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Destacaria como objectivos gerais desta tese:

1. Contribuir para uma melhor compreensão do estilo de vida e dos factores psicossociais associados à obesidade e excesso de peso (percepção de saúde e bem-estar, imagem corporal, relações interpessoais, consumo de álcool, comportamentos de controlo de peso).

2. Estudar a prevalência do excesso de peso e obesidade nas amostras do estudo Health Behaviour in School-aged Children (HBSC) de 1998, 2002 e 2006, através do peso e estatura, idade e sexo auto-reportados e avaliar da evolução da situação em Portugal através do estudo comparativo das variáveis seleccionadas nos três anos.

3. Caracterizar a população de adolescentes que, por não reportarem o seu peso e estatura, são sistematicamente excluídos deste tipo de estudos.

4. Estudar a validade da medida estimada de peso e estatura auto-reportados em comparação com a medida objectiva.

A elevada prevalência de obesidade na adolescência e as suas potenciais consequências físicas e psicossociais graves, transformaram a obesidade num dos maiores problemas contemporâneos de saúde pública. Tem sido muito discutido quais serão as estratégias mais eficazes para prevenir e tratar esta epidemia num grupo etário com características tão particulares como é a adolescência.

Vários estudos sugerem que a insatisfação com a imagem corporal pode ser um factor que influencia o modo como os adolescentes avaliam a sua saúde. O elevado grau de insatisfação com a imagem corporal que caracteriza a

população adolescente obesa e com excesso de peso, associado a um potencial isolamento social, poderá influenciar negativamente e de um modo determinante o seu desenvolvimento.

Os adolescentes com excesso de peso e obesidade expressam com mais frequência preocupações ligadas ao peso e envolvem-se mais em comportamentos prejudiciais para a saúde, tais como dietas crónicas e episódios de ingestão alimentar compulsiva. Na população adolescente, um IMC mais elevado está associado com uma maior insatisfação com o corpo, e tanto o IMC como vários indicadores subjectivos de peso e aparência têm sido associados a perturbações do comportamento e a perturbações psicopa- tológicas.

Serão os adolescentes obesos diferentes dos seus pares?

Na tentativa de responder a esta questão e com o objectivo de compreender melhor a obesidade adolescente, fomos identificar os indicadores psicossociais e de estilo de vida que distinguem os adolescentes obesos e com excesso de peso dos seus pares, tendo como ponto de partida os dados nacionais do estudo HBSC (1998, 2002, 2006). Com base nos resultados, foi nosso objectivo perceber as implicações desses indicadores a nível psicossocial e no estilo de vida dos adolescentes obesos, com o objectivo de poder vir a influenciar o desenho de programas de prevenção e tratamento da obesidade adolescente.

Para ser possível identificar a população de adolescentes obesos e com excesso de peso em cada uma das amostras, procedeu-se à determinação para cada adolescente do percentil do índice de massa corporal (IMC) através do peso e estatura auto-reportados, sexo e idade.

A definição de obesidade na idade pediátrica, baseada na percentagem de gordura corporal, é impraticável em estudos epidemiológicos. Apesar de menos sensível, o IMC (peso (kg) / estatura (m)2) foi recomendado pela OMS como base para o rastreio da obesidade pediátrica, registando uma associação forte com a adiposidade. Como o IMC se modifica substancialmente com a idade, é essencial utilizar pontos de corte em função da idade para definir a obesidade na idade pediátrica, baseado no mesmo princípio para as diferentes idades, por exemplo, utilizando percentis de referência. Os percentis 85 e 95 do IMC para a idade e sexo têm sido utilizados internacionalmente como valores de corte para identificar o excesso de peso e a obesidade, respectivamente. Porque na presente tese se pretendeu efectuar um estudo de prevalência do excesso de peso e da obesidade, e de acordo com as recomendações da International Obesity Taskforce (IOTF) e do European Childhood Obesity Group (ECOG), foram utilizados os valores de Cole e col.

Seguidamente procedeu-se à caracterização desta população no que diz respeito às variáveis seleccionadas, nomeadamente, hábitos alimentares, nível de actividade física, imagem corporal, percepção de bem-estar e saúde, relação com os pares e consumo de álcool. Fez-se, finalmente, a comparação dessas variáveis entre o grupo de adolescentes obesos e com excesso de peso e a restante amostra.

Está em curso um levantamento nacional de prevalência da obesidade em idade pediátrica. No entanto, à data, os resultados ainda não foram divulgados. Em termos de saúde pública e para que se possam instituir medidas de prevenção adequadas à realidade nacional, importa conhecer esses dados.

Tem vindo a ser discutido por vários autores se existe concordância entre o peso e a estatura auto-reportados e as medidas objectivas. Pretendeu-se

proceder à validação do instrumento para a nossa população através da determinação do peso e estatura objectivos em 10% da amostra do HBSC de 2006.

Os objectivos gerais da presente tese foram a identificação de indicadores psicossociais e de estilo de vida que distingam os adolescentes obesos e com excesso de peso dos seus pares. Com base nos resultados esperamos poder vir a influenciar novas estratégias de prevenção e o desenho de programas de intervenção que promovam a saúde e o bem-estar da população adolescente obesa utilizando abordagens interdisciplinares.

Constituíram objectivos específicos desta tese:

1. Identificação dos principais factores influenciadores da imagem corporal nos adolescentes obesos e com excesso de peso e estudo do estilo de vida e factores psicossociais associados (capítulo 4.1):

A caracterização deste objectivo está reunida nos pontos 1.1. e 1.2.

1.1.

- Identificação dos factores associados à percepção de excesso de peso e obesidade na população adolescente portuguesa, utilizando o estudo HBSC de 1998.

- Identificação dos principais factores que explicam/influenciam a imagem corporal nos adolescentes obesos e com excesso de peso, utilizando o mesmo estudo.

Pelo facto de se tratar do primeiro estudo realizado com base numa amostra nacional representativa da população adolescente portuguesa dos 11 aos 15

anos com estes objectivos, a informação dele decorrente poderá trazer um contributo não só para um melhor conhecimento do estilo de vida e dos factores psicossociais associados à obesidade e excesso de peso, mas também para o entendimento dos principais factores que explicam a imagem que o adolescente obeso e com excesso de peso tem de si próprio. Tal informação poderá ser determinante para a elaboração de recomendações na área da prevenção da obesidade adolescente a nível nacional e também para a selecção de opções e estratégias terapêuticas a nível clínico.

1.2.

- Caracterização dos comportamentos de saúde e de risco, incluindo o consumo de álcool, associados ao excesso de peso e obesidade na população adolescente portuguesa, utilizando o estudo HBSC de 2002.

- Identificação dos indicadores psicossociais que distinguem os adolescentes obesos e com excesso de peso dos seus pares, tornando-os semelhantes em termos de problemática aos adolescentes com outras doenças crónicas.

A ausência, até à data, de dados representativos sobre os comportamentos de saúde e de risco associados ao excesso de peso e obesidade dos adolescentes portugueses, que os coloca num plano semelhante ao dos adolescentes com outras doenças crónicas, justifica por si só o interesse deste estudo. A identificação, nomeadamente, da associação com padrões problemáticos de consumo de álcool, poderá informar o desenho de programas de intervenção nesta área. Esses programas desejavelmente deveriam incluir um amplo espectro de acções na linha da promoção do desenvolvimento de competências para modificar comportamentos e oferecer suporte para ajudar o adolescente a ultrapassar eventuais comportamentos de risco.

2. Estudo das correlações entre excesso de peso e comportamentos não saudáveis de controlo de peso e exploração de possíveis variáveis associadas (capítulo 4.2):

Esta componente da tese integra um estudo que visa responder à seguinte questão: Terão os adolescentes com excesso de peso um risco acrescido de envolvimento em comportamentos não saudáveis de controlo de peso comparativamente aos seus pares não obesos? A ser verdade que este tipo de comportamentos seja mais frequente entre os adolescentes com excesso de peso, e porque se sabe que estão associados a riscos significativos para a saúde (tanto médicos como psicológicos), surge a importância de conscien- cializar os pediatras e outros profissionais de saúde que trabalhem com adolescentes para a necessidade de pesquisar sistematicamente este tipo de comportamentos na população com excesso de peso.

A amostra utilizada para esta investigação foi a do estudo HBSC de 2002 já que é o único que inclui a questão que nos permitiu estudar este aspecto.

3. Estudo das correlações emocionais, comportamentais e sociais dos valores omissos de IMC (capítulo 4.3):

- Estudo das correlações dos valores omissos de IMC com factores de ordem emocional, comportamental e social, utilizando o estudo HBSC de 2002.

- Determinação de eventual associação entre o não reporte de peso e/ou estatura e as variáveis psicossociais que têm vindo a ser estudadas na presente tese.

A contribuição principal deste estudo, que inclui uma amostra pediátrica representativa da população adolescente nacional, reside no facto de pretender

determinar se os adolescentes que não reportam o seu peso e/ou estatura em questionários com as características do HBSC, serão adolescentes mais vulneráveis em termos de imagem corporal, comportamentos de saúde e relações interpessoais. A quase total inexistência de estudos nesta área para a população pediátrica, justificará o interesse deste estudo. A verificar-se esta hipótese, esta informação poderá permitir uma discussão sobre as suas implicações nos resultados de estudos que não tenham em linha de conta os valores não reportados de IMC.

4. Estudo da validade do IMC baseado no auto-reporte do peso e da estatura e determinação dos factores preditivos mais relevantes que a possam influenciar (capítulo 4.4):

Esta componente da tese consistiu num trabalho de campo que implicou a avaliação em termos de IMC e imagem corporal de cerca de 10% da população que participou no Estudo HBSC de 2006. Foram incluídos 462 alunos dos 6º, 8º e 10º anos correspondendo a 26 turmas de 12 escolas públicas seleccionadas aleatoriamente da lista de escolas que participaram no estudo, proporcio- nalmente à dimensão da região escolar:

Região Escolar do Norte

1. Escola Secundária com 3º ciclo do ensino básico Dr. Serafim Leite, São João da Madeira (duas turmas do 10º ano).

2. Escola Secundária com 3º ciclo do ensino básico Oliveira do Douro, Vila Nova de Gaia (uma turma do 8º ano e uma do 10º).

3. Escola Básica dos 2º e 3º ciclos de Real, Braga (duas turmas de 6º ano e uma de 8º).

Região Escolar de Lisboa

1.Escola Secundária com 3º ciclo do ensino básico José Cardoso Pires, Santo António dos Cavaleiros (uma turma do 8º ano e uma do 10º).

2. Escola Secundária com 3º ciclo do ensino básico de Gama Barros, Cacém (uma turma do 8º ano e duas do 10º).

3. Escola Básica do 2º ciclo Padre Bartolomeu de Gusmão, Lisboa (duas turmas de 6º ano).

Região Escolar do Centro

1. Escola Secundária com 3º ciclo do ensino básico Dr. Jaime Magalhães Lima, Aveiro (uma turma do 8º e uma do 10º).

2. Escola Básica dos 2º e 3º ciclos com ensino secundário do Dr. Daniel de Matos, Vila Nova de Poiares (uma turma do 6º ano, uma do 8º e uma do 10º). 3. Escola Básica dos 2º e 3º ciclos Prof. Alberto Nery Capucho, Marinha Grande (uma turma do 6º ano).

Região Escolar do Alentejo

1. Escola Básica dos 2º e 3º ciclos com ensino secundário de Cunha Rivara, Arraiolos (uma turma do 6º ano, uma do 8º e uma do 10º).

Região Escolar do Algarve

1. Escola Básica dos 2º e 3º ciclos com ensino secundário Dr. João Lúcio, Moncarapacho (uma turma do 6º ano e uma do 8º).

2. Escola Secundária Pinheiro e Rosa, Faro (uma turma do 10º ano).

Foi estudada nesta amostra a validade do IMC baseado no peso e estatura auto-reportados, utilizando como medida standard o IMC calculado a partir do peso e estatura avaliados e, adicionalmente, examinou-se se o grau de

concordância era influenciado por potenciais variáveis, tais como a idade, o género, o grau de escolaridade e a imagem corporal.

Não tem havido unanimidade no que diz respeito à validade do peso e estatura auto-reportados por parte dos diversos autores que se têm envolvido neste tipo de estudos. A ausência de estudos de validação para a população adolescente portuguesa, justificará o interesse deste estudo. A concluir-se que se trate de um instrumento válido para identificar adolescentes obesos e com excesso de peso em estudos epidemiológicos de larga escala, tal informação poderá ser um contributo importante para estudos com as características do estudo desta tese.

5. Estudo dos comportamentos de saúde associados ao excesso de peso em 8 anos do Estudo HBSC em Portugal (capítulo 4.5):

- Estudo da evolução, entre 1998 e 2006, do excesso de peso na população adolescente portuguesa, calculado a partir do peso e estatura auto-reportados e em função da idade e do sexo.

- Comparação dos dados de 2006, sempre que possível, com os resultados do Relatório Internacional do HBSC que reúne os dados dos 41 países e regiões da Europa e América do Norte que participaram no estudo HBSC de 2006. - Análise dos comportamentos ligados à saúde na amostra dos três anos do estudo (1998, 2002, 2006) e envolvendo 17024 adolescentes, em função do IMC (IMC normal e excesso de peso).

O facto de o estudo de 2006 já ser o terceiro estudo nacional, permitirá estudar a evolução do excesso de peso em função do sexo e idade ao longo de oito anos, com todo o interesse que daí possa advir para a discussão de estratégias

de prevenção e para a formulação de políticas de saúde que visem o combate à obesidade.

A análise comparativa das variáveis em estudo na população com peso normal e na população com excesso de peso, utilizando uma amostra que corresponde ao somatório das amostras parcelares de 1998, 2002 e 2006, constitui uma contribuição importante para a melhor compreensão dos comportamentos de saúde e da percepção que os adolescentes com excesso de peso têm do seu próprio corpo e do seu estado de saúde. A existência de diferenças significativas entre os adolescentes com excesso de peso e os seus pares no que diz respeito a múltiplas variáveis psicossociais, já demonstrada em trabalhos parcelares efectuados anteriormente, a ser confirmada na amostra total dos três anos, trará forçosamente implicações para o estudo do impacto que o excesso de peso e a obesidade possam ter no desenvolvimento dos adolescentes.

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