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O Sindicato dos Metalúrgicos de Sertãozinho: trajetórias, lutas e resignação

A investigação empreendida neste trabalho trata de uma empresa específica do setor metalúrgico, situada na região nordeste do interior do Estado de São Paulo. Sua história é marcada pela intensa participação na agroindústria canavieira, apresentando, no contexto da reestruturação produtiva atual, alguns traços particulares em relação a forma com que tal processo se desenvolveu em Sertãozinho. Todavia, no que concerne às essencialidades das metamorfoses do mundo do trabalho provocadas pela lógica do capital, é possível assinalar que o

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caso da Zanini reproduz as determinações mais gerais da reestruturação capitalista que passa a vigorar no Brasil durante a década de 90.

Esse período no Brasil é marcado pela implementação da cartilha neoliberal, iniciada pelo governo Collor e intensificada pelo governo FHC. Nesta investida neoliberal voltada para a desregulamentação do mercado de trabalho, cujo maior exemplo é a lei do contrato temporário, aprovada em 1997 pelo governo de Fernando H. Cardoso imprimiu novas características (flexíveis) ao mundo do trabalho no Brasil (ALVES, 2000). São mudanças, portanto, que visam instaurar novos patamares de flexibilidade adequados às exigências do novo regime de acumulação de capital e que podem ser identificadas no caso da Zanini.

Os impactos dessas práticas políticas sobre a indústria brasileira e, principalmente, sobre a classe trabalhadora são evidentes. Porque, diante da decadente política de substituição de importações e com a abertura da economia aos mercados no inicio da década de 90, as empresas tiveram que se reestruturarem e se reorganizarem para competirem no mercado internacional, bem como atenderem as novas exigências do regime de acumulação flexível. Assim, dentre os inúmeros resultados das estratégias empresariais, voltadas para a reestruturação destacam-se: 1) fechamento de fábricas; 2) enxugamento de plantas; 3) redução de hierarquias; 4) concentração da produção nas áreas ou produtos de maior retorno, terceirização, modernização tecnológica; 5) e, redefinição organizacional dos processos produtivos, entre outros (SILVA COSTA, 2003).

Esses resultados apontam para uma síntese do que foram as principais estratégias empresariais ao longo dos anos de 1990, quer seja para a sobrevivência das indústrias, quer seja para suas adaptações às novas exigências do mercado que se instaurou a partir da abertura comercial no governo Collor. Com efeito, essas alterações colocaram o trabalho numa encruzilhada, de modo que os trabalhadores passaram a conviver com uma situação inusitada da indústria brasileira, as demissões em massa. Algo jamais vivido desde que se iniciou o desenvolvimento tardio da indústria nacional. Desta feita, pode-se dizer então, que o resultado imediato dessas alterações foi a destruição de mais de 1 milhão de empregos na indústria de transformação (Idem, 2003), ao passo que boa parte de seus trabalhadores ou caíram na informalidade, ou deslocaram-se para o setor de serviços.

O caso aqui analisado – a Zanini S/A Equipamentos Pesados – representa, portanto, toda essa processualidade, pois é o microcosmo onde se reproduziu as principais metamorfoses e contradições da sociedade capitalista.

As estratégias de reestruturação implementadas pela Zanini para sobreviver às novas determinações do mercado e à crise que se abateu sobre a indústria metalúrgica, notadamente, àquelas ligadas à agroindústria canavieira impactaram profundamente seus trabalhadores. Desde a crise do final dos anos 1980 com a desregulamentação do Proálcool, a fusão e incorporação de sua estrutura pela Dedini, até a reorganização do capital operada na cidade, os trabalhadores viveram um turbilhão de mudanças a partir das quais suas forças sociais foram se esgotando na medida em que os anos 90 alteraram as relações de força com o capital.

A propósito dessas mudanças que envolveram a fusão e incorporação da Zanini pela Dedini, os entrevistados destacam:

Houve muita mudança. Porque com a Zanini (...), a gente começava a ter um diálogo que não havia anteriormente. Então começou a haver o diálogo entre empresa, sindicato e trabalhadores. Com a fusão já brecou tudo outra vez, entendeu? Caminhamos pra trás novamente. Essa direção que eles implantaram na DZ vinda de Piracicaba (...) trabalhava naquele sistema de mostrar só a empresa de Piracicaba (...) não havia opinião dos funcionários, nem do sindicato. Então quebrou o trabalho que a gente vinha fazendo. Com a fusão, a direção da Zanini implantou esse sistema, interrompendo o diálogo. Inclusive isso acabou gerando uma carta que a gente escreveu mostrando o que estava acontecendo realmente. Nós achávamos que a fusão Zanini-Dedini ia seguir um horizonte e tava indo totalmente ao contrário. A gente vestiu a camisa, os trabalhadores vestiram a camisa e tudo estava tomando um outro rumo, completamente contrário. Como a gente já havia previsto isso, a gente tentou mostrar, deixar claro, mostrando toda a hierarquia, o que estava acontecendo (...) Só que acabou o diálogo e afastou os trabalhadores de Sertãozinho. Então, a administração da DZ passou a ser em Piracicaba, nós não tínhamos nem com quem falar91.

No chão-de-fábrica não teve muitas mudanças não, mas com a diretoria e gerência havia muita perseguição. Assim, muitos trabalhadores foram demitidos, outros foram trocados e remanejados para Piracicaba. Foi bastante desgastante. As mudanças que ocorreram no chão-de-fábrica foram na fundição mesmo, os trabalhadores que não foram demitidos foram transferidos para Piracicaba, tiveram que se sujeitar a morar em outra cidade.

O impacto foi muito grande, porque uma cidade como Sertãozinho, que na época tinha quase cem mil habitantes, ter mais ou menos 300 funcionários demitidos, quer dizer então que foi terrível para a cidade92.

A ocorrência dessas alterações na Zanini marcou indelevelmente o cotidiano desses trabalhadores, pois representaram um retrocesso para eles, na medida em que modificaram tanto a

91 Sr. Ferraz, 2005. 92

estrutura de comando da empresa, como sua forma de gestão. Para a concretização dessas mudanças, a forma encontrada para pressionar os trabalhadores foi o desemprego. Sendo uma dificuldade para os trabalhadores e o maior desafio do Sindicato na atualidade, o desemprego se tornou uma ameaça aterrorizadora, de modo a subordinar trabalhadores e sindicalistas às novas estratégias empresariais. Isso abalou a estrutura da vida social em Sertãozinho durante toda a década de 1990. Para um dos depoentes,

O próprio sistema provavelmente criou esse conflito. Hoje o trabalhador não tem paz, porque ele não tem uma certeza do emprego duradouro. Ele não sabe se pode fazer uma prestação na residência dele. Ele não pode fazer um investimento no filho dele, na área educacional porque o trabalhador hoje é mais descartável. Eu acho que fica até uma palavra meio desconfortável, mas é isso, porque hoje é o processo industrial. É o Chaplin (referência ao filme Tempos Modernos). Hoje ainda tem essa metodologia: tira um indivíduo e tem três ou quatro que se pode escolher e substituir(...) O cara hoje fica nessa, flutuando. Não sabe se tem mais um dia, mais um mês ou mais um ano93.

Assim, o impacto do fechamento da fundição, somado às novas ameaças de demissões configuraram um ambiente hostil a qualquer manifestação de resistência dos trabalhadores na época. É o que pode ser percebido a partir dos relatos.

A reação...Ficou todo mundo calado, porque não tinha mais como reagir, porque a hora em que tomou a decisão, eu te falei no início, nós chegávamos de férias coletivas de final de ano. Nós ficamos sabendo quando chegamos lá, estava todo mundo lá fora, ia ter uma reunião, uma assembléia, o Sindicato ia falar. Aí o Sindicato foi lá e anunciou. Então você sabe o que é ficar assim pensando e não ter mais o que fazer, não tinha mais ação, não tinha mais jeito de fazer nada. Não tinha como reagir, a reação era como se parecesse que você era o culpado de tudo pelo que estava acontecendo, porque foi uma coisa que nos pegou de surpresa, porque até então se você está de férias e vem um amigo seu e diz pra você que “vai ter uma surpresa na hora em que você chegar lá, porque estou ouvindo um zum-zum lá que talvez vai fechar a fundição”. Então, não foi assim, estava todo mundo de férias coletivas, não tinha ninguém na fundição, quando chegamos nem entramos na fábrica. Não era para entrar ninguém, dali fomos para o auditório da empresa e lá eles diziam: Oh! quem for falado o nome passa pra lá, sabe quando parecem estar separando boi, quem for falado o nome passa pra cá, que é da Dedini, quem não for passa pra lá, depois nós conversamos. Foi assim, não tinha como reagir94.

93 Sr. João Batista, 2006. 94

Desse modo, os impactos sobre os trabalhadores foram se multiplicando, na medida em que as transformações se processaram, constituindo-se assim, um conjunto de fenômenos que os atingiram, tanto no plano objetivo, com a redução de salários, atraso de pagamentos e o desemprego, quanto no plano subjetivo com os planos de demissão voluntária, mudança de atividade, de setor e até mesmo de cidade. Tudo isso, refletindo-se sobre a vida individual e coletiva dos trabalhadores metalúrgicos de Sertãozinho.

Com isso, os principais aspectos dessas mudanças não são apenas econômicos no que diz respeito a redução de salários ou mudança de atividade produtiva, mas também e sobretudo psicológicos. Ou seja, a perda de direitos trabalhistas e o medo do desemprego são ingredientes perfeitos para se ampliar o controle e a dominação no chã-de-fábrica. Por isso, o impacto:

Foi grande, tanto psicologicamente como em todos os meios não é? Relembrando um pouco as dificuldades, os atrasos de pagamentos, as incertezas, os anúncios de demissões à vista, isso realmente trazia um transtorno muito grande. E eu me lembro de quando entrei na Zanini, pra mim foi uma realização muito grande, porque estava abandonando o podão e entrando na maior empresa da cidade, porque todo jovem sonhava em ingressar na Zanini, ou seja, quem trabalhava na Zanini tinha um status social, então isso foi muito duro, porque de repente o profissional tinha que correr na praça para não ver o seu nome ir para o Serasa porque a empresa não pagou e ter que ir lá justificar os atrasos, as dificuldades... E era aquele negócio, além de não estar recebendo o cara não sabia se ia ser demitido, era uma situação de pressão, porque ele ia ser o próximo. Ou seja, psicologicamente abalou muito os trabalhadores, e o pessoal ficou um longo período bem cabisbaixo mesmo.

E acrescenta que:

(...) todo mundo sabia que não tinha alternativa, e isso é que era pior, quando há a possibilidade de ingressar em outra empresa, tudo bem, mas não havia. Então, a principal empresa chegou em 1999 a 280 funcionários, para quem tinha 4 mil funcionários em 1982 e chegar em 1999 em 280, ainda com perspectiva de mandar mais gente embora... Eu lembro até hoje, em agosto de 1999, chegaram para mim e disseram, “Élio nós temos 280 funcionários e estamos com a esperança de não precisar mexer mais”. Daí você vê que se reduziu a nada.

Diante dessa situação, o sindicalista destaca que a estratégia do Sindicato dos metalúrgicos se modificou em decorrência do desemprego. A luta do movimento sindical naquele momento, segundo as novas orientações políticas de suas lideranças, deveria preocupar-se com a manutenção do emprego. Assim, conforme Élio Cândido,

(...) se o trabalhador foi demitido hoje, ele estava condenado a um longo período de desemprego, porque não havia perspectiva nenhuma. Nós vimos casos de trabalhador que perdeu o emprego e ficou um ano, dois anos desempregado fazendo bico. Então, tudo o que fizemos foi justamente impedir naquele momento que os postos de trabalho fossem fechados. Como impedir que mais um posto de trabalho fosse fechado?

Assim, a atuação sindical mostrou-se limitada no que diz respeito às suas diretrizes históricas em defesa do trabalho contra a usurpação do capital. Não lhe restou alternativas.

A gente tinha como instrumento o banco de horas. Ele funciona com o seguinte sistema: se daqui há três meses vamos ter trabalho, então, para não demitir, fazemos um banco de hora em que a gente trabalha menos sem reduzir o salário, e lá na frente daqui há três meses quando chegar o trabalho, a gente repõe essas horas. Isso é possível para melhorar a situação. Mas, nós vivíamos um momento em que não havia horizonte (...) nós não temos nada hoje, e não sabemos se teremos daqui seis meses, então se não fizermos nada, irão centenas de trabalhadores para a rua. A permanecer esse quadro, daqui há três meses, irão mais algumas centenas de trabalhadores demitidos. Então aí é quando você não vê o horizonte, então a única saída foi reduzir o salário. Nós vivemos esse momento de redução de salário, banco de horas e desemprego, mas tudo o que foi feito sempre foi feito com o aval dos trabalhadores, discutindo e fazendo as assembléias, com ele aprovando. Tudo permitido com a anuência do trabalhador95.

Esse longo depoimento do atual presidente do Sindicato dos Metalúrgicos que estava também, naquela época à frente da instituição, o Sr. Élio Cândido, explicita a situação dos trabalhadores e a posição do Sindicato diante das transformações que ocorriam na Zanini e em Sertãozinho. O desemprego não só apavorava os moradores e trabalhadores, mas reduzia em muito as margens de atuação do Sindicato e militantes contra a crise do setor metalúrgico e as estratégias empresariais adotadas no período.

Portanto, diante dos imperativos impostos pela reestruturação produtiva, coube ao Sindicato e aos trabalhadores constituírem estratégias e mecanismos de defesa para amenizar os efeitos das transformações ora em curso na Zanini e na cidade. Dentre essas estratégias, concebidas pela pressão e ameaça do desemprego, adotaram-se posturas mais conservadoras, de negociação e apaziguamento do que de confrontação propriamente, pois além da luta do Sindicato pelo emprego, sob a ameaça do fechamento da fábrica e de mais demissões, havia também a pressão da sociedade sertanezina e dos próprios trabalhadores. Com isso, os impactos se aprofundaram, na medida em que Sindicato e trabalhadores não encontraram saídas para resistirem às pressões, o

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que os obrigou a se adaptarem à nova realidade do setor metalúrgico na cidade. É o que se pode verificar a partir dos seus próprios depoimentos nos quais se expõem as estratégias adotadas pelos empresários para sobreviverem e competirem no mercado. Contudo, debilitando, demitindo e precarizando o mundo do trabalho sertanezino.

(...) depois de demitido, eu passei a ser vendedor de carro, montei uma garagem junto com um amigo meu lá da Zanini mesmo e fomos até bem, aí depois entrou o plano real e aí parei. Mesmo assim parei com a garagem, mas não parei de vender carro, e comecei a trabalhar como vendedor de consórcio. Eu trabalhei para a Anhanguera, como administrador de consórcio, trabalhei uns quatro anos para a Anhanguera. Eu nunca parei sabe? Depois eu comprei uma mercearia e trabalhei mais uns dois ou três anos e depois passei a trabalhar com o meu genro e estou lá até hoje, já vai para quatro anos96.

Olha, a redução de salários já houve quando ocorreu a fusão, eu não lembro em que ano que foi. Parece que houve redução de salário para não ter demissão, mas foi um ou dois meses só (...). Aí a partir de 1996 começaram as demissões, chegando a 1998 quando quase fechou. Parece que ficou com quase 400 funcionários, trezentos e pouco, uma coisa assim. Foi quando eu fui demitido97.

Olha, quando a Zanini começou a entrar naquela fase ruim começou a atrasar, trocavam o vale pelo pagamento, virando uma anarquia danada. Chegava a atrasar uma semana, dez e até quinze dias. Atrasava muito, mas a gente não tinha muito conhecimento do por quê aquilo estava acontecendo. Era um negócio meio danado, porque logo veio a fusão entre a Zanini e a Dedini, aonde nós pensávamos que ia melhorar, mas acabou foi complicando mais ainda. Aí já dependia do pagamento lá de Piracicaba. Eles falavam que o pagamento vai chegar amanhã e não chegava (...) Aí a gente ficava meio sem ter o que fazer98.

Durante o processo de mudança com a incorporação da Zanini pela Dedini, o controle sobre o trabalho ampliou-se gradativamente, na medida em que, por um lado uma nova forma de gestão instaurou-se com a Dedini e, por outro, novos mecanismos de exploração sobre o trabalho foram instalados. Isso foi possível graças a debilidade do poder de organização dos trabalhadores frente à ofensiva do capital e da situação de desemprego. Diante disso, os patrões aproveitaram não só para reestruturar as relações e processos no interior da fábrica, mas também para elevar seu controle sobre o trabalhador, fazendo com que este se subordinasse às determinações mais nefastas. 96 Sr. Sebastião, 2006. 97 Sr. Aparecido, 2006. 98 Sr. João D., 2006.

(...) você chegava, trabalhava e soltava o serviço normal como se tivesse trabalhando numa empresa normal, só que com a certeza de que no dia do pagamento você não ia receber, ia atrasar. Mas aí depois que eu fui mandado embora tive os mesmos problemas para receber.

Foi muito ruim, porque hoje o trabalhador não tem a mesma mordomia que tinha antes, hoje o cara que trabalha só à noite ele trabalha só à noite, ele não tem como revezar. Vai trabalhar só de dia, então é só de dia. Então muita coisa ficou ruim para o funcionário, ele não tem opção para nada mais. Ficou muito ruim para a estabilidade do próprio funcionário99.

Sim, havia muita burocracia, a gente escutava falar que tinha tentativa de maior controle sobre os funcionários, mais estilo big brother, com a implantação de cartão eletrônico, colocavam o cartão eletrônico... A Zanini é imensa e antigamente o cartão de ponto ficava no caminho entre a fábrica e a meio caminho do seu veículo, sua bicicleta, seu carro, ou sua moto que você ia embora. Aí eles chegaram e tiraram do meio do caminho e colocou lá na bica do seu serviço, para não atrasar, para não perder hora e perder menos tempo. Quando você marcava o cartão você já estava ali em cima do serviço, então aumentou a burocracia em termos de pressão de encarregado... Essas coisas eu ouvi falar que aumentou sim, e não ficou bom não, o pessoal não gostou das mudanças que tiveram não100.

Com isso, os trabalhadores metalúrgicos de Sertãozinho entraram num estado de letargia profunda em relação aos anos 1980, que foram marcados por forte mobilização grevista. As derrotas que se impuseram a eles com as demissões em massa, geradas pela crise do setor metalúrgico, e pela reestruturação que se seguiu, desmobilizaram também sua principal esfera de luta contra as usurpações do capital, o Sindicato. Assim, nossa tarefa agora será analisar de que maneira a desestruturação da Zanini e os impactos gerados sobre seus trabalhadores atingiram a atuação do Sindicato dos Metalúrgicos nos anos 1990. Para tanto, faz-se necessário primeiramente entender como se deu sua ascensão e seu histórico de luta social em Sertãozinho durante os anos 1980.

A história recente do sindicalismo em Sertãozinho inicia-se, na verdade, com a ascensão do novo sindicalismo que marcou a década de 1980, como momento crucial da luta da classe trabalhadora contra o regime da ditadura militar, que em decorrência do fim do “milagre econômico” impunha sobre os trabalhadores uma dura realidade com o arrocho salarial e a superexploração do trabalho no interior das fábricas (ANTUNES, 1988).

99 Ibidem, 2006. 100

Até o final dos anos 70, o Sindicato dos Metalúrgicos não existia para os trabalhadores, pois com as lideranças pelegas, ligadas à ditadura militar, a instituição fazia o jogo do patrão contra os interesses dos trabalhadores. Todavia, com o descontentamento da classe trabalhadora com as condições de trabalho, o arrocho salarial, e impulsionado pelas numerosas mobilizações políticas ocorridas no ABC, o peleguismo da diretoria não resistiu à ascensão de uma nova concepção de Sindicato, combativo e destemido na luta contra o capital. Esta concepção da esfera de representação política dos trabalhadores tem inicio com a eleição em abril de 1980 da diretoria encabeçada por Antônio Guerreiro, militante político do PC do B, e trabalhador da caldeiraria na Zanini. Após ter realizado vários cursos de orientação política comunista no litoral paulista (em Praia Grande-SP), com apoio da maioria dos trabalhadores da Zanini, Guerreiro inicia na cidade de Sertãozinho uma forte mobilização social e política dos trabalhadores, despertando na época a reação dos empresários com a criação do CEISE101 (Centro das Indústrias de Sertãozinho), entidade empresarial fundada para enfrentar o Sindicato dos Metalúrgicos sertanezino.

Nesse contexto, portanto, a proposta de um novo sindicalismo nasce no calor dos acontecimentos dos inúmeros protestos sociais e manifestações operárias, que eclodiram em várias cidades brasileiras e em vários setores produtivos a partir do final dos anos 1970 e no