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O relógio do mundo: a transição de Casemiro

3. A alquimia do “adultescer”

3.1 O relógio do mundo: a transição de Casemiro

Para o estudo da obra O relógio do mundo, de Lino de Albergaria, tomou-se por base a Psicologia Analítica de Carl Gustav Jung, bem como os avanços dos estudos nessa área, de modo a interpretar a narrativa tanto relativamente ao todo significativo que se constitui a obra quanto ao percurso específico do protagonista. Considerado um dos fundadores da psicologia moderna e conhecido como um dos grandes psiquiatras do século XX, Jung e suas teorias suscitaram, e continuam suscitando, nos meios científicos opiniões das mais controvérsias.

Uma das principais causas da polêmica em torno de seu pensamento talvez tenha sido a reintrodução que ele faz na psicologia do termo alma. Deve-se esclarecer, no entanto, que o significado que Jung dá para alma nada tem a ver com o conceito abstrato da filosofia religiosa. Trata-se de um dado da experiência, uma

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presença existencial em si mesma no seu relacionamento com o mundo. Embora essa vivência seja individual, é uma realidade objetiva.

Outro ponto causador de celeuma no mundo acadêmico foi o rompimento entre Jung e Sigmund Freud, provocado pelas concepções diferentes de ambos a respeito dos conteúdos inconscientes. Freud considerava que todo conteúdo inconsciente estaria de alguma forma sempre relacionado com algum trauma de natureza sexual. Mesmo admitindo que muitos sonhos apresentassem imagens e associações análogas a idéias, mitos e ritos primitivos, ele acreditava que esses conteúdos fossem “resíduos arcaicos”, como se o inconsciente atuasse como apêndice do consciente. Jung, por seu lado, defendia que associações e imagens desse tipo eram observadas por toda parte, fosse o sonhador instruído ou analfabeto, inteligente ou obtuso, o que levava a crer numa espécie de funcionamento autônomo do inconsciente.

Deixando de lado a polêmica, busca-se esclarecer, antes de tudo, alguns conceitos essenciais ao pensamento junguiano. Para o médico e psiquiatra suíço, o inconsciente é formado por uma camada mais ou menos superficial, de natureza pessoal, e uma outra mais profunda, de natureza universal, que constitui um substrato psíquico comum, suprapessoal, que existe em cada indivíduo. A primeira camada recebeu o nome de inconsciente pessoal e a segunda foi chamada inconsciente coletivo, cujos conteúdos o próprio Jung 117 explica:

Uma existência psíquica só pode ser reconhecida pela presença de conteúdos capazes de serem conscientizados. Só podemos falar, portanto, de um inconsciente na medida em que comprovamos os seus conteúdos. Os conteúdos do inconsciente pessoal são principalmente os complexos de tonalidade emocional, que constituem a intimidade pessoal da vida anímica. Os conteúdos do inconsciente coletivo, por outro lado, são chamados arquétipos.

Ao empregar o termo arquétipo, no que concerne aos conteúdos do inconsciente coletivo, Jung está tratando de tipos primordiais, isto é, de imagens universais que existiram desde os tempos mais remotos. Porém, ele faz questão de ressaltar que, para a psicologia, o conceito de arquétipo é empregado de modo

117 JUNG, Carl Gustav. Os arquétipos e o inconsciente coletivo. Trad. Maria Luiza Appy e Dora

diferente daquele encontrado na representação dos mitos e dos contos de fadas. Nestes, a expressão dos conteúdos do inconsciente já se transformaram com o passar do tempo em fórmulas conscientes definidas, historicamente elaboradas e transmitidas segundo a tradição. No campo semântico do pensamento psicológico, no entanto, “o arquétipo representa essencialmente um conteúdo inconsciente, que se modifica através de sua conscientização e percepção, assumindo matizes que variam de acordo com a consciência individual na qual se manifesta” 118. Para diferenciar o emprego do conceito em cada uma das duas circunstâncias, Jung cunhou a expressão idéias arquetípicas, reservando esta para o âmbito do mito e do conto de fadas.

Demarcar claramente essa divisão é de fundamental importância neste contexto, pois, no processo de análise literária aqui desenvolvida está-se trabalhando referencialmente com o sentido de idéias arquetípicas e não de arquétipo na definição junguiana, uma vez que foram utilizadas descrições e interpretações de símbolos já conscientemente conhecidas no seio de diferentes culturas e universalmente divulgadas. O termo arquétipo, quando empregado no presente trabalho terá, na maioria das vezes, as acepções que lhe são dadas no estudo dos mitos, isto é, as de imagem primordial, padrão primitivo, modelo das origens ou fonte primacial; as mesmas que lhe empresta, por exemplo, Eliade 119. Quando a expressão for utilizada no sentido junguiano, o contexto de uso será desenvolvido de modo a dirimir qualquer ambigüidade conceitual. Esclarecida essa questão terminológica, cabe descrever o que Jung entende por símbolo.

Para Jung 120, símbolo é um termo, um nome ou mesmo uma imagem que, embora possa ser familiar na vida diária de qualquer pessoa, possui conotações especiais além do seu significado evidente e convencional. Implica alguma coisa vaga, desconhecida ou oculta para o pensamento consciente.

Assim, uma palavra ou uma imagem é simbólica quando implica alguma coisa além do seu significado manifesto e imediato. Esta palavra ou esta imagem tem um aspecto “inconsciente” mais amplo, que nunca é precisamente definido ou de todo explicado. E nem podemos ter

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Idem, ibidem, p. 17.

119 ELIADE, Mircea. Mito e realidade. Trad. Pola Civelli. 6.ed., São Paulo: Perspectiva, 2002, p. 101. 120 JUNG, Carl Gustav. “Chegando ao inconsciente”. In: JUNG, Carl Gustav et. alii. O homem e seus

esperanças de defini-la ou explicá-la. Quando a mente explora um símbolo, é conduzida a idéias que estão fora do alcance da nossa razão.

Segundo o psiquiatra, o homem produz símbolos, inconsciente e espontaneamente, na forma de sonhos, mas não só. Os símbolos aparecem também em todos os tipos de manifestações psíquicas: pensamentos, sentimentos, situações e atos. Até mesmo objetos inanimados podem desempenhar papéis simbólicos. Diz-se que algo se configura como símbolo quando, por intermédio desse algo, se torna possível entrar em contato com conteúdos do inconsciente pessoal e/ou coletivo. Embora um indivíduo produza símbolos que se relacionam com sua experiência pessoal, ou, em outras palavras, embora cada símbolo possa ter significados diferentes para cada pessoa, emergem na mente símbolos cujos sentidos apresentam caráter universal.

Jung 121 classifica os símbolos em dois grandes tipos: os símbolos naturais e os símbolos culturais. Ele explica que os primeiros são derivados dos conteúdos inconscientes da psique e, portanto, representam um número imenso de variações das imagens arquetípicas essenciais. Por meio da investigação do sentido do símbolo natural, pode-se, em alguns casos, chegar às suas origens mais arcaicas — isto é, a idéias e imagens encontradas nos mais antigos registros e nas mais primitivas sociedades. Já os símbolos culturais, por outro lado, são aqueles empregados para expressar o que Jung chama de “verdades eternas”, a exemplos dos muitos utilizados por várias religiões. Ao longo do tempo, esses símbolos passam por várias transformações e mesmo por processos de reelaboração mais ou menos conscientes, tornando-se assim imagens coletivas aceitas pelas sociedades civilizadas. Na prática da psicoterapia analítica junguiana, o papel dos símbolos é dar significação à vida do homem, de modo a auxiliá-lo a chegar o mais longe possível no seu processo de individuação.

Processo de individuação é a expressão que Jung emprega para referir-se ao caminhar lento e imperceptível do indivíduo rumo ao crescimento psicológico. Ao analisar seus pacientes, Jung descobriu que a seqüência de sonhos de uma pessoa, durante sua vida, parece obedecer a uma determinada configuração ou esquema que, além de dizer respeito à experiência cotidiana de quem sonha, faz parte de

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uma única e grande teia de fatores, os quais narram os estágios por que passa essa pessoa em seu processo de desenvolvimento psíquico.

Como a linguagem que emerge do inconsciente é simbólica, para compreender essa história narrada pelos sonhos, ou por outros meios de acesso ao conteúdo inconsciente, é preciso interpretar os símbolos. Os símbolos que aparecem nos sonhos, para além de relacionarem-se à vivência imediata, isto é, ao contexto sociocultural daquele que sonha, podem expressar conteúdos arquetípicos relacionados com o acervo cultural simbólico de toda humanidade, em todos os tempos. Isso implica dizer que há símbolos produzidos pelos sonhos cuja natureza e origem não são individuais, mas sim coletivas.

Conforme diz Jung, “muitos sonhos apresentam imagens e associações análogas a idéias, mitos e ritos primitivos”. 122 Essas associações configuram-se como o elo entre o mundo racional da consciência e o mundo do instinto, elo esse fundamental para que o homem evolua psiquicamente. Para o psicanalista, o ser humano, na infância, está bastante próximo do sentido da totalidade, à qual ele dá o nome de self, que se constitui o todo composto pelos lados racional e instintivo da psique. Esse sentido de totalidade, no entanto, é perdido a partir do momento em que o ego se desenvolve. Porém, mais tarde, para que o homem possa atingir a maturidade psíquica, é necessário empreender um retorno à totalidade, isto é, ao self.

A “história” individual de como se dá esse retorno é narrada pelos sonhos, por meio da linguagem simbólica. Compreender essa linguagem é compreender os meandros do caminho que cada indivíduo percorre para reencontrar-se com a totalidade de seu ser, composta de um lado consciente e outro inconsciente. Quanto mais o homem se afastar de um desses lados, maior será seu desequilíbrio psíquico. Harmonizar consciente e inconsciente é, pois, tarefa incessantemente realizada pela psique humana no sentido de galgar etapa por etapa o processo de crescimento psicológico. A cada estágio de evolução, o homem vivencia psiquicamente experiências que estão relacionadas, isto é, que são análogas às narrativas míticas que explicam a origem, a formação e as fases de evolução das várias culturas e o desenvolvimento dos indivíduos no interior delas.

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O homem contemporâneo, porém, ao identificar-se cada vez mais com a razão, vem sistematicamente afastando-se de seus instintos básicos, e conseqüentemente do pensamento mítico, o que lhe dificulta compreender mensagens simbólicas que emergem do inconsciente, sejam elas oriundas dos sonhos ou de outros meios. Ao privilegiar o lado racional, o ser humano passa a valorizar apenas o conhecimento teórico que se pode obter por meio da consciência civilizada. Mas o fato de ignorar o próprio instinto básico, não significa que esse tenha deixado de existir, apenas que perdeu o contato com a consciência e, dessa forma, é obrigado a afirmar-se de maneira indireta. Isto significa dizer que o acesso ao conteúdo do inconsciente se dá por intuição. É nesse sentido que se manifesta a mensagem simbólica presente em O relógio do mundo, que metaforiza, pelo conjunto dos símbolos mobilizados, o processo de individuação da personagem Casemiro Correia, por meio da representação do mito do herói e daquilo que ele expressa referentemente ao processo de passagem da adolescência para a vida adulta (ver análise comparativa, Cap. 4).

Henderson 123, discípulo de Jung, refere-se ao mito do herói da seguinte forma:

O mito do herói é o mais comum e o mais conhecido em todo o mundo. Encontramo-lo em todo o mundo na mitologia clássica da Grécia e de Roma, na Idade Média, no Extremo Oriente e entre as tribos primitivas contemporâneas. Aparece também em nossos sonhos. Tem um poder de sedução dramática flagrante e, apesar de menos aparente, uma importância psicológica profunda. São mitos que variam muito nos seus detalhes, mas quanto mais os examinamos mais percebemos o quanto se assemelham na estrutura. Isto quer dizer que guardam uma forma universal mesmo quando desenvolvidos por grupos ou indivíduos sem qualquer contato cultural entre si — como, por exemplos, as tribos africanas e os índios norte-americanos, os gregos e os incas do Peru.

Segundo ainda o autor, o mito do herói revela um significado psicológico de importância fundamental tanto para o indivíduo, no seu esforço em encontrar e afirmar sua personalidade, quanto para a sociedade no seu todo, na sua necessidade semelhante de estabelecer uma identidade coletiva. É esse significado

123 HENDERSON, Joseph L. “Os mitos antigos e o homem moderno”. In: JUNG, Carl Gustav et. alii. O

que se busca descrever com relação à trajetória de Casemiro entre sua cidade natal, Cravo Branco, e a cidade de pedra, Cucura, e de seu retorno ao ponto de origem.

Inicialmente há a divisão política evidente em dois planos: o mundo comum de Cravo Branco, onde vigora uma organização social do modo como o homem ocidental contemporâneo a compreende; e o mundo encantado de Cucura, no qual tudo indica haver uma forma de vida ideal, baseada em preceitos desconhecidos daqueles praticados pela razão humana.

Sob a ótica da psicologia, pode-se associar a cidade comum ao plano racional da consciência e a cidade mágica, ao lado instintivo da psique. Entre as duas cidades, há a floresta, que, para os psicanalistas, simboliza o inconsciente 124. Por sua obscuridade e seu enraizamento profundo, exprime tudo aquilo que permanece abaixo do limiar da consciência. Representa-se, portanto, no espaço narrativo o distanciamento entre o ego, centro da consciência (uma vez que um objeto só é consciente quando o eu o conhece), e as possibilidades intuitivas das personagens de aquisição de conhecimentos.

Os conteúdos inconscientes só podem ser percebidos em algum momento de intuição ou por um processo de intensa reflexão que leve o indivíduo a entrar de alguma forma em contato com eles. Para estabelecer esse contato, além das técnicas de associação entre sonhos e conteúdos conscientes, Jung criou também um método ao qual deu o nome de imaginação ativa 125. Trata-se de provocar por meio da concentração intencional uma seqüência de fantasias cujo valor, para a psicologia analítica, é similar ao das imagens oníricas.

Para Jung 126, existem quatro formas por meio das quais a consciência se orienta com relação ao mundo dos fenômenos.

A sensação (isto é, a percepção sensorial) nos diz que alguma coisa existe; o pensamento mostra-nos o que é esta coisa; o sentimento revela se ela é agradável ou não; e a intuição dir-nos-á de onde vem e para onde vai.

124 CHEVALIER, Jean e GHEERBRANT, Alain. Dicionário de símbolos: mitos, sonhos, costumes,

gestos, formas, figures, cores, números. Trad. Vera da Costa e Silva, Raul de Sá Barbosa, Ângela Melim, Lúcia Melim. Rio de Janeiro, José Olympio, 1988, p. 439.

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JUNG, Carl Gustav. Os arquétipos e o inconsciente coletivo. Trad. Maria Luiza Appy e Dora Mariana R. Ferreira da Silva. Petrópolis, Vozes, 2000, p. 59.

126 JUNG, Carl Gustav. “Chegando ao inconsciente”. In: JUNG, Carl Gustav et. alii. O homem e seus

O povo de Cravo Branco, antes de saber da existência do ouro escondido sob a floresta, cultivava flores. Embora cada flor possua, pelo menos secundariamente, um significado próprio, de modo geral, a flor é o símbolo do princípio passivo. “O cálice da flor, tal como a taça, é o receptáculo da Atividade celeste.” 127 Percebe-se, pois, tratar-se, em princípio, de uma comunidade com potencial para viver integrada à natureza. No entanto, desde que o “último índio” havia falado sobre o rico minério, a ambição material levou as pessoas a abandonarem os jardins. Depreende-se, daí, que a passividade de Cravo Branco era apenas uma potencialidade, verificada nos momentos em que, por algum motivo, permaneciam latentes os ímpetos gananciosos de seus habitantes. A referência ao último índio já é sinal do caráter destruidor e predatório dessa civilização que, como se pode inferir da narrativa, erigiu-se sobre o massacre de outra cultura.

Por meio do índio, a população da cidade comum desenvolve a sensação da presença do ouro. Esse conhecimento permanece no plano da percepção sensorial enquanto não se tem certeza da existência do metal e nem informação exata de onde ele se encontra. Já o pensamento, baseado na experiência, pré-avalia as características e as qualidades do rico minério, enquanto que o sentimento revela o valor subjetivo do ouro e o prazer que ele proporciona. Falta, no entanto, ao povo da cidade comum a intuição a respeito do papel que o ouro desempenha no plano maior do equilíbrio ambiental.

O contrário ocorre na cidade mágica, ao Norte. Em Cucura, construída de pedras, ainda reinavam os mesmos reis, desde antes do primeiro índio ali chegar. “Em Cucura, nada nem ninguém acaba” 128, pensava Casemiro. A idéia da personagem leva à conjectura de que a civilização de Cucura seja anterior aos ameríndios, isto é, originária de um tempo indeterminado, desconhecido, a-histórico. Do ponto de vista mítico, é possível compreender Cucura como o referente arquetípico de Cravo Branco. Ao abordar os arquétipos de cidade, Eliade 129 relata:

As cidades também têm protótipos divinos. Todas as cidades babilônicas tinham seus arquétipos nas constelações [...]. Não só

127 CHEVALIER, Jean e GHEERBRANT, Alain. Dicionário de símbolos: mitos, sonhos, costumes,

gestos, formas, figures, cores, números. Trad. Vera da Costa e Silva, Raul de Sá Barbosa, Ângela Melim, Lúcia Melim. Rio de Janeiro, José Olympio, 1988, p. 437.

128 O relógio do mundo, p. 6.

129 ELIADE, Mircea. Mito do eterno retorno. Trad. José Antonio Ceschin. São Paulo, Mercuryo, 1992,

existe um modelo que precede a arquitetura terrena, mas o modelo também se encontra situado numa região ideal (celestial) da eternidade. [...]

Assim, o mundo que nos rodeia, o mundo no qual são sentidas a presença e a ação do homem — as montanhas que ele escala, as regiões povoadas e cultivadas, os rios navegáveis, as cidades 130, os santuários — tudo isso tem um arquétipo extraterreno, seja ele concebido como um plano, como uma forma, ou pura e simplesmente como uma “cópia”, que existe em um nível cósmico mais elevado.

Sobre as organizações sociais que teriam existido no Brasil antes das nações indígenas aqui encontradas pelos colonizadores portugueses, informações chegam até hoje por meio da arte rupestre em todo o país. Em território nacional, são mais de 780 sítios arqueológicos que testemunham a presença de povos bem antigos. Entre esses locais, destaca-se o Vale do Peruaçu, em Minas Gerais, cujas pinturas em grutas e rochas os pesquisadores calculam ter de 2.000 a 10.000 anos. Outro sítio de destaque é o da Caverna da Pedra Pintada, na cidade de Monte Alegre, no Pará, descoberta pela norte-americana Anna Roosevelt, em 1996. As pinturas deixadas em paredões e cavernas, em tons avermelhados, foram feitas há aproximadamente 11.200 anos. Retratam plantas, animais e até cenas de um parto. Os desenhos levam a crer que se tratava de um povo com boas noções de biologia. Segundo a pesquisadora, os vestígios encontrados configuram-se como fortes indícios de que vivera na região amazônica uma civilização bastante avançada. 131

Voltando à Cucura, o fato de ser feita de pedra, cujo valor simbólico será visto mais adiante, remete, na América do Sul, à cidade inca de Machu Picchu, um dos poucos núcleos urbanos pré-colombianos conservados praticamente intactos, construído inteiramente de rocha, com grandes blocos graníticos unidos sem argamassa. Localizada numa das regiões mais elevadas dos Andes, a cerca de 2.400m de altitude, no centro-sul do Peru, Machu Picchu foi abandonada por seus habitantes em época indeterminada e ficou escondida pela vegetação durante séculos, até ser descoberta em 1911 por uma expedição cujo chefe era o norte- americano Hiram Bingham, da Universidade de Yale. Como se sabe, a civilização

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Grifo nosso.

131 “MONTE ALEGRE, a mais antiga morada do homem das Américas”. Amazon view. Disponível em:

http://www.inteligentesite.com.br/modelos/modelo70/subconteudo.asp?ID=358&IDSUBLINK=1874. Acesso em: 21 fev. 2007.

inca desenvolveu-se por toda a Cordilheira dos Andes, que abrange ainda os atuais países Chile, Bolívia e Equador. A capital do império era a sagrada cidade de Cuzco, fundada no século XIII, também no Peru. O imperador, conhecido por Sapa Inca, tinha o status de um verdadeiro deus na Terra. A sociedade, extremamente hierarquizada, organizava-se em três grandes classes: nobres (governantes, chefes militares, juízes e sacerdotes), camada média (funcionários públicos e trabalhadores

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