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O objetivo da introdução do computador na educação não pode ser apenas um modismo passageiro ou uma imposição social com relação às inovações tecnológicas. O computador deve ser usado como um recurso didático na mudança do paradigma educacional, que promova a aprendizagem ao invés do ensino, colocando o controle do processo de aprendizagem nas mãos do aluno, e o professor como mediador do processo e consciente de que a educação não seja somente uma transferência de conhecimento, mas um processo de interação do conhecimento com o aluno, como produto de seu próprio engajamento intelectual ou do aluno como um todo.

A introdução cada vez maior de elementos tecnológicos disponíveis nos mais variados campos da ação humana, tem-se vivenciado uma expansão da visão de comunidade, revolucionando o conceito de espaço, tempo e fronteiras nas comunicações entre pessoas, no acesso a informações, na produção e na reconstrução do conhecimento, exigindo-se a atualização de procedimentos de trabalho em velocidade que a educação precisa acompanhar.

Com o surgimento da Internet, que antes era um fenômeno localizado e experimental, novas formas de comunicação foram estabelecidas, permitindo que pessoas do mundo inteiro compartilhem idéias, informações ou travem conhecimento. A comunicação deixa de ser feita exclusivamente na forma textual, gutenberguiana, onde os “interlocutores” não conseguiam ver a imagem dos outros.

A rede de computadores passou a fazer parte da vida de um número cada vez maior de pessoas, embora não seja um nivelador de classes sociais. Bancos, empresas, serviço público e universidades estão transpondo suas

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atividades para a rede num volume e velocidade antes inimagináveis. Como afirma Bill Gates, em entrevista concedida à Revista Veja, edição especial de dezembro de 1999, “não há vida fora da Internet”.

O desafio agora é o de encontrar um porto seguro para a educação, mais especificamente, a escola, que precisa rever seu papel na sociedade da era da informação, sem ser detentora do “conhecimento”, mas questionar seu papel e a sua contribuição na construção deste novo contexto interligado globalmente, comprometendo-se politicamente na intervenção e participação na “formação” dos novos alunos e professores, abandonando a idéia primeira da novidade, quando Ter um computador era o bastante para imprimir-lhe modernidade, mas fazer com que esta ferramenta finalmente encontre seu lugar na “sala-de-aula”.

A entrada do computador e a Internet nas salas de aula brasileiras, nas mãos de professores treinados, implodiu o modelo convencional de ensino e vem transformando-o numa atividade interativa, onde, mais do que dar acesso à tecnologia, é fundamental promover uma nova atitude, uma mudança de comportamento de professores e alunos.

As futuras gerações de professores e alunos trabalharão cada vez mais com tecnologias de aprendizagem interativas, pois as rápidas transformações nos meios e modos de produção requerem um constante aprendizado de cada um. Assim, quanto mais tempo eles passarem com computadores maior é a chance de obter uma colocação no mercado, aprendendo, na escola, a utilizar ferramentas que lhes garantirão melhores oportunidades no futuro.

O retorno às salas de aula “ à luz de velas” nem sempre será possível ou necessário, com o mergulho em ambientes de aprendizagem apoiados por

redes de computadores, que viabilizam cenários de ensino-aprendizagem virtuais, oportunizando um salto de qualidade e participação de redes cooperativas e dinâmicas de aprendizagem de grupos que interagem através de listas, chats e outras formas, mediadas pelo computador e disponíveis em qualquer tempo e lugar, assegurando a possibilidade de uma educação continuada.

Na utilização de sistemas de ensino-aprendizagem mediados pelas tecnologias da informação é possível criar um ambiente ativo e aberto, com recursos não mais limitados às paredes de uma sala de aula ou de uma biblioteca local, mas, com base em suas habilidades, conhecimentos e interesses, professores e alunos podem buscar, através da Internet, salas de aula e biblioteca virtuais.

Este novo ambiente de aprendizagem virtual, com acesso remoto, utiliza, diferentes do ensino tradicional, novos conceitos e situações, visando o desenvolvimento de diferentes ambientes de suporte à aprendizagem e sua avaliação, embasados em diversos paradigmas educacionais, que vão demarcar o propósito de cada projeto de educação presencial e/ou à distância.

A rede mundial de computadores aumentou de maneira extraordinária uma modalidade antiga de ensino: os cursos à distância, viabilizando projetos de levar a educação aos lugares mais distantes em diversos países, inclusive no Brasil, onde a Internet pode ser a solução para melhorar o acesso ao ensino superior.

O ensino à distância, utilizando-se das novas tecnologias, é uma solução proposta para resolver os problemas de salas de aula superlotadas, o atendimento aos alunos que moram distantes ou que necessitam trafegar em

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estradas movimentadas e mal conservadas ou que trabalham com disponibilidades reduzidas.

Essa modalidade visa, entre outros objetivos, flexibilizar o tempo dos cursos, conforme aproveitamentos individuais e qualificação do trabalho pedagógico, tanto do ponto de vista interativo entre professor-aluno, aluno-aluno, aluno-conteúdo, professor-conteúdo, na relação sujeito-objeto-sujeito.

Como exemplo claro das vantagens da modalidade de ensino à distância, pode-se considerar a experiência de duas mestrandas, autoras deste artigo, que, outrora, frequentaram o curso de Mestrado em Educação na cidade de Americana, Estado de São Paulo. Após uma jornada semanal de dez horas diárias de trabalho, viajavam, às sextas-feiras, durante a noite, por oito horas ou mais pela BR-381 (Fernão Dias), que encontra-se em fase de duplicação, para assistir as aulas presenciais, durante quatro horas, aos sábados, pela manhã, e, logo após, retornavam a sua cidade, em Divinópolis, Estado de Minas Gerais, enfrentando problemas das mais variadas ordens: mal-estar, engarrafamentos, chuvas, desvios etc. O tempo despendido nas viagens, somado ao cansaço, poderia ser aproveitado em horas de estudo e pesquisas. O contrário, acontece hoje, quando participam do Programa de Mestrado a Distância oferecido pela Universidade Federal de Santa Catarina, pioneira nesta modalidade, sem sair de sua cidade, através do sistema de videoconferência e Internet, racionalizando o tempo, espaço, custos e qualidade de vida.

Este Programa abre oportunidades para um número bem maior de pessoas, democratizando as vagas no ensino público, na medida em que, aproveitando o canal de comunicação já utilizado e estabelecido pela Internet para

a transmissão de dados e o protocolo “falado” – TCP/IP, pelo mesmo canal em que chegam mensagens ou são realizadas transferências de arquivo, imagens e sons podem ser trocadas informações entre os participantes, “pessoalmente”, das chamadas videoconferências, minimizando tempo e distância.

De acordo com BOLZAN (1998) várias são as experiências de Ensino a Distância desenvolvidas em outros países. A Open University na Inglaterra é a mais tradicional e a maior instituição de Educação a Distância do ocidente. Em 1971, os primeiros 24.000 estudantes ingressaram em diversos cursos. Em 1997, 160.000 alunos estavam registrados em algum dos cursos oferecidos, sendo que mais de 70% dos alunos permanecem trabalhando meio período durante o curso.

Os cursos produzidos são oferecidos em diversos países que usam a língua inglesa, a maioria na Europa. As centrais de atendimento estão distribuídas em 12 cidades na Inglaterra. Pesquisa da universidade informa que 54% dos alunos escolhem a Open University pela liberdade de lugar, tempo e ritmo de estudo, sendo que 68% dos alunos tem emprego fixo, e desejam desenvolver sua capacidade intelectual (49%) e melhorar as chances na carreira profissional(40%). Os cursos são formados por módulos e exames escritos são feitos em um dos 18 centros de atendimento distribuídos no país. Os materiais dos cursos são enviados pelo correio.

As novas tecnologias usadas na modalidade de ensino a distância possibilitam a construção do conhecimento com recursos técnicos de imagem, animação e som de difícil configuração em outros espaços pedagógicos.

Esse suporte tecnológico retoma a discussão da construção do ambiente pedagógico pelo professor, uma vez que uma sala de aula não

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presencial requer a capacidade de transpor procedimentos, estratégias e táticas relativas a questões específicas, tais como as teorias pedagógicas adotadas.