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2.2 A Pesquisa em aprendizagem organizacional

2.2.1 O quadro atual da pesquisa

Muitos teóricos têm discutido a questão da pesquisa em aprendizagem organizacional, denunciando que o quadro apresentado pela realidade não é compatível com a importância que tem sido atribuída à área e apontando a escassez de investigação empírica como sua maior fragilidade (HUBER, 1991 ; MINER e MEZIAS, 1996).

Kim (1998) argumenta que, a despeito de a aprendizagem organizacional e a inovação terem se tornado tópicos crucialmente importantes em gerência, a pesquisa sobre esses temas está concentrada principalmente nos países desenvolvidos. Apesar de muitos países em desenvolvimento apresentarem progressos significativos em desenvolvimento industrial, educacional e tecnológico, a pesquisa sobre aprendizagem, construção de capacidade e inovação é escassa.

Para Argote (apud LANT, 2000), a pesquisa em aprendizagem organizacional foi assolada por definições teóricas e operacionais – que variam amplamente – e carece da falta de estudos empíricos.

A escassez de trabalho empírico no campo da aprendizagem organizacional também é apontada por Easterby-Smith e Araújo (1999), que afirmam que, apesar da denúncia que vem sendo feita pelos teóricos há muito tempo, não existe no momento nenhum sinal de mudança de padrão. Como exemplo, citam que, dos 150 estudos sobre organização de aprendizagem resumidos na ABI Inform durante o ano de 1997, apenas 15 (10%) baseiam-se em dados empíricos novos, coletados pelos autores e, desses, dez basearam-se em intervenções levadas a cabo pelos próprios autores. Embora Easterby-Smith e Araujo (1999), afirmem não ter nada contra a pesquisa-ação em si, a escassez de estudos independentes de aprendizagem organizacional que possam resultar em uma instância crítica e “objetiva” é preocupante.

Essa preocupação também é abordada por Tsang (1997), quando discute que a maioria dos autores não acadêmicos colhe os dados de seus clientes em situações de prestaç ão de serviços de consultoria ou de realização de workshops gerenciais,

sendo que o fato de atuarem como consultores pagos torna suspeita a objetividade de suas análises.

Para Miner e Mezias (1996, p.95), o percentual de pesquisa empírica para teorias de aprendizagem é muito baixo, citando que os artigos sobre o tema, historicamente, têm se constituído principalmente de: modelos gerais esquemáticos de aprendizagem organizacional; percepções qualitativas baseadas em trabalho de campo; e estudos de simulação.

Os referidos autores reivindicam uma base empírica sólida para fazer predições consistentes sobre fatores organizacionais e a necessidade de dados empíricos confiáveis para associar, mais fortemente, os padrões de resultado de aprendizagem ao mundo concreto das organizações. Como dito anteriormente, creditam a falta de pesquisa empírica quantitativa de alta qualidade ao fato de que ela é “dolorosamente difícil de ser feita”, considerando-se que os modelos de aprendizagem são fáceis de invocar, mas difíceis de serem estudados de forma sistemática.

Também para Tsang (1997), a exigência de rigor para com a metodologia de pesquisa é que ela aperfeiçoa a validade e confiabilidade de uma teoria. Observa que por pesquisa rigorosa não se está referindo apenas à pesquisa quantitativa, mas também a métodos qualitativos de pesquisa, ou a ambos os métodos usados simultaneamente.

Crossan e Guatto (1996) delineiam um perfil da pesquisa em aprendizagem organizacional resultante de investigação realizada em três bases de dados para identificar a literatura publicada de aprendizagem organizacional e organização de aprendizagem.

O levantamento demonstra que, nos anos 90, houve um crescimento exponencial do interesse em aprendizagem organizacional, com 184 artigos escritos, comparando-se aos 50 artigos escritos durante os anos 80, 19 artigos durante os anos 70 e 3 artigos durante os anos 60. Os 4 artigos publicados em 1977 representam o ápice da atividade editorial nos anos 70, ou seja, apenas 7% dos artigos publicados em 1994. Porém, para interpretar a magnitude real do crescimento, necessita-se examinar esse crescimento no número de artigos em relação ao padrão de crescimento global de publicações nos três bancos de dados.

Um segundo indicador do crescimento do interesse em aprendizagem organizacional é o aumento no número de jornais que publicaram artigos sobre o

tema, considerado pelas autoras como significativo: durante os anos 90, 80 diferentes periódicos publicaram artigos sobre aprendizagem organizacional, comparados aos 35 periódicos nos anos 80, 18 durante os anos 70 e 3 nos anos 60.

Um terceiro indicador que reforça o fato de que nos anos 90 ocorreu um crescimento sem precedentes no interesse em aprendizagem organizacional aponta para o número de autores de artigos de aprendizagem organizacional: durante os anos 90 foram 149 diferentes autores ou grupos de autores escrevendo artigos sobre o tema, o que pode ser comparado aos 44 diferentes autores ou grupos de autores nos anos 80, 15 nos anos 70 e 3 nos anos 60.

A pesquisa identificou os artigos mais influentes sobre aprendizagem organizacional e mediu o número de citações por artigo, bem como identificou os autores mais influentes, em função desse número, e o número de citações cumulativas para cada um desses autores. Daft e Weick (1984) foram os mais citados, seguidos de Levitt e March (1988), Fiol e Lyles (1985) e Huber (1991) (grifo nosso), autor do estudo de referência desta dissertação.

A pesquisa aponta que, nos anos 90, os periódicos de negócios foram responsáveis por 40% das publicações sobre aprendizagem organizacional, contra 13% dessas publicações nos anos 70 e 80, com o maior percentual de crescimento – em torno de 1000 % – de aumento em publicações dos anos 80 para os anos 90, versus 141% de aumento sobre o mesmo período de tempo para as publicações acadêmicas. Dos 81 artigos publicados em periódicos, 73 foram publicados nos anos 90. Até 1990 apenas 8 artigos sobre aprendizagem organizacional tinham sido publicados em periódicos de negócios.

A pesquisa também demonstra o crescimento de publicações classificadas como análises, sínteses , revisão/avaliação e aplicação para os anos 70, 80 e 90. Os artigos classificados sob a categoria de análise proporcionam uma abordagem nova ao estudo da aprendizagem organizacional baseada ou em estudo empírico, ou em proposta de uma teoria original ou em proposta de estrutura para estudar o fenômeno. Como o rótulo sugere, os artigos de sínteses , apresentam e sintetizam o trabalho proposto pela ciência. Já os artigos de aplicação incluem estudos de caso – que aplicam os conceitos de aprendizagem organizacional como ferramentas descritivas – bem como estudos que relacionam aprendizagem organizacional diretamente com a prática.

A pesquisa demonstra um crescimento acentuado das publicações classificadas como aplicações de aprendizagem organizacional.

Muitos autores têm se empenhado em revisar o trabalho sobre aprendizagem organizacional sob a forma de revisões de literatura, cujos artigos são o foco da classificação revisão/avaliação.