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Pode-se apontar que a sedimentação da modernidade se constitui não somente na transfiguração linear do modo de produção feudal para o capitalismo, mas, como apontam Marx e Engels (2005), que estabelece uma teia de relações autoimplicadas e autodeterminadas no campo das mais variadas dimensões da vida humana, seja ela econômica, política, social, cultural, como também no que se refere à (re)produção científica do conhecimento.

Nessa nova realidade, o modo de produção capitalista emerge sob condições gerais de acumulação privada dos insumos produzidos socialmente. Tal realidade é evidenciada como uma das maiores contradições do modo de produção moderno, donde, no campo da luta de classes, temos, de um lado, a burguesia nacional e internacional, que assume uma direção dominante hegemônica, apropriando-se das riquezas produzidas; e, do outro, o proletariado ao qual somente resta a venda de sua força de trabalho àquela classe, como bem apontam Marx e Engels (1987, p. 12):

a condição essencial para a existência e o domínio da classe burguesa é a acumulação da riqueza nas mãos dos particulares, a formação e a multiplicação do capital; a condição do capital é o trabalho assalariado. O trabalho assalariado baseia-se exclusivamente na concorrência entre os operários.

Diversos autores20 sinalizam que, nesse momento, o pensamento conservador emerge a partir de uma resposta dada à Revolução Francesa de 1789, essencialmente na rebocada das relações de poder instituídas no Ancien Régime, defendendo a busca ideopolítica da retomada do sistema de produção em decadência – o Feudalismo. Dessa forma, Escorsim Netto (2011, p. 38) afirma que

este consenso mínimo em relação ao surgimento do conservadorismo, porém, não o torna menos polissêmico, mesmo neste ‘sentido técnico’, [não o torna ínfero de interpretações]. E, sobretudo em relação a esta polissemia, não nos oferece elementos sólidos quer para construir uma coerente cronologia do conservadorismo, quer para compreendermos as suas metamorfoses ao longo do período histórico aberto pela Revolução Francesa.

O pensamento conservador, primeiramente, surge como uma expressão cultural21 – expresso pelos princípios da Ilustração, através dos quais os defensores do Antigo Regime e do absolutismo em geral fundamentam-se na razão para reestabelecer o domínio feudal –, que, com o desenrolar da história, ascende às expressões ideopolíticas, social e historicamente determinadas, situando-se no tempo e espaço da configuração burguesa de sociedade.

As raízes desse modo de pensar estão, essencialmente, fincadas na concepção ideopolítica dos antiburgueses ligados ao Ancien Régime, e que buscavam a retomada do seu poderio econômico, político, social, cultural, sobretudo religioso, por meio da restauração das instituições hierárquicas que compunham o sistema feudal.

O pensamento conservador clássico nasce junto aos sujeitos da Igreja Católica, que passam a se colocar contra as muitas manifestações instituídas pela sociedade moderna. Tinha como defesa central o bem comum, na perspectiva religiosa; a restauração da sociedade feudal, e, com isso, a autoridade, a ordem, a tradição, a “segurança” clerical e a hierarquia. Ou seja, tendia-se a concentrar suas ações por meio da difusão de ideias que buscavam o restabelecimento e a manutenção das estruturas sociais e institucionais em seus contornos políticos, como elas eram antes da Revolução Francesa.

Dentre suas maiores expressões de pensadores estão Burke, Bonald e De

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Para maior aprofundamento teórico sobre a construção do pensamento conservador em sua relação com a Revolução Francesa cf. Martins (1981); De Maistre (2010); Nisbet (1987).

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Maistre, os quais sustentavam a tese de que o novo sistema significava uma desqualificação do indivíduo em sua “liberdade” tão propagada e defendida pela Revolução Francesa, bem como satanizavam esse projeto autônomo moderno, buscando o reordenamento da sociedade à conservação da propriedade familiar feudal como núcleo possibilitador da eternização da sociedade humana. Tal concepção ficou conhecida como “anticapitalismo romântico” (ESCORSIM NETTO, 2011).

Então, é nesse contexto de decadência do feudalismo, do Ancien Régime, e da tomada burguesa do poderio econômico, político, social e cultural que o pensamento conservador surge, consagrado por uma matriz cultural e teórica de ataques aos princípios germinados pela Revolução Francesa (liberdade, igualdade e fraternidade) no tocante à sua forma econômica e política22.

Uma outra perspectiva de desdobramento desse pensamento é o seu ataque ideocultural ao processo de derrocada de algumas instituições consagradas pela tradição feudal, a exemplo da família, da Igreja, do Estado Absolutista, entre outras. Desse modo, os conservadores passam a teorizar a recomposição da sociedade feudal em arruinamento, sem desmobilizar o processo de capitalização do “sistema” econômico, ou seja, essa perspectiva busca coadunar o capitalismo insurgente com os princípios e valores consagrados no feudalismo.

Contudo, tanto o anticapitalismo romântico quanto a vertente que busca conciliar o capitalismo com os valores e instituições feudais tornam-se utópicas, pois não era mais possível “frear” a revolução burguesa. Assim, Escorsim Netto (2011, p. 46, grifos da autora) pontua que:

a função social do pensamento conservador, tal como aparece nos imediatos continuadores de Burke, é inequívoca: o conservadorismo expressa os interesses dos privilegiados do Ancien Régime, a nobreza fundiária e o alto clero. O pensamento conservador exprime, assim, um projeto de restauração que em pouco tempo revela-se inviável: entre 1815 (o Congresso de Viena, que consagra a Santa Aliança) e 1830 (a revolução de julho, que derruba na França, Carlos X, o último Bourbon), o que se manifesta, na Europa Ocidental, é a irreversibilidade das transformações que o desenvolvimento do capitalismo impõe às instituições sociais. As perspectivas restauracionistas, que, até então, pareciam viáveis, tornam-se claramente utópicas.

Assim, a burguesia “completa” a sua fase progressista e revolucionária.

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Sobrepondo-se como classe dominante, destitui-se de representante geral dos interesses do conjunto da sociedade para elevar-se à defesa intransigente de seus interesses particulares. Com isso, Escorsim Netto (2011, p. 46) aponta que “o protagonismo revolucionário da burguesia cede lugar a um desempenho defensivo, voltado para a manutenção das instituições sociais que a criou”.

Exatamente no período que compreende ao entre as décadas de 1830 a 1840, especificamente no ano de 1848, a configuração econômica, política e social é tensionada por um processo de ameaças proletárias. Nesse contexto, como aponta Lukács (2010), tem-se o início da reviravolta ideopolítica, no sentido apologético e decadente da sociabilidade burguesa.

Assim, o pensamento conservador clássico reconfigura-se e transforma-se no pensamento da burguesia – o pensamento conservador moderno –, no qual aquele que, inicialmente, havia surgido como antiburguês assume um caráter restaurador, conclamando, segundo Lukács (2010), um eixo central para esse pensamento: o contrarrevolucionário. Escorsim Netto (2011, p. 50-51) afirma que, nesse processo, assumem centralidade tanto a teoria Comteana quanto a de Tocqueville, cada uma com suas particularidades e diferenças, mas que funcionam como:

[...] “ponte” entre o conservadorismo antiburguês e o conservadorismo proletário. [...] Nenhum dos dois possui veleidades restauradoras; ambos se defrontam com um presente que lhes parece tão irreversível quanto ameaçador e tratam de elaborar as alternativas que possam conjurar a ameaça ao poderio burguês: para Comte, um conhecimento positivo que permita fundar uma religião da humanidade, garantidora da estabilidade social; para Tocqueville, mais sensível à prática política, uma democracia controlada que, combinando liberdade com igualdade, fosse capaz de evitar a “tirania da maioria”.

Assim, no período subsequente à Revolução operária de 184823, o pensamento conservador, que nascera como crítico antiburguês à sociedade então emergente, assume um determinado ethos racionalista pseudoconcreto, sedimentando-se na corrente teórica positivista24, reconfigurando-se em sua maior

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Movimento revolucionário insurgido pela classe proletária, a partir da consolidação do poder político da burguesia, demarcando fortemente a cisão entre essas duas classes, bem como uma nova polarização política entre burgueses e proletários. Essa revolução, a partir de Paris, teve uma rápida propagação nos grandes centros urbanos europeus, desdobrando no ápice da decadência burguesa de conduzir o processo revolucionário.

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O pensamento positivista em seu início, quando ligava-se às ideias de Condorcet e Saint-Simon, era revolucionário. Torna-se conservador com Augusto Comte.

expressão “científica”: o positivismo de Augusto Comte. Essa lógica racionalista assume pressupostos eminentemente burgueses em defesa dos seus direitos e interesses, consolidando-se como pensamento moderno do mundo burguês, como bem aponta a autora (Ibid., p. 51-52, grifos da autora):

[...] na defesa da ordem burguesa contra a ameaça revolucionário-socialista, ele tende tanto a estruturar-se como filosofia social quanto como conhecimento científico-social, seja sob a forma de ciência social, seja sob forma de teoria política. [...] Nessa passagem, desaparecem do pensamento conservador as demandas restauradoras e o próprio componente anticapitalista se converte numa conceptualização de caráter científico. A atenção dos conservadores se voltará para a construção de um corpo de conhecimento que, favorecendo a gestão da ordem burguesa (mesmo que, para esta funcionar, haja que promover reformas dentro da ordem), permita controlar e regular suas crises e, assim, superar a ameaça revolucionária. Estes dois fenômenos – crise social e revolução – polarizarão todo o pensamento conservador pós-48: estão na raiz da ciência social que é filha direta do conservadorismo pós-48, a sociologia.

Seguidor direto de Comte, Émile Durkheim aprofunda a sociologia positivista daquele, configurando o conhecimento da realidade social a partir de uma visão de “integração” social da humanidade, concebendo o homem, mais uma vez, destituído de sua própria história. O pensamento positivista (re)constrói alguns valores básicos para compreender a realidade, dentre eles pontua a perspectiva de uma ação social integralizante, combatendo o pensamento revolucionário socialista, a partir da realização de reformas – seja no campo da moral, seja no campo do social –, tendo na educação, segundo Durkheim, a força motriz capaz de revolucionar a realidade social.

O período que vai desde o século XVI ao século XIX consagra a fase clássica do pensamento conservador, embora o mesmo tenha assumido determinações e configurações diversas em dados momentos de seu desenvolvimento. Nesses séculos, esse pensamento esteve permeado por imensas continuidades, pois os seus princípios mantiveram-se inalterados em seus fundamentos.

Escorsim Netto (2011) aponta que tais princípios compreendem: a) à legitimidade à liberdade, enquanto princípio básico liberal, assim, tal liberdade deve constituir-se a partir de sua restrição a uma parcela da população (à classe dominante); b) ao respeito à autoridade imanente à tradição hierárquica; c) à ênfase na democracia, contudo, em uma perspectiva abstrata-formal; d) à defesa da

laicização do Estado, porém, essa é pseudoconcreta; e) à ênfase na racionalidade burguesa, ou seja, se constitui a partir dos interesses desta classe; f) à desigualdade é vista como necessária e natural; e g) à ênfase na manutenção da ordem, para guiar o progresso. Como conclama Comte, a busca pela ordem e pelo progresso assegurará a paz social25.

Assim, as ciências – como objetivações de segunda ordem – adquirem um status eminentemente determinado pelas múltiplas relações que esse modo de produção funda. Dessa forma, a busca pela cientificidade-se apresenta como um conjunto articulado de ideias, que encadeiam entre si formas de expressar o real e, com isso, de nortearem-se frente esse real.

É próprio da ciência burguesa apresentar visões diferentes de perceber esse real, recaindo num relativismo subjetivo de análise dessa realidade, a qual se pauta em formas distintas de conservação das bases materiais e imateriais de sustentação das relações sociais vigentes.

No pós-48, na tentativa de concentrar esforços em defender a naturalidade dos fundamentos da sociabilidade do capital, é que se espraia uma tradição, denominada positivista, direcionada a consolidar um método analítico que pudesse compreender o objeto de análise sem nenhum comprometimento valorativo por parte do sujeito que o analisa. Dito de outra forma, há um processo de fetichização da realidade e da consciência, como viés capaz de sustentar o status quo.

Nesse sentido, o que se expressa é o surgimento de uma ciência apologética, também de caráter burguês, pautada no fortalecimento de uma racionalidade abstrata que não deseja desvelar o real, muito menos propor alternativas que possibilitem uma saída para os problemas enfrentados pela população em geral.

Contrapondo-se a essa tendência burguesa dominante, a perspectiva marxista possibilita compreender a modernidade em suas contradições, sobretudo, porque a compreensão da realidade empreendida por Marx tem como pressuposto a sua articulação com a totalidade, cujo eixo dinâmico é a própria autoconstrução humana, superando visões unilaterais dos processos sociais. Ao mesmo tempo, o pensamento marxiano e o pensamento crítico-dialético não separa o processo de

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É concomitantemente ao progresso histórico de instauração do pensamento conservador, em seu período clássico, que surge e se propaga na contramão o pensamento progressista, tendo como maior expressão a tradição marxista, discussão a ser aprofundada posteriormente.

conhecimento do processo de transformação da realidade, pois, para essa tradição, o objetivo do conhecimento é, fundamentalmente, transformar a realidade.

Assim sendo, a construção do conhecimento em seus caminhos e descaminhos no feitio da sociedade moderna sustenta-se a partir de ethos contrários entre si, afirmando-se um conhecimento, de um lado, direcionado pelo pensamento conservador e, do outro, pelo pensamento progressista26. Esses pensamentos, por sua vez, implicaram em análises antagônicas da realidade social, determinando estratégias interventivas distintas.

Ressalta-se que a construção dessas formas de pensar não se configura isoladamente como sendo uma forma desconectada da história real concreta, pois pode ser encontrada em qualquer espaço, tempo e lugar na sociedade. Pelo contrário, tais pensamentos constituem-se socialmente em dado momento histórico da humanidade, autodeterminando-se, a partir da multilateralidade dimensional que compõem a vida humana, tendo seus fundamentos nas relações sociais de produção. Porém, nosso entendimento da determinação das relações sociais sobre todos os demais complexos sociais não pode ser entendido a partir de um raciocínio economicista, mecanicista e superficial.

Nos últimos anos, essa dualidade social tem se expressado de forma mais contundente através das conformações postas no conjunto das relações sociais vigentes, expandindo-se para as mais diversas objetivações do ser social. À vista disso, o que se pode perceber é o processo de radicalização das múltiplas expressões da questão social – compreendida pelas velhas contingências enraizadas no modo de produção capitalista –, tal como o contíguo ascendente de novas expressões. Ao discutir tais elementos, compreende-se por questão social o que Iamamoto e Carvalho (2014, p. 83-84) pontuam como sendo

[...] senão as expressões do processo de formação e desenvolvimento da classe operária e de seu ingresso no cenário político da sociedade, exigindo seu reconhecimento como classe por parte do empresariado e do Estado. É a manifestação, no cotidiano da vida social, da contradição entre o proletariado e a burguesia, a qual passa a exigir outros tipos de intervenção, mais além da caridade e repressão.

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Não de forma absoluta, mas em certos períodos da história, esse pensamento tem sofrido invasões de tendências conservadoras. A discussão sobre o pensamento conservador, bem como a invasão do positivismo no pensamento marxista será discutida com mais detalhes na próxima seção deste trabalho. Entretanto, quem desejar aprofundar essa discussão cf. Quiroga (1991) e, sobre o encontro entre o pensamento conservador e a crítica burguesa, ver Coutinho (2010) e Escorsim Netto (2011).

Essas expressões estão postas na concretude da vida em sociedade, sendo que o Estado busca dar respostas diferenciadas às demandas que emergem do cotidiano contraditório das relações socioeconômicas, as quais aparecem, em primeira instância, como o conjunto das desigualdades econômicas, a falta de acesso à riqueza socialmente produzida. Entretanto, essas expressões guardam proximidades com sua objetivação primária, ainda que, na cena contemporânea, fique perceptível o alargamento dessas expressões para as objetivações de segunda ordem do ser social, como apontam as falas que se seguem.

Como nós trabalhamos com famílias em situação de vulnerabilidade social essas vulnerabilidades acontecem exatamente por conta, muitas vezes, da falta de acesso a serviços; famílias em situação de desemprego; o uso de drogas; a questão do envolvimento com o tráfico de drogas [...] é realmente essas situações de vulnerabilidade são expressões da questão social no dia a dia, no cotidiano dessas famílias. (SC1, 49a, 16a/formada)

As expressões postas no âmbito da saúde mental é uma caracterização bem complexa, que eu acho que se justifica pelo o nível, o tipo de vida que se leva hoje, corrido, a questão da dificuldade financeira, de objetivos, e, também, de sentido de vida, né, dificuldades de acesso ao mercado de trabalho, problema da educação, que tem muito adolescente que não tem acesso à educação, não tem condição de ter um emprego, então ficam perdidos nesse meio complexo, é um todo complexo [...] um grupo de pessoas bastante heterogêneo. (SC2, 53a, 16a/formada)

Sendo assim, não se pode limitar ou até mesmo apreender tais manifestações como sendo únicas e exclusivamente representações imediatas da escassez de recursos materiais. Logo, uma leitura da realidade enraizada nessa direção mostra-se equivocada e limitada, como apontam Behring e Santos (2009): “Numa perspectiva reducionista e positivista, em geral, a questão social aparece como problema social, fato social, fenômeno social desvinculado da forma com que a sociedade produz e reproduz as relações sociais”.

No atual contexto de expansão capitalista, o espírito da globalização, segundo Saes (2000, p. 1), é tido como um “mito”, com ideais e pressupostos ideológicos, e acaba por impactar um sentimento de cosmovisão política da realidade, que na sua materialidade aponta um processo de deformação do pensamento crítico destes sujeitos, o qual “a forma de difusão junto à opinião pública produz um impacto avassalador, que leva os membros da sociedade a uma aceitação acrítica dos processos sociais recobertos por eles”. Neste limiar, Harvey (2013, p. 59) pontua que, mais do que nunca,

[...] maiores são as desigualdades de classe. E é desnecessário dizer que há evidências suficientes para apoiar a visão de que a retórica do livre mercado e do livre-comércio e seus supostos benefícios universais, à qual fomos submetidos nos últimos trinta anos, produziu exatamente o resultado esperado por Marx: uma concentração maciça de riqueza e de poder numa ponta da escala social, concomitante ao empobrecimento crescente de todos os demais.

Percebe-se que o chamado processo de “globalização” traz consigo a despreocupação com a emancipação humana, pondo em segundo plano toda preocupação democrática social com a igualdade, com a democracia e com as solidariedades sociais. Sem dúvida, a insistência neoliberalizante instaurada em meados da década 1970, após a manifestação da crise estrutural do capital, traz como fundamento primordial de seu pensamento uma transposição destes princípios da vida político-social-econômica para o ativismo de direitos individuais e reificadores.

O tempo atual é de regressão de direitos. Impera na sociabilidade do capital um conjunto de elementos combinados de exploração do trabalho; opressão/violação de direitos; desigualdade social que aparece como categoria imanente dessa sociedade, desembocando na separação entre o que é singular e o que é humano-genérico; indivíduos que bastam em si mesmos; tudo aquilo que venha contribuir para o atendimento das necessidades humanas essenciais importa menos que o lucro, portanto, é deteriorado desnecessário, fortalecendo um conjunto de valores negativos – os desvalores.

Tudo isso é visível em todo o contexto de desenvolvimento dessa pesquisa, pois, ao responderem ao conjunto de perguntas realizadas, as sujeitas entrevistadas pontuaram nitidamente um quadro de vulnerabilidades, como expressões das desigualdades sociais geradas no processo de acumulação do capital, expressões essas reveladas em um número bastante diverso de materializações, sejam elas no âmbito concreto, sejam no âmbito abstrato:

As sujeitas que se encontram na instituição se configuram de um público muito diverso: são mulheres que de alguma forma entraram em conflito com a lei, muitas delas têm o poder econômico bastante elevado, como também tem aquelas que não tem renda, que a renda econômica é baixa. (E5, 26a, formanda)

Assim, são as famílias mais necessitadas que vão para a instituição em que estagiei, então de certa forma, talvez são carentes de conhecimento, muitas

vezes a questão de que os são muito ausentes porque trabalham e as crianças ficam sozinhas em casa, com um avô, uma avó, um irmão mais velho e acabam tendo esses acidentes no caso da negligência. (E6, 21a, formanda)

Como pode ser percebido, tais expressões não são únicas e exclusivas questões compactuadas no âmbito econômico-financeiro, embora, algumas dessas manifestações apresentem-se também nesse interim, contudo, com o próprio