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professor de Português como um estimulador das competências comunicativas.

Afigura-se-nos, pois, necessário, neste momento, introduzir a noção de competência de acordo com o que sobre o assunto surge explicitado no documento Currículo Nacional do Ensino Básico – Competências Essenciais.

No desenho da Reorganização Curricular do Ensino Básico, assumem particular importância as competências, uma vez que elas estabelecem o que é essencial na aprendizagem dos alunos, o que eles têm de ser capazes de fazer. Assim, a noção de

(1994) parece-nos ser um ponto de partida importante para sustentar a reflexão sobre a forma como instituir pedagogicamente a língua em objecto de ensino-aprendizagem.

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Duarte(1996:83) citada no Relatório preliminar da APP”O Ensino e a Aprendizagem do Português na transição do Milénio” (2001:30) defende que os currículos dos cursos de formação inicial de professores de Português devem contemplar os seguintes ingredientes necessários para um bom conhecedor e um bom utilizador da sua língua:” boa dicção, conhecimento de técnicas de controlo de respiração e colocação da voz, de técnicas oratórias associadas a diferentes tipos de discursos, domínio seguro da ortografia e da

competência integra conhecimentos, capacidades e atitudes e pode ser entendida como saber em acção ou em uso. Deste modo, não se trata de adicionar a um conjunto de conhecimentos um certo número de capacidades e atitudes, mas sim de promover o desenvolvimento integrado de capacidades e atitudes que viabilizam a utilização dos conhecimentos em situações diversas, mais familiares ou menos familiares ao aluno. Neste sentido, a noção de competência aproxima-se do conceito de literacia que anteriormente apresentámos (Capítulo I –Parte I ) e identifica-se com um tipo de conhecimento que integra elementos de compreensão, interpretação e resolução de problemas. Diz respeito, por isso, ao processo de activar recursos em diversos tipos de situações, o que implica naturalmente o desenvolvimento de algum grau de autonomia do aluno em relação ao uso do saber e cons titui uma referência nacional, para o trabalho dos professores apoiando as experiências educativas que se proporcionam a todos os alunos no seu desenvolvimento gradual ao longo do Ensino Básico e não apenas em cada etapa da sua vida. Dito de outro modo, os professores devem criar condições e contextos para que os alunos transformem os objectivos em uso autónomo. Sintetizando, estamos, naturalmente, perante um quadro em que as competências têm implicações em termos das planificações e da preparação das aulas, numa interligação permanente programa/ manual/ competência.

Definida, global e sinteticamente, a noção de competência, importa, agora, centrarmo-nos na Língua Portuguesa, mais particularmente, no desenvolvimento das suas competências específicas e no papel fundamental que a Língua Portuguesa desempenha no desenvolvimento das competências gerais de transversalidade disciplinar. O conjunto destas competências, as chamadas competências essenciais,17 deve ser entendido à luz dos princípios de diferenciação pedagógica, adequação e flexibilização, que estão subjacentes ao processo de reorganização curricular do ensino básico, o que significa que poderá haver tantos caminhos para o desenvolvimento destas competências quanto a diversidade de situações concretas que possam existir.

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“ Convirá (...) esclarecer a opção pelo uso do termo essenciais, a qual está ligada à rejeição da ideia de definir objectivos mínimos. Não se trata, definitivamente, de procurar que os alunos cumpram a escolaridade obrigatória à custa da promoção de um ensino cada vez mais pobre. A própria designação de competências essenciais procura salientar os saberes que se consideram fundamentais, para todos os cidadãos, na nossa sociedade actual, tanto a nível geral, como nas diversas áreas do currículo”.( In Currículo Nacional do Ensino Básico- Competências Essenciais.)

Mostrámos, no início deste capítulo, a importância do Português língua materna como factor de identidade nacional e cultural e como “o domínio da Língua Portuguesa é decisivo no desenvolvimento individual, no acesso ao conhecimento, no relacionamento social, no sucesso escolar e profissional e no exercício pleno da cidadania”(Lobo:2001:30)

Assim, e de acordo com o documento Currículo Nacional do Ensino Básico- Competências Essenciais, entende-se que, na disciplina de Língua Portuguesa, é necessário garantir a cada aluno o desenvolvimento de competências específicas no domínio do modo escrito ( leitura e expressão escrita), domínio do enfoque do nosso trabalho. Segundo o mesmo texto, “entende-se por expressão escrita o produto dotado de significado e conforme à gramática da língua, resultante de um processo que inclui o conhecimento do sistema de representação gráfica adoptado. Esta competência implica processos cognitivos e linguísticos complexos, nomeadamente os envolvidos no planeamento, na formatação linguística, na revisão, na correcção e na reformulação do texto.”

Se atendermos às competências gerais/transversais, definidas no mesmo documento, que os alunos devem apresentar à saída da educação básica, facilmente se conclui que há uma articulação estreita entre algumas das competências específicas definidas para a Língua Portuguesa e as competências gerais.

Só um aluno competente no domínio da escrita atingirá as seguintes competências gerais: - Usar adequadamente linguagens das diferentes áreas do saber cultural, científico e

tecnológico para se expressar;(2)

- Usar correctamente a língua portuguesa para comunicar de forma adequada e para estruturar pensamento próprio;(3)

- Adoptar metodologias personalizadas de trabalho e de aprendizagem adequadas a objectivos visados;(5)

- Pesquisar, seleccionar e organizar informação para a transformar em conhecimento mobilizável;(6)

- Adoptar estratégias adequadas à resolução de problemas e à tomada de decisões;(7) - Realizar actividades de forma autónoma, responsável e criativa;(8)

Embora algumas destas competências gerais possam ser desenvolvidas noutras áreas disciplinares e através de outros domínios da Língua Portuguesa, parece-nos relevante o facto de, num total de dez competências gerais, sete poderem estar dependentes da presença ou não de prática de escrita na escola. Assim, as competências gerais enunciadas são operacionalizadas na disciplina de Língua Portuguesa do seguinte modo:

- Ser rigoroso na recolha e observação de dados linguísticos e objectivos na procura de regularidades linguísticas e na formulação das generalizações adequadas para as captar;(2)

- Assumir o papel de ouvinte atento, de interlocutor e locutor cooperativo em situações de comunicação que exijam algum grau de formalidade;(3)

- Dominar metodologias de estudo (tais como sublinhar, tirar notas e resumir); (5) - Transformar informação oral e escrita em conhecimento; (6)

- Usar estratégias de raciocínio verbal na resolução de problemas; (7)

- Exprimir-se oralmente e por escrito de uma forma confiante, autónoma e criativa;(2,3,8)

- Comunicar de forma correcta e adequada em contextos diversos e com objectivos diversificados.(3,9)

Face ao exposto, e “sendo a linguagem simultaneamente um instrumento para se aceder ao conhecimento e um objecto de estudo” (Lobo:2001:30) é importante que o professor de Português promova nas suas aulas espaços de descoberta para os alunos, que saiba identificar os saberes que permitem aos alunos desenvolver uma compreensão da forma como se organiza a disciplina de Língua Portuguesa e que promova o conhecimento explícito da língua materna entendido como “ a progressiva consciencialização e sistematização do conhecimento implícito no uso da língua” (Sim-Sim, Duarte & Ferraz:1997:30). Ainda segundo as mesmas autoras “ a consciencialização do conhecimento implícito facilita a referência aos conteúdos a trabalhar, ajuda os alunos a descobrirem as regras gramaticais que usam ( e as que devem usar) e permite a identificação rápida das dificuldades que manifestam no uso que fazem da língua.”

Desta forma, concordamos com as autoras quando afirmam que “a expressão escrita é um meio poderoso de comunicação e aprendizagem que requer o domínio apurado de técnicas e estratégias precisas e sofisticadas”. Daí que seja fundamental para o professor de Língua Portuguesa interiorizar e promover desempenhos que garantam que o ensino e a

aprendizagem da expressão escrita não se confina “ao conhecimento indispensável da caligrafia e da ortografia, mas abarca processos cognitivos que contemplam o planeamento da produção escrita (selecção dos conteúdos a transmitir e sua organização), a formatação linguística de tais conteúdos ( selecção dos itens lexicais que os exprimem com maior precisão, sua formatação em sequências bem formadas, coesas, coerentes, e adequadas), o rascunho, a revisão, correcção e reformulação e, finalmente, a divulgação da versão final para partilha com os destinatários. (Ob.cit. pág.30)”

Para concluir este item, na perspectiva da educação básica, é fundamental que a escola e os professores garantam a aprendizagem das técnicas e das estratégias básicas da escrita que incluem as de revisão e autocorrecção, as variáveis essenciais nela envolvidas – o assunto, o interlocutor, a situação e os objectivos do texto a produzir, e, finalmente, ensinar a usar a expressão escrita como instrumento de apropriação e transmissão do conhecimento, dado o carácter transdisciplinar da Língua Portuguesa. (ob cit, página 30).

3 –Passemos, de seguida, ao terceiro mandamento que configura um perfil de professor de

Português praticante de metodologias activas e diversificadas. Prosseguindo a leitura do documento Currículo Nacional do Ensino Básico – Competências Essenciais, verificamos que emerge do texto a necessidade de os alunos participarem, ao longo da educação básica, em situações educativas e/ou experiências de aprendizagem como a que a seguir enunciamos: promover actividades de escrita usando materiais e suportes variados, com recurso a instrumentos que assegurem a correcção do produto escrito.

Face ao que temos vindo a expor, torna-se absolutamente necessário que o professor diversifique as actividades, os materiais, os meios bibliográficos e técnicos,18 transformando-os em suportes mais motivadores das aprendizagens e abrindo as aulas de Português a diferentes tipologias textuais. Assim, a questão da multiplicidade a diferentes níveis permite quebrar a monotonia e propicia condições para conhecer o aluno na sua globalidade e na sua individualidade, para que, com mais oportunidades, mais facilmente tenha acesso ao sucesso na sua aprendizagem. Como afirma Lobo (1998: 94/95), citada no Relatório Preliminar da APP (2001:33) “ O desafio que se coloca aos professores tem a ver com o recurso a formas diversificadas de ensino e avaliação, no que respeita a métodos e instrumentos.”

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Sabemos que, muitas vezes, os professores se debatem com meios escassos nas escolas. Nem todo os estabelecimentos de ensino estão dotados de Centros de recursos e de laboratórios multimédia. Contudo,