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Procedimentos de análise

7.1 O universo de análise

Leiria, a cidade sobre a qual incide este trabalho de investigação, é capital do distrito e sede de um concelho com 29 freguesias, albergando uma população que ronda os 100.000 habitantes, dos quais apenas 12,5% reside na freguesia da cidade41.

As actividades económicas predominantes distribuem-se essencialmente pelos sectores secundário e terciário, dedicando-se ao sector primário uma percentagem mínima da população activa.

Foi sobretudo na segunda metade do século XX que, devido à expansão industrial, o concelho sofreu forte incremento económico, registando no ano de 1999 39% das 250 maiores empresas do distrito de Leiria.

No que diz respeito ao domínio da educação, o concelho de Leiria dispõe de 62 Jardins de Infância, 122 Escolas do Io CEB, 7 escolas dos 2o e 3o CEB, 2 Escolas

Básicas Integradas, 3 Escolas Secundárias, um Instituto Politécnico e uma Escola Profissional. Relativamente aos ensinos privado e cooperativo, existem ainda várias escolas do Io CEB, 24 Jardins de Infância, 13 Colégios e ainda 2 pólos de instituições

do ensino superior. Não obstante, a taxa de analfabetismo literal ronda ainda os 10%, atingindo sobretudo o género feminino.

7.1.1 A escola D. Duarte

Fundada em 1968, a escola D. Duarte foi transferida para as actuais instalações no ano lectivo de 1982/83. Por decisão do Centro de Área Educativa no âmbito da distribuição da rede escolar, ela serve além da população da cidade, duas outras freguesias.

O seu público alvo é, no entanto, bem mais heterogéneo e oscilante. Dados referentes ao ano lectivo de 2001/2002 indicam que os 744 alunos que frequentavam esta escola se distribuíam por 22 freguesias, 4 das quais de concelhos vizinhos, o que se deve ao facto da afectação dos alunos a uma escola poder fazer-se com base na residência, tanto quanto com base no local de trabalho dos encarregados de educação.

40 Os dados que aqui se apresentam foram recolhidos a partir dos projectos educativos das escolas envolvidas na

investigação.

Por isso a D. Duarte se queixa de há muito ter ultrapassado a lotação para que foi construída (750 alunos), uma tendência que os dados a que tivemos acesso indiciam estar a inverter-se.

Apesar da heterogeneidade da população escolar, foi traçado em 1999, no âmbito da elaboração do Projecto Educativo de Escola, o perfil do aluno que frequenta a D. Duarte: reside na freguesia de Leiria, vive com os pais e um irmão, ambiciona tirar um curso superior e considera a escola muito importante. Os pais têm entre 35 e 44 anos de idade, prevalecendo as suas habilitações literárias entre o 5o e o 12° anos de

escolaridade. Curiosamente, os pais dos alunos que frequentam o 2o CEB trabalham

maioritariamente no sector dos serviços, enquanto os pais dos que frequentam o 3o

CEB se dedicam sobretudo à indústria, um dado curioso que confessamos não ter averiguado.

Relativamente ao corpo docente, no ano em análise o seu número ascendia aos 110 professores, ao que se somam uma psicóloga, uma professora conselheira de orientação profissional e quatro professores do ensino especial. A estabilidade do corpo docente constitui uma realidade nesta escola, pertencendo a maioria dos docentes ao quadro definitivo da escola, com reflexo no perfil dos professores, cuja maioria tem idades compreendidas entre os 40 e os 49 anos de idade e reside na cidade ou nas suas imediações até um raio de 5km. Entre o pessoal não docente, a faixa etária oscila entre os 40 e os 59 anos de idade, a maioria são mulheres e vivem igualmente na cidade. Cerca de metade tem a 4a classe, uma pequena minoria frequentou o curso

complementar e os restantes repartem-se entre o 6o e o 9o ano.

Talvez a tudo isto se deva a taxa de sucesso escolar que em 1999/2000 rondou os 92% em todos os níveis de ensino. No que diz respeito às relações entre os membros da comunidade educativa, alunos, professores e pessoal não docente são unânimes em considerar existirem boas relações interpessoais, classificando o ambiente de trabalho como razoável.

Não obstante, e porque se entende a escola como um espaço privilegiado para a construção e permuta de valores tanto cívicos como éticos e como um local de preservação e afirmação da identidade nacional e da promoção do sentimento europeu,

41 A Freguesia de Leiria é aliás uma das mais pequenas do concelho, o que se reflecte num traçado administrativo que nem sempre corresponde aos mapas subjectivos traçados pelos leirienses.

a D. Duarte escolheu como linha orientadora do seu projecto educativo para 1999- 2002: "O Saber e o Sentir - Uma escola para o Futuro.".

7.1.2 A escola de Marcarena

A escola de Marcarena integra um agrupamento vertical que teve início com a fundação da Escola Primária de Marcarena em 1855. Com o alargamento da escolaridade obrigatória e com o crescimento demográfico que a freguesia sofreu nos últimos 20 anos, tornou-se necessária a abertura de uma Escola Preparatória, o que veio a acontecer em 1975. Em 1986 a escola passa a leccionar o 3o Ciclo.

Actualmente a escola de Marcarena serve duas freguesias, da qual fazem parte cerca de 10 localidades, algumas delas registando de há 20 anos para cá um forte desenvolvimento industrial, comercial e populacional, outras preservando características de zonas rurais. A diversidade cultural da população estudantil desta escola é acentuada pelo acolhimento de dois grupos de alunos que registam vivências muito específicas, os habitantes de um bairro social próximo e os alunos de um internato masculino. Trata-se efectivamente de uma população muito heterogénea que reflecte os principais problemas de uma freguesia que não só é a mais vasta do concelho, como envolve estratos sociais muito diversificados e diferentes culturas, já que o seu crescimento acelerado se deve em grande medida à migração de núcleos populacionais de diversas zonas do país, das ex-colónias e mesmo de países não lusófonos (árabes, franceses e marroquinos). De resto,

Os conflitos sociais de desagregação familiar, violência, racismo, alcoolismo e toxicodependência, que fazem parte do quotidiano de certos alunos, estão patentes nas suas demonstrações de alguma agressividade dentro efora da sala de aula.

(Projecto Educativo de escola para o triénio 2000/2003)

Relativamente aos encarregados de educação, a maioria possui como habilitações literárias o Io Ciclo e, em termos profissionais, enquadra-se na categoria de

empregados de comércio, indústria e serviços.

Por tudo isto, e a fim de melhorar o ambiente educativo e a qualidade da aprendizagem dos alunos, foi criado em 1996 o Território Educativo de Intervenção

Prioritária (TEIP) de Marcarena que, pelo reconhecimento oficial da sua organização administrativa, passa a integrar no ano lectivo de 1998/99 o programa Boa Esperança/ Boas Práticas. O esforço de articulação inter-ciclos que ao longo destes anos se tem desenvolvido, culminou em 1999 com a criação do Agrupamento Vertical de Marcarena, o qual engloba actualmente: 7 Jardins de Infância, 10 escolas do Io CEB e

uma Escola Básica do 2o e 3o Ciclos, traduzido em 1520 alunos, 190 professores e 64

pessoal não docente. Relativamente à EB 2,3, que constitui afinal o nosso foco de análise, era frequentada no ano em que foi elaborado o actual Projecto Educativo por 535 alunos, contando com um corpo de 93 docentes e 17 professores de apoio, ao que se somam dois psicólogos e um terapeuta da fala. De registar que a maioria destes professores pertence ao quadro de escola, havendo à data um número igualmente significativo de professores em situação de destacamento.

O balanço feito do trabalho realizado até ao momento é encarado como positivo, quer pelo crescente envolvimento das famílias no processo educativo, quer pelo desenvolvimento de estratégias inclusivas que permitem aos alunos terminar a escolaridade obrigatória apetrechados para realização do seu projecto de vida, quer ele seja o prosseguimento de estudos, quer a entrada na vida activa. Foi, no entanto, a este esforço que a escola se propôs dar continuidade ao escolher como tema do Projecto Educativo para 2000-2003: "A Construção da Cidadania".

7.1.3 A escola de Cárceres

A EB 2,3 de Cárceres tem origem na escola C+S que em 1989 foi fundada numa freguesia vizinha, funcionando provisoriamente com 4 turmas em pavilhões pre- fabricados cedidos por uma empresa local. No ano seguinte foi transferida para as actuais instalações, já com 21 turmas. A desvinculação da freguesia de Cárceres da freguesia original, levou em 1996 à mudança do nome da escola. Cobrindo actualmente cerca de 11 lugares de três freguesias distintas, foi constituída agrupamento vertical no ano 2000, passando a integrar 6 Jardins de Infância, 9 escolas do Io CEB e a escola sede, a EB 2,3 de Cárceres.

A EB 2,3 situa-se em meio rural, caracterizando-se por uma forte heterogeneidade de actividades económicas que vão desde serrações a explorações florestais,

actividades agrícolas e pequenas indústrias. A comunidade é por isso definida como dotada de uma identidade muito própria, com potencialidades e problemas característicos.

A população escolar apresenta fortes disparidades no que diz respeito a níveis sócio culturais. Entre os 505 alunos que em 2001 frequentavam o 2o e 3o ciclos havia um

número considerável de alunos com dificuldades de aprendizagem, atribuídas à ausência de hábitos de estudo, de organização do trabalho e de acompanhamento no desempenho das tarefas escolares. Por outro lado, trata-se de uma população com baixas expectativas relativamente ao percurso escolar e profissional. Alguns alunos apresentam mesmo dificuldades de integração e de relacionamento interpessoal, necessidades educativas especiais e um percurso escolar bastante irregular. Neste contexto, o processo de aprendizagem, as atitudes e os a valores foram considerados objectivos prioritários no Projecto Educativo para 2001-2004.

Relativamente ao corpo docente, caracteriza-se essencialmente por uma grande instabilidade que resulta do destacamento da maioria dos professores pertencentes ao quadro de escola e que dificulta o trabalho contínuo e a sequência pedagógica. Em contrapartida, a Escola de Cárceres orgulha-se de ter um corpo docente jovem e dinâmico, constituído por 66 professores que anualmente trazem à escola novas ideias para projectos que acabam por se integrar na dinâmica da escola.