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Românticos, Práticos ou Estratégicos

Matheus Pereira Mattos Felizola Fernando Bastos

RESUMO

Este estudo esteve voltado para a identificação e caracte- rização do perfil das lideranças ambientais mais influentes nas três últimas décadas em Sergipe. A partir de um projeto “mãe” intitulado “A Trajetória dos Movimentos Socioambientais em Sergipe - Personagens, Instituições e Estratégias de Comunicação”, foipossível identificar o histórico, os arranjos e os anseios dos principais líderes ambientais. A partir de nove entrevistas em profundidade com líderes de grupos relevantes para a discussão ambiental no Estado, da avalia- ção da estrutura de diversas entidades ligadas ao meio ambiente e da análise dos principais jornais em circulação em Sergipe, chegou-se a conclusão de que muitas lideranças permaneceram na ‘ativa” durante as três décadas estudadas, traçando caminhos em ONGs, Empresas Particulares e na Esfera Pública.

Observou-se ainda que as lideranças em Sergipe são mais visíveis e importantes do que as próprias entidades que eles representam e que os arranjos políticos e as estratégias de inserção de mercado

Palavras-chave: Meio ambiente. Lideranças. ONG. OSCIP.

1  INTRODUÇÃO

Torna-se complexo identificar os próprios interesses que estão por trás do movimento social no Brasil, mais complexo ainda é anali- sar o perfil das suas lideranças, pois se trata de homens que tive- ram atuação simbólica dentro de um espaço específico de tempo e representaram uma função essencial dentro de um grupo e que também buscavam sua própria vocação em outras atividades profis- sionais, como observado em Creado (2011), Graeml e Bittar (2007) e Herkenhoff (1995).

Bourdieu (2004) parte da “divisão” do poder simbólico, a luta das classes e do que o autor chama de “frações” ímpeto para transforma- ção do mundo social (ambiental e humano) de acordo com os próprios interesses, a partir desse jogo ideológico e de posicionamento rela- cionado ao ser ou estar ambientalista. Essas lideranças em momentos específicos da vida focaram todos os seus esforços no planejamento estratégico das próprias organizações que fundaram, mas em outros momentos estiveram mais envolvidos com os seus próprios interesses pessoais. Partindo dessa perspectiva Tres (2006, p. 74) analisa que:

[...] nesse sentido a militância supera a ciência e na luta constante do dia a dia permite que os atores sociais, sujeitos, muitas vezes tratados como obje- tos, que compõem a massa explorada da popula- ção, lancem seus gritos, na defesa de seus direitos, em favor dos oprimidos, buscando uma vida digna

Sendo um dos objetivos específicos da pesquisa, que resultou em uma tese em 2012 intitulada “A Trajetória dos Movimentos Socioambientais em Sergipe - Personagens, Instituições e Estratégias de Comunicação”, a identificação do perfil das lideranças ambientais em Sergipe, baseando-se em todo o percurso pessoal e profissional, durante sua atuação na área ambiental, partindo de uma perspectiva do campo simbólico em que Bourdieu (2000) fundamenta sua teoria, a partir da junção entre os poderes econômicos, políticos, culturais. A maior parte dos entrevistados são pessoas que estiveram presentes nas três décadas estudadas e por isso tornou-se fundamental enten- der o caminho que levou esses lideres a continuarem discutindo a questão ambiental. Muito mais do que um roteiro meramente histó- rico, procurou-se através das entrevistas, provocarem as lideranças a fazer reflexões sobre o papel do ambientalista em Sergipe.

2 METODOLOGIA

Optou-se por investigar as principais lideranças, ou “as“ prin- cipais lideranças quando dentro de um movimento organizado existia mais de um elemento com força e poder de decisão. Pessoas que ocuparam posições de destaque no movimento, e que estive- ram envolvidas com a questão ambiental durante a maior parte das suas vidas. Essa perspectiva de continuidade foi fundamentalmente importante para o “corte” da pesquisa, pois grupos que tiveram uma grande importância dentro da história ambiental, como a Associação Sergipana de Proteção Ambiental ASPAM 1983-1998 e o Movimento

Popular Ecológico-MOPEC (1991) tiveram o seus líderes perpassando por vários momentos históricos diferentes.

De forma transversal, foram entrevistados também diretores de ONGs, funcionários de empresas públicas e privadas que tive- ram ligação direta com o movimento, professores envolvidos com o ambientalismo, políticos do PT e PV, jornalistas que enfocavam as questões ambientais em suas pautas, essas entrevistas, chamadas de transversais, serviram para entender um pouco dos “outros ambien- talismos”, a partir da concepção de Viola e Leis (1992), dividindo-se em: o ambientalismo governamental, ambientalismo dos cientistas, ambientalismo empresarial e o ambientalismo dos educadores, a partir da visão dos autores.

Em relação à investigação, partindo da percepção de que

[...] a finalidade real da pesquisa qualitativa não é contar opiniões ou pessoas, mas ao contrá- rio, explorar o espectro de opiniões, as diferen- tes representações sobre o assunto em questão (BAUER; GASKELL, 2002, p. 68).

Os dados reproduzidos na tese foram as expressões mais impor- tantes de cada entrevista, que foram subjetivamente interpretados pelo pesquisador, a partir das informações repassadas.

Foram então investigadas as lideranças da Associação Sergipana de Proteção Ambiental ASPAM 1983-1998, o Movimento Popular Ecológico – MOPEC (1991-) e o movimento Pensar Verde1, que nunca

foi registrado, mas que teve participação fundamental na segunda metade da década de 1980 e início da década de 1990, principalmente por ter sido o embrião do Partido Verde no Estado de Sergipe.

A pesquisa não se limitou apenas a estudar esses “três” movi- mentos, avançando o estudo para outros grupos de grande reper- cussão estadual: O Instituto Árvore (2003), Organização água é vida (1998), Sociedade Semear (2000) e o Movimento ciclo Urbano (2007), ADCAR – Associação Desportiva, Cultural e Ambiental do Robalo e OSCATMA/BC e a Organização Sociocultural Amigos do Turismo e do Meio Ambiente da Barra dos Coqueiros/SE. Dentro ainda da percep- ção de Viola e Leis (1992), o ambientalismo religioso não foi inves- tigado e o ambientalismo socioambiental ganhou uma importância fundamental no trabalho, pois algumas ONGs investigadas podem ser enquadradas nesse formato, embora o ambientalismo não seja seu único foco de atuação. O foco específico foram os estudos de casos múltiplos, onde foi possível examinar acontecimentos contem- porâneos e sua capacidade de lidar com uma ampla variedade de evidências científicas, e pela possibilidade da comparação entre as diversas realidades.

Essa atuação específica de outros investigadores aconteceu na pesquisa com o senhor José Waldson do Ciclo Urbano e com o senhor Genival Nunes, fundador da ASPAM e secretário de meio ambiente e recursos hídricos em Sergipe em 2011. Alguns entrevistados não foram citados na pesquisa, pois não trouxeram grande contribuição na análise dos objetivos da mesma, embora, de forma adjunta, tenham ajudado bastante na análise.

Basicamente foi solicitado um perfil geral do entrevistado (Nome completo, endereço atual, ano de nascimento, estado civil, lugar de

nascimento, escolaridade e qual a sua ligação com o movimento). As perguntas tendiam a levar o entrevistado a contar um pouco da sua história como ambientalista. Algumas dúvidas que surgiam foram tiradas através do telefone ou mesmo de emails. Esse formato de envio foi importante também, pois acabou gerando uma reflexão mais formalizada dos entrevistados. Quando a análise da liderança não alcançava o objetivo pretendido, buscavam-se outras lideranças dentro do próprio movimento, ou mesmo lideranças que de alguma forma travavam, disputas internas dentro da organização.

As questões abordadas nos roteiros de entrevistas foram deriva- das da análise dos três principais conceitos nos quais a pesquisa se baseou, ou seja, impactos ambientais, conflitos e movimentos sociais.