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CAPÍTULO 5 CONHECENDO OS AGRICULTORES INOVADORES

5.4 O REGISTRO DOS DADOS: AS ENTREVISTAS E AS OBSERVAÇÕES

Após definir os quatro agricultores finalistas, procurei marcar, antecipadamente, as datas das entrevistas, com o objetivo de não interferir no dia a dia da família. Aproveitei as visitas em que gravava as entrevistas para realizar observações das atividades desenvolvidas pelas famílias. Sempre procurei agendar a visita seguinte com o aval dos membros da família, pois sei que não gostam de alterar os seus hábitos e “perder tempo de trabalho” com algo que não trará retorno financeiro imediato.

Foi necessário recorrer a ampliações das informações recolhidas, pois entendi que estas complementavam as entrevista. Segundo Triviños “as infromações que se recolhem, geralmente, são interpretadas e isto pode originar a exigência de novas buscas de dados”. (Triviños, 1987, p 131).

Entendi ser necessário realizar observações para completar as informações obtidas através das entrevistas, e procurar ser mais fiel a vida cotidiana dos agricultores, levando em consideração o que nos fala Triviños,

“Observar”, naturalmente, não é um simples olhar. Observar é destacar um conjunto (objetos, pessoas, animais, etc.) algo especificamente, prestando, por exemplo, atenção em suas características (cor, tamanho , etc.) Observar um “fenômeno social” significa, em primeiro lugar, que determinado evento social, simples ou complexo, tenha sido abstratamente separado de seu contexto para que, em sua dimensão singular, seja estudado em seus atos, atividades, significados, relações, etc.” (Triviños, 1987, p 153).

As anotações das observações realizadas durante as atividades das famílias pesquisadas tiveram caráter apenas descritivo. A reflexão seguia, em momento posterior, de acordo com orientações encontradas em Triviños, ou seja:

“Num sentido restrito, podemos entender as anotações de campo, por um lado, como todas as observações e reflexões que realizamos sobre expressões verbais e ações dos sujeitos, descrevendo-as, primeiro, e fazendo comentários críticos, em seguida, sobre as mesmas.”(Triviños, 1987, p 154).

Gostaria de dizer que desse momento em diante a tentativa de redação da dissertação, promoveu uma profunda reflexão em meu íntimo. Por um lado, escrever sobre a Pedagogia da Alternância, no qual eu já possuía uma relação profissional de quinze anos, e de certa forma “conhecendo”, a maioria das famílias envolvidas nesse processo educativo, provocava uma certa necessidade de distanciamento na busca de maior autonomia; e por outro lado o rigor científico da produção. Assim, decidi pelo afastamento temporário das minhas atividades na EFASBEC neste período específico.

Nesse sentido, foi uma grande contribuição a leitura e reflexão de Lucídio Bianchetti e Boaventura de Sousa Santos, na produção da dissertação.

O primeiro grande desafio foi a questão tempo. A preocupação e a insegurança em relação ao tempo e os prazos para a realização do trabalho. Entender e conviver com o tempo restrito e limitado, confortava-nos as palavras do autor citado anteriormente, ou seja:

“Na mitologia grego-romana o deus tempo é mais conhecido, além de outras denominações, por Kairós e Chronos. O primeiro representa o tempo intensidade; este último, o tempo linear, cronológico. Concebendo assim o tempo certamente os gregos estavam preocupados em apreender a totalidade de possibilidades que confluíam e constituíam o tempo vivido, traduzindo-se em episódios, acontecimentos e tudo que estava envolvido na sua realização. A preferência ou supremacia de um dos deuses caracterizaria, assim, a consagração da perspectiva da parcialidade sobre o todo, evidenciando a preocupação a respeito da necessidade de apreender preferencialmente o processo ou o produto.” (Bianchetti, 2002, p 166).

Conviver com uma realidade às vezes complexa e invisível é uma árdua tarefa, como nos mostra Guerrieri, ou seja, “a realidade, mesmo apresentando inúmeras diferenças, mudanças e contradições em seus fenômenos, possui uma racionalidade, ou seja, uma unidade de sentido que nos possibilita compreender as partes dentro de um todo racional”.(Guerrieri, 1996, p 6)

Perceber e interpretar o silêncio e os símbolos expressos pelos agricultores foi uma tarefa delicada e recorremos a Weil & Tompakow, na busca de subsídios para análise e interpretações, mediante momentos de silêncio verbal, mas extremamente ricos na expressão corporal. Vejamos:

“A característica dominante do símbolo é fugir da palavra ou frase, escrita por extenso. Frase já é um grupo de símbolos (palavras), por sua vez também composta de símbolos (letras) de fugazes variações sonoras. E tudo isso sujeito a um código gramatical de origem empírica e lastrado com a inevitável imprecisão semântica, especialmente a deterioração do significado percebido através de gerações”. (Weil & Tompakow, 1986, p 25)

Outro importante aspecto a ser abordado é o distanciamento, que busquei no sentido de ter maior isenção, principalmente em relação à aqueles que já “conhecia”, ou seja, os agricultores diretamente ligados a Pedagogia da Alternância, nesse sentido vale ressaltar que:

“Ao destacar a “distância” queremos focalizar, além do aspecto das medidas espaciais, principalmente aquele referente ao tempo. É o distanciamento que possibilita o admirar, o olhar de outro lugar, o revisitar com outro olhar, ratificando ou retificando o já escrito”. (Bianchetti, 2002, p 168).

Para analisar os dados recolhidos, procurei montar categorias de análise assim agrupadas: Diversificação de atividades; Produção e meio ambiente; Participação familiar e comunitária; Aquisição de conhecimentos e experiências formativas; Adaptabilidade e reação às dificuldades; Planejamento da propriedade e do negócio; Visão local e global e Criatividade.

Como forma de interpretar os dados, estabeleci a grade de análise com as categorias abaixo, entendendo que poderiam contribuir na definição final dos agricultores inovadores, ou seja: Diversificação de atividades; produção e meio ambiente; participação familiar e comunitária; aquisição de conhecimento e experiências formativas; adaptabilidade e reação às dificuldades; planejamento da propriedade e do negócio; visão local e global; e criatividade. Reuni algumas dessas categorias no intuito de facilitar a interpretação, mesmo sabendo das dificuldades em analisá-las de forma agrupada. Também, na análise individual, haveria limitações ou alongamento da pesquisa.

CAPÍTULO 6 - A FAMÍLIA 1