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CAPÍTULO 4: ALFABETIZAÇÃO E TECNOLOGIA

4.5 OA E ALFABETIZAÇÃO

O OA é um recurso intuitivo, principalmente, pelo suporte multimídia e linguagem hipermídia de sua interface, por seu aspecto lúdico e pela facilidade de interatividade com os

elementos dispostos na tela, sejam eles imagens, textos, animação, vídeo, sons, desenhos, gráficos, nós (links), entre outros, bem como por sua forma de leitura e navegação.

Esse tipo de interface, a intuitiva, favorece a utilização quando os usuários não dominam os recursos tecnológicos ou ainda não possuem habilidades de leitores e escritores avançadas, pois facilita a aprendizagem sobre o sistema através dos elementos dispostos na tela.

Quando bem projetada, a interface pode desencadear processos cognitivos que são relevantes para a aprendizagem por envolverem a percepção, a atenção, a memória, a tomada de decisão, a resolução de problemas, entre outros processos.

De qualquer forma, mesmo que o aluno em processo de alfabetização digite letras a esmo, navegue pela interface observando os elementos dispostos na tela, as animações, ou clique nos ícones, imagens e botões disponíveis, estará manipulando elementos da linguagem, com a ajuda e a mediação do professor e de outros colegas. Desta forma, ele pode internalizar alguns conceitos e ir se apropriando da tecnologia do computador e do documento hipermídia, até conseguir operá-los sozinho.

Segundo Vygotsky (1998), o aprendizado desperta processos internos de desenvolvimento que são capazes de operar somente quando a criança interage em seu ambiente e em cooperação com seus companheiros. Uma vez internalizados esses processos, tornam-se aquisições independentes. Ele acrescenta que, desde o nascimento da criança, o aprendizado está relacionado ao desenvolvimento. Ou seja, é o aprendizado que gera processos internos de desenvolvimento, e isso só é possível, através do contato do indivíduo com algum ambiente cultural e o outro social.

A capacidade da criança de realizar tarefas de forma independente é chamada de nível de desenvolvimento real, ou seja, o que ela já consegue fazer sozinha é uma etapa alcançada. Ou seja, são processos de desenvolvimento consolidados. Já a capacidade de desempenhar atividades ou tarefas com a ajuda de outras pessoas é o nível de desenvolvimento potencial. A criança não consegue realizar a tarefa sozinha, mas se torna capaz de realizá-la com a ajuda de outra pessoa.

É a partir desses dois níveis de desenvolvimento, que o autor define a zona de desenvolvimento proximal (ZDP) como a linha entre os dois níveis (real e potencial). É o percurso para desenvolver funções em processo de amadurecimento, ou seja, é um período de transição, pois o que a criança é capaz de fazer hoje, apenas com a ajuda de alguém, amanhã ela conseguirá fazer sozinha.

Teberosky (2004, p.157) enfatiza que para ser usuário de um documento multimídia, não é necessária uma capacidade muito acabada de leitura e isso ajuda os que estão iniciando. Ela

acrescenta que “a animação parece ajudar a recordação da história, mais do que as imagens estáticas dos livros”.

A integração de diversas mídias, num mesmo documento, enriquece o conteúdo e cria condições para uma aprendizagem mais autônoma na exploração de interfaces intuitivas e dinâmicas, em contato com animações, textos, imagens, vídeos, som, desenhos, etc.

Cesareni (1999 apud TEBEROSKY, 2004) diz que:

Se além de frequentarem o processador de textos, elas dispuserem de programas de jogos, de livros falantes ou puderem olhar como se navega na internet, as crianças começam a ver que não apenas se utiliza o meio linguístico da escrita, mas também outros meios simbólicos. Poder interagir com esses recursos multimídia pode ajudar a aprender formas culturais diferentes e a desenvolver aspectos diversos da mente (CESARENI, 1999 apud TEBEROSKY, 2004, p.163).

Além da utilização de documentos multi ou hipermídias em si, o teclado, também, pode contribuir na alfabetização inicial dos alunos, pois nele, as letras estão dispostas por completo e para escrever, é necessário reconhecê-las e situá-las. O teclado pode auxiliar a criança a perceber que as letras do alfabeto constituem um grupo finito, pois todas estão dispostas nele. A observação e a reflexão sobre o conjunto de letras orientam a criança na escolha das letras que deseja utilizar. A criança pode ainda, por percebê-las fora da ordem alfabética que estão habituados em sala de aula, situá-las, pois no teclado é utilizada a disposição QWERTY31 de máquinas de escrever. Pode, também, observar a forma das letras, fazendo relações entre elas. Nas teclas, estão em bastão e ao apertá-las, pode observá-las na tela de outra forma, como a minúscula, além de ver a mesma letra em diversos tipos. Assim, o teclado pode apoiar o aprendizado das crianças em saberem quantas e quais são as letras, como na correspondência entre suas formas gráficas.

No teclado, a opção de teclar o espaço pode colaborar na aprendizagem da separação de palavras, evitando uma série ininterrupta de letras. As letras visualizadas na tela podem ser objetos mais fáceis de correção e reconhecimento de letras equivocadas, por serem digitadas letra a letra.

Um fator importante no processo de alfabetização para Vygotsky (1998) é mostrar à criança que aprender a escrever é necessário e relevante para a vida. Desta forma, deveria ensinar a linguagem escrita e não apenas a escrita em si, ou o desenho das letras. Assim, a criança passaria a ver a linguagem escrita como um momento natural de seu desenvolvimento e, não, como um treinamento de fora para dentro.

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A disposição mais popular e considerada padrão (ISO 9995) a partir de 1971, é a disposição chamada de QWERTY. Esta disposição foi inventada por Christopher Latham. Sholes, Glidden e Soule, em 1878, e usada em uma máquina de escrever da Remington.

No livro A formação da mente, Vygotsky (1998) traz contribuições de Montessori, quanto ao jardim da infância ser o lugar apropriado para o ensino da leitura e escrita, e ele conclui que o melhor método é aquele que faz as crianças descobrirem as habilidades de ler e escrever durante situações de brinquedo. Ou seja, que as letras façam parte da vida das crianças, da mesma forma que é o aprendizado da fala para elas. Ele enfatiza que as crianças devem sentir a necessidade de ler e escrever no seu brinquedo.

O OA através de sua estrutura de elaboração pode, a partir de atividades interativas, ajudar a criança que se encontra na zona de desenvolvimento proximal, a alcançar o desafio proposto, pois conta com recursos como o áudio – através de narrações explicativas – e, também, através do vídeo e imagens, pode apresentar cenas que contribuam para o entendimento do conceito a ser trabalhado na atividade, ou ainda utilizar-se de desenhos e animações como esclarecedores do desafio. Além disso, contando com a quantidade média de 10 computadores nos laboratórios de informática da maioria das escolas públicas no Brasil, o uso dos OA, deve acontecer em duplas. Desta forma, além de um aluno ajudar o outro e, juntos, cooperarem na solução do desafio, o professor poderá organizar as duplas de acordo com as hipóteses de concepção da escrita, estimulando o avanço de uma hipótese a outra.

Concluímos essa seção sobre a alfabetização e a tecnologia, com a compreensão de que a alfabetização e o letramento são mais exigidos na sociedade contemporânea, principalmente, pelo uso das TIC em diversas práticas sociais de leitura e de escrita, e que para o indivíduo ter autonomia quanto ao uso do computador, softwares e, principalmente, a internet, é necessário que seja alfabetizado.

Sabemos, também, que é possível o indivíduo não alfabetizado manipular o computador, clicar em ícones, digitar letras com o teclado e jogar algum jogo, mas nos referimos à autonomia, quanto ao seu uso cotidiano e, nisso, incluímos a consciência sobre o que é, porque e para que é usado, bem como a consciência sobre modificar, processar, armazenar e analisar informações e, também, produzir conhecimento.

Assim, procuramos elaborar uma nova proposta digital, em formato de OA que, ao mesmo tempo, possam ser de fácil acesso e manuseio para os professores e alunos, e que tenham como principal temática, a alfabetização inicial. Desta forma, acreditamos que tanto professores como alunos, irão, com o uso desses recursos, inicialmente, adquirir familiaridade com as ferramentas e mídias e com o tempo, avançarão no caminho em direção a novas propostas, recursos, atividades mais elaboradas e complexas, referentes ao uso das TIC.

Nesse estudo que ora desenvolvemos, sabemos que nosso usuário-alvo (aluno) não é leitor ou escritor, e o nosso propósito é o de utilizar o OA – um recurso acessível através do computador e da internet – para ajudá-lo a adquirir tais conhecimentos e habilidades para ler e escrever.

Nesta concepção, temos como desafio o de não deixarmos o aluno perdido frente à tela, sem rumo, sem perceber as informações, por não ler e escrever. Então, estamos partindo da premissa de que nosso usuário-alvo está em processo de alfabetização e, ainda, não conhece o sistema alfabético, portanto não está apto a ler enunciados na tela ou digitar em formulários ou navegarem na internet para a busca de algum assunto, entre outras ações. Nossa proposta é a de desenvolver e sugerir apenas o uso do OA, acessível através da internet e que usa o computador como principal ferramenta de acesso.

Portanto, fica claro que lidamos com um público específico e que, habitualmente, não faz parte do público-alvo primário que consta no briefing enviado para os desenvolvedores de sistemas, pois normalmente os sistemas são desenvolvidos partindo da premissa de que quem irá utilizá-lo, é alguém alfabetizado. Nessas condições, declaramos que através de suas características como a multimídia, a animação, a simulação, o caráter lúdico, o aspecto intuitivo de navegação, o apelo visual (formas e cores), a dinâmica de atividades interativas com a resolução de problemas e desafios, o OA é adequado como recurso digital destinado à alfabetização de crianças.

Sendo assim, como forma de iniciarmos um processo interativo entre o indivíduo não alfabetizado e a aquisição da leitura, da escrita em uso social, bem como a apropriação tecnológica inicial, produzimos um conjunto de OA, que detalharemos no Capítulo 5, a seguir.