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Ao longo de sua história, o homem foi mudando o ecossistema para satisfazer as suas necessidades. Essas mudanças trouxeram impactos devastadores na natureza, causando muita destruição e levando a extinção de muitas espécies de animais e vegetais. A partir da segunda metade do século passado, todos os seres que constituem o meio ambiente começaram a sentir as graves consequências desses impactos. Dalton (2005) chega à conclusão que o ativismo verde seria um movimento global, com fortes conexões entre as nações, independente de se tratar de democracias mais desenvolvidas ou não.

sobre o Meio Ambiente Humano, onde pela primeira vez foram deba- tidos problemas políticos, sociais e econômicos, do meio ambiente global. A partir das demandas desse encontro, foi criado o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA). Sendo que em todo mundo, dezenas de ONGs começaram a agir de forma mais entu- siasmada em defesa da natureza. Na percepção de Boeira (1998, p. 82) “a partir do inicio da década de 1970, o ambientalismo foi visto nos Estados Unidos como grupo de pressão ou grupo de interesse”.

O período entre o início da década de 1970 e os anos de 1980, foi um dos mais devastadores para o meio ambiente natural em Sergipe. Os mangues da cidade de Aracaju – Capital do Estado de Sergipe, praticamente acabaram, principalmente pelo surgimento de políticos com fortes ligações com as empresas de construção civil, sendo que João Alves2, engenheiro civil, é a principal liderança política durante

o período em Sergipe, teve seus negócios envolvidos diretamente a construtoras, sendo sua família inclusive dona de uma das maiores construtoras da década de 1980 e 1990 (Habitacional Construtora). Bairros da cidade de Aracaju (capital do estado), como Atalaia, Coroa do meio, Orlando Dantas, Augusto Franco, 13 de julho e Farolândia, surgiram do aterramento dos mangues. Os grandes grupos econô- micos, que tiveram os políticos do primeiro escalão como os seus principais parceiros, dominaram e controlaram o espaço urbano,

2 Atual prefeito de Aracaju, ele iniciou sua carreira política partidária assumin- do a prefeitura de Aracaju (1974-1977), ganhou as eleições para governador em 1982 e foi nomeado Ministro de Estado do Interior pelo Presidente José Sarney em 1987. Ganhou novamente as eleições de 1990 e em 2002 para o governo do Estado de Sergipe.

transformando verdadeiros santuários ecológicos, em zona de disputa geoeconômica, através da especulação imobiliária.

A partir da década de 1970 os jornais sergipanos documenta- ram conflitos ambientais entre movimentos populares e grandes empresas, como é o caso da disputa entre os moradores de um bair- ro de Aracaju e a fábrica de Cimentos Portland. Pode-se dizer que a própria necessidade de manutenção do sistema capitalista instalou uma “cultura” voltada para o consumo e normatizou ações que gera- ram uma destruição indireta do meio ambiente. Em Sergipe, um caso importante para discussão foi a criação do bairro Jardins, localizado em área nobre da cidade, criado no final da década de 1990, o bairro é uma das áreas mais exploradas economicamente da cidade. A corrida imobiliária gerou uma grave exploração da área. Nesse bairro, ante- riormente existia uma forte incidência de mangues, e existia uma razoável reserva chamada de Parque Tramandaí que foi basicamente destruída pela intervenção do homem. A área deu lugar a um templo do consumo moderno, com a criação do principal Shopping Center do Estado (Shopping Jardins).

Em bairros elitizados da capital de Sergipe, a infraestrutura auxi- liou bastante o surgimento de novos empreendimentos comerciais, que ainda aumentaram o prejuízo para o ecossistema. Nas três déca- das da pesquisa, pôde-se observar que esse foi o período mais crítico do meio ambiente em Sergipe, o que reforça um pensamento de Porto Gonçalves3 em uma palestra realizada em São Cristovão, em abril

de 2011. Na opinião do intelectual, “foi justamente no período em que se mais falou do meio ambiente, que ele foi mais destruído”. No

Estado de Sergipe, a especulação imobiliária em todo o Estado, ocasio- nou uma expansão urbana sem o menor planejamento. As dunas, as praias, os mangues, e a restingas, sofreram bastante nesse período.

Na cidade de Aracaju, nas últimas décadas, uma grande quantida- de de projetos arquitetônicos de infraestrutura e industriais, que são emersos em uma corrente de interesses, foram implantados e projeta- dos para a região. Se esses empreendimentos, por um lado, são legiti- mados pelas administrações municipais por possibilitarem aumento de arrecadação nos orçamentos municipais e promessas de aumento na oferta de empregos, por outro lado, levantam uma série de preo- cupações entre entidades ambientalistas e demais atores sociais e institucionais em relação aos novos impactos e riscos ambientais numa região de alta vulnerabilidade do ponto de vista ambiental, através da visão de alguns autores como (ALMEIDA; RIBEIRO, 2006, ALMEIDA, 2008; OLIVEIRA, 2005).

De um lado, bairros cada vez mais luxuosos destruíram o que restava do ambiente natural, por outro lado áreas menos valorizadas, como o Lamarão, Terra Dura, Orlando Dantas crescem como favelas onde o esgotamento sanitário é realidade para a população. Surgiram também os problemas oriundos da carcinicultura (viveiros de produ- ção de camarão para exportação), que acabaram com mais de 90% da produção pesqueira de mariscos e crustáceos nos manguezais sergi- panos, sendo que atualmente o principal atrativo turístico sergipano, o caranguejo, praticamente deixou de existir no Estado.

Outra área importante para entender um pouco do descaso com o ambiente em Sergipe na ótica de Melo e Souza, Costa e Oliveira (2008), foram os problemas que surgiram no Ibura (Nossa Senhora do Socorro) e na Serra de Itabaiana no estudo de Morales (2011), além

do começo da expansão desordenada para praias do Litoral Norte como Atalaia Nova e Pirambu4, e a especulação nas praias do Litoral

Sul principalmente nas Praias do Saco e Abais.

Outro ponto crítico do desrespeito ambiental é o crescimento desordenado da cidade de Nossa Senhora do Socorro, que está situada no Vale do Cotinguiba, ficando no litoral sul de Sergipe, fazendo fron- teira com as cidades de Aracaju, Laranjeiras, São Cristóvão e Santo Amaro das Brotas. A cidade de Nossa Senhora do Socorro, tem poten- cialmente diversos problemas que trazem à tona uma realidade muito parecida com outros Estados. Devido ao exorbitante preço de aluguéis de casas e apartamentos na região metropolitana de Aracaju, cidades como Nossa Senhora do Socorro, Laranjeiras e São Cristovão, servem de moradia para pessoas que trabalham na capital. Essas cidades comu- mente são chamadas de cidades dormitório, e acabam tendo diversos problemas de infraestrutura e total descaso com a questão ambiental. A partir de toda essa problemática apresentada que resume uma parte dos desafios ambientais do estado de Sergipe, buscou-se primeiramente neste trabalho, analisar de forma mais específica, o surgimento e fortalecimento dos movimentos ambientais no Estado de Sergipe, perpassando pela caracterização de instituições ambientais que tiveram maior atuação no período histórico, compreendido entre 1983 até o ano de 2011. Desta forma, pretendeu-se realizar um estudo de caso com ONGs, Institutos ou OSCIPS que tiveram

4 Pirambu é uma cidade fundamental para entender um pouco da dinâmica da luta ambiental em Sergipe, é um terreno fértil para discussões relacionadas com o meio ambiente, pois a cidade tem uma geografia muito favorável, está localizada no li-

atuação destacada em Sergipe e só então buscou-se identificar as suas principais lideranças.

4 AS PRICIPAIS LIDERANÇAS AMBIENTAIS EM