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O Rodoviarismo e o sonho de revalorização econômica As tentativas de

CAPÍTULO II – ICÓ, UM LUGAR

II. 2 E INTENÇÕES PRESERVACIONISTAS

II.2.1. O Rodoviarismo e o sonho de revalorização econômica As tentativas de

Considerarei como o ponto de partida para estabelecer o vínculo entre dinâmica urbana e intenções preservacionistas na cidade de Icó, a análise de um relatório datado do ano de 1941, atribuído ao pintor José João Rescala, à época prestando serviços ao SPHAN. Neste relatório, salienta-se algumas preocupações ocasionadas pelo ideal de progresso, que chegava com a construção da rodovia federal:

“A cidade passou longo período em completo abandono, a propriedade desvalorizada, vendia-se um sobrado por 1:000$000 e até por 700$000. Outros preferiam demolir as suas casas para venderem o material. Com a passagem da estrada de rodagem tronco, a cidade foi reabitada e está em franco progresso, progresso este pernicioso à feição primitiva da cidade. A preocupação da prefeitura é

intimar os proprietários a modificarem as fachadas de suas casas, o que está infelizmente

acontecendo em grande escala, prejudicando assim a única cidade talvez no Ceará que reunia um

conjunto apreciável de arquitetura tradicional. Disse reunia, pois o que hoje existe é um terço do que havia 3 anos atrás. ( ... ) O atual prefeito que está reformando a cidade, obrigando os proprietários a substituírem as fachadas de todas as casas antigas, disse-me que vai reformar o

por falta de dinheiro não foram reformadas, entre estas uns 10 sobrados”. (Rescala apud

IPHAN,1997: 17) (o grifo é nosso).

Esta documentação – que demonstra uma preocupação clara com a descaracterização da imagem de uma cidade em prol de uma suposta modernização – teve como meta principal a análise do estado de conservação de edifícios públicos e privados, considerados os mais representativos da cidade, ou seja, os de caráter monumental.

Foram listados e analisados os seguintes imóveis: Igreja Matriz de N. Sra. da Expectação; Casa de Câmara e Cadeia; Igreja do Bonfim; Sobrado do Barão do Crato; Teatro Municipal; Sobrado com mirante, na rua Grande; Sobrado na rua Grande (atual Prefeitura); Sobrado na rua Grande,s/n; Igreja do Rosário; Igreja do Monte e Casa da Pólvora (já demolida). Apesar de não existirem relatos sobre o Mercado Público, aparecem, no Relatório, alguns registros fotográficos do mesmo. Percebe-se que em nenhum momento Rescala se reporta aos edifícios de caráter popular situados na Rua do Meio, acontecendo, às vezes de serem registrados em fotografias alguns edifícios localizados nesta rua, porém, relativos aos fundos das residências imponentes da rua Grande (Ilídio Sampaio). (Mapa 12, p.106 )

Convém lembrar, entretanto, que este relatório foi realizado à época em que estão sendo tombados os sítios históricos ditos excepcionais – as cidades barrocas mineiras são os exemplos mais notáveis – aspecto que faz do citado relatório um importante documento a respeito de preocupações com cidades situadas fora do eixo (cidades barrocas), apesar de se

perceber na análise do mesmo, uma tendência de valorização das obras representativas da cultura oficial.

O relatório de Rescala se apresenta também como indicativo da presença na cidade de edifícios significativos e passíveis de preservação pela abertura, em 1962 – mais de 20 anos depois da vinda de Rescala – do processo de tombamento em nível federal de um dos edifícios representativos do poder à época da consolidação do núcleo pecuarista: a Casa de Câmara e Cadeia.24

A partir da metade do final da década de 60, torna-se digno de nota as pesquisas empreendidas pelo prof. arq. José Liberal de Castro, orientando os alunos do Curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Ceará, cujo produto resultou numa abrangente documentação a respeito dos edifícios públicos e privados de Icó, documentação esta amplamente utilizada durante os estudos para tombamento do núcleo histórico da referida cidade, realizados pelo IPHAN.

No que diz respeito ao sonho de revalorização econômica da cidade, percebemos então que os ideais de progresso e o sonho de uma cidade “moderna” transformaram o espaço, porém este sonho não foi concretizado, pois na verdade a construção da rodovia tinha por finalidade o escoamento da produção para Fortaleza, e não incluía um programa de revalorização dos municípios pelos quais passava.

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Apesar do alerta quanto a questão de transformação da imagem da cidade, os princípios de “modernização“ continuam, e o início da construção da Igreja Nova se torna outro exemplo destes ideais. A proposta partiu da tentativa de se construir uma igreja que abrigasse sobre o seu teto, todos os fiéis em louvação ao senhor do Bonfim na época da festa destinada ao santo. Era a idéia do “majestoso” e do “imponente”. Iniciada na década de 50, teve seu término apenas na década de 90 e foi motivo de muitas controvérsias por parte da aceitação como templo religioso. A construção se destaca no contexto, muito mais pelo sentido de apropriação – e de interferência negativa – do espaço, do que pelas suas qualidades arquitetônicas (Mapa 07 – fig. 32, p.91)

A cidade tende a crescer seguindo a orientação do eixo já existente (sudoeste- nordeste / nordeste-sudoeste), onde se percebe a mesma forma de disposição dos lotes, salvo em áreas que sofreram influências de novos agentes, como é o caso do setor comercial e das áreas relacionadas com a inserção das rodovias no espaço urbano (Mapa 07 – figs. 26 a 31, p.91). Os novos espaços públicos ainda demonstram a qualidade evidenciada pelos existentes. Salienta-se este aspecto pelo – ainda hoje – constante uso dos generosos largos e calçadas. (Mapa 09 – figs. 33 a 36,p.98)

II.2.2. Novos sonhos: O Perímetro Irrigado Icó-Lima Campos e o pré -tombamento do