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3.2 OS SUJEITOS DA PESQUISA

3.2.1 O Tempo Integral na Percepção dos Educadores

O tempo integral pressupõe uma organização diferenciada em todos os contextos da escola. Assim, também os sujeitos que atuam na escola, ao reconhecer esse direito, precisam se propor a contribuir nesta organização, atendendo a um projeto pedagógico, mas também a um projeto de vida. O currículo escolar está organizado pelas áreas do conhecimento. O educando chega à escola às 07h30min da manhã é conduzido para as aulas do ensino regular, dentro de suas respectivas áreas: Linguagem, Matemática, Ciências Humanas, Ciências da Natureza e Ensino Religioso.

Nosso aluno chega à escola às 07h30min e é conduzido para as aulas do ensino globalizado dentro das áreas do conhecimento, eles recebem lanche às 9h e 30min diferente do projeto anterior onde os educandos recebiam café da manhã na chegada. Depois da mudança nos tivemos que adaptar novas possibilidades para o dia a dia do nosso aluno (EDUCADORA A)13.

A educadora ao salientar a palavra ―mudança‖, faz referência à proposta que vigorou até o ano de 2016. Até aquele ano, eram ofertadas as oficinas que consistiam em subdivisões, respeitando as aptidões por parte dos educadores, ou seja, o educador trazia suas possibilidades dentro de suas áreas e praticava suas

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A transcrição das entrevistas é literal e os nomes foram substituídos por letras para manter a privacidade dos sujeitos da pesquisa.

aulas intercalando períodos entre os demais educadores. É relatado também que a proposta, com a matriz curricular, trazia a ideia do ensino globalizado no período de 7 horas.

A respeito de métodos de ensino globalizado Zabala (2002, p.28) preconiza que:

Para o estudante, o objetivo direto não é o de aprender esses conteúdos disciplinares, mas o de alcançar o objetivo de conhecimento ou de elaboração que o preocupa. De maneira sintética, diríamos que, nos métodos globalizados, as disciplinas não são o objeto de estudo, mas o meio para obter o conhecimento da realidade. Nos métodos globalizados, o que interessa é oferecer respostas a problemas ou questões que a realidade coloca.

Ao questionar a quantidade de carga horária nos é dito o que segue:

Eu acredito que a carga horária está boa, porém acredito que em determinados momentos fica cansativo tanto para os alunos quanto para os professores apesar de que o planejamento deve ser pautado mais a prática na parte da tarde do que ficar somente em sala de aula (EDUCADORA A).

Quando fala em prática, existe uma busca em tentar não tornar o tempo na escola maçante ou desinteressante. Uma vez que o educando está o dia todo no ensino globalizado. Porém, o planejamento das aulas regulares e do tempo integral ocorre de forma conjunta buscando o que conceituamos no capítulo anterior como ensino integralizado. Podemos destacar que existe uma característica identitária, que faz do tempo integral desta instituição, uma forma de resistência na educação.

Sobre currículo integralizado Cavalieri (2012) salienta que:

O termo ―integrado‖ ao adjetivar currículo expressa o resultado do ato de integrar saberes particulares em um espaço no qual circulam saberes socialmente legitimados para serem ensinados e aprendidos. Envolve a mobilização de critérios de seleção e de organização do conhecimento escolar. Isso significa que ao estabelecer o que pode/deve ser considerado como um saber/conhecimento passível de ser integrado, o ato de integrar define simultaneamente os sentidos de saber/conhecimento, do jogo político no qual as lutas por essa definição estão sendo travadas, bem como define também o contexto contingencial em que elas ocorrem (CAVALIERI, 2012, p. 286).

O horário segue até às 11h45min. Após este horário, os educandos do tempo integral são encaminhados ao almoço e, em seguida, para atividades diferenciadas como sala de jogos, informática, atividades de recreação no pátio. Assim, os educandos têm uma rotina. Segundo a educadora B, estes ficam no período de uma

hora, onde as atividades passam pelo processo de rodízio semanal para que todas as turmas possam participar de todas as atividades em determinado momento.

Nós tivemos que rever muitas coisas, por exemplo, os alunos menores do 1º ano tiveram um grande problema com esta reformulação, tiveram que trabalhar com a adaptação e o cansaço que eles passaram por um tempo, tivemos que adaptar a rotina do horário do meio dia e criar uma momento que chamamos hora do soninho. Eu acho que esta atividade foi necessária pensando que este aluno que chega vem da educação infantil e é necessário fazer adaptações por que o nosso foco deve ser o aluno (EDUCADORA B).

Nesta fala, percebemos a preocupação com o cansaço dos educandos, a forma como ela acredita no seu trabalho e na sua função nesta instituição. Percebe- se, também, a importância da educação neste lugar marcado por desigualdades e distanciamentos entre comunidade e a escola.

A configuração do tempo integral que se estabeleceu em função do que se chama Matriz Curricular do Tempo Integral das Escolas Estaduais do Estado do Rio Grande do Sul (Anexo 4) substituiu o padrão anterior de currículo, marcado por dificuldades no trabalho sob a forma de oficinas e com muitas trocas entre professores que estavam condicionados aos períodos. Ou seja, passou-se a dividir o tempo em períodos e estabelecer oficinas para que os educandos tenham acesso ao máximo de atividades extracurriculares.

O que se estabelecia no modelo anterior era ineficaz, diz a coordenadora, uma vez que, o educando fazia muitas trocas de oficinas e não se pode acreditar que este modelo fazia muita diferença no cotidiano dos educandos. Nos condicionamos o tempo integral a um modelo de avaliação que antes não tínhamos, o professor da manhã tem o mesmo peso do professor da tarde e o professor de educação física, assim como os planejamentos são executados em conjunto o processo avaliativo também é feito entre todos os professores. Não temos critérios de notas, pois, como se trata de ensino globalizado, nós estabelecemos os pareceres o que legitimou o trabalho desenvolvido e deu seriedade para o tempo integral (EDUCADORA D).

Ao analisarmos a Matriz Curricular do Tempo Integral (Anexo 1), podemos observar um condicionamento às áreas do conhecimento, talvez como forma de legitimar este Programa, visto que esta matriz curricular torna o processo de ensino aprendizagem um tanto quanto fechado. Isto porque já está estabelecido e é pouco atraente, pois, na parte da manhã, é ofertada as disciplinas das áreas do conhecimento, e no turno da tarde, essa mesma carga horária é apenas ampliada.

Questionando uma das educadoras do tempo ela nos relata que:

Olha com a nova matriz curricular realmente ficou mais organizado, mas a grade horária continua cansativa, pouco atrativa e de certa forma nosso trabalho teve de ter mais planejamento por que, a ideia da tarde é ter atividades mais práticas, então na matemática precisamos buscar nos nossos planejamentos práticas com jogos, nas ciências fazer algo mais laboratorial e por ai vai, o problema é termos uma escola gigante, mas que não possui estrutura de laboratórios, por exemplo (EDUCADORA B).

Existe a intencionalidade da busca por parte dos professores desta escola pelo que a mesma oferece, educação nos ditames do tempo integral ou da ampliação da jornada. No entanto, ao questionar uma das professoras do tempo integral sobre se há ou não este trabalho de forma integral, integrada e integradora ela nos esclarece que:

Existe um formato novo que busca esta integralidade, por mais que o currículo está sob a forma de matrizes curriculares dentro das áreas do conhecimento, nós buscamos desde os planejamentos até a fala com os pais estabelecer um fazer conjunto, estar em contato com o que o aluno gostaria de fazer que ainda não foi feito (PROFESSORA C).

No que tange aos aspectos de integralidade ou de constituir a educação em tempo integral, integrada e integradora revisitamos o conceito de integradora trabalhado por Gadotti (2009) quando este relata a necessidade desta escola e de pautar o movimento de integralidade. Acerca da necessidade da integralidade da escola Gadotti (2009, p.32) nos remete a forma de integralidade a que a escola necessita:

A escola pública precisa ser integral, integrada e integradora. Integrar ao Projeto-Eco-Político-Pedagógico da escola as igrejas, as quadras de esporte, os clubes, as academias de dança, de capoeira, e de ginástica, os tele centros, parques, praças, museus, cinemas etc.

Como o tempo integral é uma modalidade que deve pautar suas características principais na comunidade onde está inserida a escola, a educadora relata que em determinados períodos do ano as atividades devem ser revistas para diversificar o currículo. Na observância podemos analisar que não há professores específicos para trabalhar com determinadas atividades, como por exemplo, a

música e, quando questionada sobre a banda, uma das educadoras relata que, os educandos do tempo integral não têm acesso à banda.

Na formação do educador, observamos a presença, em sua maioria de pedagogos, o que reduz a possibilidade de atender a diversidade de oferta de atividades das diferentes áreas do conhecimento. Existe a necessidade de aulas de artes diversificadas, ou seja, um trabalho dentro da área da música, desenho e plástica.

No quadro a seguir, podemos visualizar como as aulas estão estruturadas. QUADRO 2 ORGANIZAÇÃO DO TEMPO INTEGRAL DA ESCOLA

Segunda Terça Quarta Quinta Sexta Ano x E.Física Português Português Ciências Ciências Inglês Artes Artes E.Física Matemática Matemática Artes Ciências Ciências Artes Ano x Inglês Português Português E.Física Ciências Ciências Matemática Matemática Artes Ciências E.Física Artes Ciências Artes Artes

Fonte: Secretaria da Escola, 2018. Horário estabelecido para turmas dos anos inicias da Escola Estadual de Ensino Fundamental Luiz Fogliatto, Ijuí/RS.

Nossa análise parte de duas turmas de anos iniciais (1º ao 5º ano) participantes do tempo integral, escolhidas a partir de sorteio prévio. Constatamos que, o fato do educando não fazer trocas entre salas ou entre educadores, ele continua com uma subdivisão para organização do educador e para o educando ter acesso às áreas do conhecimento. Uma questão pertinente e que merece observância é no que diz respeito à área de ciências humanas que não consta na grade de horários.

Constam no horário as áreas das linguagens, ciências da natureza e matemática, com foco maior no tempo escolar. Questionada por que de não ter ciências humanas na matriz curricular, a Educadora C nos diz que todo o Programa já veio formatado da Secretaria Estadual de Educação e que apenas foram feitas as adequações necessárias no que se refere aos educadores e suas áreas de atuação.

É importante quando se amplia a jornada escolar, analisar a questão espaço – tempo e quais as alternativas que a escola pode abordar para ampliar aprendizagens e fazer da escola um todo em que a educação estabelecida, realmente seja integral e integradora, baseada em currículos mais amplos e plurais.

Sobre a dinâmica curricular Marques (1998, p.19) salienta a articulação de práticas e teorias para superar o estabelecido:

Na mediação da dinâmica curricular importa se articulem as práticas e teorias que mutuamente se informam e impulsionam, esclarecendo – se e assumindo sentido. Uma articulação que se faz em processo de superação do estabelecido e das práticas fragmentadas ou individualizadas e de que fazem parte momentos fortes de sistematização e certificação social.

Sobre o processo de avaliação externa, a educadora E salienta a preocupação quanto a ampliar tempos e espaços e ter que avançar em índices educacionais:

Nós temos que pensar que dentro da proposta do tempo integral agente temos a função de trabalhar o lúdico, aprendizado, e todos os saberes, ainda temos que nos preocupar enquanto escola pública com as avaliações externas, por que o tempo integral se enquadra nestas avaliações, então, os anos x,y e z participam de avaliações externas, isso dá um compromisso maior pra quem está gestando a escola, e mais ainda, nas questões do tipo, como uma escola em tempo integral não consegue bons resultados se as crianças ficam o dia todo e uma escola regular ficam um tempo só, então a gente fica nessa questão, a obrigação (EDUCADORA E).

A preocupação com as avaliações externas está no fato da escola ter sido questionada sobre seus índices que no ano de 2017 estavam em queda, em referência à meta da escola para seu IDEB que era de 4,2 conforme gráfico abaixo:

Ao ser questionada sobre os índices negativos da escola, a educadora E nos diz que houve mudança e que a queda nos gráficos não é uma característica única da escola Lócus da pesquisa e, sim, uma queda no Estado do Rio Grande do Sul.

Salienta ainda que:

Acho que agora a gente está conseguindo melhorar, esse foi o processo que a gente viveu e fomos questionados por isso, por que a escola regular os alunos estão melhores nessas avaliações externas, e a nossa escola que fica o dia todo com as crianças não ia bem, então tivemos que procurar o que estava acontecendo, onde tava o furo, realmente, claro que não é por que a criança está o dia inteiro aqui que tu vai massacrar ela e fazer ela sair daqui, não vamos voltar a idade da pedra, mas é uma questão a ser pensada, a matriz curricular inclusive da SEDUC foi feito remanejo muito em função disso, por que os números no estado diziam isso , não era somente a nossa escola, eram resultados do estado, e o que eu que vou dizer, assim ó, qualificou muito o trabalho sem tirar mérito, mas eu avaliando o tempo que estou aqui, eu sou área do conhecimento , o tempo integral de primeiro ao quinto, deve ser feito por professores com formação pedagógica especifica.

Dizer que a escola, por ser de tempo ampliado, tem o dever ou obrigação de melhora em seus índices é, no mínimo, não respeitar o processo de ensino aprendizagem do educando. Se os índices não são satisfatórios na visão governamental, devemos pensar nas estratégias trabalhadas neste currículo. Quando a educadora salienta acreditar em uma melhora após a introdução da matriz curricular observamos que, ampliar a jornada das áreas do conhecimento, como foi executado na escola, deve sim, melhorar índices a que os governos se preocupam salientando que, a maioria das avaliações externas é feita na ótica do aprendizado de línguas e matemática áreas estas que a escola mais ampliou carga horária.

A ideia de integralidade de currículos está ligada ao avanço de índices educacionais, pois, colabora para o ensino aprendizagem. Um exemplo que pode ser considerado significativo está presente nos planejamentos e o processo avaliativo sendo organizado a partir do diálogo entre os educadores. Porém, ainda há necessidade de abrir mais as áreas e fazer destas um meio de pesquisa por parte do educando e, consequentemente, do educador para que juntos possam ampliar seus saberes. Neste aspecto é importante escutar o que os educandos têm a dizer, é o que veremos no próximo ponto de análise.