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3 A CULTURA TERMAL EM DOIS CAMPOS ESPECÍFICOS:

3.5 O TERMALISMO EM NUEVA FEDERACIÓN, ENTRE RÍOS,

Neste capítulo, pretendo contrastar com Caldas da Imperatriz outra estação de águas termais, Nueva Federación (ilustrações 9 e 10), localizada na província de Entre Ríos, na Argentina, para mostrar como um mesmo recurso natural, a água termal, é capaz de gerar outras formas de exploração turística, com outros agenciamentos (como capacidade de modificar a estrutura, direcionando um olhar, sobretudo, para a intencionalidade dos sujeitos) e gerenciamentos (maneiras de administrar, econômica e turisticamente).

Ilustração 9 – Mapa das províncias argentinas

Ilustração 10 – Mapa da Província de Entre Ríos, onde se destaca a localização de Nueva Federación

Fonte: Google Maps.

Em Nueva Federación, existe um único parque aquático municipal, popular e barato. Ele fica no centro da cidade, ao lado da rodoviária, de modo que está inserido no tecido urbano daquela pequena cidade, o que já prenuncia outro tipo de relação com a população local, diferentemente do bairro turístico de Caldas da Imperatriz, considerado uma ilha, um anexo, em Santo Amaro da Imperatriz, isolado do restante do município, numa área com características ainda bastante rurais.

Os hotéis e pousadas de Nueva Federación, que existem em função da exploração turística do parque termal, ficam no entorno, ao redor das termas, que funcionam da manhã à noite, todos os dias. Os moradores da cidade pagam preços menores que os turistas para frequentá-las e, dentro do parque termal, no entanto, há um setor específico, uma espécie de spa exclusivo, onde uma massagem pode

custar o equivalente a 100 reais ou US$ 50 dólares (na época da pesquisa).

Neste local, você pode fazer uma máscara facial com champanha e caviar, uma das escolhas exóticas e que sinaliza a possibilidade de “distinção” mesmo dentro de um parque tão popular. O que menos interessa num parque termal, como já vimos, podem ser, justamente, as águas termais e, mais, o encontro entre os pares, a distinção promovida por aquele tipo de escolha de destino turístico, quando o relax provém de outras fontes que não especificamente as de água termal.

Em se tratando das águas, uma característica das termas de Nueva Federación é a temperatura delas, com sutis variações entre umas e outras, como de 40 para 41 graus. Na ocasião da visita à cidade, no final de 2012, começo de 2013, estava sendo inaugurada uma piscina com ondas, o parque ampliado com piscinas também de água fria, para uso no verão ou para que se possam alternar banhos frios com banhos quentes, como se fazia na fase ancestral das termas.

Conforme Ramírez (2008) na Argentina, em termos gerais, é possível reconhecer um processo similar ao europeu, na construção das termas. “Desde fins do século XIX começam a se estabelecer grandes hotéis termais (similares às estações termais europeias) como o de Puente del Inca, em Mendoza, Termas de Reyes, em Jujuy, ou o de Rosario de la Frontera, em Salta, orientados para grupos sociais mais bem acomodados. Posteriormente, se consolidarão novos destinos turísticos termais massivos como Río Hondo, na província de Santiago del Estero (fortemente vinculado ao turismo social e da terceira idade), e Carhue, na província de Buenos Aires; ou os exclusivos complexos termais de Caviahue e Copahue, na província de Neuquén, que constituem a oferta de equipamento termal mais reconhecida e consolidada do país.

A Argentina oferece mais de 30 centros de “águas terapêuticas” e, só na província de Entre Ríos, podemos encontrar as termas de Nueva Federación, objeto do presente estudo, mas também as termas La Paz, San José, Concórdia, Villa Elisa, Chajarí, Concepción del Uruguay, Colón e Gualeguaychú. Tive oportunidade de visitar quase todas, embora tenha concentrado a pesquisa de campo em Nueva Federación. Ramírez (2008) explica que é extremamente complexo o processo de como se dá a apropriação do recurso termal e a maneira como se exploram estes recursos na Argentina.

Um primeiro ordenamento pode ser estabelecido em função da cronologia em que surgiram os destinos termais na Argentina, desde o final do século XIX, quando começam a se estabelecer grandes hotéis termais, geralmente localizados ao longo da Cordilheira dos Andes. “São empresas privadas”, diz o pesquisador. “São grandes hotéis, que tendem a imitar a função e a estética das estações termais da Europa Ocidental do século XVIII”.

Esta configuração, conforme o estudioso, começa a mudar na década de 1990, quando os destinos termais emergem na província de Entre Ríos, onde Nueva Federación foi o destino precursor. A oferta de destinos termais continua a crescer e se consolida na primeira década do século XXI, quando o aproveitamento do recurso termal é configurado e se efetua em equipamentos denominados de parques termais.

Vão ser os parques termais o formato que se espalha não só na província de Entre Ríos, mas também na província de Buenos Aires, formando e moldando um novo tipo de uso da água, que difere dos destinos termais já estabelecidos (Termas de Río Hondo, por exemplo, na Cordilheira dos Andes).

Com relação à forma de propriedade e gestão dos parques, é um tema extremamente complexo e diversificado e não se trata de situá-los apenas como empreendimentos públicos (municipais, provinciais, nacionais) ou privados. Há, grosso modo, dois critérios, conforme Ramírez, para a apropriação e gerenciamento do recurso termal na província de Entre Ríos. Por um lado, temos que nos dar conta de quem assumiu as diferentes fases do aproveitamento do recurso (estudos de prospecção, de perfuração, construção dos equipamentos do parque e sua posterior gestão), uma vez que todos os parques (exceto o que fica em Concórdia) são municipais. Em alguns casos, houve, posteriormente, uma concessão a um agente privado (embora em alguns casos se estabeleçam sociedades anônimas e o município receba alguma porcentagem das ações, ou a gestão dos parques é transferida para uma instituição pública, como em Colón, onde o parque é administrado pelo Fundo de Pensões do Município).

Por outro lado, também podemos diferenciar as funções dentro de cada parque termal, já que muitos deles apresentam uma área de piscinas (e todo o equipamento para seu uso), algum spa (e este específico equipamento, em geral, é privado) e uma área contígua à das piscinas onde se constroem alojamentos. Este último aspecto é mais que complexo porque sua dinâmica é a imobiliária e há casos em que ocorra a concessão do parque, em que uma sociedade anônima administra a

área das piscinas, mas logo loteia e vende os lotes da área contígua a investidores privados, os quais constroem apartamentos para alugar.

Situação que se soma a uma nova complexidade, já que as áreas adjacentes às piscinas (mas que fazem parte dos parques termais) têm uma dinâmica diferente daquela do aproveitamento e controle do recurso termal e, consequentemente, do controle e gestão da área das piscinas, mas seu crescimento está diretamente vinculado ao “exitoso” funcionamento da área de piscinas.

Em suma, ainda conforme Ramírez, pode-se sintetizar a situação dos destinos termais da província de Entre Ríos em termos de propriedade do imóvel e da forma atual de sua gestão: Chajarí: o parque é de propriedade e gestão municipais. O prédio apresenta uma área adjacente que se está urbanizando a partir da venda de lotes, que o próprio município realiza. Nueva Federación: parque de propriedade e gestão municipais que não apresenta área adjacente com alojamentos. Concórdia: possui três parques termais, o mais importante e o primeiro a ser construído tem gestão privada (é o único da província de Entre Ríos onde todas as etapas foram realizadas de forma privada), ainda que, como o recurso é público, na realidade equivale a dizer que o parque termal é privado, porque o município lhes deu a concessão por 40 anos. Além disso, é o caso em que uma empresa gerenciava o uso das piscinas, mas, em seguida, vendeu lotes na área adjacente e as lojas foram construídas envolvendo vários investidores privados. O segundo parque é gerenciado e controlado pelo município e não tem área adjacente, enquanto o terceiro é na verdade um “spa hotel” e está prestes a ser inaugurado. Villa Elisa: parque termal construído pelo município que, em seguida, transferiu-o para uma gestão privada, uma sociedade anônima que destina 33% das ações para o município. Trata-se de um caso particular de parceria público-privada. O parque tem um hotel e cabanas ao lado, também produtos da venda de lotes na área. Colón: O parque é municipal, mas deu o direito de usar por 20 anos para o Fundo de Pensões do Município, por causa de uma dívida da administração anterior do prefeito com este organismo. O fundo age como uma empresa privada com fins lucrativos. O parque não tem uma área contígua com alojamento. San José: o parque é da cidade, mas também dado em concessão à iniciativa privada. O parque não tem uma área contígua urbanizada. Concepción del Uruguay: parque construído pela cidade, mas, em seguida, dado em concessão a privados. Ele é administrado por uma sociedade anônima. A área de piscinas e a área

adjacente estão sendo urbanizadas para dar lugar à construção de alojamentos e segundas residências (é mais um condomínio fechado que um parque termal). Gualeguaychú: dois parques termais. O mais recente é privado e muito semelhante ao de Concepción.

Ramírez se preocupa em especial com as problemáticas vinculadas à relocalização da cidade de Nueva Federación e à memória coletiva que se tem deste processo em articulação com a apropriação simbólica do recurso termal. As águas termais, ali, vieram depois, como problemática da população de Nueva Federación.

Neste caso, as águas minerais-medicinais se configuram como o recurso por excelência sobre o qual se apoia o crescimento econômico do lugar e sua consolidação como o destino termal de maior importância de toda a província. Trata-se de uma população com histórico de três reassentamentos, o primeiro deles ocorrido em 1847 (Patti e Catullo, 2001).68 Um século depois, o convênio binacional do projeto de

implantação da usina hidrelétrica de Salto Grande, assinado em 1946, foi outro momento marcante de Nueva Federación, porque a cidade permaneceu literalmente “paralisada” aos olhos da população local para, somente três décadas depois, em 1979, começar o “êxodo” para o reassentamento em uma cidade que estava ainda, literalmente, em construção.

A grande diferença entre Nueva Federación e Santo Amaro da Imperatriz, em termos de história, se situa em 1994, com a “descoberta” das águas termais que proporcionaram a transmutação de Nueva Federación, a partir de l997, na nova e esperançosa Cidade das Termas. A população teve um incremento de 15,6% na década de 1980, passando de 8.845 habitantes para 10.427.69 Em 2001, a população cresceu

27,9%, alcançando 14 mil habitantes e, em 2010, chegou aos 16 mil habitantes.70

68 As informações sobre Nueva Federación foram retiradas do estudo supracitado (CASTELLS, REIS, CATULLO, 2005), publicado no Cuadernos de Antropología Social n. 21, 2005.

69 Fonte: Censos Nacionales de Población y Vivienda.

70 Fonte: Dirección de Estadística y Censo de Entre Ríos – DEC-ER –, a partir de dados provisórios do Censo Nacional de Población y Vivienda 2010.

Ilustração 11 – Parque termal em Nueva Federación, Entre Ríos, Argentina

Ilustração 12 – Detalhe de uma das piscinas internas de Nueva Federación

Fonte: Dagoberto Bordin. No inverno, é possível fechar todas as portas de vidro e o local se transforma numa espécie de estufa.

Ramírez (2008) focaliza dois aspectos na construção de Nueva Federación como estação termal: o primeiro se refere à participação de setores da população no próprio processo de exploração do recurso termal – uma ação que veio “de baixo” – e a posterior construção e inauguração do parque termal. Ele analisa também os significados deste processo para muitos habitantes locais, que assinalam uma “positividade” ao crescimento do turismo termal como forma tanto de resistir como de “ressurgir” depois de haver atravessado sucessivos, traumáticos e tristes processos de relocalização.

Um poema de Martha Arias dá a dimensão da melancolia do povo que teve pela terceira vez que ser removido, uma história de deslocamentos e de desapego forçado:

Yo nací en un pueblo de calles tranquilas, en un manso pueblo de vida serena, donde fugazmente truncaban la siesta, solo el aleteo de las hojas

nuevas. Yo nací en un pueblo de enripiadas calles, donde cada hombre tenía su amigo, donde cada niño cuidaba su perro, donde se pescaban estrellas con hilos. Yo nací en un pueblo de la entrerrianía, en un viejo pueblo que alquiló una luna, para que en las noches, sobre el horizonte, le cantara al río canciones de cuna. Yo nací en un pueblo de arboladas calles, y de naranjales rubios como el trigo, que perdió su luna y apagó su estrella, y dejó enterrado todo lo que digo. Yo nací en un pueblo que murió vacío, y ofrendó su vida y ocultó sus playas y por el futuro ¡pobre pueblo mío! se rindió al progreso y se hundió en el río. Y por el futuro ¡ay... Federación! la gente te añora con el corazón.

Fonte: Imagens reproduzidas da exposição de fotos que há no Museo de la Imagen, na Cidade Velha e capturadas originalmente do relógio da igreja, a primeira em abril e a segunda em maio de 1979.

Ilustração 15 – A igreja, que foi parcialmente remontada em Nueva Federación

Fonte: Reprodução de fotografia encontrada no Museo de la Imagen.

O segundo aspecto se refere à análise dos vínculos entre o setor público e o setor privado em torno da dinâmica econômica e territorial do setor de turismo, tendo como resultado específicas formas de desenvolvimento socioeconômico e de produção do espaço urbano.71

71 RAMÍREZ, L. Turismo, naturaleza y territorio. El turismo termal en la

localidad de Federación (Província de Entre Ríos, Argentina). Dissertação de

mestrado em Desenvolvimento Turístico Sustentável, p. 13. Universidad Nacional de Mar del Plata, Facultad de Ciencias Económicas y Sociales, 1998.

Primeira perfuração termal da chamada Mesopotâmia Argentina, a água, no caso de Nueva Federación, não brota à superfície, como em Santo Amaro da Imperatriz, mas vem de uma profundidade de 1.260 metros, onde encontra o chamado aquífero Tacuarembó ou Guarani, o mesmo do qual se nutrem todas as termas no Uruguai e a maioria das termas no Brasil. Nas termas de Nueva Federación, as águas fluem na quantidade de 450 mil litros de água por hora a 43ºC de temperatura. O complexo fica localizado próximo do lago de Salto Grande, no meio de 2,5 hectares de florestas.72

Assim, é importante mencionar que, desde os inícios até a atualidade, as obras foram impulsionadas e executadas pelo governo municipal (em articulação com setores da população local). Esta situação conduziu a uma característica distinta do desenvolvimento turístico em Nueva Federación, quando comparado com Santo Amaro da Imperatriz, porque o complexo termal é propriedade do município, é administrado e gerido pelo município, que monopoliza a exploração do recurso termal na localidade, como também ocorreu numa das fases iniciais do processo de exploração do recurso termal em Santo Amaro da Imperatriz.

Em outras palavras, não ocorre em Nueva Federación o aproveitamento econômico do recurso em estabelecimentos privados, só há um poço de perfuração e só há um estabelecimento estatal que proporciona o usufruto das águas termais. Esta é uma característica central que organiza todo o restante da oferta de infraestrutura turística, que cresceu e se diversificou na medida em que o parque foi sendo incrementado tanto com relação à quantidade de visitantes recebidos como com relação à oferta de serviços, atividades e melhoramento de sua infraestrutura.

Uma de minhas informantes em Nueva Federación trabalha no setor de Turismo do município. Ágata garante que o turismo é a atividade que mais gera empregos em Nueva Federación atualmente73 e

explica também que, antes da inauguração do complexo termal, a população decrescia e que, agora, a população voltou a crescer.

72 Como no caso de Santo Amaro, trata-se de uma espécie de reserva ecológica. Mais em: www.argentinaturismo.com.ar/federacion/termas.php e http://turismo.perfil.com/4687-argentina-termal-de-punta-a-

punta/termas_turismo_1_61211.

Em termos de acomodação para os turistas, ela descreve: “A cidade tinha 50 leitos e hoje tem 5 mil. Isso em menos de 15 anos!”, comemora. “A maioria dos turistas vêm de Buenos Aires”, especifica. Ela acredita que os novos moradores encontram em Nueva Federación valores que, nas grandes cidades, estão perdidos: a segurança, a liberdade. “Nossos filhos podem ir para a escola sozinhos, de bicicleta”, assegura. “Têm este privilégio de crescer num lugar pequeno, porque a liberdade individual e a segurança são temas complexos nas cidades grandes”. Ágata explica que chama muito a atenção dos visitantes a limpeza da cidade de Nueva Federación. “Cada casa tem esses jardins em frente. As pessoas vêm para fazer turismo e, depois, acabam ficando, veem oportunidades de negócios, de hotéis, de restaurantes”.

É por isso que o turismo, como atividade, é a primeira geradora de emprego em Nueva Federación, superando, juntas, a indústria de madeira (as serrarias), a citricultura e a apicultura.74 O turismo é o

responsável direto pelo crescimento populacional de Nueva Federación – de 100%, em 16 anos (de 10 mil habitantes, em 1995, para 20 mil, em 2011).

É também o responsável por obras complementares levadas a cabo por governos provinciais e/ou municipais e tem contribuído com a educação, a cultura geral, as relações sociais da comunidade local. Permite, ainda, o conhecimento de outras culturas, num impacto favorável dada a inserção laboral de pessoas com pouca capacitação. Por último, conforme a especialista, o turismo permitiu a instalação de uma sede universitária (Facultad de Ciências de la Gestión – Universidad Autónoma de Entre Ríos, subsede Federación).

O aluno pode se formar em hotelaria e terá grande chance de ser empregado. O turismo estimula o embelezamento das casas e da cidade porque, com a crescente afluência de turistas, é notável como a própria população se estimula a fim de manter limpas as suas casas e ruas.

74 Pesquisa realizada por Noralí Wallingre, da Universidad de Quilmes, Buenos Aires, para a Secretaría de Turismo de Nueva Federación. O texto tem como título “Repercusión Económica y Social del Turismo em Federación” e foi publicado em novembro de 2011.

Ágata é natural de Nueva Federación, vem de uma família de comerciantes e, quando surgiram as termas, a família passou a trabalhar com turismo, em um hotel. Ela foi gerente deste hotel durante 15 anos. “A Secretaria de Turismo até então era ocupada por ser um cargo político”. A exceção, ela conta, foi um médico que estudava termalismo e chegou a ser titular da pasta.

Uma das metas de Ágata é transformar a Secretaria de Turismo em Secretaria de Turismo e Meio Ambiente. “Vamos recuperar os 22 hectares de reserva de Chaviyú, ao sul da cidade, onde ainda há vegetação nativa, porque o represamento do rio acabou com a vegetação e o ambiente natural foi totalmente modificado”. A reserva de Chaviyú será zoneada para que não se retirem mais mudas nativas, e uma área vai ser habilitada para camping, onde já estão sendo construídos banheiros e fogões.

Com relação aos demais patrimônios, além do complexo termal e da reserva de Chaviyú, minha informante comenta que a represa que submergiu a cidade antiga é hoje, também, uma atração turística e um patrimônio – muita gente faz piquenique e churrasco nas margens do lago e é possível, em alguns pontos, tomar banho na represa e praticar esportes náuticos. Em Nueva Federación, uma cidade inteira submergiu com suas memórias por causa de uma represa e agora esta mesma represa passa a constar como atração turística e faz parte de um patrimônio histórico local, um patrimônio de certa forma “natural”, também, já perfeitamente integrado à paisagem. Não deixa de ser paradigmático que se instale uma represa gigantesca onde antes não havia água e isso, com algum tempo, passa a constituir uma paisagem vista como natural.

Em Nueva Federación, o parque termal é considerado um patrimônio da municipalidade, ao mesmo tempo em que ocorreu a turistificação da represa. Involuntariamente. Poderíamos nos indagar se se trata de um contra-uso75 da represa porque, às margens dela,

formaram-se espécies de praias hoje tão ou mais importantes e populares em termos de turismo para Nueva Federación quanto o próprio parque termal.

75 PROENÇA LEITE, R. Contra-usos e espaço público: notas sobre a construção social dos lugares na Manguetown. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 17, n. 49, junho/2002.

São outras águas de banhar, as algas em algumas épocas do ano se proliferam em diversos pontos, trata-se, no caso, de águas frias e com