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3. Procedimentos teórico-metodológicos

3.1. O universo pesquisado: contextualizando a escola

A escola selecionada para realizar este estudo, como já havia feito referência, pertence à rede municipal de ensino de Fortaleza e está localizada na regional V, foi criada em 2002 com base na lei municipal 8381 de 01 de novembro de 1999, que no artigo 1 deixa decretado que a escola Ensinando e Aprendendo, localizada no bairro Novo Mondubim, passaria a fazer parte, a partir de então, do quadro de instituições públicas dessa regional. Segundo consta no Projeto Político Pedagógico da escola, a mesma entrou em funcionamento a partir do dia 03.07.2002, agrupando os anexos Pequeno Aprendiz e Espaço do Saber.

No que se refere à estrutura física da escola, pode-se dizer que é uma escola grande onde funcionam 16 salas de aula distribuídas em dois andares, sala de apoio pedagógico, sala de informática, coordenação, direção, biblioteca, sala dos professores, sala de multimídias, refeitório, cozinha, pátio, secretaria, sala de escovação, e em anexo, uma creche e quadra de esportes. Segundo depoimento da supervisora, em uma conversa informal na sala da coordenação da escola, em dezembro de 2008, existe também uma sala especial direcionada à

comunidade, que atende aos alunos “problemáticos”. Sala esta composta por psicólogos, advogados etc. No entanto, a referida sala só funciona no turno da tarde, que é considerado bastante crítico, pelo grande número de estudantes fora de faixa que frequentam esse horário na escola.

Nessa escola também funciona um projeto voltado para o “incentivo” ao esporte entre os alunos, denominado projeto Segundo Tempo, e outro voltado para o reforço escolar, Mais

Educação. Com relação ao primeiro, está assim denominado porque funciona em horário

contrário ao do estudante em sala de aula, ou seja, aquele aluno que frequenta as aulas pela manhã participa do projeto à tarde e vice-versa. Em conversas informais com o professor coordenador desse projeto, na sala dos professores, também em dezembro de 2008, soube que o número de vagas é restrito e que a prioridade para participar é justamente a de ser um aluno indisciplinado. “Através do esporte, eles vêem um novo sentido na vida”, revela o professor.

A escola atende exclusivamente a alunos de 1º a 5º anos do ensino fundamental no turno diurno e ao EJA (Educação de Jovens e Adultos) no noturno, abrange o público médio de 890 alunos entre os turnos manhã, tarde e noite e sua base de funcionamento curricular está definida na proposta pedagógica e no regimento escolar, além das decisões operacionalizadas nas reuniões pedagógicas.

No Projeto Político Pedagógico são definidos os marcos de funcionamento da escola, seus objetivos, necessidades, metas e ações para todas as dimensões desse estabelecimento (físico-estrutural, administrativa, pedagógica e relacional). Além disso, propõe programas especiais em dimensões pedagógicas específicas (Projeto Itinerantes do Recreio, Projeto Leitura e Escrita, Projeto Jornal Escolar).

No Projeto Itinerantes do Recreio a escola propõe que, quinzenalmente, 14 alunos de determinada série organizem e harmonizem o recreio. Inicialmente a escola estaria encarregada de orientá-los e sensibilizá-los quanto à natureza específica da atividade a ser realizada, em seguida, já com a realização da atividade pelos alunos, ela faria um trabalho de avaliação dos resultados.

O Projeto Leitura e Escrita seria uma colaboração na apropriação do sistema de representação escrita pelas crianças, visando responder a duas questões básicas: o que a escrita representa e qual a estrutura do modo de representação da escrita. As atividades a serem aplicadas nesse projeto e as formas de avaliação seriam definidas durante o planejamento pedagógico.

O Projeto Jornal Escolar teria o objetivo de aproximar as crianças do que eles

em geral são divulgadas pelos meios de comunicação. A partir desse projeto, as crianças teriam oportunidade de adquirir ferramentas intelectuais para “filtrar” criticamente essas mensagens. Nos jornais seriam divulgados desenhos, entrevistas, poemas, jogos e depoimentos.

Dentre esses três projetos, foi possível constatar durante as observações que somente o jornal escolar existe e está em funcionamento na escola, e mesmo assim sem atender aos principais objetivos propostos porque, ao que pude constatar, a criança mal tem acesso ao resultado do que se produz e se divulga através do jornal, e a escolha do que vai ser divulgado no jornal não cabe às mesmas e sim aos adultos: professores e funcionários da biblioteca.

O Regimento Escolar possui a estrutura de uma legislação, com títulos, capítulos e artigos. A escola é apresentada, sua estrutura de funcionamento especificada, incluindo uma seção detalhando as atribuições de cada integrante daquele espaço (diretor, vice-diretor, secretaria escolar, corpo docente, corpo discente, orientação educacional, conselho de classe, conselho escolar, supervisão escolar, biblioteca, laboratório de informática, setor de arquivos, serviços auxiliares, serviços gerais dentre outros). Estão inclusos ainda títulos e artigos voltados para informações sobre ingresso, matrícula, transferência, recursos didáticos, currículo. Já na parte final do documento, faz-se destaque às normas de convivência social que deverão ser seguidas naquele estabelecimento, incluindo o regime disciplinar e as penalidades aplicáveis àqueles que delas se distanciarem.

Apesar da dinâmica de funcionamento da escola ser explicitada nesses documentos, posso afirmar, a partir de conversas informais com os professores e assistindo às reuniões de planejamento, que a maioria dos docentes sequer conhece o conteúdo de tais documentos e planejam suas aulas com base nos livros didáticos.

Escolhi a escola Ensinando e Aprendendo porque, além de ter encontrado espaço para inserção, como já foi mencionado, pretendia privilegiar uma instituição que, acima de tudo, atendesse apenas as séries iniciais do ensino fundamental (no caso, no turno diurno), já que o foco do estudo seria a criança e não o jovem ou adolescente. Nessas condições, desenvolver a investigação em uma escola que funciona de 1º a 5º anos poderia ser vantajoso no sentido de facilitar a obtenção dos dados, visto que todas as práticas desenvolvidas na escola no período diurno estão voltadas a atender as crianças. Por outro lado, nessas instituições não existe representante no conselho deliberativo (Conselho Escolar), onde se pode supor que todas as decisões são tomadas sem o conhecimento do aluno.