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2 MUDANÇAS CLIMÁTICAS E ESCASSEZ HÍDRICA

2.1.3 O Protocolo de Quioto

Após dois anos de negociações, o Protocolo de Quioto foi adotado na COP-2, em dezembro de 1997, na cidade de Quioto, no Japão. Em março de 1998, o documento foi disponibilizado para assinaturas.52 As Partes decidiram, por consenso, adotar um Protocolo, segundo o qual os países industrializados deveriam:

[...] reduzir suas emissões combinadas de gases de efeito estufa em pelo menos 5% em relação aos níveis de 1990 até o período entre 2008 e 2012. Esse compromisso, com vinculação legal, promete produzir uma reversão da tendência histórica de crescimento das emissões iniciadas nesses países há cerca de 150 anos.53

O Protocolo de Quioto instituiu três mecanismos conjuntos de redução dos gases de efeito estufa: (i) o mecanismo de desenvolvimento limpo (MDL ou Clean Development Mechanism - CDM), previsto no artigo 12; (ii) a implementação conjunta (mecanismos bilaterais entre as Partes do Anexo I) do artigo 6; e (iii) o comércio de emissões (possibilidade de comércio entre os países do Anexo I), previsto no artigo 17.54 Também incluiu três novos gases considerados de efeito estufa os denominados ―sintéticos‖ ou ―ex ticos‖ ou seja somaram-se ao dióxido de carbono (CO2), ao metano (CH4) e ao óxido nitroso (N20) os gases hidrofluorcarbonos (HFCs) perfluorcarbonos (PFCs) e hexafluoreto de enxofre (SF6)55.

52

SCHRIJVER, Nico. Development without destruction, p. 107. BIRNIE et.al.p.360.

53

BRASIL. Ministério da Ciência e Tecnologia. Centro de Ciência do Sistema Terrestre. Protocolo de Quioto. O Brasil e a Convenção-Quadro das Nações Unidas. [Editado e traduzido com o apoio do Ministério das Relações Exteriores

da República Federativa do Brasil]. Anexo A. Disponível em:

http://mudancasclimaticas.cptec.inpe.br/~rmclima/pdfs/Protocolo_Quioto.pdf>. Acesso em: 28 set. 2015.

54

BIRNIE, Patricia; BOYLE, Alan; REDGWELL; Catherine. International law and the environment, p. 361; SOARES, Guido F. Silva. A proteção internacional do meio ambiente. Barueri: Manole, 2003. p.152.

55

BRASIL. Ministério da Ciência e Tecnologia. Centro de Ciência do Sistema Terrestre. Protocolo de Quioto. O Brasil e a Convenção-Quadro das Nações Unidas. [Editado e traduzido com o apoio do Ministério das Relações Exteriores

Em 16 de fevereiro de 2005, o referido Protocolo entrou em vigor, com a adesão da Rússia. Posteriormente, aderiram o Japão (2005) e a Austrália (2008), valendo lembrar que até o presente, este importante instrumento não conta com a assinatura do maior emissor de gases de efeito estufa, os Estados Unidos da América, e por este motivo a sua efetividade permanece indeterminada.56

Segundo Soares, tanto as dificuldades em implementação da Convenção-Quadro como as determinações estabelecidas pelo Protocolo de Quioto:

[...] são bastante claras e exigem um tipo de cooperação em nível internacional entre os Estados, que dificilmente alguns países, como os EUA, estão dispostos a dar, devido à carga de sacrifícios e de mutações nos padrões da vida ordinária [...] que resultarão para sua população.57 A responsabilidade de controlar a efetividade tanto da Convenção-Quadro como do Protocolo de Quioto cabe à COP, uma tarefa árdua e que demanda reuniões periódicas, constante revisão técnica das emissões e acurada análise de relatórios. Para auxiliar nas questões técnicas, a Conferência das Partes conta com dois órgãos suplementares para temas de ciência e tecnologia, e outro para implementação dos compromissos firmados.58

O prazo previsto no Protocolo para redução da emissão dos gases de efeito estufa na atmosfera expirou em dezembro de 2012. As negociações para estender a sua vigência e posterior elaboração de um novo tratado iniciaram em Montreal, em 2005, com a definição de um grupo de trabalho ad-hoc, incumbido da criação de compromissos adicionais no Protocolo de Quioto59. Porém, apenas em 2011, na COP de Durban, as Partes decidiram estender a aplicação do Protocolo de Quioto.

http://mudancasclimaticas.cptec.inpe.br/~rmclima/pdfs/Protocolo_Quioto.pdf>. Acesso em: 28 set. 2015; SOARES, Guido F. Silva. A proteção internacional do meio ambiente, p. 152.

56

SCHRIJVER, Nico. Development without destruction, p. 109.

57

SOARES, Guido F. Silva. A proteção internacional do meio ambiente, p. 153.

58

BIRNIE, Patricia; BOYLE, Alan; REDGWELL; Catherine. International law and the environment, p. 368.

59

OLIVEIRA, Gisela M. Os desafios da estratégia pós-Kyoto. eBook- Porto: Edições Universidade Fernando Pessoa, 2015. p. 12.

m dezembro de 1 na OP realizada em Doha ―[...] o documento foi revisto, quantificando os limites e/ou reduções das emissões de gases de efeito estufa para cada país e para o período de 1 a ‖60

. Todavia, o documento foi assinado apenas pela maioria dos Estados-membros da União Europeia, mais Ucrânia, Kazaquistão e Austrália. Países desenvolvidos como Canadá, Japão, Rússia, Estados Unidos e Nova Zelândia ―[...] declararam não ter intenç es de assumir qualquer tipo de compromisso de redução das emissões de GEE61 sob a Revisão de Doha‖62

.

Certo é que o clima é um dos fatores importantes para a preservação da vida na Terra e que as alterações climáticas afetam outros componentes da natureza, como a água (excesso, escassez e poluição) e consequentemente o solo, os oceanos, a vegetação e as florestas. Os efeitos das mudanças climáticas nos recursos hídricos atingirão, de forma geral, a saúde e a vida da população mundial. A crise hídrica já está presente na maioria dos Estados do mundo e tende a crescer. Esses motivos, por si sós, deveriam influenciar os Estados a se comprometerem a observar as recomendações dos tratados firmados, que buscam a redução dos gases de efeito estufa na atmosfera terrestre. 2.2 A CRISE HÍDRICA E OS EFEITOS DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS NA GESTÃO DOS RECURSOS HÍDRICOS

A água é uma riqueza natural que garante à humanidade a vida na Terra. Historicamente, desde a Antiguidade, as comunidades se formaram perto ou nas nascentes dos rios, justamente para garantir a sua sobrevivência. Contudo, esse recurso natural é finito quando o seu uso é realizado de forma indevida. Pode-se apontar como consequências da má utilização das águas, tanto superficiais como subterrâneas, o desaparecimento de um fluxo d‘ gua rio lago lagoa) o assoramento a poluição, a eutrofização63, o desaparecimento dos seres vivos e microorganismos, entre outras.

60

OLIVEIRA, Gisela M. Os desafios da estratégia pós-Kyoto, p. 12.

61

Gáses de efeito estufa (GEE).

62

OLIVEIRA, Gisela M. Os desafios da estratégia pós-Kyoto, p. 12.

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Segundo José alizia Tundisi: ―A eutrofização dos ecossistemas aqu ticos continentais, das águas costeiras marinhas e das águas subterrâneas é resultado do enriquecimento com nutrientes de plantas, principalmente o fósforo e nitrogênio, que são despejados de forma dissolvida ou particulada em lagos,

À utilização inadequada dos recursos hídricos somam-se os efeitos causados pelas mudanças climáticas. Períodos de muita seca podem afetar a quantidade das águas e períodos de muita chuva podem atingir a qualidade das águas bem como provocar enchentes. Nesse sentido, todo recurso hídrico deve ser gerenciado adequadamente, por meio de políticas públicas estatais ou de atitudes da própria comunidade que o utiliza. A gestão torna-se mais importante quando as águas se situam em áreas transfronteiriças, ou seja, envolvem dois ou mais Estados soberanos.

O objetivo de uma gestão adequada e integrada de recursos hídricos é, pois, garantir a disponibilidade da água e, em decorrência, a vida da humanidade. Muitas regiões do mundo já estão enfrentando problemas com a escassez de água em consequência do mau uso dos recursos hídricos e dos efeitos das mudanças climáticas.

A escassez hídrica tem provocado o que se conhece hoje como crise da água, estresse hídrico ou crise hídrica. A crise hídrica já uma questã séria, posta e suas consequências podem se tornar ainda mais sérias. Dos Estados Unidos da América ao Brasil (com destaque para o Estado de São Paulo, que desde 2014 amarga uma das maiores crises hídricas), da África ao Oriente Médio e também na Europa, os países enfrentam o problema da falta de água para abastecimento da sua população em diversas regiões.