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Capítulo III A continuação da acumulação de capital na era do império

3.3 O uso do estado como instrumento favorável à implantação do

Com as novas necessidades do sistema, o Estado teve que se moldar e se adequar às novas aspirações do capital, tendo por objetivo atingir um patamar de Estado homogêneo, internacionalmente soberano, ter um corpo único de instituições políticas e jurídicas do tipo amplamente liberal e representativo. Deveria compor-se de cidadãos, os quais fossem regidos por leis locais, leis essas, que os assegurassem de direitos e garantias para uma iniciativa local com autonomia e segurança.

Tudo isso foi necessário para um melhor e maior desenvolvimento do capitalismo, assim não só os países já ditos industrializados pelo capitalismo implantaram esse novo modelo, mas toda e qualquer nação que não quisesse ficar fora desse novo rebento, dessa nova estrutura de mercado, Estado e de capitalismo teve que se ajustar ou moldar-se completamente em seu sentido. Tínhamos, então, uma corrida para o novo modelo de Estado–Nação liberal constitucional. Pois essa era uma necessidade do capital, sem isso, o capital não teria as condições necessárias a uma reprodução eficiente.

Esse novo modelo de Estado deu uma oportunidade ao desenvolvimento de muitos países, que até então eram colônias; é que em pouco tempo com essas mudanças tiveram uma grande expansão, entretanto toda essa estrutura de Estado e direitos não se aplicavam da mesma forma a todos os moradores dessas nações, havia uma diferença entre cidadãos europeus e a população nativa, como índios, negros e aborígenes.

Assim, Eric J. Hobsbawm em “A Era dos Impérios” (1989, p. 43) destaca:

“Contudo, nesses países extra-europeus a democracia política pressupunha a exclusão das populações autóctones anteriores à sua chegada --- índios, aborígines, etc”.

Não obstante, nos países industrializados, chamados de desenvolvidos ou os que tentavam imitá-los, forçadamente ou não, sua população tinha que seguir os critérios da sociedade burguesa, isto é, homem, adulto, livre e igual juridicamente. A servidão legal desaparecera da Europa, a escravidão estava terminando, mesmo nos seus últimos estandartes como Brasil e Cuba, dessa forma o capital abria as portas a um novo mercado consumidor, um novo mercado acolhedor de sonhos e necessidades, as quais, esses miseráveis nem imaginavam existir.

Isso foi um passo fundamental a um mundo global, não em desenvolvimento, mas em uma nova forma de domínio, domínio esse que não seria mais por grilhões e sim de uma forma bem mais sutil, pela necessidade, pela dependência, pela cultura e pelo consumo que é a materialização da produção. E dessa forma, o Estado moldou as normas do mercado, isto é, o Estado transformou juridicamente seus habitantes em peças dessa nova engrenagem do mercado, peças essas fundamentais para o desabrochar desse ciclo, desse novo modelo de relações onde se tinha uma aparente igualdade, no entanto, política e socialmente a desigualdade era tremenda.

Um ponto que mostra como o Estado moldou-se junto aos interesses do capital é a questão cultural educacional voltada para o capitalismo. Veja como em 1880, principalmente nos países desenvolvidos, a transformação educacional que se

iniciava, no sentido que mais trabalhadores se alfabetizavam, não apenas homens adultos, mas em relação às mulheres também.

Segundo Eric J. Hobsbawm em “A Era dos Impérios” (1989, p. 44)

A diferença mais nítida entre os dois setores do mundo era cultural, no sentido mais amplo da palavra. Por volta de 1880, predominavam no mundo “desenvolvido” países ou regiões em que a maioria da população masculina e, cada vez mais, feminina era alfabetizada;

Até mesmo dentro dos países ditos desenvolvidos a própria divisão social passava por essa ótica, os trabalhadores nas indústrias eram mais alfabetizados que os camponeses e, consequentemente, os donos dessas indústrias, os patrões, eram mais alfabetizados que seus trabalhadores. Assim, de certa forma, pode-se dizer que a educação ou grau de intelectualidade era sim um parâmetro de subdivisões dentro desse modelo social.

O Estado movido pelo capital, vendo essa discrepância, tratou logo de criar e instalar, pelo menos nos países desenvolvidos, um ensino primário voltado para o trabalho, com o intuito de obter mais trabalhadores e consumidores especializados, criando assim um maior crescimento econômico, científico, estrutural e cultural (não confundir esse tipo de educação com a dos intelectuais da época).

Mais uma vez o Estado era usado para criar as condições necessárias para a autopromoção do capital. Tudo isso, ainda, com a supervisão do Estado que buscava universalizar o acesso das massas a essa educação. Desse modo, os países se adequavam às novas necessidades do capitalismo mundial, transformando-se para esse novo patamar do capital, a alfabetização era um pré- requisito para essa transformação, os avanços tecnológicos foram uma continuação dessa mudança estrutural do Estado e da sociedade em função do capitalismo, possibilitando assim condições necessárias às novas rotas comercias, principalmente novas colônias na África, Ásia e América.

Esse mesmo avanço tecnológico, agora em outra fase criará condições para uma exploração de produção e canalização dessa produção a todo o mundo, pois as bases desses acontecimentos já tinham sido preparadas pelo capital com várias ações, tais como a abertura dos portos de alguns países, o fim da servidão, legislações que libertavam os nativos dando condições para adentrar no mercado e consumir.

Como explicitado, anteriormente, sabe-se que o mercado necessitava dessa estrutura para se desenvolver e tornar-se global, e foi a tecnologia, com o intenção de reproduzir mais-valia em vários estágios, que trabalhou forte e eficientemente nesse intuito, agora que a estrutura dos países estavam caminhando para o consumo. Nesse contexto a tecnologia aparece, claramente, com o crescimento da produção material.

Era notável a diferença entre os países antes de terem esses avanços tecnológicos e, principalmente nesse século com máquinas a vapores, a predominância do ferro e aço em máquinas e locomotivas movidas a carvão, assim como os motores a combustão, logo todo o transporte girava em torno das locomotivas e navios, entretanto, essa época desenvolvia-se programando uma chegada mais sutil e avassaladora desse avanço tecnológico.

Segundo Eric J. Hobsbawm, (1989; p. 47).

A maquinaria moderna era predominantemente movida a vapor e feita de ferro e de aço. O carvão se tornara a fonte de energia industrial mais importante, fornecendo 95% do total da Europa (fora a Rússia).

Desse modo, as sementes de uma nova mudança tecnológica já estavam plantadas, mais uma vez, o que ocasionava um ciclo, pois o capitalismo se fortalece à medida que essa tecnologia se desenvolvem, o capitalismo avança também, fazendo uma troca, ou melhor, criando novos produtos de consumo com inovações, tornando ultrapassadas as aquisições anteriores, gerando assim novos consumos. Desse modo, o mercado sempre se renova e se multiplica, o produto nunca está finalizado, são consumidos em vários estágios de sua formação, e em todos os estágios ele é moldado e recebe uma nova roupagem. Assim, os consumidores

adentram no mercado e consomem sem razão, sem padrão, apenas, norteados por informações planejadas, criadas para iludir e formar um estereótipo que acaba se transformando na transfiguração da sua vida, ilusão de informações, isso é mais um tentáculo do capitalismo moderno.

Eric J. Hobsbawm em “A Era dos Impérios” (1989, p. 50) relatou que:

Em suma a maior esperança dos pobres, mesmo nas partes “desenvolvidas” da Europa, era ainda, provavelmente, ganhar o suficiente para manter corpo e alma juntos, ter um teto sobre a cabeça e roupas suficientes, sobretudo nas idades mais vulneráveis de seu ciclo vital, quando os filhos ainda não estavam em idade de trabalhar e quando homens e mulheres envelheciam.

Então o consumo não pertencia a todos, nem mesmo nas cidades desenvolvidas de 1870, ainda mais nas cidades que não eram tidas como desenvolvidas. Veja a seguir Eric J. Hobsbawm, fala sobre esses benefícios (1989, p. 50):

Mesmo no mundo “desenvolvido”, tais benefícios eram distribuídos de maneira muito desigual numa população composta de 3,5% de ricos, 13- 14% de classe média e 82-83% de classes trabalhadoras. .

Assim, como já foi dito, os Estados aplicavam essas políticas de tarifas alfandegárias, no entanto o que o capitalismo necessitava na verdade era de livre comércio, (idéias liberalistas), onde o Estado apenas trabalhasse como regulador de crises sem interferir nos fatores de produção, isso tornava o capitalismo liberal, internacionalista e globalizado, já que essa política capitalista se estendia por todo o globo, até nos lugares mais distantes.

3.4 A busca por novas colônias dentro do processo de

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