotina da Educação Infantil, no sentido de qualificar as ações com intenções educativas. Desta forma, o ato de conhecer dos professores, de estudarem, de se apropriarem de conhecimentos multidisciplinares, redimensionaria suas práticas e auxiliariam no alcance dos objetivos pedagógicos, e, consequentemente, contribuiriam com a qualidade educacional.

Davanço et al. (2004) realizaram um estudo com o propósito de avaliar os conhecimentos sobre nutrição de professores participantes e não participantes de um programa educativo sobre alimentação escolar. Verificaram que, com mais conhecimentos, aqueles professores que participaram do programa educativo, passaram a incorporar, em suas atividades, com maior propriedade, propostas de sensibilização aos alunos à pratica da alimentação saudável.

Em 2006, na Reunião Anual da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação (ANPED), no Grupo de Trabalho Educação da Criança de zero a seis anos24, foi apresentada uma revisão dos estudos publicados nas principais revistas brasileiras de Educação. A revisão verificou os resultados de pesquisas empíricas sobre a qualidade da educação em instituições de Educação Infantil brasileiras, no período de 1996 e 2003 e apontou as áreas de pesquisas que os pesquisadores mais relacionavam à qualidade da Educação Infantil: formação dos professores; propostas pedagógicas; condições de funcionamento; práticas educativas e relação com as famílias. Concluiu que as pesquisas apontavam uma grande distância entre as metas legais e a situação vivida pela maioria de crianças e adultos no cotidiano das instituições de Educação Infantil (CAMPOS, FÜLLGRAF e WIGGERS, 2006). Tal fato indica que o arcabouço

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legal brasileiro ainda é um caminho a ser conquistado nas instituições de Educação Infantil em relação à melhora necessária à qualidade do ensino na área.

As propostas de formação contínuas nas instituições de Educação Infantil tornaram-se uma característica e necessidade da área, incluindo também outros profissionais, como, por exemplo, os envolvidos com a alimentação infantil. No que concerne à inserção das temáticas na área de nutrição, a forma como devem ser planejadas as etapas das propostas de formação, se constituiu em objeto de estudo de Schmitz (2008) que verificou melhores resultados do grupo que participou de oficinas temáticas na Escola de Extensão da UnB (professores e donos de cantinas escolares) com uma abordagem sócio-construtivista em Educação Nutricional. O estudo criticou o modo com que a temática “educação nutricional” normalmente era tratada nos treinamentos institucionais — como uma espécie de adestramento, sem que se problematizasse a questão, como, por exemplo, numa abordagem pedagógica voltada à construção reflexiva do conceito da Educação Nutricional (SCHMITZ, 2008).

No contexto de formalização de novas formas de atuação do profissional da Educação Infantil, Kramer (2006) e Pereira (2014) sinalizam que a qualificação em serviço pelas escolas de Educação Infantil se faz necessária, já que a formação inicial acadêmica, seja a faculdade de Pedagogia ou as escolas Normais, ainda não contemplam em seus currículos, conteúdos relacionados ao cuidar e educar, em especial os cuidados de alimentação e a Educação Alimentar e Nutricional, para crianças da faixa etária do segmento Educação Infantil.

Dentre as necessidades formativas e atribuições profissionais dos professores, enfatizaremos sua relação com a construção de conceitos em alimentação, dada a relação com a temática do presente estudo. Assim, destacamos como referência a dissertação de mestrado de ASSAO (2007), de abordagem qualitativa, utilizando a Teoria de Representações Sociais, com 78 educadores de oito instituições infantis públicas do município de Jandira, em São Paulo, com o objetivo de analisar as percepções de educadores sobre a alimentação saudável no âmbito escolar. Dessa investigação resultaram dois artigos, publicados nos anos 2007 e 2008. Como características do grupo estudado, a predominância dos profissionais do sexo feminino (93,8%); do grupo etário de 20 a 30 anos (30,8%); com filhos (76,9%); sem uma formação específica na área de Educação (51,3%), com experiência anterior em creches e/ou escolas de diferentes níveis de ensino (41%), que participaram dos cursos de

formação continuada promovidos pela prefeitura do município (98,7%). A alimentação saudável para as crianças, sob o ponto de vista dos educadores, deveria ter variedade, diversidade, a quantidade e a qualidade adequadas, e que atendesse às necessidades biológicas e às preferências alimentares, de consistência adequada, que fosse natural e oferecida nos horários estipulados.

Em 2008, com foco na alimentação saudável, as autoras verificaram que as maiorias das percepções dos educadores, observadas nos discursos, demonstraram-se inadequadas em relação aos parâmetros da promoção dos hábitos alimentares para as crianças nos princípios fundamentais de alimentação saudável. As educadoras

descreveram como estratégias, nas atividades relacionadas à alimentação com as crianças, o diálogo e estímulos, tais como sentar ao lado da criança no momento da refeição ou deixá-la em companhia de outras que se alimentam de forma adequada, além de brincadeiras ou o que chamaram de “camuflagem” dos alimentos e até mesmo chantagens para efetivar o consumo. As educadoras citaram estratégias para a promoção de alimentação saudável, demonstraram entendimento, mas ao descreverem sua própria alimentação, constatou-se que seus hábitos não se relacionavam com os princípios da mesma (ASSAO e MANCUSO, 2008).

Gonçalves (2008) destaca que a qualidade na promoção da saúde no espaço da Educação Infantil se relaciona com propostas de formação dos profissionais da área, pedagogos e profissionais de saúde. Defende que a “formação deve ser voltada a que

compreendam a importância da efetivação de uma prática interligada e presente da educação em saúde nos diversos âmbitos de atuação da escola” (GONÇALVES, 2008,