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1.5.3 – O sinal é dado: o Imanuel (v 13-15)

No documento 1.3.1 Messianismo de Judá (páginas 40-45)

13. E disse: ouvi agora casa de Davi:

um pouco vos parece cansardes os homens?

Eis que! quereis fatigar também a meu Elohim?

14. Assim mesmo dará Adonai ele mesmo para vós um sinal: Eis a jovem mulher está grávida

e dará a luz um filho

e chamará seu nome Imanuel 15. Coalhada e mel ele comerá para saber rejeitar o mal

e escolher o bem.

A partir da sub-unidade de 13-15 ocorre a profecia propriamente dita, Alonso Shöckel e Sicre Diaz descrevem o seguinte: “14-15. O oráculo tem a forma de outros oráculos de anunciação: Gn 16,11s: Ismael; Jz 13,7: Sansão;

Mt 1,20; Lc 1,13s.30s: João e Jesus”.171 Da mesma maneira, este oráculo (13-

15) aponta para o nascimento de alguém que viria restabelecer a justiça no meio do povo e para o povo.

A fórmula profética ouvi (

[mv

) tem um destinatário, a saber, a casa de

Davi, esta mesma casa que no verso 17 é prometida a ruína. Esta que até

então não confiou em Javé com a recusa do sinal. O que antes era uma ordem para pedir agora se torna imperativo passivo que é ouvi. Não resta nada ao rei neste momento, a não ser ouvir a palavra de Javé. A chance de haver salvação

171

foi desconstruída pela recusa do rei em pedir o sinal. O uso da preposição

agora (

an"

), indica a ênfase, urgência da exortação da parte de Javé.

O verbo fatigar, cansar (

hal

) aparece no hifil, o que indica que a ação é

causada ou motivada por uma terceira pessoa. Neste caso, a casa de Davi, e aqueles que nela se encontravam, foi motivo de cansaço para as pessoas. Possivelmente, se refira aos atos injustos cometidos pelo rei e por aqueles que não observavam o direito e a justiça. Eles haviam cansado os mais fracos, ou ainda o exército, uma vez que na guerra quem sofre são os soldados, órfãos e viúvas, e estavam cansando agora a Javé. Esse cansaço provinha da falsa religiosidade do rei ao recusar o sinal.

O imperfeito do verbo cansar (

hal

) na segunda frase, verso 13b, aponta

para o fato de que Javé ainda não havia se cansado do rei. Ao que parece, a frase destaca o fim da tolerância frente à inconstância do rei. O que antes era

chamado de teu Elohim (

^yh,l{a/

) (v. 11), no segundo, aparece como meu

Elohim (

yh'l{a/

) (v 13). Dessa forma, o profeta mostra as conseqüências da ação de Acaz, a saber, Javé não mais era aquele que estava ao lado do rei, ou quem sabe da casa de Davi, antes do profeta e quem como ele estava. Que, ao que tudo indica, são os seus discípulos (8,11-20).

Mesmo com a recusa de Acaz, o próprio Senhor, Adonai (

yn"doa]

), haveria

de dar o sinal. Neste verso (14), o profeta se refere a Javé como meu Senhor, destituindo por completo a ação dele em favor da casa de Davi. Ainda que o rei não confiasse em Javé, este se compromete com a salvação daqueles que nele confiam e são enfraquecidos diante da sociedade.

Quanto a jovem (

hm'l.[;

),172 ela é uma prova bastante clara para Acaz. Contudo, ainda demonstra o anúncio do sinal, a jovem está grávida aparece na

172

Quanto as discussões acerca deste termo

hm'l.[;

foram apresentadas as variantes do texto que apontam para a diferença apresentada na LXX que traduziu a palavra por párthenos e

forma perfeita do verbo, e dará à luz imperfeito, e chamará imperfeito, isto é, o sinal, que é a criança propriamente dita, ainda está por vir, a saber, o Imanuel. Ele já foi concebido, é o que mostra o verbo no perfeito desta frase, e ainda há de nascer, como salienta o verbo dará à luz e chamará no imperfeito.

A este respeito jovem (

hm'l.[;

), Croatto salienta que “é provável que a

mulher grávida seja a rainha-mãe e o filho anunciado o futuro rei Ezequias”.173

Entretanto, não há consenso sobre quem ele seja, uma vez que a referência à ela se dá apenas neste texto, e ainda, não apresenta seu nome. Sobre as possibilidades de quem seja esta jovem, Schwantes, citando Wolff, destaca o seguinte:

Isaías estaria se referindo à esposa de Acaz, isto é, à mãe de Ezequias. Isaías estaria indicando para alguma dama da corte. Isaías estaria se referindo à sua própria esposa. A ‘jovem mulher’ seria figura para uma coletividade: a comunidade, Sião o povo, etc. A ‘jovem mulher’ seria uma figura da mitologia, a

mãe da criança divina.174

Sobre o tema da jovem (

hm'l.[;

), para Wolf este tema foi objeto de

debate por vários séculos, e muitos são a favor da interpretação de que

Ezequias é o Imanuel, como foi visto anteriormente, porém para ele ‘alm

ã

ah

também pode representar “todas as mães grávidas naquele tempo”. 175 Isto

porque, para ele, o “termo hebraico ‘alm

ã

ah aparece quando o casamento é

iminente,”176 e como exemplo o autor cita Rebeca (Gn 24,43). Embora trate do

tema em sua pesquisa Wolf não apresenta uma proposta conclusiva sobre o a questão.

muitos/as exegetas apreciam e a tomam em suas tradução, ou seja, traduzem o termo por

virgem. Ver página 82.

173

CROATTO, J. Severino. Isaías vol 1: 1-39. São Paulo/Petrópolis: Imprensa Metodista/ Sinodal/Vozes, 1989. p. 65.

174

WOLFF, Hans Walter. Frieden ohne Ende. p. 32, citado por SCHWANTES, Milton. “Ouvi casa de Davi, estudos exegéticos em Isaías 7,10-17”. p. 186.

175

WOLF, Herbert M. “A Solution to the Immanuel Prophecy in Isaiah 7:14-8:22”. In.: Journal of

Biblical Literature. The Society of Biblical Literature Vol. 91, No. 4 (Dec., 1972), p. 450.

http://www.jstor.org/stable/3263678 Acessado: 15/01/2009.

176

O que se apresenta no texto como fato é o uso do artigo a (

h

) que aponta para a mulher que estava presente no diálogo entre o profeta e o rei. Não se tratava de uma mulher, mas a mulher. O artigo define que ela está próxima naquele momento. O que se pode inferir, apenas, que havia uma proximidade da mesma com um dos personagens deste diálogo.

Quanto ao sinal, ele é personificado no símbolo do Imanuel, conosco-

está-Deus, ou conosco-Deus. Este termo é a junção entre a preposição ím (

M[i

) com, mais o pronome pessoal nu (

Wn

) nós, e o nome de Deus El (

La

) Juntando estas três palavras, em hebraico, temos o nome próprio Imanuel. Este, mais do que indicar alguém propriamente, denota a presença de Deus junto a ele, o profeta. Se for considerada a tese de que o profeta refere-se a ele seus discípulos (cf. 8,11-20), certamente a presença de Javé estava fora da corte, e, conseqüentemente, da “casa de Davi”. Esta suposição parece plausível, uma vez que quando há o anúncio do Imanuel rompe-se a aliança feita com a casa de Davi, a qual será verificada com maior propriedade em seqüência no verso 17.

A criança, o Imanuel, que nascerá representa o novo momento, uma nova percepção da caminhada do povo. Esta criança é símbolo da esperança frente àquela situação de guerra e das alianças entre os inimigos do rei.

Como se pode perceber, o sinal177 oferecido é o contraponto dos

acontecimentos daquele momento. Uma vez que criança não combina com instrumentos bélicos, o sinal é um ato de fé/confiança. Ao escolher o sinal de uma criança, Javé/Isaías pretende mostrar que ainda há uma saída.

Outro fator importante é que a criança simboliza uma nova ordem. Essa tipologia messiânica apresentada na forma de uma criança é contrária à esperada pelo povo de Jerusalém, ou seja, uma criança não representa o

177

Para Wolf, o Imanuel representa um sinal, tal como descrito em Isaías 8,18, o “Immanuel’ expressa o aspecto de promessa do sinal”. WOLF, Herbert M. “A Solution to the Immanuel Prophecy in Isaiah 7:14-8:22”. p. 451.

término imediato da guerra, ou de atos injustos, pois ela mesma não tem como realizar alguma ação. Contudo, a criança aponta para o futuro que no presente se personifica na confiança que deve ter o rei e o povo. O Imanuel, portanto, surge como sinal de esperança e destituição do rei.

Assim, a desconfiança do rei representa sua derrocada final. Confiar na salvação do “Deus que é conosco” é condição para permanecer.

15. Coalhada e mel ele comerá para saber rejeitar o mal e escolher o bem.

No verso 15, há a identificação do alimento da criança coalhada e mel. Este alimento lembra a tradição, segundo a qual Canaã era a terra que mana

leite e mel (Ex 3,8). E ainda, esta comida será o alimento da criança para que

saiba rejeitar o mal e escolher o bem. Segundo a tradição bíblica, o mel era uma valiosa moeda de troca nas transações internacionais (Gn 43.11.), porque não havia açúcar. Já o leite, apresenta outro fator comercial, que são os

pastores criadores de animais que produziam leite.178

Há também a perspectiva ambígua, de que coalhada e mel podem representar tempos de adversidades ou de felicidade, e ainda remonta a um tempo antes da monarquia. Neste sentido, segundo Rice,

Se coalhada e mel são compreendidos como símbolo de adversidade, esta interpretação exige que o v. 15 seja tido como secundário e que o v. 17 seja apagado ou destacado do v. 16. No v. 15, coalhada e mel, pode ser entendido também

178

Nesta perspectiva estes alimentos apontam para a era da salvação. Entretanto, esta alternativa é controvertida. Schwantes postula que este verso “reforça a compreensão do nome Imanuel como símbolo de salvação”, isto porque coalhada e mel são alimentos de salvação (Is 7,22; Ex 3,8). Há também o fato de que os alimentos têm uma finalidade positiva, a saber, diferenciar entre o bem e o mal. Esta também é a tese de Asurmendi. Contrário a esta posição, Croatto destaca que estes alimentos descrevem um momento de devastação, “dizer que o filho do rei se alimentará de coalhada e mel faz supor uma era de devastação e abandono. Acaz, de fato, introduzira a miséria em Judá para poder pagar à Assíria o enorme preço de sua submissão”. ASURMENDI, Jesus M. Isaías 1-39; CROATTO, J. Severino. Isaías, Vol I:1-39 – o

como símbolo de abundância e felicidade. E o v. 17 pode ser considerado, genuinamente, como uma parte da profecia do Immanuel, se “o rei da Assíria” for apagado o verso é entendido como a promessa de um retorno às condições antes da divisão

da monarquia.179

O texto não esclarece o motivo de tais alimentos, mas, ao que tudo indica, são alimentos que têm um aspecto positivo, pois a finalidade é para a criança escolher o bem. Trata-se de alimentos da era messiânica, a saber, um tempo que remonta a expectativa da chegada de novo tempo, com o estabelecimento do povo na terra prometida, uma terra que “mana leite e mel” (Êx 3,8). Estes alimentos representam a era da salvação. Para Rice,

A caracterização de Canaã como uma terra que mana leite e mel foi originalmente feita em a conexão com a promessa a Moisés, enquanto ele vivia com seu pai em Midian, e é com intenção de contrastar a fertilidade da terra prometida com o deserto árido, que Moisés sobreviveu.

Assim, os alimentos que o messias tomará, serão alimentos que promovem a vida. A abundância de alimentos é característica de um governo justo.

No documento 1.3.1 Messianismo de Judá (páginas 40-45)

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