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2.4 A TEORIA DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS

2.5.2 A estrutura da Representação Social

2.5.2.2 O Sistema Periférico

Abric (1994) considera que ao redor do núcleo central, e por ele organizados, encontram-se os elementos periféricos que estão em relação direta com o núcleo, de forma que sua presença, sua ponderação, seu valor e suas funções são determinadas pelo núcleo. Os elementos periféricos constituem o conteúdo essencial de uma representação, seus componentes

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Soit une dimension fonctionnelle, comme par exemple dans des situations à finalité opératoire: seront alors privilégiés dans la représentation et en constituant le noyau central le éléments les plus importants pour la réalisation de la tache (...)

Soit une dimension normative dans toutes les situations ou interviennent directement des

dimensions socio-affectives, sociales ou idéologiques. Dans ce type de situations, on peut penser qu’une norme, un stéréotype, une attitude fortement marquée seront au centre de la représentation.

mais acessíveis, mais vivos e mais concretos. Eles compreendem as informações retidas, selecionadas e interpretadas, os julgamentos formulados sobre o objeto e seu ambiente, os estereótipos e as crenças.

Estes elementos são hierarquizados, podendo estar mais próximos ou mais afastados do núcleo central. Quando estão próximos ao núcleo central eles assumem um papel importante na concretização da significação da representação, mais afastados eles ilustram, esclarecem ou justificam a representação. Ainda que os elementos centrais sejam a chave da representação, eles não são suficientes, pois os elementos periféricos desempenhem um papel fundamental dentro da representação (Abric, 1998).

Conforme Abric, (1994) os elementos periféricos constituem a interface entre o núcleo central e a situação concreta na qual se elabora ou ocorre a representação, eles respondem a três funções fundamentais. Uma função de concretização, pois os elementos periféricos ligam a representação à realidade, tornando-a dependente do contexto. Ligam o núcleo central à situação concreta na qual a representação é criada ou ativada. É através dos elementos periféricos que a representação pode ser formulada em termos concretos, compreensíveis e transmissíveis.

Assumem ainda uma função de regulação da representação, pois por serem mais leves que os elementos centrais, os elementos periféricos permitem que a representação se adapte às evoluções do contexto. Desse modo novas informações sobre o objeto da representação são integradas à periferia da representação. Os elementos periféricos são os elementos móveis, evolutivos da representação, em contraste com a rigidez dos

elementos centrais. A terceira função que os elementos periféricos assumem é a função de defesa na representação. Já que uma mudança no núcleo central provocaria uma mudança na própria representação social, os elementos periféricos assumem a função de proteger o núcleo, absorvendo mudanças oriundas do contexto. Tais mudanças são incorporadas à representação através do sistema periférico, não atingindo o núcleo central e permitindo que a representação não seja alterada de maneira abrupta, garantindo sua estabilidade (Abric, 1998).

Os trabalhos desenvolvidos por Flament (1994) trazem uma importante perspectiva sobre o papel do sistema periférico. O autor se refere aos elementos periféricos como esquemas que estão organizados pelo núcleo central da representação. O sistema periférico é responsável por garantir o funcionamento da representação como um sistema que permite a leitura de uma situação, indicando algumas vezes o que é normal e o que não é normal e, portanto o que precisa ser feito, compreendido ou memorizado. Os sistemas normais permitem que a representação funcione economicamente, de modo que não haja necessidade de reorganizar a representação a cada nova situação (Flament, 2001).

Flament (2001) discorre ainda sobre o papel de decifrar uma situação normal que cabe aos esquemas periféricos. No entanto é preciso considerar que uma situação pode não ser normal, pois alguns aspectos de uma representação podem estar em desacordo com algumas características da situação. Se os desacordos afetarem o núcleo central haverá uma desestruturação da representação social. Se isso ocorresse haveria uma constante mudança nas representações sociais, o que não ocorre graças à

função de defesa que o sistema periférico assume, absorvendo os desacordos e assegurando uma estabilidade relativa para a representação.

Como complemento indispensável do sistema central, haveria [...] um sistema periférico, constituído pelos elementos periféricos da representação, que, provendo a interface entre a realidade concreta e o sistema central, atualiza e contextualiza constantemente as

determinações normativas e de outra forma

consensuais deste último, daí resultando a mobilidade, a flexibilidade e a expressão individualizada que igualmente caracterizam as representações sociais ( Sá, 1996, p. 73).

Abric (1994) enumera três características atribuídas aos esquemas de funcionamento da representação. A primeira é seu papel de prescritores de comportamentos e tomadas de decisão do sujeito – indicam o que dizer ou fazer dentro de uma normalidade em dada situação, considerando o significado e a finalidade da própria situação, possibilitando que a pessoa possa agir e reagir instantaneamente, sem ter a necessidade de recorrer aos significados centrais. Sequencialmente permitem uma modulação personalizada das representações e das condutas a ela associadas – de modo que uma única representação, organizada ao redor de um mesmo núcleo central, pode ser dotada de diferenças aparentes, relativas à apropriação individual ou contextos específicos, que serão manifestas através do sistema periférico e, possivelmente, através de comportamentos relativamente diferentes, desde que tais diferenças sejam compatíveis com o núcleo central.

Finalmente, os esquemas periféricos atuam em defesa do núcleo central, caso haja tal necessidade. Quando o núcleo central de uma representação está ameaçado, os esquemas normais ligados diretamente ao

núcleo se tornam estranhos, definidos segundo as seguintes características: a lembrança do normal, a constatação do elemento externo, a afirmação da contradição entre os dois componentes, uma racionalização que permite a tolerância temporária da contradição. Os elementos do núcleo central são normativos, expressando, portanto a normalidade, mas não a certeza, os elementos periféricos expressam o que é frequente, o que é excepcional, e nunca anormal.

2.5.3 O funcionamento da representação social a partir do núcleo

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