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1 O Território Espanhol

No documento Vidro Pre Romano Norte Portugal (páginas 91-94)

Relativamente ao território espanhol, os dados existentes não são muito mais abundantes do que os existentes para o território português. No entanto, Encarnación Ruano (Ruano, 1996), no seu trabalho relativo às contas de Ibiza y Formentera apresenta um quadro geral da distribuição deste tipo de artefactos em todo o território espanhol, para além de um quadro tipológico dos materiais e quadros adicionais com a distribuição de cada tipo individual e algumas considerações sobre a sua cronologia com base nos paralelos conhecidos.

No mapa geral de distribuição dos materiais apresentado (Est.2, fig.2), bem como nos restantes, verifica-se a existência de algumas regiões a branco, sendo que, como bem apontou Carlos Fabião (Fabião, 2001: 205), “…as distribuições, presenças e ausências

(…) (sobretudo estas últimas)…”, documentam, certamente, o estado dos

conhecimentos sobre o assunto à altura da realização do estudo. Em todo o caso, as regiões em que se verifica a ausência de contas de vidro pré-romano são as seguintes: Galiza (Lugo e Ourense); Asturias; Castilla y León (León, Zamora, Salamanca, Palencia

e Burgos); Cantábria; País Basco; La Rioja; Navarra; Aragão (Huesca e Teruel) e Castilla La Mancha (Guadalajara, Toledo e Ciudad Real).

Do ponto de vista formal a autora identifica oito “tipos” de contas no território: anulares, esféricas, cilíndricas, gomadas ou aos gomos (agallonadas), fusiformes, bicónicas, elipsoidais, espiraliformes, em forma de coração (acorazonadas) e toneletes, com cronologias para o conjunto que oscilam entre finais do séc. VII e o século II a.C., havendo que ter em conta a perduração deste tipo de materiais no registo arqueológico.

O trabalho de Ruano tem uma grande limitação que reside no facto de apenas tratar a questão das contas de vidro, não abordando a distribuição e características dos vasos vítreos que, como vimos, circularam ao longo da proto-história, servindo, essencialmente, como contentores para perfumes, unguentos e óleos.

No que concerne às contas de vidro com cronologias mais antigas, encontradas no território espanhol, estas parecem ser enquadráveis nos finais da Idade do Bronze e foram, pela primeira vez, estudadas por Rovira (Rovira I Port, 1994). Mais recentemente, Aurora Martín (Martín, 2005), num trabalho que incidiu, precisamente, sobre a área catalã, actualizou os dados apresentados por Rovira. Considera esta autora que os materiais vítreos com cronologias do Bronze terão, na sua maior parte, chegado à Península Ibérica por via mediterrânica, mas não descarta, relativamente a alguns materiais, nomeadamente, os encontrados em regiões mais interiores da Catalunha e na zona pirenaica, que os mesmos possam ter chegado por via continental a partir do território francês. Estes materiais com cronologias mais antigas são, no entanto, muito escassos e segundo a mesma autora, só a partir do século VI a.C., já na Idade do Ferro, é que se verifica uma generalização dos achados vítreos na região, a par de outros em

faienza, com destaque, a nível quantitativo, para a colónia grega de Ampúrias (Martín,

2005: 29).

Os artefactos vítreos encontrados na área catalã dividem-se nas duas categorias principais: as contas de colar, amuletos e pulseiras e os vasos contentores de cosméticos, óleos e perfumes. A par destes surgem outros, de cariz mais

destaca a presença, no conjunto, das pulseiras de vidro, ditas “celtas”, originárias do mundo centro-europeu do séc. III a.C..

Os vasos em vidro para perfumes encontrados nas necrópoles ampuritanas têm datações que oscilam entre o último quartel do século VI e os finais do século V a.C., sendo habitual a sua presença nos espólios funerários ampurdaneses.

As contas oculadas e os amuletos moldados sobre vareta que se encontram com regularidade em Ampúrias, são também muito mais escassos nos sítios indígenas. O modelo de amuleto mais comum é o da cabeça masculina com barbas, estando presente, para além de Ampúrias, num exemplar do Oppidum de Sant Juliá de Ramis e noutro de El Brul. Pela sua tipologia serão peças provenientes de oficinas cartaginesas (Seefried, 1982). Também se verifica uma cabeça bifronte em vidro azul (Oppidum de Sant Andreu de Ullastret) semelhante a outra de Puig des Molins de Eivissa (Carreras, 2003), peças, também elas, de origem mediterrânica.

As, já referidas, pulseiras célticas também surgem no séc. III em vários sítios do Nordeste catalão.

Para a área da Estremadura destacam-se os trabalhos de Jimenez Ávila (Jiménez Ávila, 1999) relativos à Necrópole de Pajares (Villanueva de La Vera, Cáceres), onde foram exumadas mais de trezentas peças em vidro. O espólio de Pajares é particularmente signifcativo pois, tratando-se de uma área de fronteira com o território nacional, fornece uma base comparativa para alguns dos materiais encontrados nos sítios portugueses, particularmente, no Alentejo e nas Beiras, para além de revelar a existência de grandes concentrações de peças de vidro em regiões muito interiores. Destaca-se a presença de vinte fragmentos de vasos de vidro numa das maiores concentrações deste tipo de peças a nível peninsular.

Ainda relativamente ao vidro pré-romano espanhol destacaríamos um artigo de González Ruibal (González Ruibal, 2004) em que, a propósito do achado de um askós púnico de Ibiza, datado do século III a.C., o autor faz uma reflexão sobre a presença púnica na costa norte-ocidental atlântica da Península, em que apresenta um mapa com

o levantamento dos materiais de origem mediterrânica encontrados no Noroeste Peninsular, designadamente, na área correspondente ao Norte de Portugal, à Galiza e às Astúrias, em que inclui os achados vítreos, designadamente, contas de colar (Est.4, Mapa 4). O autor indica, para o território galego e asturiano, um total de vinte sítios com ocorrência de contas de vidro, para além de cinco sítios no território português.

No documento Vidro Pre Romano Norte Portugal (páginas 91-94)