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O trabalho de alfabetização em uma sala de 2º ano do Ensino Fundamental I –

No ano de 2015 me foi atribuída a turma 2º ano A, sendo esta composta por todos os alunos dos primeiros anos, do período da manhã, que não haviam sido alfabetizados. Estes alunos apresentaram como primeira sondagem as seguintes hipóteses: 4 alunos pré-silábicos, 7 alunos silábico sem valor, 14 alunos silábico com valor e nenhum aluno nas hipóteses silábico alfabética ou alfabéticos.

Gráfico 1: Hipótese de escrita dos alunos do 2º ano A, referente à primeira sondagem, realizada em fevereiro de 2015

Embasada nas expectativas de aprendizagem, ainda referidas ao primeiro ano, os alunos desta série encontravam-se de certa forma em defasagem, visto que nenhum deles apresentava hipótese alfabética. Desta forma, iniciei o trabalho de alfabetização fundamentada no material oferecido pelo Programa “Ler e Escrever”, buscando a evolução das hipóteses destes alunos, consequentemente a alfabetização.

Durante o 1º bimestre, foi trabalhado com estes alunos atividades diversas, bem como: letras móveis, lista de palavras, principalmente com banco de palavras, cruzadinhas, adivinhas, trava-línguas, textos conhecidos de memória, como cantigas e parlendas, reconhecimento do som inicial das letras nas palavras, aulas de auditório, identificação de palavras em textos, produções de texto tendo o professor

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Pré Silábico Silábico Sem Valor Silábico Com Valor Silábico Alfabético Alfabético A S.A S.C.V S.S.V P.S.

como escriba, análise das palavras quanto ao número de letras, leitura diária do alfabeto, lista e bingo de nomes, ordem alfabética, leitura feita pelo professor, entre outras atividades relacionadas à alfabetização.

Vale salientar que a sala de uma forma geral, apresentou-se no início do ano, não apenas com dificuldades advindas da não alfabetização, mas principalmente muita indisciplina, falta de motivação, interesse, falta de concentração, estímulo e foco na aprendizagem. Os alunos, em sua maioria, não conseguiam ficar sentados, aparentemente não conheciam regras, nem as respeitavam, a todo o momento estavam em pé, pediam para ir ao banheiro constantemente, todos muito falantes, sem parâmetros e limites. Muitos não sabiam utilizar o caderno ainda, não apresentavam organização com o próprio material, não sabiam se posicionar em fila, não apresentavam interesse algum na leitura do professor, não conseguiam terminar a atividade dentro do tempo previsto e ainda, em relação à participação dos pais, infelizmente, muitos não apresentavam o acompanhamento devido à vida escolar do aluno, fundamental para o progresso da criança. Tive muitos problemas ao longo do primeiro bimestre com as atividades para casa, pois alguns pais reclamavam da falta de tempo aos finais de semana e ainda, alguns faziam as lições para seus filhos, outros, posso dizer que a maioria, entregavam as mesmas em branco. Muitos bilhetes enviados eram retornados sem assinatura de ciência dos pais. Muitas crianças sequer possuíam agenda. Não havia incentivo da leitura feita em casa, quer fosse pelos pais, quer fosse pelo aluno, mesmo muitas crianças levando livros semanalmente. E ainda, vale salientar, o grande número de faltas apresentado na sala por algumas crianças.

Ainda assim, meio a todos os problemas levantados, o trabalho de alfabetização foi feito, não apenas com as atividades descritas acimas, mas similar ao trabalho com os alunos de 1º ano referido no capítulo anterior. Se faz importante dizer sobre a parceria da coordenadora pedagógica neste contexto, que não apenas apoiava o trabalho feito em sala de aula, como apresentava propostas de melhoria nas formações de ATPC e ainda, colaborou com convocações aos pais, onde fazíamos reuniões, além das reuniões de fim de bimestre, participando os pais da situação da sala e da importância da participação destes na vida escolar das crianças.

Passados 55 dias letivos (referentes ao primeiro bimestre), a sala apresentava uma evolução considerável em suas hipóteses de escrita: 16 alunos alfabéticos, 5

alunos silábicos alfabéticos, 7 alunos silábico com valor e nenhum aluno nas hipóteses silábico sem valor ou pré - silábico.

Gráfico 2: Hipótese de escrita dos alunos do 2º ano A, referente à terceira sondagem, realizada em abril de 2015

Apesar dos avanços significativos, a sala ainda se encontrava heterogênea e, por conta disto, minha maior preocupação era continuar com o planejamento de atividades que recuperassem o “tempo perdido”, enfatizando os planos de ação que contemplassem os alunos com maiores dificuldades, os quais se encontravam ainda na hipótese Silábico com valor e ainda, os alunos recém-alfabéticos, que não produziam textos, nem leitura fluente, sendo necessário estímulo e direcionamento de um trabalho que não dependia apenas do professor, mas da colaboração dos pais e principalmente do aluno.

Aos poucos comecei a observar mudanças importantes, de forma geral, a sala estava mais centrada, os alunos estavam mais comprometidos, mostravam mais interesse e, apesar de haver ainda alguns problemas de indisciplina, os pais começavam a se mostrar mais participativos e envolvidos no acompanhamento da vida escolar dos seus filhos, colaborando para o crescimento e desenvolvimento da aprendizagem daqueles alunos.

Ao longo do 2º bimestre, os alunos do 2º ano A continuaram evoluindo, de maneira que, concluímos o primeiro semestre com todos os alunos alfabéticos, ou seja, os alunos “recém alfabéticos” já compreendiam o sistema de escrita, mesmo apresentando erros ortográficos na escrita das palavras, não produziam textos com autonomia e a leitura apresentava-se com muita dificuldade e longas pausas.

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Pré Silábico Silábico Sem Valor Silábico Com Valor Silábico Alfabético Alfabético A S.A S.C.V S.S.V P.S.

Para que produção de textos ganhasse forma, foi dada ênfase novamente ao trabalho voltado à reescrita de contos, como trabalhado no primeiro ano, com o conto e reconto da história, planejamento da escrita, que chamávamos de roteiro, produção coletiva (tendo o professor como escriba na lousa), produção em dupla, individual e reescrita coletiva dos trechos escritos pelos alunos, com o intuito de apontar-lhes os erros ortográficos e orientá-los quanto à estrutura do texto em parágrafos, pontuação, principalmente quanto às falas dos personagens, coerência, elementos básicos de coesão.

Os projetos desenvolvidos a partir da alfabetização estavam todos voltados à atividades de leitura e escrita, conforme descrito suscintamente:

O Projeto Leitura Emprestada, surgiu do momento em que a coordenadora distribuiu para cada sala de aula uma quantidade de livros doados pela Prefeitura de São Paulo (PMSP), sendo que havia uma conduta a seguir: estes livros não poderiam ficar na escola, deveriam ser entregues às crianças como doação. Os livros eram maravilhosos, portanto, não contente em apenas entrega-los às crianças, mas com o objetivo de incentivar o gosto pela leitura e envolver os pais neste processo, desenvolvi com meus alunos o projeto referido acima.

Devo lembrar que uma das professoras de o início do ano, uma professora de 1º ano, havia sugerido no início do ano um projeto de leitura em casa, denominado Mala Viajante, o qual achei muito interessante e, partindo de suas colocações, o próprio projeto compartilhado por ela com os colegas de trabalho, e a oportunidade que tinha agora com esta doação, dei sequência ao projeto citado acima, com as seguintes recomendações: as crianças ganharam o livro de presente, porem após a leitura do livro ganhado, elas trocariam com os amigos todas as sextas feiras, sendo que dentro de cada livro havia ficha, com os dados do livro e o nome de todas as crianças da sala. As crianças, em casa, deveriam fazer a leitura do livro do colega, encontrar seu nome na ficha e escrever nas linhas em branco (frente ao seu nome), sua opinião sobre a leitura, além da ilustração do mesmo, além disso, ela teria a possibilidade de ler a opinião dos amigos, já que o mesmo livro circulava por toda sala a cada sexta feira e os amigos repetiam essas ações em sua casa.

Ao final deste projeto, todos os alunos já haviam lido todos os livros e, cada criança levou para casa, não apenas o seu livro doado, como a ficha que continha as opiniões de todos os seus coleguinhas, juntamente com os comentários da professora que também se fazia sobre cada opinião.

Este projeto não apenas envolveu os alunos da sala, como os pais, que se mostravam empolgados com a atividade. Ao fim do projeto enviei uma carta aos pais comentando sobre a importância da família no momento da leitura, visto que esta aumenta o vínculo dos pais com os filhos, o encantamento das crianças e o desenvolvimento de inúmeras habilidades à medida as crianças expõem seus argumentos sobre a leitura. Os pais devolveram a carta com seus comentários a respeito do projeto, dizendo dos momentos de interação com os filhos, o que havia sido acrescido ou não com esta experiência e o quanto havia sido significativo. O produto final foi uma exposição dos livros, as fichas e os comentários dos pais expostos na feira literária, envolvendo alunos, pais, professores e comunidade.

O Projeto Didático Cantigas Populares7, apresentado pelo Programa Ler e Escrever, da série em questão, com o objetivo de não apenas ensinar as crianças que vivem nos grandes centros urbanos como a cidade de São Paulo, a cantar e conhecer as cantigas, como, enquanto conteúdo, trabalhar a leitura, escrita e comunicação oral.

[...] as canções tradicionais têm ritmo e muitas apresentam também rimas e repetições, recursos que facilitam a memorização do texto pelos alunos. E por serem facilmente memorizáveis, as cantigas são textos bastante adequados para trabalhar o sistema de escrita. (SÃO PAULO, 2014f, p. 139)

Tal projeto foi trabalhado com vistas à alfabetização, no primeiro semestre do ano em questão e teve como produto final um livro de cantigas favoritas da turma, exposto na feira literária.

Projeto Anta, onça e outros animais do Pantanal8– Neste projeto, as crianças trabalharam fichas científicas dos animais, sendo que, nos aproveitamos destas fichas para escrever textos de caráter científico. Neste trabalho encontrei a possibilidade de ensiná-los a compreender melhor a estrutura do texto e da paragrafação, à medida que utilizava cada informação apresentada na ficha como norteador do próprio texto, além de aprenderem as características do gênero científico. Neste, as crianças trabalharam em casa, a construção de um animal feito com objetos recicláveis, que também foi exposto na feira Literária, envolvendo mais uma vez a família.

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Projeto Cantigas Populares encontra-se no Guia de Planejamento e Orientações Didáticas para o 2º ano, Volume I e II, 2014f, p. 139

Todos esses projetos tiveram como fim o aprendizado e evolução das crianças, contudo, o planejamento desses foram discutidos em ATPC´s, além de outras ocasiões do cotidiano, entre os professores de mesma série, em consonância com a coordenadora.

1.6 A experiência com o Projeto “Pé-de-moleque, canjica e outras receitas