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O Suporte Social e a Rede Pessoal Significativa e de no contexto da

O suporte social pode ser definido pelo apoio fornecido aos indivíduos, por meio do conjunto de suas relações sociais institucionais ou comunitárias que oferecem apoio e proteção, reduzindo os efeitos físicos e psicológicos de eventos estressantes. Entre as formas de prestar suporte social estão: ouvir o outro, demonstrar afeto e preocupação, cuidar, fornecer ajuda financeira, aconselhar e confortar, podendo ser realizadas por amigos, familiares, vizinhos, colegas de trabalho e profissionais de saúde (Campos, 2005).

As ações oferecidas por meio do suporte social presentes nas instituições e organizações formais, contribuem para satisfazer algumas

necessidades do indivíduo, seja ela de afeto, estima, identidade, reconhecimento, pertencimento e/ou segurança. Para que ocorra o suporte social entre profissionais e usuárias de uma instituição, como é o caso das casas-abrigo para mulheres em situação de violência, é preciso levar em consideração a qualidade e a forma de relacionamento, pois estes são fatores determinantes para o sentimento de proteção e acolhimento (Campos, 2005; Ornelas, 2008). Em consonância a isso, conforme apontado por Santos (2009) um dos fatores que contribui para o enfrentamento da violência, é a pessoa se sentir acolhida e protegida, sabendo que está sendo assistida por profissionais que possam confiar.

Articulado ao conceito de suporte social está o conceito de redes sociais. Com relação ao tema, existe uma série de pesquisas e estudos que geraram diferentes definições e de estudiosos que contribuíram para a construção do conceito de rede social, no entanto, nesta pesquisa, são utilizadas as definições dos autores Sluzki (1997), Speck (1989) e Dabas (1993). Assim, as redes sociais são formadas por todas as relações consideradas significativas, diferenciadas das demais e que são capazes de oferecer ajuda e apoio em momentos de crise. A rede social de um indivíduo é uma das chaves centrais para o bem estar, pois influencia no cuidado com a saúde e na adaptação às situações de crise (Sluzki, 1997). Nessa mesma vertente, para Dabas (1993) a rede social:

implica um processo de construção permanente tanto individual como coletivo. Neste ponto diríamos que é um sistema aberto, que através de outros grupos sociais, possibilita a potencialização dos recursos que possuem. Cada membro de uma família, de um grupo ou de uma instituição se enriquece através das múltiplas relações que cada um desenvolve (p. 21).

Cabe salientar que a família como primeira instituição e, em sua maioria, a que apresenta maior grau de proximidade, não é a única rede que propicia a constituição de vínculos interpessoais para o indivíduo. Fazem parte, também, os amigos, os colegas de trabalho ou estudo e a comunidade, incluindo os serviços de saúde e assistenciais, vizinhos e pessoas do credo religioso, que proporcionam ajuda e apoio capazes de diminuir os efeitos de uma situação de crise. O apoio recebido pelas pessoas da rede faz com que o indivíduo tenha o sentimento de pertencer a um grupo, fortalece a autoestima, dá sentido à vida, melhora a capacidade de adaptação e a qualidade dos relacionamentos. Assim, a

qualidade das relações e a dinâmica das redes podem ser compreendidas por meio das características estruturais, das funções e dos atributos dos vínculos estabelecidos entre seus membros, ao longo do tempo (Moré 2005; Moré & Crepaldi, 2012; Sluzki, 1997; Speck, 1989).

Quanto às características estruturais, a rede pode ser avaliada de acordo com a) o tamanho, ou seja, o número de pessoas que compõem a rede, b) a densidade, que está relacionada com a qualidade da relação e com a influência que os membros podem exercer no indivíduo, c) composição ou distribuição, que indica a posição que cada membro ocupa nos quadrantes, d) dispersão, relacionada com a distância geográfica entre os membros da rede, e) homogeneidade ou heterogeneidade, que se referem às diferenças e semelhanças quanto ao gênero, idade, cultura e nível socioeconômico que podem favorecer as trocas ou gerar tensões (Sluzki, 1997).

Em relação às funções dos vínculos, estas podem ser: a) companhia social, que diz respeito a realização de atividades conjuntas ou simplesmente estar juntos; b) apoio emocional, caracterizado pelos intercâmbios com uma atitude emocional positiva, clima de compreensão e empatia; c) guia cognitivo e de conselho, que consiste na oferta de informações pessoais, sociais e modelos de referência; d) regulação social, que, por sua vez, reafirma as responsabilidades e os papéis, além de favorecem a resolução de conflitos; e) ajuda material ou de serviços, caracterizada pela contribuição financeira ou por meio de indicações a serviços com especialistas; f) acesso a novos contatos, que diz respeito à abertura de portas para novas conexões com pessoas e redes que até então não faziam parte da rede do indivíduo/família (Sluzki, 1997).

Por fim, cada vínculo estabelecido com as pessoas das redes possui atributos, sendo esses: a) a(s) função(s) predominante(s) do vínculo, ou seja, qual ou quais funções são predominantes neste vínculo, b) multidemensionalidade, isto é, quantas funções a pessoa desempenha, c) reciprocidade, quer dizer, se a pessoa desempenha as mesmas funções que recebe de sua rede, a d) intensidade, que caracteriza o grau de compromisso da relação, e) a frequência dos contatos, que se caracteriza o número de vezes que as pessoas entram em contato umas com asa outras, e f) história da relação, destacando desde quando as pessoas se conhecem e o que estimula a manutenção da relação (Sluzki, 1997).

Como mencionado ao longo da presente seção de fundamentação teórica, pessoas que compõem as redes pessoais significativas são, por

vezes, utilizadas como uma das estratégias de enfrentamento (coping) para um determinado problema ou situação de crise, como no caso da violência contra a mulher. Com relação à procura pelas redes de um indivíduo, as pessoas pertencentes à família são, muitas vezes, as primeiras a serem acionadas em busca de suporte e apoio. Como exemplo disso, as pesquisas realizadas por Santi, Nakano & Lettiere, (2010) e Lettiere & Nakano (2011), evidenciaram a procura primeiramente pelas pessoas da família, e em seguida pelos amigos; também está presente a busca por ajuda religiosa e espiritual como fonte de suporte para o enfrentamento da violência.

Concomitante a isso, o estudo de Santos e Moré (2011b), revela que as mulheres em situação de violência conversam sobre o fato de serem agredidas por seus parceiros com familiares, amigos, vizinhos e colegas de trabalho, além de psicólogos, assistentes sociais e representantes religiosos. Segundo as participantes, a busca por estas pessoas contribui para diminuir o estresse e o sofrimento causados pela violência.

A pesquisa de Machado (2004) mostra, por sua vez, que as mães e irmãs das mulheres são as pessoas procuradas em busca de apoio para enfrentar o problema da violência. Para a autora, a procura pelas redes constituídas pelas pessoas da família, da igreja e das relações de trabalho é uma condição importante para o enfrentamento da violência. O estudo de Estrada, Herrero e Rodríguez (2012), por sua vez, aponta que o apoio emocional percebido pelas mulheres que sofreram violência foi, principalmente, atribuído às mães, irmãs e amigos.

É importante salientar que a reação das pessoas procuradas em busca de ajuda, poderá influenciar a ação ou o isolamento da mulher diante do problema da violência, pois os comentários tecidos pela rede pessoal significativa poderão, ou não, contribuir para impulsionar o indivíduo a cuidar do seu estado psicológico. A reação das pessoas das redes, pode colaborar para manter a pessoa em um sistema violento, por melhores que sejam suas intenções, pois os comentários tecidos por estas pessoas poderão, ou não, contribuir para impulsionar o indivíduo a cuidar do seu estado psicológico. Assim, deve-se dar atenção aos significados atribuídos às redes, visto que estas podem tanto auxiliar, quanto impedir a promoção de mudança, fortalecendo determinadas redes ou desarticulando outras (Heise & Garcia-Moreno, 2002; Moré, 2005; Sluzki, 1997).

Nesse sentido, o estudo das redes pessoais significativas está relacionado à sua influência sobre o desenvolvimento das pessoas ao

longo da vida. Por ser um sistema aberto e dinâmico, que deve se adaptar às mudanças e crises ao longo do ciclo vital, a rede pessoal é um processo de construção permanente, tanto em nível individual, quanto coletivo (Dabas, 1993). Segundo Monteiro e Souza (2007) e Sluzki (1997), no contexto da violência é característico o afastamento das redes, sejam elas familiares ou extra-familiares, das quais a mulher mantém uma distância tanto emocional quanto geográfica, seja por medo, vergonha ou culpa, mantendo-se em um sistema fechado, com suas fronteiras enrijecidas. Assim, compreende-se que as redes contribuem para dar sentido à vida de seus membros, incentiva os cuidados com a saúde e favorecem o desenvolvimento de atividades pessoais associadas à qualidade de vida (Sluzki, 1997).

Diante disso, entendendo que a violência familiar produz um corte nas relações com as pessoas da rede significativa das mulheres, entende-se ser possível a reconexão das redes, que possam vir a se tornar uma estratégia para o enfrentamento do problema da violência, a partir do olhar das mulheres e do grau de vinculação entre si. Portanto, torna-se ser importante a investigação do conjunto de relações estabelecidas entre as redes pessoais significativas de mulheres em situação de violência acolhidas em casa-abrigo, a fim de entender como as redes atuam, interferem e/ou auxiliam no enfrentamento da violência contra a mulher.

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