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CAPÍTULO I Desenhando a docência no ensino superior: delineamento

3.2 O que Pensam e o que Fazem os pós-graduandos

Sou o que sou porque vivo da minha maneira... Você procurando respostas olhando pro espaço, e eu tão ocupado vivendo... Eu não me pergunto, Eu faço!

Raul Seixas

O que os pós-graduandos pensam e fazem em relação à docência no ensino superior está relacionado às suas experiências e à formação profissional, o que exige que pensar sobre as concepções e as vivências dos pós-graduandos enquanto alunos e como professores.

Acredita-se que as experiências discentes estão eivadas de representações de docência no ensino superior e que elas foram apreendidas na relação professor-aluno ao longo do processo de formação escolar.

Significa partir do vivido sem desprezar o concebido, reconhecer a fragilidade e vulnerabilidade da vivência sem pretender reduzi-la (LEFEBVRE, 1983, p. 31 e 215).

Nesse sentido, ao desvelar o que eles pensam sobre docência, a partir de suas vivências e aprendizados cotidianos, é possível conhecer quais são as representações de docência que constituem sua formação e quais os desdobramentos e implicações que essas representações implicam de forma direta ou indireta em suas práticas formativas e no exercício da docência no ensino superior. O que se pretende fazer é identificar as representações mais recorrentes, expor as razões de seu poder e reunir os elementos de resistência à fascinação por elas (LEFEBVRE, 1983, p. 100- 101).

Para tanto, a perspectiva teórica de Lefebvre (1983) contribui para ampliar os conhecimentos sobre a docência no ensino superior ao enfatizar a importância do estudo das representações, pois ―se eu mesmo não me compreendo, um observador poderá me compreender a partir de minha ‗expressão‘. Além do mais, numa etapa posterior, talvez eu possa compreender, conhecer meu sentimento‖ (p. 136).

As representações dizem respeito tanto aos indivíduos que as utilizam quanto à sociedade da qual fazem parte. As relações que elas estabelecem entre si ―provêm de seus suportes: dos ‗sujeitos‘ que falam e atuam e dos grupos e classes que estabelecem relações conflitivas – relações sociais‖. Segundo Lefebvre, as representações são ―contemporâneas da constituição do sujeito, tanto na história de cada indivíduo como na gênese do indivíduo em escala social‖ (LEFEBVRE, 1983, p. 20 e 94). Elas são formadas, portanto, entre as

representações chamadas ―sociais‖ ou ―coletivas‖ e aquelas provenientes da vivência social dos indivíduos.

A definição de representação aqui utilizada está relacionada ao ―modo como as representações sociais chegam a sujeitos determinados e como estes, com base em sua vivência, elaboram-nas e reagem às mesmas‖ (PENIN, 1994, p. 32).

Desvelar as representações dos pós-graduandos significa a possibilidade de questionar, discutir e analisar as concepções de docência no ensino superior e os conhecimentos necessários à formação daqueles que a exercem – os professores. ―Assim como é importante a epistemologização dos saberes existentes em uma dada área, da mesma forma é essencial desconfiar daquilo que já está formulado sobre o real‖ (PENIN, 1994, p. 25- 26).

Nessa perspectiva, buscou-se no discurso dos pós-graduandos, sobre docência no ensino superior, identificar o pensamento e a ação em curso, em movimento. A palavra discurso sugere, etimologicamente, a ideia de curso, de correr, de movimento. Em outras palavras, todo discurso é histórico. Somente nele (e por ele) podemos encontrar o passado como foi concebido, construído, vivido. Ele não é tão somente ―reflexo‖ da realidade à qual se remete. É a única realidade possível de se apreender.

Isto implica conceber as representações numa perspectiva que não visa buscar o falso em meio a alguma secreta verdade. Bosi (1984, p. 1) ressalta que encontrar o que é verdadeiro ou falso é o que menos importa. Relatando como resolveu esses impasses em sua própria pesquisa, a autora lembra que ―A veracidade do narrador não nos preocupou: com certeza seus erros e lapsos são menos graves em suas conseqüências que as omissões da história oficial. Nosso interesse está no que foi lembrado, no que foi escolhido para perpetuar-se na história de sua vida‖.

Silva (1994) considera que nenhuma linguagem é neutra, transparente. Em vez disso, a linguagem é encarada como um movimento em constante fluxo, sempre indefinida, não conseguindo nunca capturar de forma definitiva qualquer significado que a precederia e ao qual estaria inequivocamente amarrada.

Foi essa a perspectiva que orientou a análise das representações sobre a docência no ensino superior, procurando nelas os sentidos que os pós-graduandos imprimem à realidade por eles vivida.

3.2.1 Formação para a Docência no Ensino Superior

Dos 980 discentes que participaram da pesquisa, 97% (946) têm ciência que o curso de pós-graduação stricto sensu os habilita para serem professores em instituições de ensino superior. As justificativas para a escolha do curso de mestrado ou doutorado em uma determinada área do conhecimento podem ser identificadas no Gráfico 17 a seguir.

Gráfico 17 - Número e percentual dos pós-graduandos segundo opções acadêmicas e/ou profissionais

Fonte: Questionários respondidos por mestrandos e doutorandos de Programas de Pós-Graduação Instituições Federais de Ensino Superior brasileiras no período de novembro 2008 a janeiro de 2009.

Ao analisar os dados do Gráfico 17 verificou-se que a maior parte dos pós- graduandos, 376 (38%) deseja ser professor em instituições do ensino superior; respectivamente, 156 (16%) almejam uma formação que lhes permita continuar a serem professores melhor qualificados; outros 156 (16%) afirmaram que desejam continuar na área acadêmica (mestrandos pretendem fazer doutorado). Há também os 146 (15%) discentes que objetivam obter a titulação e fazer carreira em instituições públicas ou particulares e 36(4%) querem ser pesquisadores em empresas privadas. O restante não respondeu (3%) ou marcou outra alternativa (8%).

Os dados revelam que não há uma única motivação pela qual os pós-graduandos se apropriam e dão início às suas carreiras no ensino superior. Observa-se a coexistência de

Por que Cursa Pós-Graduação stricto sensu?

80 (8%) 30 (3%) 156 (16%) 376 (38%) 156 (16%) 36 (4%) 146 (15%)

Continuar área acadêmica Ser docente IES Continuar docente mais qualificado Pesquisador empresas privadas Obter título fazer carreira Outra

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