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O texto dramático

No documento Livro de Literatura Hispânica I, 2013 (páginas 91-95)

O texto dramático é um gênero literário particular, que se orienta para a atividade teatral, ou seja, para ser encenado por atores e, frequen- temente, dirigido por um diretor teatral. Apesar dessa primeira orienta- ção para a encenação do texto dramático, num palco de teatro ou fora dele, há textos dramáticos que podem ser orientados apenas para a leitu-

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ra. A palavra teatro guarda a marca de sua raiz grega que significa “olhar”, e se define pelo fato de “mostrar” um mundo de convenções nas quais os atores interpretam personagens e emprestam suas vozes e seus gestos para dar vida a um texto. A palavra teatro se aplica, também, ao conjunto das atividades ligadas à arte dramática e ao espaço destinado às repre- sentações teatrais; ao teatro como lugar onde se realizam os espetáculos. No teatro, há um intermediário entre o texto escrito pelo autor e o espectador: o ator diz e encena o texto, ele interpreta, guiado, frequen- temente, por um diretor teatral. O teatro advém de uma convenção, da ilusão dramática, pois que os atores encenam a vida, encarnando os per- sonagens de papel. Um dos encantos do teatro reside nesta encarnação efêmera, alcançando a arte pelos artifícios da encenação dramática.

Ligado a lugares específicos, o teatro tornou-se, após suas origens sa- gradas e religiosas, uma atividade de divertimento coletivo, marcada pelo efêmero, posto que se trata de um espetáculo vivo, com a presença dos corpos dos atores, ajudados pela escolha da indumentária, da composição do espaço a ser encenado, do uso de máscaras, maquiagens e todo o con- junto do aparato cênico que caracteriza o teatro desde seu surgimento.

Para a literatura, o texto dramático possui certas características bem específicas de enunciação, que o definem como gênero literário. A enunciação teatral pode ser definida como tendo duas vertentes básicas: os textos para ler e os textos para dizer. Na categoria dos “textos para ler”, o que os caracteriza como texto dramático são elementos como a lista de personagens, com seus nomes, as informações concernentes à situação social e familiar de cada um, e seus laços e características de relaciona- mento com outros personagens no texto. Há, também, frequentemen- te, a distribuição dos papéis no momento da primeira representação, e as chamadas “didascálias”, que são todas as informações e instruções concernentes ao ambiente onde se desenvolve a ação dos personagens – além disso, elas descrevem a cena e o entorno dos personagens envol- vidos naquele momento da ação, bem como podem informar acerca do comportamento figurado pelos gestos dos personagens. A didascália é mais ou menos importante no texto dramático, dependendo da época e do estilo do dramaturgo que escreve a peça teatral.

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A didascália pode, portanto, surgir como algumas pala- vras num texto dramático do século XVII, até indicações cê- nicas detalhadas sobre a decoração, as luzes, a indumentária, os gestos, os deslocamentos e as entonações que devem exe- cutar os atores, como em peças do século XX, de dramaturgos como Ionesco. Outro exemplo, também, é o caso limite de uma peça sem falas, como Ato sem fala, do escritor e dramaturgo irlandês Samuel Beckett (1906 – 1989), que desenvolve todo o texto sem falas dos personagens, não comportando a não ser didascálias. A obra publicada indica, também, a separação em cenas, atos ou quadros.

Os textos podem ser mais ou menos elaborados, compor- tando diversos gêneros (como o alexandrino clássico na Com-

media dell’arte), e se endereçando a um interlocutor (um outro

personagem ou a ele mesmo) e, ao mesmo tempo, ao espec- tador. Os textos podem ser sublinhados para efeitos de voz e para orientar o jogo próprio à encenação dos atores. Define-se

essa particularidade pela expressão de “dupla enunciação”, que lembra que o teatro é um mundo de convenções e de artifícios, como indica o procedimento do “aparte”, destinado somente ao público.

O texto do teatro indica, portanto, diferentes modos do discurso dramático, como o discurso direto, em verso ou em prosa, destinado à comunicação oral. O “diálogo” opera a conversação entre os personagens, feito através de “réplicas” de durações diversas, desde uma conversação viva por versos e frases curtas que respondem ao interlocutor, às réplicas longas e elaboradas que constituem “tiradas” ou declamações. Quando o personagem está só na cena (ou se pensa só) e se exprime, trata-se de um monólogo. Este tem por função a informação do espectador e a introspec- ção do personagem que encena consigo próprio. O canto pode se misturar à fala, como a dança aos gestos, como nas “comédias-ballets” criadas por Molière, representando assuntos contemporâneos da época e apresentan- do personagens comuns da vida cotidiana. Ou ainda, nas “operetas” ou nas “comédias musicais”, nas quais o texto é essencialmente um pretexto.

A ação teatral é analisada, tradicionalmente, com o auxílio de ter- mos-chave, adaptados das obras clássicas.

A Commedia dell’arte foi uma forma de teatro po- pular improvisado, cujas apresentações eram feitas em ruas e praças públicas, que surgiu na Itália do sé- culo XVI, como oposição à “Comédia Erudita”. Desen- volveu-se, posteriormente, na França e se manteve popular até o século XVIII, existindo até os dias de hoje através de alguns gru- pos teatrais.

Figura 22 - Eugène Lonesco

Fonte: http://www.gstatic.com/ hostedimg/368d019e8b3ee9ff_landing

A organização em atos, que corresponde, desde a origem, aos momentos sucessivos da ação, mas que corresponde, igualmente, a necessidades técnicas, como antigamente a troca das velas que funcionavam como luminárias, ou a mudança das indumentá- rias, enquanto que a organização em cenas se refere à entrada de um personagem, mas também, frequentemente, às saídas de cena.

A exposição, que é a apresentação direta e indireta dos persona- gens, das circunstâncias e da situação de crise.

O conflito e as peripécias, que são os diferentes eventos que so- brevêm com o problema da verossimilhança, e que constituem, por vezes, “reviravoltas da peça”, situações inesperadas.

O desfecho, que deve ser completo e natural, mesmo que os atores tenham recorrido, às vezes, ao “deus ex machina”, ou seja, a uma so- lução artificial pela intervenção de uma força exterior (como tam- bém ocorre com bastante frequência, como sabemos, em muitos desfechos de filmes e histórias veiculados no cinema e na televisão).

A análise moderna percebe, muitas vezes, a ação teatral, aplicando o esquema “actancial” da “busca” de um objeto por um sujeito. Um perso- nagem, o herói (muitas vezes o protagonista), levado por motivações in- teriores profundas ou por necessidades exteriores (o destinatário ou emis-

Figura 23 - Encenação de Dias Felizes, de Samuel Beckett

Fonte: http://jameswaites.ilatech.org/wp-content/uploads/2009/11/calshakes- -happy-days.jpg

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sor), ajudado por coadjuvantes e interpelado por opositores (personagens ou eventos), age com uma finalidade definida (a busca) para atingir um objetivo (o objeto) para um beneficiário (o destinatário), que pode ser ele mesmo ou um outro (ou um ideal). E os papéis dos vários personagens nesse esquema, é importante lembrar, podem ser acumulados por um só personagem, dependendo do texto teatral que é desenvolvido na peça.

5.3 Breve história dos autores dramáticos

No documento Livro de Literatura Hispânica I, 2013 (páginas 91-95)